sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Uma Noite em Lisboa (Erich Maria Remarque)

Vivem-se tempos desesperados e, ante a sombra da guerra, Lisboa surge como o ponto fulcral na busca de um caminho para o outro lado do oceano - e para uma vida de paz. Mas as dificuldades são muitas e a hipótese de conseguir passagem a América afigura-se remota - até que um estranho aparece, na posse de dois bilhetes para oferecer, com uma única condição: companhia para essa última noite em Lisboa.
A convivência de uma única noite - mas, ao mesmo tempo, o percurso de demasiados anos de vida em fuga - definem o enredo deste livro. Narrado, em grande parte, da primeira pessoa, é, ainda assim, principalmente de ouvinte o papel que é atribuído ao narrador, já que será ele a ouvir a história de vida desse enigmático e peculiar Schwarz, homem com nome de morto e sem mais nada para perder, mas com uma história para contar de modo que a memória perdure.
E há algo de particularmente cativante na forma como a história de Schwarz é contada. Ao apresentar a (longa) história de Schwarz num diálogo com o narrador, o autor dá a essa narração um toque de pessoal: as esperanças improváveis, os gestos ousados, os momentos de inconsciência de perigo... e, ainda e sempre, a história de amor e de perda inevitável, num cenário onde pouco pode alguma vez ser conquistado, ganham ainda uma força maior pela forma como os sentimentos e reflexões de quem as viveu são, sem subterfúgios, ao ouvinte atento que é, ao mesmo tempo, o narrador que o acompanha naquela última noite e, mais longe e em silêncio, o leitor que percorre as suas memórias.
Escrito de forma directa e sem excessos dramáticos (que para drama basta o cenário daqueles tempos), o que este livro apresenta é, ao mesmo tempo, história de amor (com todas as suas nuances) e retrato preciso da situação dos refugiados em tempos de guerra. O resultado desta conjugação é um romance poderoso, marcante e que fica na memória. Muito bom.

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