sábado, 30 de abril de 2011

O Feitiço do Highlander (Karen Marie Moning)

Demasiado ocupada com o doutoramento e com a sua função de assistente do seu professor, Jessica St. James praticamente renunciou à sua vida social. Por isso, quando, após a entrega de um valioso espelho encomendado pelo professor, ela julga ver no artefacto o reflexo de um homem simplesmente deslumbrante, Jessi julga que as suas hormonas enlouqueceram. O problema é que o homem no espelho existe mesmo e Cian MacKeltar, feiticeiro do século IX aprisionado no Espelho Negro há mais de um milénio e parte da razão por que o mundo de Jessi deixou de ser seguro.
Há algo de mágico e de intrigante na forma como a autora consegue entrelaçar magia e mitologia numa história que, sendo bastante centrada no romance entre os protagonistas, não se limita a isso. Se é verdade que a atracção e a sensualidade desempenham um papel bastante relevante ao longo do enredo - e a autora é bastante detalhada no que toca à descrição das cenas mais escaldantes - há toda uma história para lá desse aspecto, uma ameaça clara e os perigos que esta representa, e também as implicações desta ameaça no mundo que rodeia os protagonistas.
É, também, algo de muito agradável o regressar a personagens de livros anteriores. Ainda que agora como figuras secundárias (mas com um papel relevante a desempenhar), não deixa de ser um factor interessante o facto de saber um pouco mais sobre como a vida dos fascinantes Drustan e Dageus MacKeltar evoluiu após as suas próprias dificuldades. E, neste caso, a sua presença serve também para traçar intrigantes paralelismos entre estes dois e o seu mais que invulgar antepassado.
A escrita é bastante agradável e cria um ambiente envolvente, ao mesmo tempo que apresenta pequenos detalhes sobre a mitologia (mitologia esta que poderia, talvez, ser um pouco mais explorada) e desenvolve personalidades interessantes, no sentido de uma história que, ainda que bastante centrada na atracção entre os protagonistas, explora também um maior espectro de emoções: empatia, espírito de sacríficio, coragem, confiança... e muito mais.
Uma leitura cativante, onde o romance é um elemento essencial, mas não o único ponto de interesse de uma história onde, para além da força dos protagonistas, também todo o sentido de uma família maior que o tempo é explorado em todos os seus valores.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Búfalo (Botika)

Este não é um livro vulgar. Aqui, cruzam-se os mais improváveis elementos: um homem que, atacado por um animal, é reconstruído por um estranho cirurgião plástico; um cão que, pelas mãos miraculosas do mesmo cirurgião, é reconvertido em mulher; uma luta sanguinária entre os mais improváveis adversários; uma criança que vive num aquário... e toda uma série de figuras e acontecimentos que, posicionados no limite do impossível, criam assim uma sequência de episódios estranhamente intrigantes.
Com um estilo de escrita muito próprio, onde as mais diversas e imagens se associam numa linha de acontecimentos que oscila entre tons de quase ternura e uma violência perturbadora (com muitas outras emoções e impressões ao longo do percurso), não é propriamente uma linha narrativa aquilo que mais se destaca desta leitura. É, sim, um caminho de imagens e de impressões que, de capítulo em capítulo, criam uma sequência muito visual e precisa de situações e de emoções, num imaginário onde muito é estranho e tudo parece ser possível.
No fundo, acaba por ser o choque de todas essas imagens - tão improváveis, mas apresentadas de uma forma tão directa que quase parecem pertencer ao quotidiano de qualquer ser - que deixa uma marca depois de terminada a leitura. Depois de um contacto inicial marcado pelo choque, pelo oscilar de emoções tão diferentes, mas ligadas, afinal, pelas figuras que as vivem, é o percurso da brutalidade à ternura, com todas as suas mudanças e divergências, aquilo que realmente permanece na memória.
Não é propriamente uma leitura fácil. Com a nitidez de imagens que podem ser tão belas como cruéis, este é um livro que, seguramente, poderá abalar sensibilidades. Há, ainda assim, algo de intenso e de fascinante, passado o impacto da estranheza inicial, e esse, acima de tudo esse efeito que torna este livro tão interessante.

Novidade Sextante

«Jazzé foi a alcunha que Calado pôs a Jozé nos tempos do Clube Universitário de Jazz pela forma como apreendia os sons e os nomes e as vidas do jazz e dos seus génios, pelo empenho que Jozé punha na divulgação desta arte de passar sons, pela maneira como escrevia, dançava, discutia, se empenhava política e culturalmente nessa luta.»

José Duarte nasceu em Lisboa em 1938. Foi fundador do Clube Universitário de Jazz de Lisboa, em 1958. Nesse mesmo ano iniciou a sua actividade na rádio com o programa Jazz Esse Desconhecido, na Rádio Universidade.
Esta actividade de divulgação e educação para o jazz tem prosseguido até hoje, com destaque para o lendário Cinco Minutos de Jazz, nascido na Rádio Renascença em 1966 (e até 1975), depois na Rádio Comercial (1984-1993) e agora na RTP Antena 1 (desde 1993). Os programas Pão com Manteiga, À Volta da Meia-Noite e Abandajazz (todos na Rádio Comercial), A Menina Dança? (desde 1989 mas na RTP Antena 1 desde 1993) e Jazz Com Brancas (na RTP Antena 2 desde 2006), acompanhados por programas televisivos na RTP2, Outras Músicas (1990-1993) e Jazz a Preto e Branco (2001), completam este seu lado da vida. Autor de múltiplas conferências e das biodiscografias dos músicos portugueses no New Grove Dictionary of Jazz (2.ª edição), membro de júris, coordenador em 2007-2008 da organização de uma orquestra de jazz com jovens músicos da UE ao abrigo das presidências europeias de 2007, editor do site www.jazzportugal.ua.pt (desde 1997) e professor auxiliar convidado da Universidade de Aveiro e do respectivo Centro de Estudos de Jazz desde 2002, José Duarte foi galardoado em 2004 com a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura, em 2005 com a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores e em 2008 com a Medalha Municipal de Mérito-Ouro da Câmara Municipal de Lisboa. No dia 10 de Junho de 2009, foi condecorado pela Presidência da República como Grande Oficial da Ordem de Mérito e, a 10 de Dezembro do mesmo ano, foi homenageado na Universidade do Algarve, em Faro.

Novidade Esfera dos Livros

António Champalimaud foi o maior empreendedor do século XX português, um verdadeiro construtor de impérios. Durante 64 anos, desde os 18 anos até à sua morte, a sua vida foi inteiramente dedicada aos negócios. Herdeiro, multiplicou a pequena fortuna que lhe foi legada pelo pai e pelo tio e, quando perdeu quase tudo, exibiu a sua gesta de Midas, com aquele raro toque dos que bisam reconstruir impérios. Um homem seco, magro, com um olhar vivo e fala sincopada, convicto das suas afirmações, de uma inteligência rara, enérgico, corajoso, provocador, polémico, determinado e apaixonado pelo risco. Ganhou ao longo da vida vários cognomes: o último imperador, o guerreiro, o tycoon, o caçador, o predador, a velha raposa, o capitão da indústria e barão da finança, o lobo solitário, o mais rico de Portugal. Isabel Canha e Filipe S. Fernandes trazem-nos a biografia completa de António Champalimaud, onde traçam uma história onde não faltam ingredientes. Desde um divórcio olhado de soslaio num país conservador, ao exílio no México, durante cinco anos, fugindo a um mandado de captura no âmbito do processo Sommer, o confisco de todos os seus bens, o refúgio no Brasil, a morte dramática de dois dos seus filhos, a reconstrução da fortuna quando regressou aos negócios em Portugal, em 1992, guerras judiciais várias e a venda do grupo aos espanhóis do Santander. Odiado por uns, admirado por outros, António Champalimaud tinha um carisma difícil de descrever. Disse um dia: «Sou eu. Não me vergo a ninguém.»

