quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Divulgação: Novidades Saída de Emergência para Outubro

Um homem dividido pelo sangue e pelas crenças tem nas mãos o destino de uma nação.
Uhtred recuperou a fortaleza da sua família, mas a sua vida está longe de ser pacífica. Na Mércia, a rebelião está latente enquanto o rei Eduardo tenta dominar a região. No Wessex, partidos rivais lutam para decidir quem será o próximo governante. E por todo o país há invasores nórdicos, os guerreiros lobos, que continuam a sua imparável incursão, sempre sedentos de terra, sob o comando do terrível Sköll, determinado a matar qualquer um que se interponha entre os seus planos de conquista.
Uhtred é agora um guerreiro lendário, admirado e procurado como aliado, temido como adversário. Durante anos conseguiu viver na fronteira entre as suas origens pagãs e o mundo cristão, entre a sua essência de saxão e a de viking, entre o velho mundo em que nasceu e a nova realidade que ele próprio ajudou a forjar. Mas a mudança não pode ser travada, e Uhtred terá de enfrentar infortúnios e tragédias, arriscando-se a perder tudo na luta contra um dos inimigos mais implacáveis de todos os tempos.

Na luta por justiça, conseguirá Eve travar um grupo que exige lealdade incondicional?
Na vibrante e misteriosa Nova Iorque do século XXI, a tenente Eve Dallas já sobreviveu a criminosos de todos os tipos, de meros ladrões a verdadeiros psicopatas. Mas desta vez é um bombista que está a ameaçar a sua cidade.
Com a ajuda do marido, o magnata Roarke, Eve terá de enfrentar um enigmático grupo terrorista de nome Cassandra. Sem objetivos claros, o grupo lança um rasto implacável de morte e ruína no mundo de Eve, e quando uma teia de terror atinge as pessoas mais próximas de si, a tenente é forçada a ripostar. Afinal, esta é a sua cidade e o seu trabalho é defendê‑la… mesmo quando, para isso, tem de arriscar a própria vida.

Criada numa família rica de Séforis, Ana é uma jovem rebelde com uma mente brilhante e um espírito ousado. Ela estuda em segredo e escreve histórias sobre as mulheres da sua época, negligenciadas e silenciadas. Até que um encontro casual com Jesus muda tudo: o pacifista que se opõe ao domínio de Roma e que ajuda os pobres e as prostitutas cativa Ana, que abandona tudo para viver com ele em Nazaré.
Contudo, os desejos reprimidos que Ana guarda dentro de si colocam-na em perigo. Durante a turbulenta resistência à ocupação de Israel por Roma, ela é forçada a fugir para Alexandria, onde revelações surpreendentes, perigos ainda maiores e um ambiente inesperado a aguardam. Ana determina o seu próprio destino durante uma excecional convergência de acontecimentos, decisivos para a História da Humanidade.
Com base em pesquisa meticulosa e escrito com uma abordagem reverente da vida de Jesus que realça a sua natureza humana, O Livro da Saudade é o relato da luta corajosa de uma mulher para seguir as suas paixões e fazer ouvir a sua voz num tempo, lugar e cultura projetados para a silenciar.

Ele odeia a Humanidade. Ela detesta dragões. Juntos poderão ser a salvação de que o mundo necessita.
Não há nada que Falcyn mais odeie do que os homens — especialmente os gregos. Numa guerra de que nunca quis fazer parte, eles destruíram tudo o que era importante para o dragão. Agora, ele vive afastado do mundo, ansiando pela extinção da raça humana.
Medeia foi condenada à morte pelo seu avô, o deus Apolo, mas está muito longe de se render ao seu destino. Com o seu povo ameaçado, e com uma nova praga preparada para o destruir, Medeia sabe que só existe uma arma capaz de deter o deus grego e o seu exército de demónios. O único problema é que essa arma está na posse do perigoso Falcyn.
Medeia e Falcyn são polos oposto que se atraem, numa relação que se torna mais forte e intensa a cada dia que passa. Os seus inimigos são astutos e implacáveis, mas os dois juntos são invencíveis. Quando uma jogada mal calculada de Apolo coloca o futuro em risco, Medeia tem de encontrar uma forma de controlar Falcyn... Mas como se trava um dragão que apenas quer a destruição?

