sábado, 30 de setembro de 2017

Milarepa (Eric-Emmanuel Schmitt)

Uma mulher misteriosa num café de Paris, diz, com palavras enigmáticas, que Simão viveu mil vidas - e que o ódio do passado o obriga a contar repetidamente a mesma história até que o ciclo se quebre. Pois, em tempos, ele foi Svastika e combateu um iluminado - e foi o seu ódio pelo sobrinho, Milarepa, que o levou a grandes crimes e, depois, à iluminação. Esta é a história cem mil vezes repetida - e a mensagem de um caminho maior que o ódio.
Bastante breve e narrado de forma muito simples, este é um livro em que tudo se resume em poucas palavras. Poucas, mas talvez as suficientes, pois a ideia do caminho de Milarepa - do desejo de vingança ao desprendimento total - está bem patente na sua história, por mais sucintamente que esta seja contada. É certo que esta brevidade deixa sentimentos ambíguos, pois, por um lado, fica a sensação de que muito mais haveria a dizer sobre cada um dos acontecimentos narrados. Mas, por outro, ao cingir-se ao essencial, sobressai a mensagem - e talvez seja precisamente esse o objectivo.
É curioso também como, em apenas setenta páginas, há tantas vidas cruzadas. Tantas, de facto, que ficam umas quantas perguntas sem resposta, a começar pela identidade da mulher misteriosa. Mas a verdade é que todas as figuras servem o seu objectivo: a mulher misteriosa é um despertar para o passado. E, no passado, os caminhos de Svastika e de Milarepa, com todas as escolhas erradas e posteriores arrependimentos, traçam um caminho mais amplo do que apenas o das suas histórias individuais.
No fundo, a história cede protagonismo à mensagem, daí que o registo simples e sucinto faça sentido. Mais que as vivências, conta a aprendizagem e, no que a essa diz respeito, o percurso de Milarepa dificilmente poderia ser mais claro. Fica, é verdade, a curiosidade insatisfeita - a vontade de ver mais de perto, de sentir ao pormenor. Mas o essencial está lá, e é isso o mais importante.
E assim, a impressão que fica é a de uma leitura breve, mas em que as perguntas sem resposta perdem importância face à mensagem subjacente a toda a história. História de conhecimento e iluminação, um conto simples, mas cativante. Uma boa leitura. 

Título: Milarepa
Autor: Eric-Emmanuel Schmitt
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Quincas Borba (Machado de Assis)

Eminente filósofo e figura em todos os aspectos peculiar, Quincas Borba decidiu, nos seus últimos dias, fazer amizade com Rubião, um simples professor. E tão forte foi essa amizade que, chegada a hora da morte, decidiu fazer do amigo seu herdeiro universal. Eis, pois, Rubião convertido em homem rico. Rico, mas não necessariamente mais sensato. A ambição fá-lo mudar-se para o Rio de Janeiro, onde desenvolve novas amizades, contactos e paixões pouco correspondidas. E, pelo caminho, a fortuna vai-se dissipando, pois entre os mais ou menos leais e os puramente oportunistas, Rubião a todos pretende agradar. Alimentam-no o amor e a ambição de reconhecimento - sem saber que a loucura espreita ao virar da esquina...
Para quem tiver lido as Memórias Póstumas de Brás Cubas, o nome de Quincas Borba não será certamente desconhecido, e talvez o título leve a pensar num regresso ao protagonismo dessa tão estranha figura. Não. Pese embora o nome do livro, Quincas Borba (aliás, ambos os Quincas Borba) não são tanto figuras centrais da narrativa, mas antes força motriz de uma história bem diferente. Por um lado, é a fortuna de Quincas Borba homem que leva Rubião ao seu longo - e por vezes penoso - caminho. Por outro, Quincas Borba, canídeo, leal como nenhum outro, mesmo quando vítima de maus tratos, é para Rubião a fonte do que lhe falta em todas as suas outras relações: afecto desinteressado. E assim, sendo ambos presenças relativamente discretas, são, ainda assim, a força na origem de tudo o resto - justificando pois plenamente o destaque que o título lhes dá.
Mas passando à narrativa. A figura central é evidentemente Rubião, e é-o em contraste com os muitos que dele se aproximam. A história é a de um amor não correspondido, a de amizades que se transformam segundo o estatuto e, principalmente, a de um percurso de ascensão e queda moldado por riquezas, ambição e loucura. Acompanhar Rubião desde os últimos dias de Quincas Borba até aos seus próprios últimos dias é vê-lo percorrer uma longa jornada, onde há espaço para actos de todo o tipo: demonstrações de afectos proibidos, actos de heroísmo desinteressado, mal-entendidos alimentados pelas aparências e demonstrações de inexplicável generosidade. E no caminho de Rubião cruzam-se muitos outros, de tal modo que a sua história se torna também na de Sofia, do Palha, de Maria Benedita e de tantos outros que, mais ou menos ao de leve, o conheceram. Histórias que se entrecruzam, mas que divergem também em certos pontos, formando um todo mais amplo, mais complexo - e muito mais interessante pela diversidade de personagens.
E é curioso como, com tantas personagens e um caminho que, por vezes, se revela tão difícil, tudo é narrado com tão grande leveza. Talvez se deva aos muitos traços caricatos das personagens, talvez à simplicidade com que os factos são contados. Ou talvez, ainda, a uma mistura destes dois aspectos, aliada a um equilíbrio bastante eficaz entre os percursos pessoais das diferentes personagens. Certo é que tudo flui com perfeita naturalidade e que os muitos elos tocados pela passagem de Rubião acabam por se juntar numa visão bastante clara: a de que nada dura para sempre e que é na queda que se reconhecem os verdadeiramente leais.
História de uma fortuna feita e dissipada, eis, pois, um livro tão caricato como fascinante, um livro onde a verdade se esconde nos pequenos gestos e em que até o mais pequeno dos episódios tem significado. Cativante, surpreendente e com um leque de personagens fascinante, vale muito a pena conhecer esta história - e seguir até ao fim os passos de Quincas Borba. 