Isabel Canha é licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa. Foi colaboradora da secção de Economia do jornal Semanário. Integrou a equipa fundadora da revista Exame e Fortuna. Foi editora-chefe na Executive Digest e no âmbito da qual desenvolveu o suplemento trimestral Executiva. Foi directora da Cosmopolitan. Foi directora da revista Exame, desde Setembro de 2003. É autora de As Mulheres Normais têm Qualquer Coisa de Excepcional (2009, Bertrand).
Filipe S. Fernandes nasceu em Angola. Licenciado em Comunicação Social pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e tem uma pós-graduação em Comunicação, Cultura e Tecnologias pelo ISCTE. É jornalista desde 1985 quando se iniciou no jornal Semanário. Esteve na Exame, e fez parte do grupo de criadores da revista Fortuna, depois Fortunas & Negócios. Foi editor do Diário Económico e do Jornal de Negócios. Actualmente é director-adjunto da Exame. Autor de vários livros.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Regresso dos Deuses - Rebelião (Pedro Ventura)

Inconsciente de como o seu mundo mudou ou até de como exactamente sobreviveu à passagem do tempo, Calédra Denaris desperta de um sono demasiado longo. E o mundo que descobre em seu redor é-lhe completamente desconhecido. Sem nada de seu e com muito que assimilar, a orgulhosa guerreira terá de encontrar um caminho em direcção às suas respostas, ao mesmo tempo que, perante tudo o que mudou na hierarquia e nos princípios do mundo, se descobre no papel de defensora para uma raça que não é a sua.
Há algo de cativante e de particularmente fascinante na forma em como, desde as primeiras páginas, a personalidade de
Calédra
se revela em toda a sua peculiar força. Heroína improvável, não por fragilidades que tenha, mas por uma posição algo afastada da clássica figura heróica,
Calédra
surge como uma personagem que, sendo ambígua em certos aspectos (as suas acções tanto podem ser gloriosas como censuráveis), é, contudo, quase inabalável nas suas certezas e convicções. Com um temperamento difícil, uma aparente falta de sensibilidade e uma certa medida de arrogância, pareceria, à primeira vista, uma figura pouco merecedora de empatia. Mas não é isso que acontece. Através das sombras de um passado tenebroso, de um lado mais sensível que a armadura da guerreira impassível dificilmente poderia deixar prever e de um longo e duro caminho de redenção,
Calédra
revela-se fascinante precisamente porque raramente é completamente transparente. Nem bem, nem mal, mas um ponto algures entre ambos.
Também a história cresce à medida que a complexidade da sua protagonista vai sendo mais e mais desenvolvida. O que começa por ser, de certo modo, um caminho pessoal na assimilação de um mundo em colisão com o passado, torna-se um conflito mais global e indispensável, já que as ameaças estendem-se a alvos bem mais vastos que a guerreira. E é por isso que a história envereda mais e mais por um caminho de lutas e conflitos, sendo inclusive as principais relações entre personagens exploradas neste contexto.
Também no que toca a personagens secundárias há uma certa imprevisibilidade e é no caso de Delkon que as revelações se tornam mais surpreendentes. Surgindo como pouco mais que um jovem sonhador, o dhorian revela-se como uma figura bastante mais intrigante do que poderia parecer e, ainda que a sua história pareça terminar de uma forma um pouco brusca, o facto é que é ele o centro de uma certa perturbação no rumo dos acontecimentos.
Cativante, uma história onde todo um conflito de raças e de valores se concentra numa figura que, não o sendo, reflecte simultaneamente o melhor e o pior da natureza humana e que, de um início intrigante a um final que deixa muitas perguntas no ar, nunca perde o interesse, quer pela história, quer pelas figuras que a definem. Muito bom.

Novidade Porto Editora

1953, Isabel II é coroada. A comunidade inglesa em Hong Kong reúne-se para celebrar o acontecimento. Para Joy, trata-se apenas de mais uma reunião enfadonha, idêntica a tantas outras. Mas a sua vida transformar-se-á nessa mesma noite ao conhecer o jovem oficial da Marinha Edward Ballantyne. A impulsiva proposta de casamento após um breve encontro parece ser a resposta a todos os desejos de Joy.
Mais de quarenta anos volvidos, Joy e Edward vivem na Irlanda e a sua relação com Kate, a filha, e Sabine, a neta de dezasseis anos, é uma relação distante e fria. Em Londres, Kate tenta resolver mais uma das suas inúmeras crises amorosas e, numa tentativa de proteger Sabine, decide que ela vá passar umas férias com os avós.
Para surpresa geral, Sabine parece adaptar-se bem à vida no campo e ao difícil temperamento da avó. Até que o súbito agravamento do estado de saúde de Edward obriga Kate a um inesperado regresso à casa de família, reabrindo as velhas feridas que a separam de Joy. Que segredos afastam mãe e filha? Poderá Sabine unir duas gerações tão diferentes, ou cairá também ela no silêncio que as separa?

Jojo Moyes nasceu em 1969 e cresceu em Londres. Estudou jornalismo e foi correspondente do jornal The Independent até 2002, quando publicou o seu primeiro romance, este Retrato de Família, e resolveu dedicar-se à escrita a tempo inteiro.
Publicou depois Foreign Fruit (2003), The Peacock Emporium (2004), The Ship of Brides (2005), Silver Bay – A Baía do Desejo (2007), Um Violino na Noite (2008), The Horse Dancer (2009) e The Last Letter from your Lover (2010). Com Foreign Fruit e The Last Letter from your Lover obteve o prémio Romantic Novel of the Year, para o qual esteve também nomeada por The Ship of Brides e por Silver Bay – A Baía do Desejo.
Do catálogo da Porto Editora constam já os seus romances Silver Bay – A Baía do Desejo e Um Violino na Noite.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Aventuras de Sherlock Holmes II (Sir Arthur Conan Doyle)

Mais quatro exemplos do poder dedutivo do único detective consultor do mundo são apresentados neste pequeno livro que forma parte das Aventuras de Sherlock Holmes. E, mais uma vez, é na invulgar personalidade do detective que se encontra grande parte do interesse destes casos.
Começamos com O Homem do Lábio Torcido, onde o encontro de Watson com Holmes num ligar pouco recomendável leva à investigação de um caso onde vítima e assassino estão ligados por um elo invulgar. Com um início algo monótono e deduções um pouco vagas, este conto acaba por evoluir, ainda assim, para uma leitura agradável e, em certa medida, intrigante.
Com vários pontos em comum com o conto anterior, Um Caso de Identidade apresenta a história de uma mulher abandonada no altar, mas que persiste na busca do seu noivo. Em parte devido às semelhanças com o conto anterior, há uma certa previsibilidade neste caso. Ainda assim, há algo de fascinante na forma como o sentido de justiça de Holmes é apresentado.
Segue-se A Faixa Malhada. Dois anos após a morte da irmã, uma mulher sente a vida em perigo e procura resolver o mistério de um passado que agora a ameaça. Um conto bastante intrigante, ainda que de ritmo algo lento e onde, mais uma vez, a grande força reside na estranha aplicação do sentido de justiça do detective.
Por último, o que é, para mim, o melhor conto deste livro. As Cinco Sementes de Laranja tem por base uma mensagem misteriosa seguida de uma morte inevitável, numa investigação que coloca Holmes no caminho de alguns elementos do Ku-Klux-Klan. Cativante, no geral, mas particularmente marcante pela forma como a falibilidade do detective é explorada, tanto como factor de perda como enquanto força motriz.
Uma leitura agradável, ainda que haja casos bastante mais intrigantes no percurso do estranho e fascinante Sherlock Holmes, mas que apresenta, ainda assim, uma visão bastante precisa das melhores qualidades (e de algumas fraquezas) de um dos detectives mais famosos da literatura. Gostei.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Tratado das Fadas (Édouard Brasey)