Dez mapas que explicam as estratégias geopolíticas das potências mundiais e o seu significado para o futuro.
A geografia é um fator-chave na limitação do que a Humanidade pode ou não fazer. A política tem importância, mas a geografia é ainda mais importante. As escolhas dos líderes são limitadas por montanhas, rios, mares e betão.
A geografia não muda, ao contrário do que acontece com o mundo. Este novo livro de Tim Marshall apresenta-nos as dez regiões que estão destinadas a transformar a política e o poder global. Por que razão a atmosfera da Terra será o próximo campo de batalha, a luta pelo Pacífico está apenas no início ou a próxima crise de refugiados na Europa está mais próxima do que se imagina são apenas algumas das respostas que pode encontrar neste livro.
Em dez capítulos — da Austrália à Grécia, do Reino Unido à Etiópia ou do Irão ao Espaço —, o autor explica como as características geográficas e físicas de uma região afetam as decisões tomadas pelos seus líderes. Inovador e apresentado com o habitual humor de Marshall, esta é uma exploração apaixonante e esclarecedora do poder da geografia para definir o passado, o presente e — mais importante — o futuro da Humanidade.

O luto é o preço a pagar pela coragem de amar outras pessoas.
O aclamado psicoterapeuta Irvin Yalom dedicou a sua carreira aos que sofrem de ansiedade e luto. Contudo, nunca teve necessidade de autoaplicar os seus conselhos até que a mulher, a prestigiada autora Marilyn Yalom, foi diagnosticada com cancro. Em Uma Questão de Morte e de Vida, Marilyn e Irv partilham a forma como aceitaram nas suas vidas as novas provações: Marilyn a de morrer uma «boa morte» e Irv a de continuar a viver sem a sua esposa amada.
Em relatos alternados dos últimos meses que passaram juntos, e dos primeiros meses de Irv sozinho, ambos partilham uma visão rara e única de como enfrentar a mortalidade e lidar com a perda daqueles que amamos. Com a sabedoria de quem refletiu profundamente e o afeto familiar de namorados de adolescência que entraram juntos na idade adulta, eles abordam as questões universais da intimidade, do amor e do luto.
Escrito por duas pessoas com uma profunda experiência de vida, Uma Questão de Morte e de Vida é uma dádiva com o coração aberto para todos os que procuram apoio, alívio e uma vida com sentido.

Nos vários milénios da nossa existência, nada nos moldou mais profundamente do que a cidade. Das suas primeiras versões, há 7000 anos, às megalópoles atuais, a história da cidade é a história da civilização. Iniciando o seu relato em Uruk, a primeira cidade do mundo, Ben Wilson revela-nos que as cidades nunca foram uma necessidade mas que, a partir do momento em que surgiram, a pressão que geraram deu origem à maior parte das revoluções políticas, sociais, comerciais, científicas e artísticas que conhecemos.
São estes momentos transformadores e definidores de épocas que nos guiam numa viagem emocionante pelas metrópoles que tiveram um papel decisivo na História: Uruk, Atenas, Alexandria, Roma, Bagdade, Veneza, Lisboa, Amesterdão, Londres, Nova Iorque, Xangai e Lagos. Repleto de figuras históricas e retratos da vida quotidiana, Metrópoles é uma grande viagem pelas conquistas humanas que combina de forma exemplar academismo e narrativa histórica.

Abril de 1945. Quando as forças americanas libertam o campo de concentração de Buchenwald, descobrem quase mil rapazes judeus que tinham sido escondidos e protegidos pelos prisioneiros do campo. Ninguém sabe o que fazer com eles – e, durante dois meses, os jovens permanecem nos dormitórios da prisão sem qualquer tipo de rotina ou orientação.
Estes «Rapazes de Buchenwald» estavam zangados com o mundo pelo abuso que tinham sofrido e encontraram na violência uma fuga: roubavam para se alimentarem, eram conflituosos e lutavam por poder. Tudo mudou quando Albert Einstein e o rabino Herschel Shachter descobriram a história destes jovens e os levaram para França, para uma reabilitação com vista à integração na sociedade.
Este é o testemunho de Romek Wajsman, agora Robbie Waisman, um desses rapazes, que partilha a sua extraordinária história de transformação da dor em resiliência, e da superação de uma perda incrível para encontrar uma alegria extraordinária.

