domingo, 30 de setembro de 2012

Dois Poemas (Mário Cláudio)

Longos, densos e elaborados, cruzando toda uma multiplicidade de cenários invulgares e de referências. Assim são os poemas que constituem este livro. Uma obra relativamente breve, mas complexa em inúmeros aspectos e que, devido à conjugação de elementos que tanto despertam fascínio como estranheza, deixa, terminada a leitura, sentimentos ambíguos.
Basta ler alguns versos para compreender que a leitura será tudo menos fácil. Frases elaboradas, imagens inesperadas e uma linha de desenvolvimento do poema em que ambientes abstractos, quase surreais, se conjugam com rasgos de concreto e evocações de outras histórias e de outras obras tornam o ritmo e o conteúdo dos poemas difíceis, por vezes, de acompanhar. Para isto contribui também a utilização de longas frases em francês e inglês, bem como pequenas expressões noutros idiomas, frases que dão ao poema um ambiente mais complexo, mas que o tornam também mais denso e difícil de seguir, o que, aliado a uma escrita que é, na generalidade, elaborada e feita de imagens peculiares, leva a uma impressão de confusão nalgumas partes do livro.
Há, por outro lado, momentos particularmente bons e frases que acabam por ficar na memória. O choque entre o concreto e o abstracto cria, nalgumas partes, um contraste poderoso e há imagens que surpreendem pelo impacto que têm, principalmente porque sobressaem de um texto que é, todo ele, complexo e elaborado. Acabam por ser essas imagens mais fortes, esses versos que ficam na memória, o que mais marca desta leitura e o mais compensador de toda a sua complexidade.
As impressões que ficam são, por isso, contraditórias, pois, a escrita elaborada, as imagens algo surreais e a vastidão de referências difíceis de reconhecer tanto se revelam fascinantes, nos melhores momentos, como simplesmente difíceis de entender. Fica, por isso, a impressão global de uma leitura interessante, com alguns momentos particularmente brilhantes, mas em que o labirinto das imagens se torna, por vezes, demasiado complexo. 

sábado, 29 de setembro de 2012

Abaddon (Rui Madureira)

Foi a criação da humanidade, o mais amado plano de Deus, que levou Lúcifer à rebelião. Mas foi derrotado. Milénios passaram e o antigo mentor de todos os anjos esperou, no abismo, pela sua oportunidade de vingança. Agora, a hora aproxima-se. Abaddon, rei dos demónios, tomou posse de um corpo humano e está pronto a abrir as portas que separam o abismo do mundo dos homens. Os números do exército de Lúcifer são incontáveis. E a data do apocalipse está marcada. Mas Deus não abandonou a sua criação. Para parar os planos da Estrela da Manhã, enviou-lhes o seu herói. Cabe, portanto, a Gabriel destruir o seu inimigo e tomar o comando na derradeira guerra entre Lúcifer e o criador.
Tendo como ponto de partida a queda de Lúcifer e como linha geral a iminente chegada do apocalipse, não é propriamente uma surpresa que um dos aspectos mais explorados deste livro seja o inevitável confronto entre anjos e demónios. E, tendo isto em conta, há dois aspectos que desde logo se evidenciam: um sistema que é apresentado até ao mais pequeno pormenor, com algumas explicações familiares de outras abordagens e este mito particular, mas também com vários elementos que a diferenciam, e um enredo em que, apesar da intervenção de muitas personagens, são poucas aquelas que têm grande protagonismo. 
No que respeita à caracterização do cenário e do sistema, as descrições são exaustivas e detalhadas. Isto dita, inevitavelmente, um ritmo bastante pausado para toda a narrativa e apresenta tanto vantagens como inconvenientes. As vantagens estão numa boa contextualização, na capacidade de ficar com uma ideia completa quer do cenário quer do que está a acontecer. Tudo o que sobre isso há para saber é referido. Os inconvenientes prendem-se com a sensação de que a acção perde alguma intensidade, já que a descrição é claramente dominante, e na repetição de algumas características, principalmente no que respeita às personagens.
Ainda que seja Abaddon a figura que dá nome ao livro, não se pode propriamente considerar o senhor do abismo como o protagonista desta narrativa. Tem um papel essencial a representar, é certo, e protagoniza alguns momentos particularmente interessantes, mas, a apontar uma figura que sobressaia, essa será, sem dúvida, a de Gabriel. É também ele a personagem mais cativante, ainda que também do arcanjo fique a sensação de que mais haveria a dizer. Na verdade, os acontecimentos globais sobrepõem-se à história individual das personagens, o que se torna cada vez mais evidente com o evoluir do enredo numa batalha que abrange todo o planeta.
Ainda a respeito da batalha do apocalipse, há um aspecto curioso a referir. Ainda que tudo no livro nos apresente Gabriel e o criador que serve como a base dos "bons" (e os actos de Lúcifer o confirmem), nem todas as decisões do lado do bem são inquestionáveis no seu valor moral, o que vem acrescentar um muito agradável toque de ambiguidade numa luta em que os dois lados estão, aparentemente, muito definidos.
Uma última nota para alguns pequenos lapsos a nível de escrita, nomeadamente no atribuição de um significado algo confuso a certas palavras Sendo uma situação ocasional, não prejudica em muito o ritmo da leitura, mas torna-se mais evidente pelo ritmo pausado e muito descritivo, e deixa, nesses momentos, uma vaga sensação de estranheza.
Os pontos fortes deste livro são, portanto, um sistema interessante e bem caracterizado e uma história em que, apesar da muita descrição e de alguma distância emocional, há momentos particularmente bem conseguidos e um enredo interessante a manter a curiosidade em continuar a leitura. Fica, pois, uma impressão positiva desta história que, não sendo propriamente de leitura compulsiva, tem, ainda assim, bastante de interessante para descobrir. Gostei.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O Rio da Amargura (Eurico Figueiredo)

No momento em que inicia uma nova fase da sua vida, Mercedes sente a necessidade de escrever um diário. Prestes a embarcar na aventura de gerir a sua própria quinta no Douro, ela sabe que tem muito para aprender. O diário serve-lhe de registo às suas experiências, não só no crescimento a nível profissional, mas também na sua vida pessoal e numa investigação em que decide embarcar. O resultado é uma visão pessoal de muitas histórias que não a sua, e também o retrato de uma mulher com uma visão muito clara da evolução do Douro através do tempo.
Várias histórias se cruzam ao longo deste romance, o que, desde logo, surpreende, tendo em conta a brevidade da narrativa. Mais que a história de Mercedes, O Rio da Amargura serve como base para uma análise da situação do Douro em termos políticos e económicos, bem como para o desenrolar de múltiplas pequenas histórias relativas aos que rodeiam a protagonista. E nestas histórias há de tudo um pouco, desde o estranho julgamento do caso Carta e a história do papel que este homem terá desempenhado, aos pequenos mistérios da vida pessoal do marido de Mercedes, com as características da sua doença a terem um papel fundamental nas motivações para a investigação sobre Carta. Há, até, um toque de sobrenatural na influência exercida pela bruxa de Vermiosa, primeiro na vida de Rui, depois, em menor grau, na de Mercedes. Muitos elementos cruzados, portanto, e todos narrados na primeira pessoa por uma protagonista forte, determinada e com uma curiosidade insaciável.
É neste aspecto que se revelam tanto as forças como as fragilidades do livro. As forças sendo, evidentemente, a diversidade de situações e as várias questões interessantes que são levantadas ao longo do livro, quer a nível de contexto, quer das histórias pessoais dos que rodeiam Mercedes. As fragilidades são duas. Primeiro, a relativa brevidade do livro faz com que, de muitas histórias entrecruzadas, muitas perguntas fiquem também sem respostas, deixando a sensação de que bastante mais haveria para dizer. A outra é a relativa distância que se sente para com Mercedes já que, ainda que o texto corresponda ao seu diário, acaba por ser dela que menos se sabe, pois as emoções passam para segundo plano relativamente à narração de factos e histórias sobre as restantes personagens.
Fica, portanto, a sensação de que a história deste livro teria potencial para ser algo de muito mais vasto. Ainda assim, a envolvência de uma escrita cativante e vários momentos bem conseguidos ao longo de uma narrativa que é, na generalidade, bastante interessante, compensam a falta daquilo que poderia ter sido mais desenvolvido, daqui resultando uma leitura agradável, cativante e com alguns momentos particularmente bons. Gostei, portanto.

