Passaram dez anos desde que a ação dos Coletores acabou com grande parte da tecnologia do universo, deixando muitos planetas reduzidos a uma sombra do que eram e expostos à entrada de novos poderes. E houve realmente um novo poder a surgir. A magia tomou posse e agora é uma figura tenebrosa a quem todos chamam de Mãe, que reina sobre o universo. Só que nem todos estão dispostos a ser "salvos" por esta figura "materna". É o caso de Andy e da sua filha Mila, que vivem isolados do mundo para não terem de se submeter. Só que o passado não está tão morto como parecia. E a aparição de um velho amigo fará com que a paz precária da vida de Andy e de Mila se veja subitamente destroçada.
Uma das primeiras coisas que importa referir sobre este livro é que, apesar de ser o início de uma nova série, é importante ter lido a série Descender para entender os acontecimentos. E, tendo lido essa série, uma das primeiras coisas a saltar à vista é o contraste entre os dois mundos e a forma como tudo mudou em tão pouco tempo. O mundo de Mila não podia ser mais diferente do de TIM-21. E, ainda assim, há elos de ligação em toda a parte, o que faz com que este novo livro seja - apesar de ser o início de uma nova série - também a continuidade perfeita para a série Descender.
Embora todo o cenário tenha sofrido alterações drásticas, as qualidades essenciais mantêm-se as mesmas: a arte, com os seus traços singulares, que, sobretudo nos grandes momentos, fazem com que as personagens quase pareçam ganhar vida na página e o seu contraste entre os diferentes cenários; a oscilação entre diferentes perspetivas, que mostram mais uma vez uma rede de movimentações que promete tornar-se cada vez mais complexa; e a ligação pessoal, que nasce da inocência de algumas personagens em contaste com a crueldade implacável de outras, e também da falibilidade que humaniza as que não são uma coisa nem outra. É particularmente notável, aliás, o caso das personagens que já vinham do livro anterior: o Andy deste livro é mais maduro e marcado, e gera uma empatia absurda; Telsa, por sua vez, parece ter sofrido a mais dramática das transformações... mas o coração continua lá. E, assim, num mundo que parece totalmente novo, existe uma familiaridade que, apesar de tudo o que mudou, nunca deixa de ser reconfortante.
Sendo o primeiro volume - e sendo uma continuidade de Descender - não é propriamente surpresa que fiquem muitas possibilidades em aberto. Aliás, depois de todas as surpresas que surgem ao longo deste livro, todas as possibilidades estão em aberto. Não fica, porém, curiosidade insatisfeita, até porque é evidente que a história vai continuar. Fica, sim, uma vontade irresistível de saber como. E de ler o que se segue o mais rapidamente possível.
A mesma intensidade e a mesma emoção, num mundo que é também o mesmo, mas não poderia estar mais diferente: assim é este primeiro volume de Ascender, uma nova história com os mesmos laços e a mesma capacidade de intrigar, surpreender e comover. Muito, muito bom.