Título: Quincas Borba
Autor: Machado de Assis
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A Separação (Dinah Jefferies)

No momento em que regressa a uma casa vazia, Lydia apercebe-se imediatamente de que a sua vida nunca mais será a mesma. O marido desapareceu, levando as filhas com ele, e não deixou qualquer sinal do seu destino ou do porquê da partida. Sem saber o que fazer, Lydia procura respostas junto do patrão do marido, mas as que dele obtém só lhe trazem mais confusão e o anúncio de uma tragédia. As pistas são escassas. As certezas ainda menos. E, sozinha num país em guerra, mas incapaz de se render, Lydia sabe que tem de encontrar a ajuda possível e de descobrir as respostas que lhe faltam. Para que possa encontrar as filhas, se ainda for possível.
Um dos aspectos mais marcantes deste livro - muito à semelhança do que acontece em A Mulher do Plantador de Chá - e também um dos seus traços mais cativantes é a forma como a autora consegue enquadrar num cenário em constante mudança - e em tempos de revolução - um enredo que é, acima de tudo, um percurso pessoal. A acção passa-se na Malásia e os tempos em que decorre são de guerra, sendo por isso inevitável que este contexto histórico esteja bem vincado ao longo de toda a narrativa. Mas a história é acima de tudo a de Lydia e da sua família e, assim, os grandes acontecimentos são aqueles que os afectam directamente. O equilíbrio que a autora estabelece entre estas duas facetas da narrativa é algo de delicado e de fascinante - e é também a raiz na base do que torna este livro tão memorável.
Tal como o título indica, esta é, acima de tudo, uma história de separação: a separação de Lydia das suas filhas, principalmente, ainda que não só. E este obstáculo criado por razões desconhecidas é o ponto de partida ideal para uma narrativa cheia de revelações. O ponto de vista de Lydia, o da mãe desesperada, realça o impacto do desconhecido, a necessidade de saber, de encontrar o caminho. A situação das filhas, demasiado jovens para entender por completo o que se passa (ou talvez não) faz sobressair o papel dos inocentes apanhados num conflito que não lhes pertence. E a conjugação destas duas facetas faz nascer um percurso muitas vezes doloroso, comovente nos mais inesperados dos momentos, repleto de afectos e de vulnerabilidades... e sempre, sempre fascinante de acompanhar.
Também a escrita é fonte de fascínio, pois, em todos os momentos, grandes e pequenos, a autora consegue encontrar as palavras certas para maximizar o impacto das circunstâncias. Seja o desespero de Lydia ou a incompreensão das crianças, o medo ante os momentos de perigo ou a tristeza ante o que parece ser uma tragédia consumada, tudo flui com uma mestria tal que todos os sentimentos se expressam em todo o seu genuíno poder. E, assim, é fácil entrar na pele das suas personagens, viver com elas, sentir com elas. E continuar com elas no pensamento, mesmo depois de chegado o fim da história.
Eis, pois, um livro que abre portas para o passado - um passado histórico, que, em tempos de grandes mudanças, acolhe em si uma história intemporal. De afecto, de amor, de perda, de desespero. E de uma esperança contra todas as probabilidades que é talvez a alma de uma narrativa onde tudo, mas mesmo tudo, é fascinante. Emotivo, intenso, misterioso, surpreendente, um livro que marca do início ao fim. E que recomendo a todos, sem reservas. 