Novidade Quetzal


Em 1939, o pequeno Jacques Austerlitz é enviado para Inglaterra ao cuidado de uma família adoptiva. Austerlitz cresce sem conhecer as suas verdadeiras origens, mas, cinquenta anos depois, esse passado nebuloso e desconhecido regressa ao longo de um passeio pela costa de East Anglia. Desenvolvida na fina costura entre a ficção e a verdade – e abordando questões fundamentais como o tempo, a memória e a identidade  –, a obra de Sebald procede à reconstrução do indivíduo que saiu da Segunda Guerra Mundial. A reconstrução física e económica da Europa foi mais rápida; a reconstrução espiritual dos seres isolados que a compunham foi mais lenta, mais contemplativa. Exigiu tempo, tempo passado a caminhar pelos destroços físicos e geográficos, para sarar as feridas gravadas na memória individual.
Podiam ter sido escritas sobre  Austerlitz as palavras de Milan Kundera:«O romancista deixa de limitar a questão do tempo ao problema proustiano da memória pessoal [e passa] a alargá-lo ao enigma do tempo colectivo, do tempo da Europa, a Europa que se volta para olhar o seu passado, para fazer o seu balanço, para aprender a História, tal como um homem velho que abarca com um único olhar a sua própria vida decorrida.»

W.G. Sebald nasceu em 1944 em Wertach, na Alemanha, e viveu desde 1970 em Norwich, no Reino Unido, onde foi docente universitário de Literatura Alemã. Prosador e ensaísta, é autor de grandes marcos da literatura contemporânea como  Os Anéis de Saturno,  Austerlitz,  Os Emigrantes ou  História Natural da 
Destruição. Sebald foi galardoado com os prémios literários Mörike, Heinrich-Böll, Heinrich-Heine e Joseph Breitbach.
W.G. Sebald morreu em 2001.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O Ritual da Sombra (Eric Giacometti e Jacques Ravenne)

Durante uma festa na embaixada francesa, uma arquivista do Grande Oriente é assassinada de uma forma que evoca a morte de Hiram, o fundador da Maçonaria. Na mesma noite, em Jerusalém, um arqueólogo está prestes a desvendar o segredo de uma pedra de valor histórico incontornável quando é assassinado da mesma forma. Ambos trabalhavam no sentido de descobrir um segredo oculto tanto nos documentos como na pedra e que, a ser desvendado, poderia abalar a crença de muitos. Mas há outra revelação a tirar das duas mortes e essa é que uma poderosa sociedade inimiga da Maçonaria está na corrida para obter primeiro o segredo que todos procuram. E está disposta a tudo para o conseguir. Por isso, cabe agora ao comissário Antoine Marcas, também ele membro da Maçonaria, e a Jade Zewinski, responsável pela segurança da embaixada onde ocorreu a morte de Sophie Dawes, seguir as pistas para os culpados do crime... e para a chave do segredo que todos procuram.
Um dos aspectos mais curiosos deste livro é a forma como os autores equilibram um enredo com bastante acção e mistério com um ritmo relativamente pausado, em que há também uma boa medida de descrição, particularmente a nível de rituais e de contexto histórico. Ainda que haja algumas revelações guardadas para uma fase já avançada da história, não há propriamente uma tentativa de manter o mistério em torno dos rituais e das regras da Maçonaria. Muito pelo contrário. Ao escolher um membro da Maçonaria para protagonista, os autores colocam nas experiências de Marcas um meio muito claro para apresentar uma visão directa para os costumes maçónicos. E este é também um dos aspectos mais cativantes do enredo, já que, ainda que este lado mais descritivo torne o ritmo da leitura um pouco mais lento, apresenta também uma série de factos interessantes.
Sendo o percurso em busca do segredo - e dos culpados pelas mortes - o foco central da narrativa, não surpreende que sejam os acontecimentos e o contexto os aspectos mais desenvolvidos. Fica, aliás, uma certa curiosidade em saber um pouco mais sobre os protagonistas, já que o choque entre ambos e a forma como os diferentes pontos de vista criam tensões e atritos está na base de alguns momentos particularmente bem conseguidos. Seria, talvez, possível que as suas personalidades tivessem sido um pouco mais desenvolvidas, mas o que deles é revelado, basta para manter a envolvência da história e a curiosidade em querer saber mais. Principalmente tendo em conta que este é apenas um de vários livros com Marcas como protagonista e que, seguramente, haverá mais a saber sobre ele nos livros seguintes.
De referir, ainda, a forma como o ritmo da narrativa evolui com o adensar do enredo e o maior desenvolvimento das forças em conflito. De início pausado, a história cresce em intensidade com cada revelação, culminando num final que, ainda que um pouco brusco, surpreende por alguns pormenores inesperados.
Trata-se, portanto, de uma história envolvente, ainda que não de leitura compulsiva, com um duo de protagonistas bastante cativante e um bom equilíbrio certo entre acção e mistério e elementos de contextualização. Cativante, interessante e de leitura agradável. Gostei.

Novidade Porto Editora


Numa grande mansão, às portas de Milão, vivem os Cantoni, proprietários há três gerações da homónima e prestigiada fábrica de torneiras.
Aparentemente, todos os membros da família levam uma vida transparente, mas, na realidade, todos eles escondem segredos que os marcaram; existem situações que, ainda que conhecidas por todos, permanecem um tema tabu. Omite-se até a loucura de que sofre Bianca, a matriarca desta dinastia.
Um dia, entra em cena Léonie Tardivaux, uma jovem francesa sem dinheiro e sem parentes, que casa com Guido Cantoni, o único neto de Bianca. Léonie adapta-se bastante bem à rotina familiar, compreendendo a regra de silêncio dos Cantoni. Isso não a impede de ser uma esposa exemplar, uma mãe atenta e uma gerente talentosa, que, com bastante êxito, conduz a firma pelo mar hostil da recessão económica. No entanto, também ela cultiva o seu segredo, aquele que todos os anos, durante apenas um dia, a leva a largar tudo e a refugiar-se no Lago de Como.
Mais uma vez, Sveva Casati Modignani cativa o leitor com uma saga familiar que atravessa quase um século da História de Itália, dos anos 20 até aos dias de hoje, colocando em cena  personagens encantadoras: homens inteligentes, autênticos e perspicazes, que têm ao seu lado mulheres fortes e inigualáveis, capazes de os aconselhar e apoiar.

Reconhecida como a grande signora do bestseller italiano, com mais de 11 milhões de exemplares vendidos, Sveva Casati Modignani está traduzida em 17 países e é hoje uma das autoras mais populares em Portugal. No catálogo da Porto Editora figuram já os seus romances Feminino Singular, Baunilha e Chocolate, O Jogo da Verdade, Desesperadamente Giulia,  O Esplendor da Vida, A Siciliana, Mister Gregory e A Viela da Duquesa.

Novidade Quetzal


«Mazagran, palavra que outrossim não se encontra no texto, designa uma bebida favorita no Maghreb: um copo grande cheio até mais de um terço com café forte, um volume igual de água gasosa, muito açúcar, uma rodela de limão. Quando o Profeta abranda a sua vigilância junta-se-lhe um cálice de conhaque. Bebe-se quente no Inverno e quase gelada nos dias de calor. A pequenos goles. Com aquela disposição benigna do espírito que umas vezes nos leva à rua para cavaquear com os amigos, e outras nos prende em casa a ler um livro.»

J. Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris. Em 1956 passou a viver em Amesterdão, na Holanda, como assessor do adido comercial da Embaixada do Brasil. Licenciou-se (com uma tese sobre Raul Brandão) na Univ.  de Amesterdão, onde foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988. Em 2012 foi galardoado com o Grande Prémio de Literatura Biográfica APE/Câmara Municipal de Castelo Branco 2010-2011 com o livro Tempo Contado. 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

As Raízes do Medo (Jorge Durão)

Diz-se, entre as gentes, que aquela casa é assombrada e que, desde a morte do médico, os habitantes que ali restam parecem estar cada vez mais loucos. Mas Mariana precisa do dinheiro que o trabalho lhe garante e, por isso, continua a trabalhar para a velha senhora, mesmo tendo de conviver com o estranho comportamento do filho desta. Há um mistério, contudo, naquela casa, e Mariana quer descobrir a verdade. Mas cada pista que segue leva a mais estranheza e a consequências dramáticas e a maldição parece ser, cada vez mais, a única explicação possível para as mudanças operadas sobre aquela velha mulher que, em tempos, viveu uma emocionante história de amor proibido.
Sombrio e misterioso, este livro tem na forma como as duas linhas do enredo se conjugam um dos seus grandes pontos fortes. A história de Amélie e do seu amor que desafia convenções e determinações familiares, surge com a medida certa de drama e de sentimento, mas com o caminho orientado no sentido de um final feliz que, conhecido desde cedo, nem por isso tira impacto aos momentos mais dramáticos. Em oposição a esta história mais sentimental (ainda que também com os seus momentos sombrios) surge o enigma da maldição e os poderes que habitam o antigo solar, tendo como foco a investigação de Mariana e a forma como, gradualmente, o mistério revela a verdadeira dimensão da sua componente sobrenatural. São duas histórias separadas no tempo, mas com fortes ligações. E, ao alternar entre as duas histórias e as suas diferenças de panorama emocional, o autor consegue manter viva a envolvência e a curiosidade em saber mais. Disto resulta uma história cativante, que, apesar de algumas perguntas sem resposta e de um final algo apressado, consegue prender a atenção do leitor do início ao fim.
Há, a nível de escrita, alguns pequenos aspectos que quebram um pouco o ritmo da leitura, nomeadamente a nível de alguma confusão nos tempos verbais e de algumas frases mais forçadas, principalmente nos diálogos. Ainda assim, assimiladas estas particularidades do texto, a evolução do enredo sobrepõe-se a esses lapsos, levando a que, apesar da estranheza na construção de alguns momentos, a leitura se mantenha agradável.
Quanto às personagens, fica a impressão de que um pouco mais poderia ser dito do sucedido no tempo que separa a história do amor de Amélie da experiência de Mariana na sua casa. Ainda assim, retira-se dos seus comportamentos nas respectivas histórias o suficiente para as tornar cativantes e para manter vivo o interesse em saber o que lhes acontecerá. Além disso, tendo em conta a conclusão da história, a relativa ambiguidade de algumas relações acaba por se revelar adequada.
Fica, pois, desta leitura, a ideia de uma história envolvente, com as medidas certas de mistério e de emoção e que, apesar de algumas fragilidades a nível de escrita, consegue manter a envolvência e captar a atenção do leitor. Uma boa história, portanto, e uma leitura agradável. Gostei de ler.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma Deusa na Bruma (João Aguiar)

Quando nasceu, Túrio era uma criança frágil e ninguém julgava que sobrevivesse por muito tempo. Mas, longe da robustez física de um guerreiro, Túrio cresceu, ainda assim, para desempenhar um papel maior entre o seu povo, em tempos conturbados. Consagrado a um deus e escolhido por outra como seu receptáculo, Túrio tornar-se-ia a voz de presságios e acontecimentos por vir para as gentes de Tarróbriga. Mas seria, também, necessário que o jovem renunciasse a todas as suas vontades para desempenhar a sua missão. E que, desejando, apesar de tudo, ser dono das suas escolhas, sofresse por isso...
Dois aspectos sobressaem ao longo da leitura deste romance: o cuidado na contextualização da época em que decorre e o percurso do protagonista através do seu difícil crescimento. Ambos são elementos que são explorados com bastante pormenor e ambos tornam necessária uma forte componente descritiva, que torna o ritmo de leitura algo pausado. Mas nunca aborrecido. Os pormenores históricos, o contexto da guerra com os romanos e o desenvolvimento das crenças do povo de Tarróbriga e dos que os rodeiam são feitas com bastante detalhe, mas de forma gradual, acompanhando o ritmo do crescimento e da aprendizagem do protagonista, e complementando a sua história. Mantém-se, assim, viva a curiosidade em querer saber mais, até porque a forma como homens prestam homenagem aos deuses e como estes interferem na vida dos homens cria também uma interessante aura de mistério em torno de Túrio e dos momentos mais difíceis do seu percurso.
A história diz respeito a Tarróbriga, ao conflito com os romanos e às grandes vitórias e derrotas, mas, acima de tudo, a Túrio. E é o seu papel na história do mundo que o rodeia e a forma como este condiciona a sua jornada pessoal o mais marcante deste livro. Ao acompanhar Túrio desde o início da sua vida, as diferenças que o caracterizam são, desde logo, realçadas, mas também a forma como essa diferença o afasta das relações normais. E, mais que o seu papel enquanto receptáculo dos deuses, é o seu crescimento enquanto ser humano e as necessidades naturais - de afecto, de paixão, da simples liberdade de escolher - que nunca poderá satisfazer são parte do que define a sua tragédia. A história de Túrio não é a de um herói e há muito de sombrio no seu caminho. Mas é precisamente essa imagem da juventude e do crescimento através de uma vida em que nem tudo depende da vontade e do esforço o que mais marca. Para Túrio, nem tudo é possível e a forma como a sua história se conclui reflecte da melhor forma os obstáculos da sua vida. 
Mas, ainda que o caminho do protagonista seja o centro e o mais marcante da narrativa, há outras figuras que, de forma mais discreta, contribuem para conferir intensidade à sua história. Dos poucos verdadeiros amigos - diferentes, como ele - com que Túrio pode contar, da estranheza das relações familiares e dos que, ao longo do caminho, lhe transmitem conhecimento, surgem também momentos fortes e, nalguns casos, particularmente comoventes. A história das figuras que rodeiam Túrio têm, também, o seu contributo a dar para o impacto da narrativa. E têm, ainda, o efeito de reforçar a solidão do protagonista, mesmo quando está com aqueles com quem pode contar.
Esta é, pois, uma história que cativa pela interessante caracterização do tempo e do cenário em que decorre, mas principalmente pelo percurso e pela natureza do seu protagonista. A jornada de Túrio é longa, difícil e com algo de trágico que, desde cedo, se insinua. Mas é precisamente esse seu papel - o de um humano de quem os deuses não se compadecem - o que torna tão fácil sentir empatia para com a situação. E é esse percurso que mais marca neste livro em que os deuses e a sua sombria forma de poder marcam o ritmo de uma história com bastante mais de humano que de divino. Muito bom.

Novidades Babel para Outubro


Este livro não é uma biografia – é uma reflexão brilhante sobre George Orwell, o homem e a sua circunstância, autor de «Mil novecentos e Oitenta e Quatro» e «A Quinta dos Animais». Escritor genial ou sofrível? Actual ou datado? Certo ou errado? Hitchens responde-nos da maneira que só outro escritor maiúsculo consegue fazer.

Christopher Eric Hitchens nasceu em Portsmouth, Inglaterra, em 1949. Depois de se ter formado em Oxford, tornou-se um dos mais adorados e odiados escritores mundiais. Iniciou a sua carreira na New Statesman e colaborou ao longo de quatro décadas com as mais prestigiadas publicações, onde foi repórter, cronista e crítico literário. Foi durante quase 20 anos contributing editor da Vanity Fair. Naturalizado americano, foi nos Estados Unidos que conheceu em 2007 a glória comercial com a publicação de «God Is Not Great – How Religion Poisons Everything» (editado em Portugal na Dom Quixote).

«Memórias de Adriano» tem a forma de uma longa carta dirigida pelo velho imperador, já minado pela doença, ao jovem Marco Aurélio, que deve suceder- lhe no trono de Roma (século II d.C.). Pouco a pouco, através desta serena confissão, ficamos a conhecer os episódios decisivos da vida deste homem notável. Vencedor do prémio Femina Varesco, este romance é seguramente um dos mais importantes de Marguerite Yourcenar, e uma das obras de referência da literatura contemporânea.

Pseudónimo da escritora francesa Marguerite de Crayencour (1903-1987), nascida em Bruxelas e que veio a naturalizar-se americana. As suas «Mémoires d'Hadrien» (Memórias de Adriano,1952) tornaram-na internacionalmente conhecida. Este sucesso seria confirmado com «L'Öuvre au Noir» (A Obra ao Negro, 1968), uma biografia imaginária de um herói do século XVI atraído pelo hermetismo e a ciência. Publicou ainda poemas, ensaios (Sous bénéfice d'inventaire, 1978) e memórias (Archives du Nord, 1977), manifestando uma atracção pela Grécia e pelo misticismo oriental patente em trabalhos como Mishima ou la vision du vide (1981) e Comme l'eau qui coule (1982). Foi a primeira mulher de Letras a ser eleita para a Academia Francesa.

