terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tristão e Isolda (Joseph Bédier)

Feita de honra e de traição, de amor e de morte, esta é a história do cavaleiro Tristão e de como o seu amor por Isolda viria a ser a base de muitas desventuras - e a perda de ambos. Fiel a seu tio, o rei da Cornualha, e, contudo, apaixonado pela mulher que lhe está destinada, há na natureza de Tristão tanto de lealdade como de astúcia e até o impossível acontece, num caminho entre duas almas que se amam, mas que, próximos ou distantes, nunca poderão ser felizes.
Algo de curioso e que cativa desde as primeiras frases é a forma como a história é apresentada: é fácil imaginar o narrador, algures num grande salão, a contar a sua história a uma audiência atenta. O tom de um certo dramatismo, as ocasionais exclamações e uma certa ponta na forma de expressão contribuem em muito para criar esta imagem. O mesmo acontece com o ritmo célere de certos acontecimentos. Há toda uma série de situações - tronos que são recuperados, monstros que são derrotados, longos caminhos que são percorridos - que são apresentadas em poucas páginas, deixando a impressão de que, ainda que certas coisas sejam exploradas de forma algo apressada, o tempo do narrador é precioso, pelo que este se resume ao essencial.
A história em si é, na sua essência, o clássico romance de cavalaria, com o seu protagonista nobre, forte e astuto e todos os obstáculos que o afastam da conquista do coração da sua dama. Levantam-se, ainda assim, algumas questões interessantes, principalmente a nível de qual será a escolha certa quando diferentes lealdades entram em conflito e da medida em que a emoção influencia a acção. A nível de caracterização, há uma linearidade expectável - o herói é cheio de qualidades, o rei é justo e nobre, os vilões são traiçoeiros, etc. - mas que, tendo em conta o tipo de história em causa, não deixa de ser adequada.
É, contudo, na inevitável tragédia que, desde o início, é quase garantida, que o desenrolar algo apressado dos acontecimentos acaba por retirar emoção à história. Morte certa e perda inevitável são apresentadas de forma directa, mas tão rápida que o aspecto emocional acaba por ter menos impacto do que poderia ter tido.
Uma história interessante, portanto, com uma visão bastante clara em termos de valores e alguns momentos particularmente marcantes. Fica, apesar disso, a impressão de que, com um maior desenvolvimento, esta história de amantes destroçados teria ainda muito mais para mostrar.

Sem comentários:

Enviar um comentário