Rosamund viu a sua vida mudar da noite para o dia. Numa reviravolta do destino, passou de comerciante a herdeira — e a coproprietária de um novo negócio. O único problema é o seu arrogante e escandalosamente atraente sócio, que não vê com bons olhos esta parceria igualitária.
Kevin fica chocado quando descobre que o falecido tio deixou em testamento metade da sua empresa a uma estranha — uma sedutora que só pode atrapalhar os seus planos. A lógica sugere que um casamento de conveniência é a solução mais adequada, que dará a ambos o que pretendem: o controlo da empresa e um estatuto respeitável na sociedade.
No entanto, quando Kevin dá início ao seu plano de sedução, rapidamente se apercebe de que o coração não segue a razão, e de que para vencer terá de ultrapassar a resistência a uma ligação tão pessoal…

A traição fê-la vacilar... Mas não desistir de um amor para sempre.
Meredith Hale tem expectativas irrealistas em relação ao amor e ao casamento – e, segundo o ex-marido, a culpa é de Nora Roberts. Com os seus sonhos de «felizes para sempre» completamente destruídos, Meredith regressa a Dare Valley determinada a provar que o ex-marido está errado. Tanner McBride acabou de regressar de um cenário de guerra, mas o que encontra em Nova Iorque não é muito diferente. A sua missão seguinte implica partir o coração de Meredith para evitar que ela revele informações que comprometam a candidatura do ex-marido ao Senado.
Ela tem de ser travada, custe o que custar. Quando ambos se conhecem, a atração é imediata. Contudo, os segredos têm um preço e, ao trabalhar lado a lado com Tanner para desvendar a verdade sobre um crime, Meredith irá descobrir que o mundo à Nora Roberts que começou a construir… poderá estar perto de ser destruído.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Camilo, o Camaleão (Hannah Peckham e Stephanie Jayne)

O Camilo é um camaleão, o que significa que devia mudar de cor consoante o que estivesse a sentir. Bem, mas não é isso que acontece, o que faz com que ele se sinta um pouco perdido ao ver que todos os seus amigos conseguem comunicar através da cor, mas ele não. Mas será que isso é mesmo assim tão mau? Talvez não. Afinal, ao não comunicar através da cor, o Camilo descobre que tem outras formas de o fazer. E entender essas alternativas... pode muito bem ser o que lhe faltava para se aceitar tal como é.
Parte do encanto de ler livros infantis enquanto adultos é o misto de nostalgia e revelação que surge ao contemplar as coisas simples. Nostalgia porque lembra a forma como bastava a mais simples e breve das histórias para projetar mentalmente um mundo inteiro. Revelação porque vemos que as mensagens mais simples podem ser também as mais importantes, e não deixaram de o ser só porque crescemos.
É exatamente este misto de sensações que este livro evoca. Nostalgia, porque a história é realmente muito simples, lê-se num instante, mas é fácil imaginar o mundo que desabrocharia dela em tempos mais inocentes. Revelação, porque esta mensagem de reconhecimento das emoções, de aprendizagem sobre como lidar com elas e da aceitação daquilo que somos, mesmo que não sejamos exatamente iguais aos outros, é tão importante de aprender e de recordar na infância como na idade adulta. E é sempre bom lembrarmo-nos disso.
Mas é, ainda e sempre, um livro infantil, e importa observá-lo como tal. E da perspetiva de uma história para ler com os mais novos, existem duas caraterísticas que se destacam (além da já referida mensagem, que é, por si só, uma belíssima qualidade). A primeira é a componente visual, cheia de cor e de ternura, que prende ao folhear de cada página. Há, aliás, algo de delicioso na expressividade destes camaleões. A segunda é a cadência do texto, com a rima a acrescentar-lhe ritmo e a dar um tom singular a uma história que, apesar da sua simplicidade (ou talvez por causa dela), é perfeita para ler em voz alta.
Todas as emoções são válidas e somos válidos tal como somos: é esta a mensagem deste livro, e é tão importante para os mais novos como para todas as outras pessoas. Vale, pois, a pena acompanhar o Camilo nesta pequena aventura. E crescer com ele... ou voltar por um bocadinho à infância.

sábado, 25 de setembro de 2021

Se Eu Fosse um Gato (Paloma Sánchez Ibarzábal e Anna Llenas)