Pessoa não foi alheio a praticamente nenhuma das grandes questões do seu tempo. Uma delas foi a "Questão ibérica", isto é, o futuro político dos dois países e das muitas regiões que constituem a península ibérica, quer através de uma união luso-espanhola, quer através de uma confederação de nações. Esta foi uma questão que ganhou novamente vigência na segunda metade da década de 1910 e na qual Pessoa quis intervir. Uma questão, aliás, afim ao projecto pessoano da «refundação mítica da existência», porque Pessoa queria que se formasse uma Ibéria una e múltipla em que Portugal, depois do aparecimento do Super-Camões (o próprio Pessoa), não perdesse protagonismo cultural. A questão ibérica é também uma questão identitária, e esta é uma questão que, quer no plano individual, quer no plano colectivo, está no centro da estética e da filosofia pessoanas. Mais do que político, o iberismo de Fernando Pessoa foi do tipo cultural e esteve intimamente ligado às ligado às suas preocupações com questões de identidade.

Fernando Pessoa - Lisboa, 13 de Junho de 1888 | Lisboa, 30 de Novembro de 1935. É considerado, a par de Camões, o maior poeta da língua portuguesa. Viveu na época do Modernismo e a sua principal característica é a heteronímia. Deixou-nos uma vasta obra que ainda não está totalmente explorada, dado que a única obra que publicou em vida foi a «Mensagem».

“Pessoa Existe? Existem múltiplos "Pessoas". Múltiplos personae. O Pessoa íntimo, o Pessoa político, o Pessoa esotérico, o Pessoa poeta inglês; o Pessoa menino da sua mãe, o Pessoa empregado de escritório, o Pessoa por conhecer, o Pessoa empresário, etc. E, antes mesmo desta multiplicação póstuma, existe o Pessoa que escrevia como Caeiro, como Campos e como Reis. A cisão da obra em ortónima e heterónima. A proliferação do autor: autor dos autores. // A maior parte dos editores e críticos apresentam apenas um Pessoa. Criam essa coordenada chamada "Pessoa", coordenada que o poeta teria articulado de uma outra maneira ou, simplesmente, não teria articulado. // O que está em jogo? Os diferentes modos de conceber e construir o autor.” in «Pessoa Existe».

Jerónimo Pizarro é Professor da Universidad de los Andes, Titular da Cátedra de Estudos Portugueses do Instituto Camões na Colômbia e Doutor pelas Universidades de Harvard (2008) e de Lisboa (2006), em Literaturas Hispânicas e Linguística Portuguesa. No âmbito da Edição Crítica das Obras de Fernando Pessoa, publicadas pela INCM, já contribuiu com oito volumes, sendo o último a primeira edição crítica de Livro do Desasocego. Actualmente, Pizarro é o Coordenador de duas novas séries da Ática (1. Fernando Pessoa | Obras; 2. Fernando Pessoa | Ensaística).

"Em paralelo com a edição das Obras Completas de Jorge de Sena, surge agora uma colecção dedicada à sua vasta e diversa Correspondência, cuja publicação é fulcral para o entendimento da sua obra, e da obra dos seus correspondentes, bem como para o conhecimento da vida cultural portuguesa da segunda metade do século XX. E não podia ser inaugurada da melhor forma, com a inteligência e o afecto de dois poetas: António Ramos Rosa e Jorge de Sena." - in Nota Editorial (Jorge Fazenda Lourenço)

Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919 e faleceu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta, crítico literário, teatral e de cinema, historiador da cultura, tradutor e cidadão do mundo, é uma das figuras centrais da nossa cultura e da literatura do século XX. A obra de Jorge de Sena é monumental em volume, em variedade e, frequentemente, de qualidade excepcional.
// António Ramos Rosa recebeu numerosos prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988. É geralmente tido como um dos grandes poetas portugueses contemporâneos. Um dos mais fecundos poetas portugueses da contemporaneidade, a sua produção reflecte uma evolução do subjectivismo, em relação à objectividade.

O elemento «luz», que atravessa a obra poética do autor, insere-se aqui na memória de infância, através da imagem das estrelas cadentes, enxertia das «noites mais escuras», levando, «por instantes às vezes», a iluminar «mesmo os mais descrentes» («décima segunda enxertia»). E a figura do avô transfigura-se na própria figura do poeta, que, enxertando as palavras, procura a luz na «oculta seiva» («décima quarta enxertia»).

Carlos Frias de Carvalho poeta e escritor, nasceu em 1945 em Seiça - Ourém. Acerca da sua obra literária escreveram, entre outros, Bernardo Santareno, Urbano Tavares Rodrigues, António Ramos Rosa, João Rui de Sousa, Paula Cristina Costa, António Cândido Franco, José Manuel de Vasconcelos e António Carlos Cortez. É autor de uma vintena de livros dos quais destacamos: «O comboio do tempo», «Antes da água», «Vinte e cinco pétalas para Débora», «Barco de papel», «Escrita da água poema a una diosa índia», «Ribatejo e além» e «Lugares do vento».

«O estudo que se segue procura ser a resposta a esta pergunta [nova visão histórica sobre a transição da 'Idade Média' para o Renascimento] no concernente ao sector político. Entendeu-se que o único caminho viável […] seria, em princípio, descobrir a solução atribuída pelas ideias com peso social ao que hoje chamamos questões fundamentais na teoria geral do Estado: origem, forma, transmissão, natureza e fim do poder, investidura neste, suas relações com a ética, e a ordem jurídica - inclusive o direito de resistência e a problemática da soberania.» - in Introdução, Martim de Albuquerque.

Biografia: Martim de Albuquerque é Professor Catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa, desde 1977 e Professor Jubilado desde 2006. Tem uma vastíssima obra tanto na área de História do Direito e do Pensamento Jurídico como na área estrita de Direito, constituída por cerca de 180 publicações, entre a qual se destacam: «Para Uma Distinção do Erro sobre o Facto e do Erro sobre a Ilicitude em Direito Penal», 1968; «Colecção de Tratados e Actos Públicos Internacionais Relativos a Portugal»; «Execução de Decisões Judiciais no Direito Português», 1986.Colaborou com a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e participou em vários colóquios e congressos nacionais e internacionais, quer de História, quer de Direito. Foi Director do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Novidades Planeta


Na Academia Maxfield, as escolhas são: Sociedade – Caos – Variantes 
Benson terá de juntar-se a um dos grupos para sobreviver. 
Mas está determinado a fugir. 
Só há uma pessoa em quem pode confiar: ele próprio.
Benson Fisher pensou que uma bolsa para frequentar a Academia Maxfield seria o seu passaporte para uma vida com futuro. Estava enganado.  Agora, vive num colégio cercado por uma vedação de arame farpado.  Um colégio onde câmaras de vigilância monitorizam todos os seus movimentos.  Onde não há adultos. Onde os alunos se dividiram em grupos para sobreviver.  
Onde a punição por violar as regras é a morte.  
Mas, quando descobre, por acidente, o verdadeiro segredo do colégio, Benson percebe que cumprir as regras poderá trazer-lhe um destino pior do que a morte, e que a fuga – a sua única esperança de sobrevivência – talvez seja uma missão impossível.

Robison Wells vive em Holladay, no Utah, com a mulher e os seus três filhos. Terminou recentemente o seu curso universitário, durante o qual leu e escreveu romances quando devia estar a estudar economia. 
Pode visitá-lo online e ler o seu blogue em www.robisonwells.com.

Depois do éxito conseguido com O Sari Vermelho, Javier Moro volta  a conquistar os leitores e a crítica internacional com este romance premiado. Fascinado pela história de D. Pedro I, o autor consultou centenas de documentos, cartas privadas, crónicas e diários, visitou Portugal e instalou-se por terras brasileiras, para viajar ao centro da vida deste imperador, uma personagem surpreendente que Moro apelida de fora de série.  
Com a beleza exuberante dos trópicos como pano de fundo, Javier Moro narra, com paixão pelo pormenor, a prodigiosa epopeia do nascimento do maior país da América do Sul, com a visão histórica que nos oferece um imperador humano que defende os seus ideais e não o déspota como em geral os livros de História o costumavam conotar. 
Nesta biografia romanceada sobre Pedro I do Brasil, podemos ler que aquele imperador capaz de cavalgar durante sessenta quilómetros sem desmontar do cavalo, de estar um dia inteiro sem comer, de navegar oceanos de inimigos e de fascinar mulheres inesquecíveis, tinha uma enorme sensibilidade que se manifestava no seu amor incondicional pelas crianças. 
 Apesar de uma esmerada educação e de grande inteligência, a personalidade de D. Pedro I era excessiva e contraditória, as mulheres foram a sua salvação e a sua perdição. Teve vários filhos e muitos ilegítimos:                      do casamento com a primeira mulher, a virtuosa Leopoldina de Áustria que o levou ao apogeu teve sete filhos, e cinco com a amante, a ardente Domitila de Castro, que o arrastou para a decadência.  
Era um liberal entre os absolutistas, um promíscuo entre os monogâmicos, um hiperactivo e um bipolar, que ora era Jekyll para a seguir se transformar em Hyde. Dono de uma personalidade escandalosa, D. Pedro I tinha como único objectivo ‘beber a vida em grandes goles, num copo maior que a própria grandeza.’ 
Quando o imenso Brasil se tornou pequeno e o poder deixou de lhe interessar, pôs a sua vida em risco por aquilo que acreditava ser justo.                        
E alcançou a glória. 

