domingo, 11 de setembro de 2011

Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (George Orwell)

Enquanto funcionário do Ministério da Verdade, Winston Smith tem como função alterar os documentos da imprensa de modo a que a situação presente esteja completamente de acordo com os registos do passado. Mas há no seu pensamento ideias de rebelião e o que começa por uma série de pequenos gestos pessoais torna-se mais profundo ao estabelecer contacto com O'Brien, alegada figura de destaque entre os inimigos do partido. Será possível, ainda assim, alimentar atitudes de dissidência quando o poder pode controlar praticamente tudo?
Há algo de muito perturbador no cenário que este livro apresenta. A constante vigilância através do ecrã, o incentivo à denúncia por parte de familiares mais próximos, a extinção absoluta, não só da vida, mas também da memória de todos quantos ousem desviar-se da norma e, principalmente, a possibilidade de manipular a história e, controlando o passado, controlar até os mais pequenos aspectos do pensamento presente... Tudo isto define um cenário social sombrio, opressivo... e assustador. Na verdade, a caracterização deste regime opressivo bastaria para fazer deste livro uma obra marcante.
Mas as coisas não ficam por aqui e, ao acompanhar o caminho de Winston Smith, a marca torna-se pessoal, no percurso de uma rebelião que se afigura não só impossível, mas também de terríveis consequências. É uma visão sombria, com muito de medo e pouco de esperança e se a caracterização pausada e exaustiva do sistema é, por si só, bastante esclarecedora no que toca às possibilidades de mudança, a forma como qualquer pensamento próprio é dobrado e rasgado até restar pouco mais que submissão - ou pior - deixa uma clara imagem de derrota sem remissão. Da resignação como única escolha possível.
Não é, portanto, uma leitura fácil.,quer pela forte componente de caracterização que exige bastante atenção da parte do leitor, quer pelo impacto emocional de um percurso que se torna mais e mais sombrio, em direcção ao fim de qualquer possível liberdade. É, ainda assim, um livro que levanta toda uma série de questões sobre direitos e liberdades (ou falta de), apelando a uma muito necessária reflexão. E é, por tudo isto, um livro essencial.

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