Ismaël Mérindol é uma criança das fadas, isto é, um filho de seres feéricos deixado para ser criado entre humanos. E é através da sua história que este indivíduo apresenta, em linhas essenciais, os fundamentos da natureza, ligações e forma de vida das fadas, bem como as suas acções através dos tempos.
Seguindo a mesma linha do Tratado de Vampirologia, surge agora esta obra dedicada às fadas. Com uma edição cuidada, ilustrações interessantes e um conteúdo que me parece bastante mais completo que o do livro dedicado aos vampiros, este tratado adquire uma certa envolvência pela forma mais pessoal como é apresentado. A história de Ismaël surge como ponto central da primeira parte deste livro (que é também a mais interessante), proporcionando uma leitura mais cativante na medida em que a informação vai sendo intercalada com uma linha narrativa interessante.
Já a segunda parte, na qual outros "tratados famosos" são reproduzidos, adquire um tom bastante mais denso, em contraste com a voz quase leve da narrativa de Ismäel. Há, ainda assim, também muito de interesse nestes textos e a visão global que fica desta leitura é bastante completa no que à natureza das fadas diz respeito.
Uma leitura interessante, ainda que não propriamente compulsiva e que, para além de toda uma base de conhecimentos relativos às fadas, apresenta uma história interessante no relato da vida de Ismäel Mérindol. Gostei.

Poesia Inglesa - Vol. I (Fernando Pessoa)

Comentado, há alguns meses, o segundo volume da poesia inglesa desse nome incontornável que é Fernando Pessoa, faltava-me, até agora, a oportunidade de ler e comentar o primeiro volume. Corrigido este lapso, impõe-se dizer, antes de mais, que a leitura se revelou à altura das altas expectativas criadas.
Com uma organização mais meticulosa que a dos poemas do segundo volume, transparecem de forma mais evidente as temáticas comuns aos diferentes conjuntos de poemas. E, ainda que a minha predilecção vá para o lado mais introspectivo dos 35 Sonnets, há algo de grandioso e de complexo que marca em trabalhos como o Antínoo e, em particular, The Mad Fiddler, com a dualidade infância/experiência que me traz à memória ecos da poesia de Blake.
Tudo o que eu pudesse dizer sobre este livro seria, no fim de contas, insuficiente. Há demasiado a descobrir em cada poema, quer nos mais introspectivos e pessoais, quer nos que criam imagens e simbolismos de maior complexidade. Fica, por isso, em jeito de conclusão, apenas a certeza de que vale a pena descobrir estes poemas, marcantes tanto pelas divergências estabelecidas com a restante obra do autor como pela força do seu conteúdo por si só. Muito bom.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sangue Mortífero (Charlaine Harris)

No que a vampiros diz respeito, o Louisiana foi anexado ao território do rei Felipe de Castro. Lobisomens e metamorfos acabam de se revelar perante a sociedade. E há uma guerra em curso no mundo dos seres feéricos. No centro de tudo isto está Sookie Stackhouse que, como se não lhe bastasse o macabro homicídio da cunhada, tem ainda de lidar com o interesse dos diversos sobrenaturais no seu dom muito particular. E, mais uma vez, a sua vida estará em perigo e os seus sonhos de uma vida minimamente normais acabarão por se revelar como utópicos e distantes.
Como tem vindo a acontecer nos livros anteriores desta série, permanece a presença de uma série de elementos comuns. A escrita directa e acessível, sem grandes descrições, bem como o ritmo alucinante dos acontecimentos são os grandes elementos a tornar estes livros verdadeiramente viciantes. E se há certos aspectos do enredo que se tornam já algo familiares - os múltiplos pretendentes de Sookie, a sua inevitável tendência para se encontrar precisamente onde o perigo é maior - há sempre algo de novo a surgir para tornar a história interessante.
Neste livro em particular, o destaque vai para dois aspectos. Primeiro, o maior desenvolvimento das circunstâncias e conflitos das fadas. Há algo de particularmente intrigante nestes seres, já que (e ainda mais uma vez) a vida de Sookie parece estar ameaçada por conflitos entre sobrenaturais, mas não há entre as fadas (mesmo nas que estão, de alguma forma, relacionadas com a protagonista) um temperamento que propicie a empatia. Afinal, os seres feéricos não são humanos e isso reflecte-se na forma algo ambígua como lidam no seu contacto com a humanidade. O outro vai para a situação de Sookie em relação a Eric: ainda que de uma forma algo conflituosa, a relação entre ambos toma agora um rumo bastante mais sério e, em consequência, há um maior destaque para o vampiro, comparativamente aos pretendentes que ainda restam, e que, felizmente, têm um papel bem menos relevante neste livro, onde as relações amorosas não são tão exploradas.
Viciante, tal como os livros anteriores, Sangue Mortífero apresenta algumas respostas a questões levantadas ao longo da série, ao mesmo tempo que levanta novas questões e factores de curiosidade. E, com todas as mudanças em curso num mundo onde tantos seres sobrenaturais parecem coexistir, fica, inevitavelmente, a curiosidade em saber o que virá a seguir nas aventuras (e desventuras) de Sookie Stackhouse. Muito bom.

Contos dos Subúrbios (Shaun Tan)

Os subúrbios são um lugar estranho, onde os animais têm sentido de justiça, a poesia esquecida encontra um caminho invulgar até aos leitores e até os objectos mais inúteis se podem transformar num animal de estimação. E são histórias como estas que, numa muitíssimo interessante conjugação de palavra e imagem, o autor apresenta neste pequeno mas fascinante livro.
Cada uma das histórias que constituem este livro é, por si só, uma pequena delícia. Algumas são capazes de nos deixar com um sorriso nos lábios. Outras contêm em poucas frases toda a força de uma emoção profunda. Todas elas transmitem, através da ligação entre imagens precisas e uma voz narrativa directa e envolvente, algo de mágico e de surpreendente escondido entre as coisas mais simples de uma vida aparentemente normal.
É aí, aliás, que está um dos grandes pontos fortes destes contos. O improvável aparece por entre a normalidade como se fosse apenas mais um elemento do quotidiano e, por isso, é incrivelmente fácil imaginar cada uma destas pequenas histórias como a de uma realidade muito próxima. É como se bastasse tentar para alcançar um mundo onde podemos balançar as pernas no fim do espaço ou contemplar todos os cães dos subúrbios em solene homenagem a um irmão assassinado. Tudo isto sem grandes elaborações, mas com a precisão que, de forma directa e sem divagações, deixa na mente do leitor tudo o que este precisa de saber. E de sentir.
Magnificamente ilustrado, feito de histórias surpreendentes e marcantes, uma leitura envolvente e que, apesar da sua brevidade, apela ao melhor lado dos sentimentos de cada um. E só isso bastaria para que valesse a pena ler este pequeno, mas delicioso livro.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um Toque de Perversão (Jennifer Haymore)

