domingo, 4 de setembro de 2011

The Mammoth Book of Best New Horror 19 - primeira parte

O que de melhor se fez no género em 2007 a nível de contos - e, sim, há sempre alguma subjectividade no critério - reunido num volume de mais de 600 páginas. De uma antologia deste género espera-se sempre o melhor. E o facto é que há estilos e histórias para todos os gostos e, como tal, alguns contos houve que me fascinaram, enquanto outros me deixaram indiferente.
Mas vamos por partes e, antes dos contos propriamente ditos, há uma longa introdução do editor relativamente ao que se produziu em 2007 a nível de horror. E este não é o mais auspicioso dos inícios. Se as cerca de 80 páginas de introdução são interessantes na medida em que permitem descobrir novos trabalhos, há um tom algo desagradável ao longo de todo o texto, tom que se nota principalmente na parte sobre cinema e na condescendência com que alguns géneros literários são referidos.
O primeiro conto, The Things He Said, da autoria de Michael Marshall Smith, mostra um dia na vida de um homem forçado a sobreviver nos bosques. Contado na primeira pessoa, começa por ser um pouco monótono. Contudo, à medida que a narrativa evolui, revelando quer a origem de calamidade quer os métodos de sobrevivência do protagonista, a leitura torna-se bastante mais interessante. De referir também a distância perturbadora com que o narrador apresenta os seus actos.
The Church on the Island, de Simon Kurt Unsworth, fala sobre uma igreja bem cuidada, mas aparentemente abandonada, e de como uma mulher decide desvendar o seu mistério. Pausado, misterioso ebastante descritivo, cativa primeiro pelos sentimentos da protagonista para com o seu companheiro, ganhando depois intensidade com o surgir de Babbas. Surpreendente e cativante, termina de forma bastante intensa.
The Twilight Express, de Christopher Fowler, conta a história de um rapaz disposto a matar para deixar o lugar onde vive. Com uma base interessante, perde força pelo tom algo distante com que a situação é narrada, bem como pela reviravolta que acaba por resultar num final algo confuso.
Segue-se Peep, de Ramsay Campbell. História de uma vida familiar atribulada e de um jogo infantil que desperta memórias do passado, começa de forma lenta e algo confusa, tendo como principal ponto de interesse a forma como um antigo medo ganha mais e mais poder sobre o protagonista, sozinho ante a indiferença dos seus familiares. Mais que propriamente assustador, a impressão que fica é a de um conto profundamente triste.
Seguem-se dois dos melhores contos desta primeira parte. From Around Here, de Tim Pratt, conta a história de um deus que anda de cidade em cidade a salvar os lares dos humanos. Escrito de forma envolvente, com uma história cativante e um tom surpreendentemente leve, tendo em conta algumas das situações, que contribui para que o final tenha um maior impacto. Por sua vez, Pumpkin Night, de Gary McMahon, fala de amor doentio, na história de um homem que, morta a mulher com quem cometeu múltiplas atrocidades, decide ressuscitar a família em noite de Halloween. Breve, mas poderoso, um conto perturbador e que fica na memória.
Em The Other Village, de Simon Stranzas, duas amigas (em fase conflituosa) nas piores férias das suas vidas, decidem procurar algo de mais interessante. Mais uma vez, a ideia na base do enredo é interessante, apesar do temperamento algo irritante de uma das protagonistas. Fica, contudo, a impressão de um final que, apesar de adequado, poderia ter sido mais desenvolvido.
13 O´Clock, de Mike O'Driscoll conta a história de um homem que tenta lidar com os pesadelos do filho. Destaca-se neste conto a forma como o autor transmite o medo da criança, bem como a escrita cativante, onde mistério e emoção se conjugam nas medidas certas. Surpreendente também a forma como o nascimento da obsessão prepara caminho para um final poderoso.
De um ladrão de jóias a viver da sua própria insanidade trata Still Water, de Joel Lane, um conto curto, onde uma ideia muito interessante acaba por se desenvolver de forma demasiado apressada. Interessante, ainda assim, a ilusão formada na mente do protagonista.
Thumbprint, de Joe Hill, apresenta uma mulher que regressa de Abu Ghraib com a consciência pesada e que, pouco depois, começa a receber estranhas ameaças. Escrito de forma cativante e bastante detalhado a nível de crueldade em situações de interrogatório, levanta algumas questões interessantes. Intenso, directo, culmina num final algo aberto, deixando espaço para reflectir sobre as consequências de cada escolha.
Mais um conto curto, Lancashire, de Nicholas Royle trata de uma visita a um casal estranho. Cativante e de final intenso, fica a impressão de alguns momentos pouco desenvolvidos.
Por último (para já), The Admiral's House, de Marc Lelard, história de um regresso à terra natal que resulta em confissão. Interessante reflexo de como o passado pode, literalmente, assombrar uma vida. Sombria e cativante, uma boa história.

E, porque a opinião já vai longa, o restante da antologia fica para comentar num próximo post.

1 comentário:

  1. Eu tenho e li o " The Best of Best New Horror, A Twenty-year Celebration ", e gostei bastante.

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