sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Herança (Katherine Webb)

Depois da morte da avó, Erica e Beth Calcott regressam a Storton Manor. As condições do testamento são bem claras: a não ser que ambas as irmãs se mudem para a casa, a casa será vendida e não receberam nada. Mas há uma sombra em Storton Manor, um segredo do passado que, desde o desaparecimento do seu primo Henry, marcou a vida das duas irmãs. A cada dia passado naquela casa, a recordação fica mais perto, principalmente face à presença do rapaz que partilha desse mesmo segredo. Mas Erica quer lembrar e, à medida que mergulha mais profundamente no passado, também a razão de ódios mais antigos se aproximará da revelação. É que também a sua bisavó Caroline tinha segredos para guardar...
Percorrendo duas épocas diferentes e alternando entre a primeira e a terceira pessoa, algo que a autora faz muito bem é manter a aura de mistério. O início cria, desde logo, muitas perguntas, e ao oscilar entre a história de Caroline, com o seu amor inaceitável, e o regresso de Erica, com a sua busca pelas memórias de um assunto inacabado, surge uma interessante dualidade entre vontade de esquecer e necessidade de recordar, entre culpa e redenção, entre ódio... e algo que, não o sendo completamente, se aproxima, aos poucos, do amor.
É muito fácil entrar na mente das personagens, mesmo quando estas parecem ter muito a esconder. E, na ligação entre os conflitos do passado e a busca da memória, é possível encontrar tanto simpatia como aversão para com certos aspectos das figuras que dão vida a esta história. Caroline mostra tanto de amor como de crueldade e o mesmo acontece com Meredith. Beth oscila entre a depressão profunda e a necessidade de manter a mínima normalidade para com o seu filho. E, para cada gesto de cada personagem, há um motivo e uma história como justificação.
Feita de mistério, de silêncio, de dor e de perda irreparáveis, há algo de melancolia que se insinua no evoluir da narrativa, a impressão de uma tragédia inevitável. Mas nem tudo é a preto e branco e, num cenário em que a mágoa é demasiada para um final completamente feliz, a forma como a autora encerra esta história acaba por se revelar adequada, quase real. Também isto é um elemento marcante nesta leitura: a noção de que tudo tem consequências e que ignorar o passado não o fará desaparecer.
Sombrio, por vezes, mas com momentos de grande emoção, fica na memória a história deste livro. Algures entre o segredo e a recordação, a história de uma família imperfeita - como todas - e de como, por vezes, o passado persiste. Um livro marcante.

Sem comentários:

Enviar um comentário