A duquesa de Carlton esperou pelo marido durante sete longos anos, depois da batalha de Waterloo. Mas, ao fim desse tempo, decidiu prosseguir com a sua vida e casar com Tristan, amigo constante por quem passara a nutrir sentimentos mais fortes. Mas, um dia, o marido desaparecido regressa, determinado a recuperar tudo o que lhe pertence - incluindo a esposa. E parte da escolha estará também nas mãos de Sophie. Mas como escolher, se, de formas diferentes, ama ambos?
Tendo como linha central do enredo um triângulo amoroso, existem alguns aspectos no desenvolvimento deste livro que são algo previsíveis, principalmente no que toca à atracção das figuras masculinas. Ainda assim, a autora consegue desenvolver este aspecto de uma forma bastante satisfatória, moderando os aspectos mais sexuais da relação para explorar mais as diferenças de personalidade e marcas no passado de ambos os homens, bem como as mudanças operadas na forma de pensar e agir da própria Sophie. Claro que há grandes divergências entre Tristan e Garrett, sendo quase inevitável uma total simpatia para com o primeiro, já que Garrett regressa profundamente alterado, agressivo e com laivos de tirania - ainda que até este seu aspecto sirva um propósito maior no desenvolvimento da história.
O lado mais interessante deste livro está, portanto, na linha de acontecimentos mais afastada do romance. A figura de Fisk, inspiradora de confiança para uns e de desprezo para outros, com o seu esquema de manipulação e os seus objectivos inexplicáveis, contribui para um enredo mais rico em vários aspectos: tanto na união entre ambos os rivais, como na descoberta de memórias importantes, e também na construção das vontades de Sophie e na redenção do próprio Garrett.
Também não é difícil prever as linhas essenciais do final, mas, mais uma vez, a autora consegue compensar este aspecto mais previsível com uma série de perguntas que são deixadas sobre figuras secundárias da narrativa (bem como sobre Fisk e o próprio Garrett) e também com a construção de uma conclusão que, dentro de uma certa medida, insere nas linhas gerais do expectável uma certa medida de ambiguidade, já que mesmo um final feliz nunca é feliz para todos...
Ainda que nalguns aspectos, siga a linha de outros romances do género, Um Toque de Perversão apresenta uma história intrigante e bastante envolvente, onde o romance e a atracção física não são os únicos elementos de destaque, proporcionando uma leitura leve e agradável, com as medidas certas de mistério e emoção.

Vencedor do passatempo O Regresso dos Deuses - Rebelião

Terminado mais um passatempo, resta-me agradecer as 104 participações e anunciar quem vai receber um exemplar do livro O Regresso dos Deuses - Rebelião, de Pedro Ventura.

E o vencedor é...

8. Maria Vaz (Porto)

Boas leituras!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

M*rdas que o Meu Pai Diz (Justin Halpern)

Quando, aos 28 anos, Justin se viu na necessidade de voltar a viver com o pai, o reencontro com um passado de pérolas de invulgar sabedoria levou-o a partilhar com o mundo as principais lições de vida do seu pai. Este livro traz-nos essa história, a de uma vida onde nem tudo é fácil e onde o temperamento paterno tem, de facto, bastante de estranheza, mas, independentemente das peculiaridades formais, as verdadeiras lições de vida estão lá.
É precisamente a forma invulgar, sarcástica e algo improvável como o pai de Justin parece expressar os seus conselhos e pontos de vista que torna este livro interessante. Existem aspectos inevitáveis no percurso de vida e na aprendizagem de cada um, mas o modo como estes são apresentados, de forma ao mesmo tempo chocante e divertida, dão a esta experiência de leitura algo de especial.
Trata-se, pois, de um livro que apresenta algumas lições de vida, mas de uma forma leve, cativante e que proporciona uma forte componente de entretenimento. A voz de Justin ao contar as suas experiências é, por si só, agradável e divertida, o que, aliado às situações e lições do seu pai, dá força a um livro que se lê descontraidamente e que, apesar da sua leveza inerente, deixa alguns pequenos aspectos em que pensar.
Não se trata de uma grande obra do ponto de vista literário - nem me parece que seja esse o objectivo. Penso que este livro é, acima de tudo, a história de uma personalidade invulgar, com uma forte presença perante a vida, e das lições que, de forma mais ou menos caricata, esta figura paterna pretende transmitir. E é por isso que, não sendo nenhuma obra prima da literatura, este livro é, ainda assim, uma boa leitura.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Dom - vol. I (Alison Croggon)

Tendo pouco mais que vagas memórias da sua vida antes da escravidão, Maerad desconhece a existência e as potencialidades do seu Dom. Até ao dia em que o seu trabalho é interrompido pela presença do estranho. Em Cadvan, Maerad encontrará um meio de fuga, um companheiro para uma viagem arriscada e um mentor num mundo que seja talvez o mais próximo de um sentimento de pertença que a jovem alguma vez encontrará. Mas há dúvidas e poderes apenas vagamente conhecidos. E os rumores de um mal que se adensa podem ser mais que apenas rumores...
Não há grandes prelúdios ou explicações iniciais na abertura desta narrativa. A autora abre a história com um momento que é, por si só, revelador e que apresenta de forma bastante precisa ambos os protagonistas e o início de uma relação que se afigura de grande importância. É, por isso, estranhamente fácil entrar na história deste livro, já que as explicações e regras vão sendo apresentadas gradualmente, num processo de aprendizagem em que o leitor acompanha o ritmo da própria Maerad.
Ainda assim, este primeiro volume (metade do livro original) acaba por funcionar, em grande parte, como uma introdução a algo de mais complexo. Centrado num certo conhecimento do mundo, das regras e dos principais eventos que marcam a história de Annar, é, afinal de contas, nos acontecimentos iniciais que reside a maior parte da tensão na narrativa, sendo o resto uma viagem que, apesar das suas atribulações, parece ainda mal ter começado.
É, pois, nas personagens que reside o ponto mais interessante deste livro. Maerad, quase inocente, principalmente devido a uma vida demasiado isolada e ao desconhecimento quase total dos factos relacionados com as suas verdadeiras capacidades, contrasta de forma marcante com o temperamento misterioso e distante de Cadvan, reflexo de um percurso marcado por demasiadas experiências difíceis e por todo um caminho de perigos e mistérios.
Trata-se, pois, de uma leitura cativante, ainda que muito fique dependente do desenvolvimento do enredo no volume seguinte. Fica, ainda assim, uma impressão bastante positiva deste início para uma história que se afigura bastante promissora. Gostei.

Novidades Casa das Letras para Maio

A Vida Imortal de Henrietta Lacks
Rebecca Skloot
Memórias

O seu nome era Henrietta Lacks, mas os cientistas conhecem-na como HeLa. Era uma pobre assalariada numa plantação de tabaco, trabalhando a mesma terra que os seus antepassados escravos. Mas as suas células – retiradas sem o seu conhecimento – tornaram-se numa das ferramentas mais importantes na Medicina: as primeiras células humanas «imortais» da ciência.
Ainda estão vivas hoje, embora Henrietta tenha morrido há mais de sessenta anos.
Como Rebecca Skloot tão brilhantemente mostra, a história da família Lacks está indissoluvelmente ligada à história da ciência, ao nascimento da bioética e às infindáveis batalhas jurídicas sobre se podemos controlar a matéria de que somos feitos.