 Javier Moro  (Madrid, 1955) colaborou desde muito jovem em meios de informação nacionais e estrangeiros. Trabalhou como investigador em diversos livros de Dominique Lapierre, seu tio, e Larry Collins.  
Co-produtor e guionista dos filmes  Valentina e  Crónica del alba, ambos baseados na obra de Ramón J. Sender, esteve seis anos nos Estados Unidos da América a desenvolver projectos de cinema e televisão, onde colaborou com realizadores como Ridley Scott.  
É autor de Senderos de Libertad, El Pie de Jaipur, Las Montañas de Buda, Era Medianoche en Bhopal, em colaboração com Dominique Lapierre, Paixão Indiana e O Sari Vermelho.  

Geronimo Stilton é o director do Eco dos Roedores, o jornal mais famoso da Ilha dos Ratos. 
Nos tempos livres adora contar histórias alegres e divertidas.  
Determinados a desembaraçar-se do Professor Volt de uma vez  por todas, os Gatos Piratas  raptam-no e abandonam-no  no Período Cretácico. 
De forma a salvar o amigo, Geronimo vai deparar-se frente a frente com dinossáurios  e répteis voadores! 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Nova Interpretação dos Sonhos (Tobie Nathan)

O que é um sonho, que mecanismos o despoletam e qual é (se existe) a sua utilidade no todo das funções biológicas: estas são apenas algumas das perguntas a que Tobie Nathan tenta responder nesta nova interpretação. As bases são tanto as fontes da antiguidade como a teoria freudiana, bem como a experiência do próprio autor enquanto etnopsiquiatra. O resultado é um conjunto de teorias com muito de interessante... e algumas possibilidades inesperadas.
O mais interessante neste livro é a forma como se distancia dos métodos de interpretação mais comuns, que atribuem um determinado significado aos elementos que surgem no sonho e que fazem, a partir destes, a sua interpretação. O que o autor apresenta não é propriamente um método infalível, mas antes uma série de considerações e teorias sobre o que é o sonho e o que este pode representar para aquele que sonha, estudando diferentes possibilidades e tipos de sonho. Um resumo de possibilidades, portanto, com algumas ideias de método e possíveis teorias, mas não propriamente uma sequência directa de passos no sentido da interpretação.
Ao longo da sua explicação das diferentes teorias e fontes utilizadas, o autor aborda uma série de elementos interessantes. A análise dos pesadelos relativos ao stress pós-traumático e  a influência de crenças, experiências e factores culturais no ambiente onírico da pessoa que sonha apresenta uma série de interessantes possibilidades e, neste aspecto, há vários pontos interessantes sobre que reflectir. Além disso, a comparação dos textos da antiguidade com a interpretação freudiana e com a própria teoria do autor permite, mais que uma visão mais abrangente da diversidade de pontos de vista, ter a noção da forma como os textos mais antigos influenciaram, em maior ou menor grau, o desenvolvimento das teorias mais recentes.
Se há muito de interessante nas teorias e possibilidades apresentadas, há também uma certa estranheza, nalguns aspectos. O papel da crença no sonho é fácil de assimilar, mas não o é tanto a associação a seres, deuses ou outras entidades invisíveis, ou a ideia do sonho como uma predição de algo no futuro que se concretiza segundo a interpretação feita para o sonho. Também estes aspectos apresentam uma possibilidade curiosa e é interessante ler sobre o assunto, mas sobressai, ainda assim, algo de estranheza e a necessidade de uma certa medida de crença para assimilar estes aspectos.
De leitura acessível e com muito de interessante,apesar das possibilidades mais estranhas de alguns dos aspectos desenvolvidos, A Nova Interpretação dos Sonhos cativa, principalmente, pela nova perspectiva que apresenta para alguns aspectos do sonho e do contexto em que a interpretação deste. Uma leitura interessante, portanto.

Novidades Bertrand


Em 1526, Isabel de Portugal, considerada a mais bela mulher do seu tempo, foi para Castela ao encontro do marido, Carlos V, rei da Hispânia e imperador do Sacro Império Romano Germânico, o soberano mais poderoso de toda a Cristandade. Em Sevilha quando se encontraram, foi paixão à primeira vista… e um amor que durou a vida toda dos dois. 
Mãe de Filipe II de Espanha e I de Portugal, filha de D. Manuel I,  o Venturoso rainha e imperatriz pelo casamento, Isabel foi regente de Castela durante as prolongadas ausências do marido, a quem escrevia incansavelmente. 
Inteligente, sensível, apaixonada, mas de saúde frágil, desempenhou os vários papéis da sua vida – mulher, mãe e soberana – de forma exemplar. A morte, que a colheu ainda jovem, aos 36 de idade, precipitou Isabel de Portugal no esquecimento geral durante séculos. Apenas a lenda guardou o seu registo. E a arte. Um dos seus retratos  –verdadeira obra-prima de Ticiano – é das raras referências que todos, ou quase todos, conhecem. 
Neste livro, Manuela Gonzaga resgata-a do olvido numa obra de leitura irresistível, colocando-a no palco da história europeia do seu tempo, com as suas guerras, intrigas, desgostos, cismas, roturas, alianças e traições. Mas também com os amores e as glórias que coroaram a vida breve desta muito amada infanta de Portugal.

Escritora - autora de mais de uma dezena de livros - mestre em História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), é  investigadora associada ao CHAM (Centro História Além-Mar, Universidade Nova de Lisboa). Concebeu e tem vindo a coordenar Oficinas de Escrita, a próxima das quais em colaboração com a Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul.  Natural do Porto, viveu em  África  – Angola e Moçambique  –, uma parte da adolescência e da juventude. Durante cerca de 30 anos exerceu o ofício de jornalista. Coordenou e dirigiu algumas publicações. Entre outras, foi chefe de redacção da revista  Marie Claire, edição portuguesa, e directora da revista Pais. 
Tem quatro filhos, dois netos, e desde 2000 que se dedica à escrita e à investigação a tempo inteiro.


No coração de Buenos Aires vive uma pequena comunidade anglo-argentina onde os mexericos se devoram como  scones com chá. É aqui que Audrey cresce e se apaixona por Louis, um jovem excêntrico e de passado duvidoso, com um talento extraordinário para a música. Audrey é a única mulher que o compreende e Louis compõe para ela uma brilhante sonata de amor, uma melodia hipnotizante ao ritmo da 
qual se envolvem num romance secreto. Porém, uma tragédia familiar interrompe abruptamente o romance e Audrey, uma filha exemplar, emociona os próprios pais ao aceitar casar-se com Cecil, o  bem-sucedido  irmão mais velho de Louis. Trata-se de um sacrifício de que  ela se arrependerá amargamente. 
Apesar das alegrias da vida familiar, Audrey ouve as notas da sonata a ecoarem ao longo dos anos como um lembrete do seu amor perdido.
Épico na forma, lírico no tom, Uma Sonata de Amor é uma viagem apaixonante de uma mulher à descoberta 
de si própria e do verdadeiro significado do amor.