Se eu fosse um gato... muitas coisas seriam diferentes. Afinal, existem muitos pontos de divergência entre gatos e seres humanos. Os gatos têm hábitos diferentes, comportamentos diferentes, gostam de coisas diferentes e sentem-se confortáveis em ambientes diferentes. Mas... não será também assim entre diferentes pessoas? Através deste simples mas enternecedor exercício criativo, as autoras levam-nos a entrar na pele de um ser diferente e a transpor essa aceitação da diferença para todas as outras divergências da vida. E isso é um exercício muito bom para todas as crianças... e que também não faria mal nenhum a alguns adultos.
É precisamente pela importância deste exercício de reflexão que importa começar. Aceitar a diferença nos outros, aceitar que todos temos alguma medida de diferença, e que, parafraseando a canção, é mais o que nos une do que o que nos separa, é hoje mais importante do que nunca. E quanto mais cedo se aprender, melhor. Este livro é uma forma cativante, leve e muito ternurenta de transmitir a mensagem. E continua eficaz - mesmo na sua inevitável simplicidade - ante um olhar adulto.
Sendo um livro infantil, escusado será dizer que o aspeto visual é também particularmente importante. E é também bastante eficaz, pois, nesta mistura entre gatos e humanos, consegue construir imagens divertidas, resumir ao essencial o que, às vezes, parece complexo e completar com um toque de magia as palavras simples - mas muito certeiras - do texto.
E, no meio de todas estas diferenças, há ainda uma outra mensagem: a da importância e do valor da amizade. Da amizade que persiste, da amizade que nos vê como somos, da amizade que não tem barreiras e em que os gestos têm a importância do que os move. A amizade é crucial à vida, e a verdade é que transborda destas páginas. E que, mais uma vez, continua perfeitamente visível da perspetiva adulta.
É uma história muito simples, mas capaz de enternecer mesmo aqueles de nós que, já bem longe da infância, veem esta perspetiva como, talvez, algo inocente. Às vezes, porém, a inocência é a forma perfeita de transmitir - ou relembrar - verdades essenciais, e é exatamente isso que este livro faz. De uma forma simples, leve e cheia de ternura.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Stumptown - Volume Quatro (Greg Rucka, Justin Greenwood e Ryan Hill)

Pode não ser o mais dramático ou o mais violento dos caos de sempre, mas Dex Parios tem nas mãos o que é, sem dúvida, o caso mais caricato que alguma vez enfrentou. Tudo gira em torno de umas quantas amostras de café. Um bom café, sim, mas, aos olhos de Dex, apenas isso. Só que para os múltiplos envolvidos não é essa a questão: o que está em jogo é um café muito caro e muito específico e a rivalidade entre dos multimilionários. Além, claro, da chamada máfia barista, que tem intenções nefastas para o futuro desse café. Dex só tem de o entregar em segurança. Mas, para o fazer, vai ter de passar por uns quantos confrontos.
É na peculiaridade do caso, e na sua relativa leveza, que está a grande força deste volume, pois afasta-se um pouco das situações mais sombrias para explorar uma história menos violenta (mas com ação quanto baste, ainda assim) e com uma abundância de elementos caricatos que a tornam surpreendentemente divertida. Ora este contraste torna-se ainda mais vincado se olharmos para o aspeto visual, com os seus tons sombrios, expressões carrancudas, posições quase de duelo ao amanhecer. É como se o objetivo fosse dar um tom sério - mas não demasiado sério - a uma história que se assume como tudo menos isso.
Outro aspeto interessante é que este caso mais leve abre espaço a mais alguns desenvolvimentos sobre a história pessoal de Dex. As interações com Ansel são sempre rasgos de ternura, dada a inocência da personagem, mas a entrada em cena da irmã vem trazer novas tensões e conflitos pessoais. Fica, aliás, uma certa curiosidade insatisfeita relativamente a esta relação familiar, pois, sendo uma parte secundária face ao caso principal, deixa algumas questões em aberto. Ainda assim, ver mais da vida pessoal de Dex Parios é vê-la mais humanizada. E isso nunca pode deixar de ser interessante.
Ainda uma última nota para referir o último capítulo, que é um caso separado da história maior deste volume. Com relativamente pouco diálogo, vive muito da arte e do movimento, principalmente tendo em conta que toda a história gira em torno de uma noite de vigilância. Mas sobressai essencialmente por dois aspetos: pela forma como, sendo totalmente independente, não parece deslocado do caso anterior, e pelo surpreendente rasgo de empatia final num caso que parece ter pouco de pessoal.
Leve e peculiar, mas com um equilíbrio eficaz entre os aspetos sérios e os caricatos, trata-se, pois, de uma leitura envolvente, intensa e surpreendentemente divertida. Dex Parios em toda a sua glória, nas mais inesperadas das circunstâncias. E sempre com a mistura certa entre frieza e vulnerabilidade que tão bem a carateriza.

domingo, 19 de setembro de 2021

O Livro do Conforto (Matt Haig)

