Carol é uma mulher de ideais. É por isso que, ao chegar a Portugal, se sente na necessidade de mudar algo do mundo e ingressa no Partido Comunista. Assim, começa uma vida de risco, de paixões... e de separações. Pois de uma paixão com um camarada nascerá a filha da qual Carol terá de se afastar por longos anos. E, com o passar do tempo e a distância inevitável, será, mais que o perigo, a mudança ou o quebrar das ilusões, essa perda a motivar a confissão.
Apresentada como um desfiar de memórias, uma confissão à filha com quem a ligação se perdeu, a história de Carol é construída a dois tons. Alternando entre capítulos na primeira pessoa, mais pessoais e mais pautados pelo sentimento, e uma narração mais centrada nos factos, nos capítulos escritos na terceira pessoa, a narrativa constrói-se tanto da esperança quase tímida, algo resignada, que transparece na voz de Carol durante a sua viagem, como do tom directo e mais distante com que o seu passado é contado. O resultado é um livro de ritmo pausado - para o qual contribui a reduzida presença de diálogo - e em que a empatia se constrói aos poucos, à medida que as consequências de cada experiência ganham nitidez.
Mas não é apenas a nível de voz narrativa que se notam os contrastes. A própria Carol muda, ao longo do seu percurso, e a sua percepção das coisas é bem diferente na fase final, longe do idealismo ingénuo do início. Além disso, há algo que se insinua com o decorrer da narrativa, a certeza de que, mesmo quando a resolução dos problemas não é a pior, há sempre consequências para cada escolha. E isto manifesta-se também no final do que é também uma história de amor, mas uma visão bem real deste sentimento, onde as ilusões da paixão também se desvanecem com o tempo e com as dificuldades.
Um livro interessante, em suma, escrito de forma cativante e que, apesar de um ritmo pausado que exige ao leitor uma grande dose de atenção, apresenta um muito interessante percurso de dificuldades... e de como se lhes pode sobreviver.
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