Santa Montefiore nasceu em Inglaterra em 1970. Fez Estudos Espanhóis e Italianos na Universidade de Exeter e passou grande parte dos anos 90 em Buenos Aires, cidade onde a mãe cresceu. 
Converteu-se ao Judaísmo em 1998 e casou com o historiador Simon Sebag Montefiore. O casal vive em Londres com os dois filhos, Lily and Sasha.

domingo, 23 de setembro de 2012

Não Odiarei (Izzeldin Abuelaish)

Nasceu e cresceu num campo de refugiados de Jabalia. A mãe ensinou-lhe a importância do trabalho e os meios de sobreviver e os professores mostraram-lhe que, com esforço e persistência, podia chegar longe. Atravessou todas as dificuldades para se tornar médico e dedicou-se a ajudar os mais desfavorecidos, ao mesmo tempo que lutava para passar uma mensagem de paz. Por fim, encontrou-se ele próprio com a tragédia, ao perder três das filhas num ataque à sua casa, mas, mesmo assim, Izzeldin Abuelaish recusa-se a odiar. Este livro é a sua história... e a sua mensagem de paz.
Apesar de ser, essencialmente, uma história pessoal, nota-se, neste livro, também o cuidado em apresentar ao leitores os acontecimentos mais relevantes do conflito entre israelitas e palestinianos. Esta é, aliás, a razão que leva a que a leitura seja relativamente pausada, pois há todo um conjunto de dados a assimilar, quer no que toca aos principais momentos do conflito, quer dos nomes e dos lugares onde esses momentos decorrem. Este lado de exposição dos factos torna-se também algo distante, a nível emocional, em contraste com a história pessoal de Izzeldin e, em particular, com o impacto da tragédia narrada nos capítulos finais. Pois é o lado pessoal o que mais impressiona e o que reforça a mensagem do autor contra o ódio e a vingança.
Quando escreve sobre a sua própria história, toda a distância se desvanece. Os acontecimentos são narrados sem elaborações e com todo o impacto emocional de quem viveu a tragédia na primeira pessoa. Resulta, assim, que a empatia é quase inevitável, quer para com o jovem Izzeldin que luta por um futuro melhor para si e para os seus, quer para com o pai que se vê abraços com uma tragédia intolerável, mas que, ainda assim, encontra as forças para reagir e salvar o que ainda pode ser salvo.  E à história, que é, por si só, um exemplo de força, junta-se o impacto da visão que o autor tem do mundo, mesmo depois das perdas causadas pelo conflito. A recusa em ceder ao ódio, em ver todos nos gestos de alguns, numa posição admirável perante a vida.
Neste relato em que a frieza dos factos se conjuga com o fortíssimo impacto emocional da tragédia vivida na primeira pessoa, é tão importante a história como a mensagem. Finda a leitura, fica na memória a mensagem de paz vinda tanto da perda como de toda uma postura perante a vida e uma visão mais clara das consequências da guerra. E sobre tudo isto vale a pena reflectir...

sábado, 22 de setembro de 2012

O Tempo dos Milagres (Karen Thompson Walker)

Quando o abrandamento foi anunciado, uns pensaram que o mundo ia acabar, outros que não tardaria a regressar a normalidade. No princípio, poucos se aperceberam do que estava a acontecer, mas, com a passagem dos dias, os efeitos viriam a tornar-se evidentes. Agora, todos entendem. A rotação da Terra alterou-se e os dias deixaram de ter vinte e quatro horas, cada dia surgindo como um pouco mais longo. As consequências não se fazem esperar. Mas para Julia, o abrandamento não é o único problema com que tem de lidar. Aos onze anos, tem pela frente também as mudanças do fim da infância e as amizades, separações e primeiros amores tornar-se-ão mais intensos pelas circunstâncias em que decorrem. Entre as constantes mudanças do abrandamento e a catástrofe que, cada vez mais, se afigura inevitável, Julia encontrará amor e perda e verá o mundo com outros olhos - mesmo se esse mundo parece aproximar-se do fim.
Apesar de ter por base uma situação de potencial catástrofe global, a forma como a história é desenvolvida marca principalmente pelos aspectos pessoais. Ao narrar os acontecimentos do ponto de vista de uma rapariga que teria onze anos na altura em que os viveu, a autora cria uma perspectiva da história que é bastante mais centrada no que a protagonista vê e entende sobre as circunstâncias e que completa os poucos dados conhecidos sobre o abrandamento com uma história pessoal marcada por todos os dilemas e tomadas de consciência característicos da idade de Julia. Para Julia, as consequências do abrandamento e as mudanças por este provocadas são tão importantes como as que estão a acontecer na sua vida pessoal: as amizades quebradas, a pouca convivência social, o rapaz que a fascina e, principalmente, os segredos e os conflitos da vida familiar. Tudo decorre em função do abrandamento, mas também é o abrandamento que intensifica as mudanças nas relações, e Julia vê essas mudanças ainda com relativa inocência. Inocência essa que se altera com o seu percurso do crescimento e que fortalece o que de mais cativante há na personagem de Julia.
Mas nem tudo é pessoal e as circunstâncias do abrandamento servem também como base para explorar alguns aspectos interessantes. Tudo é visto do ponto de vista de Julia e, portanto, apresentado com a simplicidade com que ela assimila as situações, mas há vários aspectos relevantes na forma como o abrandamento é relacionado com questões ecológicas, como a escolha entre seguir o Tempo de Relógio e o tempo real gera preconceitos e actos de sabotagem, cavando linhas de separação, na forma, ainda, como diferentes pessoas reagem à possível calamidade. Há, também, muitas perguntas deixadas sem resposta, quer sobre o abrandamento, quer sobre personagens importantes para Julia, mas essa ambiguidade acaba por ser estranhamente adequada, já que, em circunstâncias como as que são apresentadas, dificilmente seria possível saber tudo sobre todos.
História de um possível apocalipse, mas principalmente do crescimento de uma criança em tempos de profundas mudanças (globais e pessoais), O Tempo dos Milagres conjuga uma escrita fluída e acessível, mas com toques de poesia, com um enredo em que o lado global e o lado pessoal das circunstâncias se relacionam no equilíbrio mais adequado. Cativante desde o início e com vários momentos comoventes, deixa em aberto várias possibilidades por explicar. Ainda assim, tudo o que mais importa está lá e isso basta para que a leitura valha a pena.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Nero (Vincent Cronin)

Depois de longos anos de exílio por ter desafiado a autoridade de Cláudio, Lúcio Aneu Séneca regressa a Roma para servir de tutor ao jovem Domício, filho de um casamento anterior da mulher do César. As razões para a escolha de Agripina apenas a ela pertencem, mas Lúcio está disposto a moldar o jovem Domício segundo os melhores valores e a transmitir-lhe o máximo possível de conhecimento. Mas a intriga faz parte do quotidiano da cidade eterna e é impossível ter tranquilidade ou amor quando se está próximo do poder. Principalmente, se se estiver no centro dos planos de uma mãe ambiciosa. Agripina quer para o seu filho o mais glorioso futuro - e para si própria também. E, ao convencer Cláudio a adoptar o seu filho, Agripina está também a moldar um novo princeps e a preparar a ascensão ao poder do jovem que agora dá pelo nome de Nero. A todas as mudanças assiste Lúcio, sempre presente, fiel, acima de tudo, àquilo em que acredita para Roma. Mas a ascensão de Nero será também o início da sua queda.
Complexo e detalhado, quer na caracterização do cenário e da época em que decorre, quer na elaboração dos intrincados planos dos diferentes interesses em conflito, este é um livro que exige tempo e atenção da parte do leitor. A forte componente descritiva impõe à narrativa um ritmo pausado, para o que contribui também a vastidão de detalhes a assimilar. Não se trata, portanto, de um romance de leitura compulsiva, mas antes de uma narrativa em que, aos poucos, a complexidade do cenário se alia à complexidade das personagens para abrir ao leitor a história de duas vidas fascinantes.
Ainda que seja Nero a figura central deste livro, é Lúcio quem, ao longo de toda a narrativa, mais se destaca. Fascinante pelos valores e pela lealdade aos princípios que defende, Lúcio está, ainda assim, longe de ser uma figura constante e fechada à mudança. Muitos são, na verdade, os seus dilemas e as circunstâncias da sua vida - e da do seu discípulo - levam-no, por vezes, a ter de escolher entre o que julga correcto e o bem-estar da cidade e do homem a quem se dedicou acima de todas as coisas. A história de Lúcio é, no fundo, a de um homem cheio de esperanças, mesmo tendo consciência das agruras da realidade, e da forma como a luta por aquilo que defende define a sua tragédia pessoal. É ele o protagonista de vários dos momentos mais marcantes, nesta história em que intriga e crueldade se unem a consideráveis esforços para fazer de Roma um lugar melhor.
Intimamente ligado à vida de Lúcio está o percurso do próprio Nero. É na ligação entre estas duas vidas e na forma como esta torna mais vasta a complexidade das suas personalidades individuais que se revela a máxima mestria do autor na construção deste livro. Longe do infame louco, o Nero que o autor apresenta é imensamente humano. Egocêntrico, por vezes, cruel, nos seus piores momentos, mas igualmente capaz de grandes gestos e verdadeiramente disposto a dar o seu melhor a Roma. Para esse homem determinado, mas teimoso quanto aos seus grandes erros, Lúcio funciona como a voz da consciência possível. Em certa medida, Lúcio e Nero completam-se mutuamente e a forma como as suas histórias se conjugam, criando e destruindo ligações para culminar num final esperado, mas nem por isso menos marcante, que torna este livro tão fascinante.
Muito descritivo, mas sempre envolvente, este livro junta uma caracterização meticulosa da Roma de Nero e de várias das figuras centrais do seu tempo a uma história tão complexa e cativante como as personalidades dos seus protagonistas. O resultado é uma obra que, não sendo propriamente de leitura compulsiva, exerce, ainda assim, um constante fascínio por tudo o que de interessante tem para apresentar. Recomendo.

