domingo, 13 de agosto de 2017

A Espada do Destino (Andrzej Sapkowski)

Enquanto bruxo, Geralt de Rivia é tido como um simples caçador de monstros, menos que humano e desprovido de sentimentos. Mas a verdade nunca é assim tão simples e Geralt é movido por um código que que impõe grandes limites morais aos monstros que está disposto a perseguir. E, a cada aventura, a morte segue-o, passo a passo, mas Geralt recusa-se a olhar para trás. Percorrendo o mundo sem destino, enquanto o seu destino o aguarda...
Tal como já acontecia no livro anterior, esta não é propriamente a narrativa de uma aventura com princípio, meio e fim, mas um conjunto de histórias em que a intervenção de Geralt, ou o seu próprio percurso pessoal, mudam o rumo das coisas. E, também à semelhança do livro anterior, mas agora de forma mais evidente, cada uma destas histórias parece querer abrir caminho para o que virá a ser uma história maior - a da predestinação de Geralt, que não acredita na predestinação. Ora, o que torna interessante este conjunto é precisamente isso: a sensação do muito potencial que ainda está para vir, conjugada com um conjunto de aventuras que são também muito cativantes. Como que uma janela para conhecer melhor personagens que têm um grande papel pela frente.
E, falando em personagens, claro que quem mais fascina em tudo isto continua a ser Geralt, com a sua natureza de bruxo - e o que dela os outros pensam - a contrapor-se ao que as acções realmente demonstram e a uma verdade que é maior do que a crença de quem observa. Geralt é um mistério, um enigma por natureza - e, porém, há tanto nos seus actos de espantosamente humano (no melhor sentido da palavra) que é difícil não querer saber que mais coisas o esperam no seu longo caminho. 
O que me leva às histórias e à forma como, apesar de continuar presente a impressão de que a maior parte deste mundo permanece por revelar, cada um destes episódios permite ficar a conhecer melhor as personagens, os traços distintivos dos diferentes seres e também o mundo e o contexto em que se movem. Além, é claro, de proporcionarem belos momentos de leitura, com os seus momentos intensos, divertidos ou até comoventes. 
Ah, e há pequenas coisas... Na forma como a história está escrita, na visão que algumas personagens têm das outras e na própria percepção que Geralt tem de si mesmo estão presentes pequenas grandes questões que, transpostas para a realidade, dão muito material para reflexão. Porque é que os bruxos, por serem bruxos, não têm sentimentos? Porque é que todos os ananicos são iguais? E será mesmo assim, ou o preconceito está na mente de quem os observa? Há muitas questões relevantes escondidas neste mundo de fantasia, e é também isso que torna a leitura marcante.
Tudo somado, a impressão que fica é, mais uma vez, a de uma introdução a uma história que promete ser muito mais vasta. Mas também a de um conjunto de aventuras cativantes, com um protagonista forte e memorável e um mundo tão cheio de potencial como as personagens que nele se movem. Vale a pena conhecer Geralt de Rivia. Vale mesmo muito a pena. 

Autor: Andrzej Sapkowski
Origem: Recebido para crítica

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