Há uma sombra que, nos últimos anos, tem vindo a manifestar-se de forma cada vez mais evidente e cuja presença pode ter consequências desastrosas. Dá pelo nome de Ascensão do Fascismo e, como os leitores deste livro poderão comprovar, pode ser uma senhora muito chata. Mas que critérios definem realmente um bom fascista? As respostas estão neste pertinente e esclarecedor livro que, num conjunto de breves lições, contém todas as pistas necessárias para se reconhecer um.
Não é propriamente uma surpresa - basta ler a sinopse deste livro - , mas uma das principais qualidades deste Manual do Bom Fascista está precisamente na forma como consegue abordar um tema importantíssimo, realçando as suas mais difíceis facetas, de uma forma deliciosamente divertida. Afinal, para quem estiver atento à actualidade, muitas destas características do bom fascista são realmente fáceis de identificar, mas a convicção com que estas personalidades as manifestam ganha outro impacto quando abordada desta forma. Além disso, os muitos paralelismos com a realidade são mais do que pura coincidência e é fascinante reconhecer as múltiplas referências a casos do mundo real - que vão desde acórdãos a caixas de comentários e publicações nas redes sociais.
Até o próprio registo salienta este efeito, pois é fácil imaginar uma espécie de guru do bom fascismo a ditar estas regras com toda a convicção. Convicção essa que, associada ao absurdo das coisas, põe em evidência os problemas de alimentar este tipo de pensamento. Afinal, que melhor forma de combater ideias absurdas do que mostrar o absurdo das ideias? Além do mais, se há quem diga que não se brinca com coisas sérias, este livro é uma bela prova de que brincar com elas é também uma forma de lhes reagir, pois não só realça - com o máximo possível de humor - as múltiplas problemáticas da ideologia destas personagens como consegue, ao longo do caminho, evocar múltiplas questões pertinentes.
Mas manual que se preze tem também de ter ilustrações: até porque (mais uma das curiosas lições deste livro) bom fascista que é bom fascista não lê. E importa por isso salientar as ilustrações relativamente discretas, mas que, tal como o texto propriamente dito, realçam de forma certeira os elementos mais relevantes deste guia. Também aqui é possível reconhecer algumas semelhanças com a realidade, o que só vem confirmar a pertinência do livro.
O que fica, então, desta leitura? Um equilíbrio eficaz entre uma análise certeira aos elementos mais caricatos da tal senhora Ascensão do Fascismo e uma divertida viagem aos seus aspectos mais absurdos. Viciante, actual e deliciosamente divertido, um livro que não posso deixar de recomendar.
Título: Manual do Bom Fascista
Autor: Rui Zink
Origem: Recebido para crítica