Novidade Guerra & Paz


«Soberano Lusitano», da autoria de Rui Esteves Costa e com prefácio do aclamado cavaleiro Paulo Caetano, é o primeiro romance português sobre o cavalo lusitano.
Num romance protagonizado por um cavalo lusitano, descubra uma história de amor ardente, um mundo de paixão.
Na madrugada de 13 de Abril nascia, na Golegã, o cavalo que seria baptizado e conhecido como o Soberano. A milenar raça portuguesa deu-lhe o resto do nome: Soberano Lusitano. Cruza a fronteira e começa a ganhar fama na tradição ibérica do toureio. Em Sevilha, encontra aquele que será o seu companheiro de aventuras, Paco Montés, um jovem cavaleiro que faz furor em Espanha, arrojando na arte de tourear. No entanto, o destino dos dois vai sofrer uma reviravolta surpreendente e levá-los até ao Brasil,  casa dos maiores compradores da raça. No Rio de Janeiro o jovem cavaleiro há-de conhecer Florena, a fogosa mulher que mudará o rumo da história de paco e do Soberano Lusitano.

Rui Esteves da Costa nasceu em 1968, numa aldeia da Beira Baixa. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa e especializou- se em Gestão de Instituições Financeiras, na Universidade Católica, sector onde exerce a sua vida profissional. Para além dos três filhos, as suas grandes paixões são a sua coudelaria, onde faz criação de cavalos lusitanos, e os livros. Este e o seu primeiro romance.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Tim (Colleen McCullough)

Aos vinte e cinco anos, Tim é dono de uma beleza incomparável... e de uma grande fragilidade. Apesar da sua deficiência mental, os pais insistiram em arranjar-lhe um emprego, para que, quando se encontrasse sozinho, pudesse, tanto quanto possível, olhar por si próprio. Mas há coisas que Tim não compreende e os colegas de trabalho divertem-se a pregar-lhe partidas cruéis, que a sua mente não consegue compreender e que, por isso, o magoam. Apesar disso, também Tim tem direito ao afecto. E, quando a vizinha do lado da casa onde ele e a equipa estão a trabalhar o convida para tratar do seu jardim aos Sábados, nem Tim nem a distante Mary Horton imaginam a força da ligação que virá a surgir entre ambos.
De tudo o que de bom há neste livro, e é muito, aquilo que mais marca é a intensidade dos sentimentos que evoca. A mestria com que a autora gere contrastes, dificuldades e preconceitos para criar a história de uma relação tão rara como comovente é, sem dúvida, a grande força na base deste livro e aquilo que faz com que permaneça na memória. Tudo gira, no fundo, em volta de Tim, mas há um mundo tão grande à sua volta e uma inocência tão terna nos sentimentos que evoca, que tudo na sua história - desde as pequenas experiências ao crescimento do afecto que, no fundo, é o essencial de tudo - enternece e comove.
Enquanto protagonista, Tim é uma figura fascinante. Belo como poucos pela sua imagem física, mas tendo na sua natureza inocente uma outra forma de beleza, Tim cativa em todos os aspectos. Na forma como reage à crueldade dos outros e na devoção incondicional que parece ser a sua única forma de amar, mas também nas dúvidas que fecha dentro de si e na forma como estas lhe moldam as reacções, Tim é uma personagem complexa e completa no que o forma, independentemente das suas diferenças. E é também o que o distingue de Mary, a suposta mulher normal, mas que esconde também as barreiras que as suas escolhas lhe impõem. Tim expande, com Mary, a sua capacidade de aprender, mas também Mary cresce com a companhia de Tim. E, no seu crescimento gradual da curiosidade ao afecto e, depois, a um amor completo e mais forte que as convenções e preconceitos, a jornada de crescimento que é a relação entre ambos molda as suas personalidades no que de melhor têm para dar.
Mesmo que o afecto possa tirar importância aos obstáculos, estes não deixam de existir. E aqui reside ainda um novo ponto forte deste livro. Nem tudo é positivo na relação entre Mary e Tim. As dificuldades existem e a autora tem o cuidado de as considerar, ao longo da história, sem nunca diminuir o seu impacto. Esta é, aliás, uma forma de explorar tanto o lado bom como o mau da forma como as pessoas encaram a diferença. Mesmo entre os mais próximos de Tim, há algo de preconceito a surgir e a superação da mentalidade instituída - ou, para alguns, a incapacidade de o superar - fazem parte do que torna esta história tão marcante, pois reflectem um mundo em que algumas conquistas são possíveis, mas nem todas as mentalidades mudam de um dia para o outro.
História de afecto, de ternura e de amor, este é um livro sobre diferenças e contrastes, mas, principalmente, sobre as características que unem todos os seres humanos. Uma leitura envolvente, bem escrita e poderosíssima a nível de impacto emocional, e uma história que fica na memória bem depois de terminada a leitura. Muito bom.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Eu, Ela e os Vampiros (Carlos Rodrigues)

Um incidente numa visita de estudo faz com que Carlos e Diana se descubram no centro de uma estranha luta entre o bem e o mal. De um lado, está o sobrevivente da antiga batalha contra o Vampiro Supremo e o herdeiro das suas forças. Do outro, estão os seres que vivem dentro do corpo dos dois jovens e que, sob a orientação de Diametris, devem agora despertar os seus poderes para o novo combate. Para Carlos e Diana, tudo é muito estranho, mas não há tempo para assimilar a estranheza da situação. É preciso agir, antes que o vampiro retome os seus poderes, caso contrário o futuro do mundo pode estar comprometido...
O grande ponto fraco deste livro está no ritmo algo apressado do enredo. A narrativa centra-se na acção, deixando para segundo plano a contextualização quer das personagens, quer do como e dos porquês que movem os poderes em confito. O resultado é um início algo confuso, em que tudo parece acontecer demasiado depressa e sem explicações. Este é um aspecto que melhora com o evoluir da narrativa e com o crescimento na intensidade dos acontecimentos principais. Permanece, ainda assim, a impressão de que muito mais poderia ser dito a nível de contexto, mesmo tendo em conta que este é o primeiro volume de uma história maior.
Mas também há qualidades. Não há grandes fragilidades a nível de escrita, excluindo uma ou outra gralha e, muito ocasionalmente, uma frase mais confusa, e o estilo simples e sem elaborações mantém a envolvência do enredo mesmo na fase inicial de estranheza. Além disso, ao construir uma história em que a acção é uma constante, consegue-se também transmitir a desorientação dos protagonistas, empurrados bruscamente para um mundo que lhes é totalmente desconhecido.
Ainda que a caracterização das personagens não seja muito elaborada, há, ainda assim, pequenos aspectos interessantes. A natureza de Diametris e o que o diferencia dos seus pupilos são apenas algumas características que, ainda que abordadas de forma muito breve, têm bastante potencial. E se a forma como qualquer um deles apela aos seus poderes soa, por vezes, um pouco forçada, os poderes em si, com todo o tipo de feitos que podem exercer, têm muito de interessante para explorar.
Apesar de algumas fragilidades e de um início um pouco confuso, a impressão que fica é a de uma história muito simples e que deixa umas quantas perguntas sem resposta, mas que, mesmo nos momentos mais estranhos, consegue manter a envolvência. Leve e agradável, podia ter sido, talvez, uma história bastante mais complexa. Gostei de ler, ainda assim.