Nas livrarias a 16 de Maio

A História pelo Buraco da Fechadura
José Jorge Letria
História

Este é um livro escrito para quem gosta das muitas histórias de que a grande História se alimenta. É sabido que a Histó­ria sempre foi escrita pelos vencedores e não pelos vencidos. Mas o mesmo não acontece com as pequenas histórias, tantas vezes integradas no imaginário colectivo sob a forma de ane­dota ou de dito de espírito.
José Jorge Letria reuniu neste livro centenas dessas pequenas histórias que vão permitir ao leitor olhar a grande História pelo buraco da fechadura.

Nas livrarias a 9 de Maio

Nos Bastidores da Wikileaks
Daniel Domscheit-Berg
Memórias

Daniel Domscheit-Berg foi porta-voz da WikiLeaks e, com Julian Assange, a única cara conhecida da plataforma de investigação. Num relato feito a par­tir do interior, dá-nos uma visão profunda da or­ganização secreta que abalou inúmeras instituições em todo o mundo.
Domscheit-Berg conta a histó­ria da WikiLeaks como nunca ninguém a ouviu.

Nas livrarias a 9 de Maio

4 Horas por Semana – O Corpo
Timothy Ferriss
Livro Prático

Será possível atingir o potencial genético em 6 meses? E dormir 2 horas por dia e ter um melhor desempenho? E perder mais gordura do que um maratonista e enfardar comida? Sim, e muito mais!
O autor Timothy Ferriss partilha as experiências incríveis que fez ao longo de 10 anos para vencer a genética e alcançar o impossível… para ele e para mais de 200 homens e mulheres entre os 18 e os 70 anos.

Nas livrarias a 29 de Maio

Almanaque da Curiosidade
Ranga Yogeshwar
Ciência Popular

Este livro não ambiciona mais do que ser um pequeno guia pelo nosso mundo excitante e surpreendente. Se, aqui ou acolá, o livro lhe abrir o apetite para ir à descoberta de uma determinada curiosidade, então faça um desvio e siga o seu próprio caminho!
Porque é que no Totoloto nunca se deve apostar na sequência 1, 2, 3, 4, 5, 6? Porque é que as orelhas dos elefantes são tão grandes? Porque é que as estrelas brilham? Porque nos sentimos indispostos quando lemos em viagem? Porque é que as mulheres têm sempre os pés frios?

Nas livrarias a 23 de Maio

Ingrediente Secreto
Henrique Sá Pessoa
Culinária

Ao longo da primeira série televisiva de Ingrediente Secreto, o Chef Henrique Sá Pessoa entrou nas nossas casas para apresentar os ingredientes de eleição de cada época, confeccionados com receitas fáceis, saborosas e coloridas.
Neste primeiro livro Ingrediente Secreto pode descobrir ou relembrar as histórias dos 13 ingredientes convidados e as quatro receitas que mais deliciaram os espectadores durante a série.
E para não deixar de surpreender os nossos seguidores, guardámos para esta edição duas receitas inéditas para cada ingrediente.

Nas livrarias a 29 de Maio

terça-feira, 19 de abril de 2011

A Biblioteca das Sombras (Mikkel Birkegaard)

Jon Campelli é um advogado de sucesso, com uma carreira promissora pela frente. Mas a morte súbita do pai irá mudar a sua vida, não porque a relação entre ambos tenha sido de proximidade, mas porque o legado de Luca Campelli, a livraria Libri di Luca, é muito mais que um simples estabelecimento comercial. Cedo Jon descobrirá que há uma sociedade invulgar associada ao percurso de vida do seu pai e que a influência dos Lectores sobre um acto tão simples como o de ler algumas frases é bem mais poderosa do que qualquer pessoa normal poderia adivinhar.
Com um ritmo inicialmente pausado, mas que cresce em intensidade à medida que mais e mais vai sendo revelado sobre os leitores, este é um livro que conquista progressivamente a atenção do leitor. Se os acontecimentos iniciais são, por si só, intrigantes, a verdadeira natureza dos Lectores, os diferentes tipos de poderes e suas possíveis utilizações e a forma como a influência sobre a leitura é explorada, com possibilidades abertas tanto no bem como no mal, abrem toda uma variedade de possibilidades que vai sendo explorada num enredo de fascínio crescente, à medida que também o conhecimento e o envolvimento do protagonista em toda a situação se torna mais forte.
Jon Campelli é um protagonista que não desperta automaticamente simpatia, mas que conquista tanto pela sua necessidade de reagir à medida que mais problemas e dúvidas lhe surgem no caminho como pela sua falibilidade, já que, sendo uma figura de particular poder, não é, ainda assim, inatingível, ante adversários que têm, também, grandes meios à disposição.
Há alguns elementos mais previsíveis, principalmente no aspecto romântico (algo secundário, e talvez por isso algo apressado) e na figura do inevitável traidor (que é relativamente fácil de identificar). Estes detalhes, contudo, são amplamente compensados por uma ideia geral muitíssimo interessante, em particular na construção da sociedade dos Lectores, e por momentos de grande tensão e intensidade (e aqui as leituras de Jon são algo de particularmente marcante).
Intrigante, com um protagonista cativante e um enredo interessante em vários aspectos, uma leitura que começa a ritmo lento mas que ganha envolvência à medida que o seu verdadeiro potencial se manifesta. Vale a pena ler.

Novidades Dom Quixote para Maio

A Viagem dos Cem Passos
Richard C. Morais
Ficção Universal

Richard C. Morais, que nasceu em Lisboa em 1960, agora com nacionalidade americana, escreveu um livro que nos fala da ascensão do jovem Hassan Haji, o improvável gourmand que narra a viagem da sua vida. A inesperada tragédia que empurra os Haji para fora da Índia leva-os a estabelecerem-se em Lumière, uma pequena aldeia nos Alpes franceses. A saborosa guerra culinária entre o barato restaurante indiano da família de Hassan e o elegante relais francês da famosa chef Madame Mallory marca a vida da aldeia de Lumière a partir desse momento, e, posteriormente, abre as portas da cozinha francesa ao jovem. A Viagem dos Cem Passos, ou os cem metros que separam um novo restaurante indiano e a cozinha tradicional francesa, espelha o poderoso abismo entre tão diferentes culturas e desejos.

Nas livrarias a 16 de Maio

O Seu Lado Clandestino
Peter Carey
Ficção Universal

O Seu Lado Clandestino conta a história de Che – um rapaz criado em Nova Iorque sob protecção da avó, filho precoce de um casal de activistas radicais, estudantes em Harvard, em finais dos anos 60. Desejando ansiosamente a companhia dos pais, conhecidos pela sua vida na clandestinidade, e vendo-se privado do acesso à televisão e às notícias, o rapaz encontrará apoio nas palavras de um vizinho, um adolescente de cabelo comprido, que prevê: «Um dia eles vêm buscar-te, pá. Eles vão tirar-te daqui.»

Nas livrarias a 23 de Maio

Ilha Teresa
Richard Zimler
Ficção Universal

A vida de Teresa muda radicalmente quando os pais deixam Lisboa para irem viver em Nova Iorque. Não estando preparada para a vida na América, com dificuldade para se exprimir em inglês, Teresa encontra refúgio no seu particular sentido de humor e no único amigo, Angel, um rapaz brasileiro de 16 anos, bonito, mas desastrado, que adora John Lennon e a sua música. Mas o mundo de Teresa desmorona-se completamente quando o pai morre e a deixa, a ela e ao irmão mais novo, com uma mãe negligente e consumista.