Às vezes, o mundo frenético em que vivemos deposita sobre os nossos ombros o peso de expetativas demasiado pesadas. Outras, como nos estranhos dias que vivemos, a incerteza assume proporções colossais e é preciso aprender a lidar com coisas que jamais teríamos imaginado. E, no meio de tudo isto, há a nossa própria natureza, as nossas inseguranças, a forma como tentamos constantemente ser mais, fazer mais, viver mais... esquecendo a necessidade de ser simplesmente. Este livro contempla todas estas complexidades do mundo e volta-se para as coisas simples. Para o que em nós é suficiente, para os pequenos rasgos de beleza, para o que nos ilumina nas trevas. Para o que nos conforta, em suma. E o conforto pode estar nas coisas mais simples.
Parte da enorme beleza deste livro, e todo ele é beleza, vem da capacidade como, a partir da máxima simplicidade, nos consegue dar tanto com que nos identificarmos. Pode ser a frase simples que ecoa nos confins do nosso próprio sentimento e que nos faz sentir vistos, ou a abertura com que o autor nos fala das suas próprias dificuldades, e que nos lembra que não temos de nos envergonhar das nossas vulnerabilidades. Pode ser a forma como em poucas frases, ou às vezes numa só, diz tudo o que é preciso e fala diretamente ao coração. Ou podem ser as palavras que precisávamos mesmo de ouvir - e, sim, também contam se as encontrarmos num livro.
É um livro muito próximo, em termos estruturais, dos anteriores Razões para Viver e O Mundo à Beira de um Ataque de Nervos. (Já os leram, a propósito? Porque valem mesmo a pena.) E tal como nos anteriores, mas talvez ainda um pouco mais, tendo em conta que é de conforto que se trata, esta estrutura revela-se particularmente eficaz. Estrutura que o próprio autor aponta como não muito definida, oscilando entre textos mais extensos e outros muitíssimo breves, mas que parece ser já um estilo próprio. E que resulta, porque quando basta uma frase para se nos entranhar no pensamento, ou uma simples lista para refletir no que nos perturba, então é porque nada de essencial lhe falta. Além disso, este encadear de ideias, que forma um todo maior, mas em que cada texto é uma unidade completa, é perfeita para os múltiplos regressos a que este livro apela. Porque, se as palavras nos falam, então também sabemos onde as procurar quando precisarmos de as ouvir.
E há ainda um último ponto particularmente marcante. Quando pensamos em conforto, pensamos à partida em coisas boas, mas todos sabemos que a vida nem sempre são coisas boas. Ora este livro, na sua já repetidamente referida simplicidade, consegue ver esse lado complexo da vida: nem sempre nos sentimos confortáveis, felizes ou sequer serenos. Mas a lição destas páginas aponta-nos o caminho para procurarmos o conforto possível mesmo a partir do abismo. E isso é algo de verdadeiramente precioso.
Máxima beleza na maior simplicidade. Um registo pessoal, mas capaz de falar ao coração de todos. E uma visão do que é ser-se humano, do que é viver, com todos os seus meandros e tribulações, mas também com uma infinita força de aceitação e de esperança. Tudo isto faz parte deste livro. Tudo isto o torna único. E é tudo isto - e o que faz despertar em nós - que o torna tão prodigiosamente belo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Concerto para 8 Infantes e 1 Bastardo (Fernando Relvas)

Começa como um encontro casual entre conhecidos que já não se viam há uns anos, mas cedo se transforma numa grande confusão. Porquê? Porque Fred, um dos intervenientes, está metido em negócios duvidosos e Jaca, o outro envolvido, não consegue resistir à curiosidade e também a um certo espírito de entreajuda. O que começa por ser um encontro inofensivo rapidamente dá lugar a uma sucessão de ataques, intrigas e manobras de diversão, entre descobertas por vezes involuntárias e a perceção de que nem todos os mistérios terão resposta.
Composto por um núcleo relativamente reduzido de personagens, e por uma história relativamente breve, é na dimensão da intriga que se encontra um dos aspetos mais surpreendentes deste livro. Desde a droga ao tráfico de armas, passando pelo mundo das estrelas do rock, há muito à acontecer nesta história e uma teia de ligações surpreendentemente complexa. Tanto que é impossível não ficar com a sensação de que certos aspetos acabam por se explorados de forma demasiado concisa, ficando uma certa curiosidade insatisfeita relativa a alguns pontos do enredo.
Se o contexto acaba por ser relativamente sucinto, já aos cenários não falta singularidade, o que, associado a uma intrigante expressividade nos rostos - particularmente notável nos momentos mais... desconcertantes - torna toda a leitura visualmente marcante. Além disso, tendo em conta os cenários em que grande parte do enredo decorre, a predominância do escuro transporta-nos para um ambiente que evoca na perfeição a aura do policial e das histórias de espionagem.
E há ainda algo de estranhamente cativante na figura de Jaca, eterno aspirante a diplomata, mas sempre metido noutro tipo de... conversações. É uma personagem algo caricata, inevitavelmente enquadrada no seu tempo, mas diferenciada pelas escolhas que faz - e pela forma como a vida se intromete nessas escolhas.
Conciso na exploração de um enredo intrincado, mas sempre cativante na sua brevidade, deixa realmente alguma curiosidade insatisfeita, mas não deixa de contar uma bela aventura. E isso é mais do que suficiente para que valha a pena conhecer este peculiar concerto.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Se os Gatos Desaparecessem do Mundo (Genki Kawamura)

