domingo, 18 de setembro de 2011

A Ruína (Jennifer Egan)

Vinte anos depois de um acontecimento traumático, dois primos reúnem-se num castelo arruinado. Para Howard, aquele lugar é a oportunidade de tornar real um projecto ambicioso e um pouco invulgar, mas, para isso, deseja a ajuda de Danny - o mesmo primo que, no passado, teve no evento que lhe marcou a vida um papel essencial. Mas os motivos de Howard são insondáveis - sonho? reconciliação? vingança? - e os próprios demónios interiores de Danny são um labirinto infernal. Num cenário sombrio e surreal, a história de Danny confunde-se com a do narrador, num entrecruzar de possibilidades em que histórias aparentemente diferentes revelam ligações surpreendentes.
Custa um pouco assimilar, no início, as muitas peculiaridades deste romance. Desde um estilo muito próprio onde pontos de vista diferentes se confundem e o diálogo se entretece na narração, passando pela própria narrativa onde acontecimentos inexplicáveis se sucedem e o ambiente sinistro se torna mais e mais opressivo à medida que a natureza das personagens se torna mais clara e culminando numa fase final onde muitas revelações mostram que ninguém neste livro é exactamente que parece, há muito de invulgar ao longo deste livro, sendo necessário um pouco de esforço para entrar no ritmo da narrativa.
Passada esta estranheza, contudo, há bastante de interessante a descobrir. Se quase nenhuma das personagens é do tipo que inspira empatia, há, contudo, uma certa diversidade de temperamentos e posições - definidas, em grande parte, pelas memórias e ligações do passado - que torna cativantes as diferenças e mal-entendidos que definem o convívio entre personagens. Junte-se a isto todo o ambiente de surreal e de inexplicável - destacando-se, é claro, a estranha figura da baronesa - e o resultado é um conjunto de histórias dentro de histórias, onde é o ambiente (ou a memória dele) que molda as atitudes e acções das personagens. Na fortaleza, a paranóia de Danny é potenciada. Ao contar a história de Danny, Ray revive o seu próprio percurso. E até a professora de escrita encontra as suas próprias recordações ao contactar com Ray. Tudo está, afinal, ligado, ainda que, a princípio, não pareça.
Ficam algumas coisas por explicar. Ao construir um final que surpreende pela revelação das múltiplas ligações, surge, quase como um efeito secundário, uma passagem do tempo que deixa esquecidas algumas personagens. Que aconteceu a Howard depois dos grandes acontecimentos deste livro ou qual terá sido o destino da própria baronesa são perguntas que ficam no ar, terminada a leitura.
Uma leitura densa, em suma, e que, principalmente na fase inicial, exige bastante atenção da parte do leitor. Passada a confusão inicial, contudo, há muito de surpreendente nas peculiaridades desta narrativa e a impressão final deste livro sombrio, denso e cheio de surpresas é claramente positiva. Vale a pena ler.

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