Na Livrarias a 9 de Maio

A Manhã do Mundo
Pedro Guilherme-Moreira
Autores Língua Portuguesa

No dia 12 de Setembro de 2001, Ayda encontrou-se com Teresa num café de Allentown e, com o jornal aberto sobre a mesa, foi implacável com os que tinham saltado das Torres Gémeas, chamando-lhes cobardes. Entre os que saltaram, estavam Thea, Millard, Mark, Alice e Solomon – todos personagens fascinantes, com histórias de vida simultaneamente banais e extraordinárias –, que o acaso reuniu no 106.º piso da Torre Norte do World Trade Center naquela fatídica manhã. Se Ayda, por hipótese, conhecesse essas histórias e o drama que eles enfrentaram, decerto não os teria insultado tão levianamente. Mas poderá o destino dar-lhe uma oportunidade de rever a História?

Nas livrarias a 16 de Maio

Por Este Mundo Acima
Patrícia Reis
Autores Língua Portuguesa

Neste seu novo livro, Patrícia Reis descreve-nos um cenário de terrível desastre que assola a cidade de Lisboa. Entre os sobreviventes há um velho editor procurando amigos e amores desaparecidos.
Encontra um manuscrito e um rapaz e, neles, a porta para uma outra dimensão da vida.
Por Este Mundo Acima é a consagração dessa melhor forma de amor que é a amizade. Uma História sobre a importância redentora dos livros.

Nas livrarias a 16 de Maio

As Luzes de Leonor
Maria Teresa Horta
Autores Língua Portuguesa

Leonor de Almeida Portugal, neta dos marqueses de Távora, foi enclausurada em 1758, com a mãe e a irmã, no Convento de S. Félix, em Chelas, por ordem do futuro marquês de Pombal. Tinha 8 anos. Saiu com 27, precedida pela fama da sua beleza, Luzes e talento poético.
Neste contexto, Maria Teresa Horta recria, num romance sinfónico, multifacetado, uma figura ímpar de mulher na história literária e política de Portugal. Persegue-a e vigia-a nos momentos mais íntimos, atraída pela desmesura de Leonor no seu permanente conflito entre a razão e a emoção.

Nas livrarias a 29 de Maio

Estrela do Mar
Joseph O’ Connor
Ficção Universal

No Inverno impiedoso de 1847, de um Irlanda dilacerada pela injustiça e pela calamidade natural, o Estrela do Mar levanta ferro em direcção a Nova Iorque. Levando a bordo centenas de
refugiados à força, destacam-se entre eles uma criada de servir que tem um segredo devastador,
um Lorde Merridith arruinado e a sua família, um aspirante a romancista, um compositor de baladas revolucionárias. Todos desafiando corajosamente o Atlântico em busca de um novo lar. Todos mais intimamente ligados do que possam pensar. Mas um assassino secreto vigia as cobertas do navio, procurando, faminto, a vingança que lhe trará a absolvição.

Nas livrarias a 23 de Maio

Novidade Planeta

Ferozmente dedicada ao pai adorado e ao rei, Isabel de York, de dezassete anos, acredita que ele quis deixar a Inglaterra nas mãos de um dirigente justo e meritório. Como o jovem sucessor não está pronto para reinar, o poder passa para o tio de Isabel, Ricardo de Gloucester – um homem no qual a mãe nunca confiou. Pouco depois, Isabel receia que a sua própria confiança não se justifique. Após a subida de Ricardo ao trono, a família dela sofre desaires sucessivos e devastadores: o pai, já falecido, é exposto como um bígamo; ela e os irmãos são estigmatizados como bastardos; e os irmãos são presos pelo novo rei e, segundo consta, assassinados. Como pôde o pai acreditar num homem capaz de tamanha perfídia?
Mas numa noite fatídica, Isabel é levada a questionar todos os seus preconceitos. Através dos olhos da rainha consorte de Ricardo, que está doente, ela vê um homem digno de respeito e de uma adoração eterna. A dedicação dele ao povo inspira um amor proibido e acaba por dar a Isabel coragem para aceitar o seu destino, casar com Henrique Tudor e ser rainha.
Embora a sua alma pertença secretamente a outro, o seu coração pertence para sempre à Inglaterra...

Sandra Worth é a autora premiada de quatro romances históricos anteriores. Faz palestras frequentes sobre as Guerras das Rosas e a sua obra tem sido publicada em revistas ricardianas nos Estados Unidos e em Inglaterra. Vive no Texas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Villa Amalia (Pascal Quignard)

Ao descobrir a traição do marido, Ann Hidden entra em choque e decide deixar tudo para trás. Com a cumplicidade de um amigo de infância recentemente reencontrado, Ann livra-se de todos os elementos que pertencem à sua antiga vida e parte, sem destino definido. Na Villa Amalia, encontrará o refúgio que procura, bem como a atracção emocional e a cumplicidade nas figuras de um médico e da sua filha. Mas nada dura para sempre e, mais uma vez, a perda e o choque estão por perto...
A primeira reacção que este livro provoca é de uma certa estranheza. Sem grandes explicações ou descrições, é através dos diálogos que o autor constrói a história, entrelaçando passado e presente nas palavras das personagens e no que estas transmitem aos seus interlocutores. É necessária, pois, uma adaptação inicial ao estilo algo fragmentário do autor, que, num enredo pouco linear (passado e presente vão-se insinuando conforme a necessidade do momento) constrói uma história através dos diferentes momentos.
E é na forma sintética e directa com que os momentos de maior impacto são apresentados que este livro acaba por revelar a sua maior força. A brevidade com que o autor apresenta as situações de perda e as mortes - que são, afinal, também o que marca as sucessivas errâncias de Ann - dão a estas mesmas situações um maior impacto, já que, ao resumir esses momentos ao essencial, cria-se uma certa aceitação do inevitável, ao mesmo tempo que uma impressão duradoura dessa circunstância é deixada a pairar na memória do leitor.
Algo exigente no que toca à atenção do leitor, em parte devido a tudo o que é deixado por contar, Villa Amalia é um livro que, não sendo propriamente viciante, marca pela imagem global, deixada pelos momentos entrelaçados que constituem uma história onde tudo é simples... menos as emoções que transparecem. E são essas o que verdadeiramente marca.

domingo, 17 de abril de 2011

Aroma de pitangas num país que não existe (António Costa Silva e Nicolau Santos)

Dois autores. Um ambiente comum. Duas vozes diferentes. E, apesar dos elos temáticos que ligam os poemas de ambos os autores, quer nos pontos temáticos comuns, quer na mensagem associada aos diferentes poemas, há algo de muito próprio na voz poética de cada autor, algo que transparece quer a nível estrutural, quer a nível de abordagem aos temas.
A poesia de António Costa Silva tem como aspectos marcantes a brevidade de muitos dos poemas, ideias e imagens sintetizadas em poucos versos e representadas na sua essência mais directa. Há, também, uma certa medida de melancolia, noutros textos um tom quase solene, um ambiente quase introspectivo associado ao mais belo, mas também ao mais sombrio, de um lugar, de uma alma e de um pensamento.
Nos poemas de Nicolau Santos, por sua vez, transparece uma maior dedicação aos jogos de palavras, uma certa provocação, um tom no geral mais votado para o exterior que propriamente para o sujeito poético. A voz que expressa o poema diz menos sobre si própria e mais sobre o que a rodeia, sobre as percepções dos conflitos, do mundo como é e como devia ser.
É nestas divergências estilísticas, conjugadas com temas que, muitas vezes, se aproximam, que reside o mais interessante deste livro, já que essa ligação de oposições e semelhanças faz com que o trabalho dos dois autores se complemente, proporcionando uma leitura mais rica e mais completa, bem como uma visão mais abrangente de um país e de um modo de vida, tanto nos aspectos mais globais como nos mais pessoais.
Com muito de cativante e com visões nítidas e marcantes nas experiências e emoções que transparecem de cada poema, este é um livro que, até no mais breve dos seus poemas, apresenta algo de belo a descobrir. E é também isso que torna esta leitura tão interessante...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Uma Grandiosa e Terrível Beleza (Libba Bray)