Devia ter sido apenas um dia normal, mas acaba de receber a pior notícia de sempre. Resta-lhe muito pouco tempo de vida e, aparentemente, não há nada que o jovem carteiro possa fazer para mudar isso. A não ser que... Quando menos esperava, eis que surge a mais inesperada das visitas. Apresenta-se como o Diabo e tem uma proposta a fazer. Se ele estiver disposto a fazer com que certas coisas desapareçam do mundo, pode receber um dia de vida por cada coisa eliminada. Existem coisas a mais no mundo, diz ele. Mas será mesmo assim? E onde se traça a barreira entre o que é dispensável e o que não é?
Com uma história relativamente breve e onde não é muito difícil prever alguns desenvolvimentos, até porque o título é bastante esclarecedor, é na capacidade de apelar à reflexão que se encontra o grande ponto forte deste livro. Reflexão sobre quê? Bem, sobre tudo, desde a mortalidade e as razões para viver à forma como a memória nos prega partida, sem esquecer o olhar à forma como certos objetos se apoderam de nós e à importância que certas coisas adquirem para certas pessoas, não por aquilo que são, mas pelo que simbolizam. Não falta material para reflexão neste livro e, tendo em conta a simplicidade do texto, torna-se particularmente poderosa a vastidão deste aspeto. Quem diria que bastam algumas frases simples para nos fazer pensar nas facetas mais profundas da vida?
Outro aspeto especialmente cativante é o lado inesperado. Desde o princípio que há elementos caricatos, a começar pela escolha de indumentária do Diabo, mas expandindo-se depois para as peculiaridades de certas personagens. E este lado ligeiramente bizarro destaca-se por duas razões: primeiro, porque confere leveza ao que é, essencialmente, a crónica de uma morte anunciada; e segundo, porque abre portas a sentidos diferentes para o que julgamos conhecer. A explicação para a referida indumentária é, aliás, particularmente marcante e faz especial sentido.
O último ponto a destacar deixa sentimentos ambíguos, mas faz também todo o sentido que assim seja. Ficam inevitavelmente perguntas sem resposta, em parte devido à brevidade, que faz com que o passado seja explorado de forma relativamente concisa, mas também porque o depois fica, em certa medida, à imaginação do leitor. Ora, isto significa que fica uma certa curiosidade insatisfeita, mas faz sentido que assim seja, pois o passado define-se pelas memórias das personagens (e a memória é sempre falível) e o futuro numa história sobre a morte tem sempre de implicar perguntas sem resposta.
Surpreendentemente profundo na sua relativa brevidade, e surpreendentemente leve tendo em conta as circunstâncias do protagonista, trata-se, pois, de uma história cativante, singular e repleta de material para reflexão. Um bom livro para pensar, em suma, e também para emocionar.

domingo, 12 de setembro de 2021

Juntos (Luke Adam Hawker e Marianne Laidlaw)