Novidade Sextante


De um dos maiores escritores do nosso tempo, a sua primeira colectânea de contos, escritos entre os anos 1979 e 2011, histórias de três décadas da vida norte-americana. Situadas na Grécia, nas Caraíbas, em Manhattan, numa prisão para criminosos de colarinho branco ou no espaço sideral, estas nove histórias são uma inolvidável introdução à voz icónica de Don DeLillo, desde os ricos e marcados ritmos jazzísticos dos seus primeiros escritos até à linguagem frugal, depurada e monástica das suas histórias mais recentes. Freiras, astronautas, atletas, terroristas e viajantes, as personagens d’O anjo Esmeralda entram de moto próprio no mundo e definem-no. Estas nove histórias descrevem a extraordinária viagem de um grande escritor cuja premonição dos acontecimentos  do mundo marcou a nossa paisagem literária.

Don DeLillo nasceu em 1936, em Nova Iorque. É autor de vários romances e peças de teatro. Foi galardoado com o National Book Award, o PEN/Faulkner Award e o Jerusalem Prize.  Submundo foi finalista dos prémios Pulitzer e do National Book Award; em 2006, foi considerado um dos três melhores romances dos últimos vinte e cinco anos pela New York Times Book Review.

Novidade Caminho


Uma obra que conjuga uma inteligência rara com um bom humor desarmante no tratamento de uma questão eterna: a (i)mortalidade. O Banquete é uma revisitação dos mitos definidores da Humanidade.

– O que nos diz uma notícia radiofónica sobre a Caverna de Platão?
– O que aconteceria se tivéssemos comido o fruto da Segunda Árvore do Paraíso?
– O que decidiram os Pássaros no Encontro Máximo para Reavaliação da Lei Natural Aplicada aos Homens sobre a extinção da Humanidade?
– O que acontece a um Fausto que se recusa a cumprir o pacto que assinou com o Diabo?


Patrícia Portela nasceu em 74. É autora de performances e instalações há mais de 15 anos e pelos seus espetáculos recebeu já os prémios mais prestigiantes, entre os quais se destacam O Banquete (top10 dos melhores espetáculos na Bélgica 2007), a Trilogia Flatland (prémio Acarte/Madalena de Azeredo Perdigão e prémio Associação dos Críticos de Teatro Portugueses 2006), WasteBand (prémio Teatro na Década e Menção Honrosa Prémio Acarte/Madalena de Azeredo Perdigão 2003. Vive entre Paço de Arcos e Antuérpia. Os seus primeiros livros  foram particularmente bem recebidos pela crítica. 

Novidades Asa para Outubro


Tatiana vive com a família em Leninegrado. A Rússia foi flagelada pela revolução, mas a cidade mais cosmopolita do país guarda ainda memórias do glamour do passado. Bela e vibrante, Tatiana não deixa que o dramatismo que a rodeia a impeça de sonhar com um futuro melhor. Mas este será o pior e o melhor dia da sua vida.
O dia assombroso em que conhece aquele que será o seu grande e único amor. Ameaçados pela implacável máquina de guerra nazi e pelo desumano regime soviético, Tatiana e Alexander são arremessados para o vórtice da História, naquele que será o ponto de viragem do século XX e que moldará o mundo moderno.

Ao longo dos últimos 12 meses, os gestores de recordes do GWR processaram cerca de 50 000 pedidos. Desses, menos de 5000 conseguiram ultrapassar o rigoroso processo de ratificação – abrangendo desde o mais alto cão de sempre (com 1118 m) e o preço mais elevado pago por uma obra de arte num leilão (119,9 milhões de dólares); ao maior número de conquistas do Monte Everest (21).
Neste livro poderá encontrar detalhes completos sobre todos estes e muitos mais recordes nas ilustradas páginas do GWR 2013!

Clarissa, mulher de um diplomata, gosta de sonhar acordada. “Imagina que um dia eu encontrava um cadáver na biblioteca, qual seria a minha reacção?”, diz num devaneio. O que ela não podia prever é que vai ter oportunidade de descobrir precisamente isso quando tropeça num corpo… na sua própria sala!
Desesperada, convence os seus amigos a ajudá-la a livrar-se do morto, sabendo que, entre eles, está o assassino. E se um inspector da polícia chegasse de repente…?
Escrito originalmente por Agatha Christie em 1954 como uma peça de teatro, A Teia de Aranha (Sipder’s Web) foi adaptada para romance por Charles Osborne em 2000.

Uma mulher desaparece.  Ela era a esposa perfeita, a mãe exemplar, uma mulher irrepreensível.  O que dizer então do explosivo diário que deixa para trás?  Nas suas páginas, ela revela pormenores surpreendentes da sua jornada de descoberta e libertação sexual.
A Noiva Despida é uma aventura nos meandros do sexo e do amor. Uma partilha de confidências que apenas as melhores amigas ousam fazer. No final, é impossível evitar a pergunta: até que ponto conhecemos verdadeiramente outra pessoa?

Diane Albret é órfã e passou a maior parte da sua vida num colégio interno. Sem mais família, está habituada a receber apenas uma visita: Daniel St. John, o seu irresistível tutor. Ao longo do tempo, ele visitou-a sempre uma vez por ano. Mas o seu mais recente encontro reserva-lhe uma surpresa: Daniel esperava encontrar uma menina e Diane é já uma bela e carismática mulher. Ele aceita retirá-la da clausura do colégio e levá-la consigo para Londres. Porém, ambos têm planos que preferem manter em segredo.
Mas a crescente proximidade entre ambos ameaça dificultar-lhes os planos e, pouco a pouco, eles apercebem-se de que têm mais em comum do que julgavam. Poderá um novo amor triunfar sobre ódios antigos?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Noites de Paixão (Cheryl Holt)

Kate Duncan chega a Londres na companhia de uma prima disposta a muito para conseguir casar com o homem que veio conhecer, inclusive a recorrer a uma poção de amor. Mas, quando Melanie lhe pede que ponha a poção na bebida de Lord Stamford, Kate recusa-se a acreditar que a beberagem tenha qualquer valor... e bebe-a, para o provar. Mas a poção tem alguns efeitos, ainda que inesperados, e Kate dá por si à entrada do quarto de Stamford no momento em que este se encontra ocupado com outra mulher. No dia seguinte, Kate descobre que tem na sua posse um anel de Marcus... e que não se recorda do que aconteceu. Mas ele lembra-se de a ver e acha-a bem mais interessante que a sua possível noiva. Além disso, o desaparecimento do anel dá-lhe a vantagem necessária para a persuadir a vê-lo. Mas há intrigas em seu redor e nem a sua reputação de experiente libertino o pode proteger quando Kate, que lhe desperta sentimentos desconhecidos, está no centro de planos que ele nem imagina.
Ainda que a relação entre Kate e Marcus seja um dos aspectos essenciais do enredo, o romance acaba por ser um dos elementos que menos sobressai ao longo de todo o livro. Partindo de uma situação em que é a sensualidade que domina, e evoluindo para os meandros de uma teia de intrigas quase maquiavélica, o lado romântico da relação entre os protagonistas acaba por ser bastante discreto, revelando a sua intensidade apenas numa fase muito avançada da história. Na verdade, o que liga Kate a Marcus é, durante muito tempo, essencialmente atracção física, o que, aliado a temperamentos muito diferentes (e, no caso de Marcus, algo difícil), leva a que a ligação entre ambos pareça, principalmente, na fase inicial, um pouco forçada. Com o evoluir da história, contudo, a relação cresce e as dificuldades de Kate, que acabam por conduzir a um final particularmente bem conseguido, acabam por levar a que, também do ponto de vista romântico, a conclusão seja substancialmente mais forte que a algo peculiar fase inicial.
Mais que a relação entre os protagonistas ou os momentos mais sensuais, é nas complicações e intrigas dos que rodeiam Kate e Marcus que se encontra o mais interessante do enredo. Numa história em que várias personagens sobressaem pelos defeitos e em que Kate surge quase como uma Cinderela, com Regina como uma quase madrasta má disposta a tudo para conseguir o que quer e Marcus a surgir como um príncipe não muito encantado, o contraste entre a crueldade de uns e a inocência e benevolência de outros (Kate, em particular, mas também Selena e Christopher) acaba por criar uma inesperada empatia, já que, no meio de tanta manipulação, surge a curiosidade em saber se os principais intervenientes da história terão, no final, aquilo que merecem. É esse o lado mais cativante da história e a forma como é desenvolvido contribui também para a grande intensidade da fase final.
Partindo de um início um pouco vacilante, mas em que os elementos mais forçados se vão diluindo com o desenrolar dos acontecimentos, Noites de Paixão conjuga intriga, sensualidade e um pouco de emoção para dar forma a uma história envolvente, com alguns momentos surpreendentes e um final particularmente bom. Gostei.