Gemma Doyle está preocupada com o seu futuro. Por mais que tente insistir na necessidade de ir para Londres para conquistar a sua oportunidade de vida, a mãe não está disposta a isso. Mas uma brusca mudança no rumo dos acontecimentos fará com que Gemma acabe por ter como destino a cidade por que tanto ansiava. A sua mãe foi assassinada em circunstâncias misteriosas e, agora, Gemma encontra-se num colégio interno para raparigas, onde, mais que as dificuldades de integração, terá de lidar com capacidades que nem ela compreende plenamente. Porque Gemma é a ligação a um reino de magia e de poder. Mas de poder com consequências.
Há algo de surpreendente na forma como a autora consegue interligar elementos comuns a este tipo de livro e construir uma história com muito de próprio e um ritmo tão envolvente. Os elementos comuns são, claro, uma certa medida de dilema adolescente (que cedo se desvanece ante situações de maior importância), um toque muito leve de romance e o clássico cenário escolar. Mas, talvez, em parte, devido à época diferente, há uma nova visão destes aspectos. As preocupações amorosas de Gemma e suas amigas prendem-se mais com a possibilidade de casarem com um velho rico por vontade dos pais, que propriamente com os habituais dilemas e triângulos amorosos. As regras da Academia são, naturalmente, diferentes das de um colégio actual. E o romance vai-se insinuando de uma forma muito mais gradual, o que o torna também mais real.
Aliados a esta abordagem refrescante dos pontos mais comuns, há uma mensagem bastante forte e uma abordagem ao sobrenatural um pouco invulgar, mais centrada num poder mágico existente num lugar preciso que propriamente em possíveis criaturas sobrenaturais. Há os que controlam o poder e os que não o fazem, mas, ainda assim, é de humanos que se trata. Depois, há algo de bastante belo no ambiente dos Reinos, estabelecendo um contraste com os perigos ainda desconhecidos, ao mesmo tempo que cria um cenário neutro para o desenrolar de amizades aparentemente improváveis.
Falta ainda referir o final. Deixando em aberto muitas possibilidades, há, ainda assim, um ciclo que se encerra e que se prende com a já referida mensagem que transparece. Todas as escolhas, ainda que feitas inocentemente, têm consequências, e há alturas em que é simplesmente necessário viver com isso. A forma como este livro se encerra, com algo de perda, muito de responsabilidade e uma inocência que, de certa forma, se desvanece ante o conhecimento, reflecte exactamente essa verdade, uma verdade que, com magia ou sem ela, acaba por se manifestar em todos os ciclos de vida.
Envolvente, surpreendente, com um enredo cativante e grandes momentos de tensão e emoção (bem como algumas situações divertidas), uma leitura intensa e viciante, com as medidas certas de entretenimento e material para reflexão. Muito bom.

Convite

Passatempo O Regresso dos Deuses - Rebelião

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a Editorial Presença, tem para oferecer um exemplar do livro O Regresso dos Deuses - Rebelião, de Pedro Ventura. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Como se chama a protagonista deste livro?
2. Qual é a sua missão?
3. Em que colecção da Presença se encontra incluído este livro?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 21 de Abril. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada completos);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O Dois Amigos (Kirmen Uribe)

Partindo da história do seu avô, homem do mar e dono do barco Dois Amigos, o narrador/protagonista encontra a ideia base para um romance. E, ao longo de uma viagem entre Bilbau e Nova Iorque, as memórias, as perguntas e as histórias de múltiplos passados formam um retrato preciso, apesar dos seus múltiplos fragmentos, de todo um percurso de vidas e recordações.
É com a inconstância da memória, com a força das ligações inesperadas, que o autor constrói a forma deste romance. Não há uma linha temporal precisa, mas uma oscilação entre fragmentos do tempo, através de diferentes episódios, múltiplas vidas cruzadas em situações mais ou menos complexas. E se, em cada recordação aflorada durante a viagem tranquila que parece ser o centro comum de todas as memórias há uma história marcante em si mesma, é quando todos os elos se unem que a visão global da(s) história(s) se manifesta na sua força total. Porque não é só de uma história familiar que se trata: há episódios de guerra, reflexões sobre a arte, encontros, separações, vida... e morte.
Interessante também o percurso entre os diferentes lugares, numa história que é, afinal, de viagens dentro de uma viagem. Viagens entre diversos locais, mas principalmente viagens entre múltiplas recordações. Porque é na força das memórias e das diferentes personalidades por elas apresentadas que reside o maior encanto deste livro.
Falta, por fim, mencionar a ideia do romance dentro do romance, já que, à medida que a viagem (e as histórias) deste livro se desenvolve, é, por várias vezes, referido o processo de construção de ideias para o romance que é, afinal, o livro que conta esta história. Há, portanto, algo de curioso nas memórias contadas neste livro, sendo algumas também as memórias da criação deste livro.
Um livro feito de pequenos momentos e de memórias poderosas, com uma escrita onde uma beleza poética se conjuga com a simplicidade necessária para dar forma a uma história de múltiplos significados e de agradável leitura, num livro onde a memória parece ser a força soberana.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mataram a Rainha! (Juliette Benzoni)

Na noite em que Charlotte de Fontenac foge do convento, determinada a contrariar a vontade da mãe (que, independentemente da sua vontade, pretende que a jovem tome os votos), o seu caminho acaba por se cruzar com o de um estranho grupo. Escondida nas sombras, Charlotte presencia um ritual revoltante e apenas a chegada de um estranho a impede de revelar a sua presença. Mas, para seu bem, Charlotte deve esquecer o sucedido e refugiar-se junto de sua tia, a condessa de Brecourt, que tratará de lhe encontrar a melhor posição possível para a manter afastada da mãe. Porque o tempo é de envenenamentos e estranhos rituais. E, quando demasiados interesses entram em choque, ninguém está verdadeiramente seguro.
É sem grandes introduções que a autora deste livro transporta o leitor para o interior da história. Desde as primeiras páginas que há muito de tensão e de mistério e, desde o momento em que a protagonista dá início à fuga que lhe mudará a vida, também o interesse em saber de que forma se resolverá a sua situação, bem como qual o significado da perturbadora situação com que a jovem se depara. É neste aspecto, aliás, que reside a grande força deste livro: na capacidade de conjugar tensões, mistérios e a medida certa de emotividade numa história onde a intriga é soberana e há mais forças em conflito do que, à primeira vista, se poderia julgar.
Charlotte de Fontenac surge como uma protagonista inocente, demasiado ingénua para o seu próprio bem, mas, apesar disso, bastante segura do que pretende. Esta mesma ingenuidade, que tanto a coloca nas situações mais constrangedoras como a torna num raro elemento confiável em cenário de intriga constante, cria um nítido contraste entre a figura da protagonista e a dos que a rodeiam, já que Charlotte parece ser a única sem grandes interesses em jogo.
Também muito interessante é a forma como a autora tece um enredo cativante em redor de detalhes históricos bastante precisos, construindo uma visão bastante ampla do que seriam os lugares e também as possibilidades de vida (e morte) naquela época. Este aspecto acaba por compensar o lado um pouco previsível do enredo na sua fase final (o próprio título é, por si só, bastante revelador), preparando território para uma conclusão que, ainda que um pouco abrupta, deixa em aberto várias dúvidas e possibilidades.
Leitura cativante e interessante relato de intrigas e conspirações onde, no meio de tudo, surge, marcante e invulgar, a figura de uma protagonista particularmente contrastante com o meio em seu redor, Mataram a Rainha! apresenta uma história envolvente e emocionante... e deixa muita vontade de saber mais.