Quando pensamos no que é a normalidade, vêm-nos à cabeça vários elementos da nossa vida pessoal e profissional, das relações que temos com os outros e dos pensamentos, palavras e ações que definem o nosso quotidiano. Mas a normalidade pode ser abalada. Às vezes, formam-se tempestades que abalam tudo o que julgamos conhecer e a própria vida tal como a conhecemos. É essa a história deste livro: a de uma tempestade que abala a vida do seu protagonista e do mundo em que ele se move. Uma tempestade que não tem nome... mas que, por estes dias, é muito fácil de reconhecer.
Nunca, ao longo de todo este livro, a palavra coronavírus surge com todas as letras. Mas basta olhar para a história que as imagens nos contam para reconhecer o nosso presente na vida que estas páginas refletem. E, assim sendo, a primeira coisa a salientar neste livro, e parte do que o torna tão comovente, é esta inevitável proximidade. A tempestade e a forma como esta afeta o mundo pode ser ambígua quanto baste, mas facilmente a reconhecemos. E a história destas pessoas pode muito bem ser a nossa.
Outro aspeto notável é o equilíbrio entre imagem e palavra. O texto é muito simples, muito conciso, e suficientemente vago para se aplicar às múltiplas tempestades da vida. As imagens aproximam-se mais da nossa tempestade específica, mas, sem se tornarem demasiado singulares, dão-nos a todos algo com que nos identificarmos. Além disso, tudo neste livro é simplicidade, não só na construção, mas também na mensagem, e essa simplicidade torna tudo mais nítido e mais marcante. Torna tudo mais próximo.
Sendo certo que é sempre o conteúdo que mais marca, importa ainda, neste caso, destacar a forma. Tudo neste livro é beleza, e isso é algo que se nota antes mesmo de o abrir. Enquanto mero objeto, torna-se desde logo cativante, despertando uma curiosidade imediata para o seu interior. E depois o interior transporta-nos para dentro de nós, completando essa primeira impressão de beleza com a beleza das coisas simples mas comoventes e a visão daquilo que nos une a todos, na tempestade e na bonança.
Breve e simples, mas belíssimo, é um livro sobre uma tempestade específica, mas capaz de se transpor para todas as tempestades da vida. E uma inesquecível mensagem de afeto e de união... mesmo nos momentos em que temos de estar separados.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Os Olhos do Gato (Mœbius e Jodorowsky)

Num mundo destruído, e a partir do isolamento das trevas, um rapaz cego acompanha uma caçada. Como, porquê, por que inefáveis meios, nada disso tem importância. A única coisa certa é que o rapaz aguarda uns olhos para que possa ao menos brincar a ver. Mas esse tipo de inocência implica uma brutalidade complementar. E o pouco que é dito, e o muito que é visto, contêm em poucas páginas uma lei da vida.
Não é propriamente fácil encontrar uma forma de descrever este livro. Visto em termos de narrativa, é muito breve, muito simples e assenta em pouco mais do que um percurso muito simples. Visto em termos estruturais, é totalmente diferente, sem nunca perder de vista, ainda assim, o facto de o percurso ser muito conciso. E visto como um todo, é um misto de interrogação ante tudo o que fica por dizer e de surpresa ante a precisão do que de facto reflete.
É descrito como um poema visual, e esta é uma expressão que adquire um estranho sentido. Por várias razões: primeiro, desde logo, porque em termos de ilustração, há toda uma construção complexa e fascinante que prende o olhar mesmo nos momentos mais macabros; depois, porque o contraste de perspetivas lhe confere um ar quase onírico, que acaba por ter, inevitavelmente, uma certa aura poética; e finalmente, porque esta brevíssima história consegue, na sua inexplicável simplicidade, refletir inocência e crueldade nas medidas exatas, e uma reflexão sobre como a vida é dos implacáveis.
Sendo tão breve, fica também uma estranha sensação da perspetiva emocional, algures entre o choque e a ambiguidade. Choque pelo tal contraste entre inocência e horror. Ambiguidade, porque é tanto o que não é dito, e são tantas as possibilidades que ficam em aberto, que é impossível evitar uma certa mistura de curiosidade insatisfeita e de contemplação sobre os possíveis futuros desta personagem.
Muito breve, funciona como um vislumbre de uma possibilidade maior. Mas inesperado na intensidade, surpreendente no contraste entre inocência e crueldade, e visualmente fascinante na mistura de inovação e repetição, não deixa de ser marcante na sua relativa brevidade. E memorável, à sua maneira.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Madrugadas (José António Pinto)

