Pouco mais que um rapaz, mas marginalizado aos olhos de mundo, Fitz, o bastardo do príncipe Cavalaria, provoca mudanças ao chegar à corte do rei Sagaz. Tolerado por alguns, mas desprezado pela maioria pelo simples facto de ser quem é, Fitz será, ainda assim, treinado para ser, o melhor possível, uma ferramenta para o rei e para o reino. Mas, entre mestres relutantes, algumas conspirações, a ameaça dos salteadores e, principalmente, a solidão inevitável que, entre fracassos e desilusões, se torna a única verdadeira companhia de Fitz, há no jovem protagonista deste livro o potencial para evitar muito mal.
Este é um livro que, principalmente na fase inicial dos acontecimentos, exige do leitor uma certa paciência. Isto devido à componente descritiva que, bastante vincada ao longo de todo o livro, se nota principalmente nos primeiros capítulos, onde uma certa medida de contextualização é mais necessária. Ainda assim, este ritmo mais pausado raramente prejudica a história e, a partir do momento em que a personalidade e as dificuldades de Fitz se tornam mais familiares, a descrição é apenas mais um aspecto a definir a base de uma história que é, ao mesmo tempo, de crescimento e de desilusão, de descoberta, mas também de perda, da luta pelo bem maior, mas também de profundos sacrifícios pessoais.
Há muitas dificuldades no caminho de Fitz e é fascinante a forma como a autora confere emotividade aos grandes momentos. Na dura aprendizagem do protagonista, é fácil, por vezes, esquecer que ele é pouco mais que um miúdo. Mas quando a perda se torna evidente - nas suas múltiplas formas e graus de gravidade - é quase inevitável sentir empatia para com o rapaz de carácter algo teimoso - mas tão inocente! - que cresce através do desprezo para ser, afinal, o reflexo de quem o gerou.
Mas nem só de Fitz vive esta história (ainda que ele uma das suas partes essenciais). O ambiente da corte de Sagaz, com todos os seus interesses, intrigas, traições e conspirações revela-se já uma base muitíssimo interessante para uma história que tem ainda muitíssimo para dar. E importa também referir a forma como a magia da Manha e do Talento se insinua, aos poucos, como algo de essencial, mas também como uma forma de criar para Fitz o refúgio possível. Onde os homens traem, os animais permanecem fiéis. E, mesmo ante o desprezo dos homens, há algo de incondicional no amor oferecido por um companheiro canino.
Não é uma leitura compulsiva. É, ainda assim, um livro cheio de elementos de interesse e onde uma caracterização cuidada tanto do ambiente como das principais intrigas se aliam a uma história cheia de momentos emotivos para dar vida a um protagonista que, mesmo inocente e falível, tem já uma personalidade deveras cativante. Um bom início, portanto, e uma série a seguir.
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