Novidade Planeta

O amor de Elena Gilbert, o vampiro Stefan Salvatore, foi capturado e aprisionado pelos espíritos demoníacos que estão a espalhar a destruição em Fell's Church. Enquanto as amigas Bonnie e Meredith exploram o mal que tomou conta da cidade, Elena parte à procura de Stefan.
Para o encontrar, confia a sua vida ao irmão de Stefan, Damon Salvatore, o vampiro encantador, mas mortífero que quer Elena, de corpo e alma.
Com o amigo de infância, Matt, dirigem-se aos bairros degradados da Dimensão das Trevas, onde Stefan está preso. Diz-se que é um mundo onde os vampiros e os demónios andam em liberdade, mas os humanos devem viver escravizados pelos seus senhores sobrenaturais.
Nada travará Elena para conseguir libertar Stefan. Mas a cada dia que passa a tensão entre ela e Damon aumenta, e vê-se diante de uma terrível decisão: qual dos irmãos quer realmente?

Lisa Jane Smith, cujas obras são uma combinação de género de terror, ficção científica, fantasia e romance, obteve o reconhecimento do público com a série Crónicas Vampíricas, cujo primeiro volume é Despertar. Publicado nos anos de 1990 e convertido numa referência da literatura juvenil de terror, retoma o clássico tema da luta entre Luz e Sombra, dos seus adorados C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien.
Segundo palavras da autora, «queria escrever livros como os deles, onde o Bem enfrenta o Mal e vence. Queria ser Frodo, morto de medo em Mordor, consciente de que o Mal que enfrenta é muito maior e mais poderoso do que ele, e ainda assim é capaz de reunir a coragem necessária para tentar e chegar a ser um herói. Queria transmitir aos jovens que não devem renunciar à esperança.»
L.J. Smith já escreveu mais de duas dezenas de livros para crianças e adultos.

Novidade Oficina do Livro

Será que o passado de uma pessoa – infância, família e historial clínico – condiciona de forma determinante e irreversível o seu percurso na vida?

Estas e outras questões inquietam Isabel Empis, interessada em apresentar uma cara renovada da intervenção psicoterapêutica e psicanalítica. Estas páginas anunciam uma mudança radical na comunicação entre terapeutas e pacientes, para melhor corresponder à sua necessidade de serem ouvidos e compreendidos, em vez de rotulados e interpretados de uma forma precipitada.
Recorrendo a casos de travessias psicoterapêuticas – 18, ao longo de 30 anos de prática clínica –, usados como inspiração (com o conhecimento e anuência dos intervenientes), Isabel Empis abala convenções, desafia teorias e despe preconceitos, correndo o risco de que o seu método de trabalho possa melindrar convicções mais ortodoxas. Tudo isto no interesse da evolução da saúde mental e de quem a ela recorre, mais do que no corroborar de qualquer teoria dita científica.
Mais um ensaio de saúde mental, algo polémico, que nos deixa pistas de transformação interior, e ternura e saudades por estas pessoas aqui retratadas, de quem ao longo da leitura nos tornamos amigos. Este livro é escrito no mesmo tom directo e desassombrado a que já nos habituou a autora de Bem-Aventurados… Os Que Ousam! e Eu Quero Amar, Amar Perdidamente, ambos publicados pela Oficina do Livro.
Um o convite à diferença, ao corte com os lugares-comuns!

Isabel Maria Abecassis Empis nasceu em Lisboa. Licenciou-se em Psicologia Clínica pela Universidade de Genebra, onde deu aulas durante dezasseis anos. Foi também docente na Universidade de Lisboa e no ISPA. É psicóloga e psicoterapeuta.
Em 1978, tornou-se sócia da Sociedade Portuguesa de Psicanálise e integrou as equipas de Psicologia do Hospital Miguel Bombarda e do Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil de Lisboa.
Actualmente, é directora do curso semestral de Formação Complementar em Psicologia e, a pedido de várias ordens profissionais, desenvolve workshops sobre a importância da psicologia e da psicanálise na melhoria das relações e desempenhos profissionais.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Pequena Abelha (Chris Cleave)

Dois anos antes, numa praia nigeriana, algo de terrível tinha acontecido. Algo que ligaria para sempre a vida dessa jovem com o estranho nome de Abelhinha e as de Sarah e Andrew, o casal com quem tal momento fora partilhado. Passado esse tempo, as vidas de Sarah e Abelhinha voltam a cruzar-se. E, com esse reencontro feito de esperança e de tragédia, voltam também as memórias dolorosas. E a culpa. E aquela partícula de morte que sempre permanece com os vivos.
Todo este livro é uma poderosa reflexão sobre a morte. É essa a impressão que fica desde muito cedo, e essa impressão permanece bem depois do voltar da última página, porque, ainda que não sejam acontecimentos mortais os que mais marcam toda esta narrativa, há, em cada um deles, algo de tragédia e de nostalgia que evoca a perda na sua máxima profundidade.
Contada alternadamente pelas vozes de Sarah e de Abelhinha, é no contraste entre as histórias, as vidas e até as personalidades destas duas mulheres que se revela a grande força deste livro. Abelinha, salva de uma morte aterradora, capaz de uma viagem também ela cheia de dificuldades, depois fechada num centro de detenção... tudo em busca de um regresso, talvez, a um instante de passado que representa a única fuga possível. Sarah, por seu lado, mulher de sucesso, mas desiludida com o que a sua vida se tornou, com a morte do marido para aceitar e um filho que se veste de Batman para combater os maus e que não compreende ainda as verdadeiras agruras da vida real. Ambas, representam dois mundos em colisão. Juntas, mudarão a vida uma da outra.
Há uma profunda emotividade na forma como o autor apresenta a história destas mulheres. Em cada momento, seja ele uma reflexão ou um momento de acção, o autor consegue evocar sentimentos tão diferentes como a tristeza, a nostalgia, a raiva, o medo, o ódio... E não apenas nas emoções que atribui a cada personagem, mas nos sentimentos que os actos destes (e, principalmente, as suas fraquezas) evocam no leitor. Acaba, aliás, por ser este domínio de emoções que torna o final deste livro tão marcante, já que, ao longo de toda a narrativa, vai-se construindo um desejo de futuro para duas mulheres que passaram já por demasiado, mas, ainda assim, nada há de cor-de-rosa no final da história. Há apenas um cerrar das esperanças ténues que foram sendo desfiadas ao longo do livro e um impacto que fica, uma grande dúvida deixada à imaginação do leitor.
Poderosa visão de como é efémera a vida, mas também retrato doloroso das realidades mais pessoais e das burocracias e barreiras com que, por vezes, o próprio sistema bloqueia questões de vida ou morte, este é um livro que, de forma envolvente, intensa e emotiva, transporta nas suas páginas uma grande história... e também uma forte mensagem. Belo. Profundo. E impressionante.