Impressões de buscas, de encontros, de olhares para o interior da alma e para as profundezas do mundo. Impressões de madrugadas insones, conturbadas, introspetivas, meditabundas. Impressões de vida e de morte, de valores e transgressões, de solidão e convivência, de sociedade e isolamento. De tudo e do olhar que o contempla são feitas estas madrugadas, relativamente breves, de uma simplicidade fluída, mas sobretudo de uma coesão surpreendente.
Provavelmente o aspeto mais marcante deste livro, e também o que lhe confere uma certa indefinição, é que, sem títulos para os poemas, e com uma estrutura que flui praticamente em continuidade, tanto pode ser visto como um conjunto de pequenos poemas como ser entendido como um só, extenso e intrincado. E a verdade é que cada página é um todo completo, um poema total, mas há relações inefáveis entre todos eles e uma sensação de coesão e de pertença que faz com que o todo pareça maior do que a soma das partes.
É, pois, um livro que permite duas leituras, a do longo poema, que quase faz eco de uma extensa madrugada de insónia, e a dos fragmentos de múltiplas madrugadas, que, no seu todo, formam uma vida. Tudo isto com uma simplicidade permanente, em que não só as palavras são concisas, mas também as imagens evocadas parecem, por vezes, fragmentárias, como que saídas de um sonho. Todos os textos - ou partes do texto, dependendo da interpretação - são breves, sem grandes elaborações em termos formais. E, ainda assim, formam-se imagens no pensamento, deixando uma interessante ambiguidade que terá diferentes sentidos consoante as impressões do leitor.
Vive mais de impressões do que de elementos concretos, o que significa que muito é deixado à imaginação de quem lê. Abrange, ainda assim, um amplo espetro de emoções o que significa que, se alguns dos poemas - ou, mais uma vez, partes de - criam uma maior sensação de distância, outros há que reforçam a proximidade. E é curioso notar que, às vezes, as imagens mais marcantes surgem dos fragmentos mais pequenos.
Feito de impressões breves, dá forma a um todo maior. Feito de imagens simples, surpreende com as mais inesperadas impressões. E, com um intrigante equilíbrio entre o todo e as partes, proporciona uma leitura que é simultaneamente leve e vasta, concisa mas abrangente, e sempre muito cativante. Vale bem a pena deambular por estas Madrugadas.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Cidade de Espiões (Mara Timon)

1943. Denunciada como espia devido a uma paixão não correspondida, Elizabeth de Mornay vê-se obrigada a fugir a toda a pressa de Paris. Perseguida pela Gestapo e na inesperada companhia de um piloto escocês, vê-se obrigada a tomar medidas extremas de modo a conseguir sobreviver e sair do país. Conseguirá fazê-lo, mas com um preço elevado em vidas e em experiências traumáticas. Mas o seu trabalho não acabou. Enviada a Lisboa, recebe uma nova identidade e uma nova missão, sob a égide do padrinho. Para a desempenhar, terá de se assumir como uma nova personagem e de se introduzir num meio onde ninguém é o que parece. Mas o passado está mais perto do que julga e o território por onde se move não é tão neutro como aparenta ser.
Parte do que este livro tem de interessante é que, através da perspetiva da protagonista, consegue tornar acessível a complexa teia de relações e intrigas que define a Lisboa onde a maior parte do enredo decorre. Desde os vários serviços de informação às teias de uma suposta neutralidade, passando, naturalmente, pelos movimentos de resistência, pelos meandros do regime e pela dupla identidade de vários dos intervenientes, o que não falta nesta história é intriga e alguns dos seus labirintos são particularmente intrincados. Ainda assim, a forma como tudo é narrado, bem como a proximidade emocional que se vai desenvolvendo, fazem com nunca seja difícil acompanhar todas estas ligações, e com que o crescendo de intensidade resultante das múltiplas movimentações ganhe ainda mais impacto.
Outro aspeto particularmente notável é uma certa ambiguidade que torna tudo mais intrigante. No contexto da história, naturalmente, ou não fosse esta uma narrativa de espionagem, onde ninguém é apenas aquilo que diz ser (mesmo os que parecem realmente sê-lo), mas também no que diz respeito às decisões e aos valores das diferentes personagens. Elizabeth de Mornay e Eduard Graf são, naturalmente, as figuras que mais sobressaem neste aspeto, ela pelas decisões que tem de tomar para sobreviver, ele pela posição que ocupa e pela contradição das suas relações. Mas esta ambiguidade está um pouco por toda a parte, sendo, aliás, também particularmente vincada no sempre intrigante e enigmático padrinho de Elizabeth.
Importa referir, por último, que ficam umas quantas perguntas sem resposta, até porque tudo indica que este livro terá continuidade. Ainda assim, o final revela-se particularmente adequado, não só pela resolução de umas quantas circunstâncias específicas, mas também por parecer sugerir o fim de uma etapa - e o início de uma nova - para as principais figuras da história.
Cativante, intenso, intrincado e fascinante - assim é este Cidade de Espiões. Uma história que demora o seu tempo, mas que nunca deixa de cativar, tanto pelos enigmas e complexidades do enredo como pela força e intensidade das personagens que o povoam. Prende do início ao fim, em suma, e deixa muita curiosidade em saber o que se seguirá.