sábado, 14 de abril de 2012

Não Leia Essa Carta (Darlan Hayek Soares)

Andrew é o filho de um conhecido serial killer que, depois de uma elaborada fuga da prisão, decidiu abandonar a vida do crime. Para Andrew, o passado do pai nunca foi um segredo, ainda que nunca conhecesse por completo as complexidades do caso, mas a verdade é que nunca pensou ter de sofrer as consequências do passado do pai. Mas quando ele e o melhor amigo começam a receber cartas ameaçadoras como presságio de crimes por suceder, Andrew e Lorenzo sabem que não terão paz enquanto não descobrirem a identidade do desconhecido que os atormenta. O problema é que talvez haja demasiados suspeitos e nenhuma linha que seguir, enquanto as pessoas que lhes são mais próximas sofrem as consequências. Poderá o culpado ser o próprio pai de Andrew que voltou à sua vida anterior? Ou o jornalista demasiado interessado no passado? Ou ainda o amigo que abriu a Andrew todas as portas para uma vida melhor? O tempo passa... as cartas sucedem-se... e, a cada uma delas, o inimigo está mais perto...
Narrado na primeira pessoa e com um enredo de ritmo intenso, este livro cativa, em primeiro lugar, pela mistura de estranheza e de normalidade que define a vida de um protagonista. Andrew é o filho de um serial killer e a identidade do pai nunca foi um segredo. Apesar disso, no início do livro, a sua vida caracteriza-se, em grande medida, pelos sonhos e aspirações de uma criança normal. A amizade com Lorenzo e a promessa de uma lealdade a toda a prova cria um forte contraste com uma vida familiar definida por um conhecimento que a torna disfuncional, dando a Andrew, a criança um pouco lenta de raciocínio e que todos julgam incapaz de alcançar seja o que for, um lado de bondade que impressiona precisamente por ser inesperado, tendo em conta o contexto do seu crescimento.
Cria-se, portanto, uma estranha empatia para com o protagonista, empatia que vai evoluir a partir do momento em que a sua paz é quebrada, dando lugar a um enredo intenso, onde a acção e o mistério se conjugam para definir um ritmo viciante, numa narrativa cheia de surpresas, com um toque de sinistro e onde ninguém é realmente o que parece.
A escrita é directa, centrada no relato dos acontecimentos, mas pautada por alguns momentos de reflexão que vêm consolidar a proximidade construída pela narração na primeira pessoa. Fica, nalguns momentos, a curiosidade em saber mais sobre as restantes personagens, já que o ponto de vista do protagonista limita um pouco essa perspectiva. Por outro lado, ao conhecer só o ponto de vista de Andrew e a sua linha de raciocínio, o mistério da identidade do autor das cartas mantém-se durante mais tempo, contribuindo para um final bastante surpreendente.
Trata-se, portanto, de uma leitura cativante, com uma história surpreendente e um protagonista que, na sua história disfuncional, cria uma inesperada empatia pela estranha normalidade que define os seus sonhos... bem como pelo seu inesperado lado de bondade. Misteriosa e envolvente, uma boa história.

1 comentário:

  1. oi carla, aqui é o darlan hayek soares, autor do livro, queria agradecer pela sua resenha, e por ler o livro, fico feliz que tenha gostado. obrigado

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