Título: A Separação
Autora: Dinah Jefferies
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Os Falsários (Bradford Morrow)

O mundo da falsificação é um meio perigoso, onde muitos segredos se guardam e tudo depende da reputação. Por isso, quando Adam Diehl, reputado coleccionador de livros com algumas relações duvidosas, é encontrado às portas da morte e com as mãos decepadas, é inevitável que todos os envolvidos no meio fiquem em alerta. Um dos seus conhecidos - ainda que não amigo - era Will, namorado da irmã e, em tempos, exposto enquanto falsário. Mas não há provas que o impliquem e, por isso, as atenções da polícia rapidamente se desviam dele. O problema é que nem todos estão dispostos a abandonar a perseguição tão facilmente e, embora tendo jurado deixar o mundo da falsificação para trás, Will sabe que o passado o pode apanhar um dia. E que, para proteger a família que almeja construir, precisa de ser mais esperto que o seu experiente adversário.
Partindo de um crime misterioso e expandindo-se depois para um submundo um tanto peculiar, este é um livro que tem como principal ponto forte a poderosa aura de mistério que parece rodear não só os grandes acontecimentos como as próprias personagens. Claro que a morte de Adam cria, desde logo, uma certa curiosidade em saber quem foi o culpado, como fez para deixar tão poucas pistas e porque cometeu ele o crime. Mas há muito mais do que isso para descobrir nesta história e um dos maiores enigmas de todo o enredo reside no próprio Will. Will, que conta a história, que molda o rumo da narrativa às suas próprias emoções e perspectivas, que consegue despertar uma empatia incrível com os seus laivos de vulnerabilidade. E que se mostra mais complexo a cada nova revelação, fazendo do leitor seu confidente e, assim, preparando-se para o surpreender.
É que não são só os acontecimentos em si que surpreendem, mas a forma como o narrador os vai moldando. A forma como se dá a conhecer através de laivos de sentimento, de decisões difíceis, de uma visão do seu mundo que é, toda ela, uma luta consigo mesmo. E isto tem vários efeitos positivos. Primeiro, o estranho fascínio que a figura do falsário regenerado (mas posto perante a tentação) parece exercer. Depois, a capacidade de moldar o mistério à sua imagem, dando o máximo impacto a cada momento inesperado. E, por fim, a perspectiva de um confronto sem heróis nem vilões, mas em que, com cada parte a defender os seus interesses, grandes segredos terão de vir à superfície.
É esta talvez a principal qualidade deste livro: a forma como o autor consegue fazer de cada personagem muito mais que o que parece à primeira vista, traçando-lhes laivos de inocência onde nenhuma existe, ou apontando culpas óbvias que não o são assim tanto, afinal. Claro que no cerne de tudo isto está Will, com toda a sua absurda mestria em guardar segredos e em construir histórias para os preservar. Mas ninguém é apenas o que parece: nem as amizades são perfeitas, nem os inocentes são assim tão ingénuos, nem os culpados são os que mais parecem querer assumir-se como tal. Tudo é mistério, em suma. E, por isso, tudo surpreende.
E assim, a imagem que fica é a de um livro onde nada nem ninguém é exactamente o que parece ser, e em que cada segredo é apenas a porta de entrada para novos e mais intrigantes mistérios. Enigmático e intrigante, um livro cheio de surpresas. Muito bom. 

Título: Os Falsários
Autor: Bradford Morrow
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Porto Editora

Numa noite, Soledad contrata um gigolô para que a acompanhe a um espectáculo de ópera, um ardil, na verdade, que não é mais do que uma tentativa de provocação a um ex-amante. No entanto, um violento e imprevisível incidente alterará por completo o curso daquela noite e marcará o início, entre ambos, de uma relação vulcânica, inquietante, e talvez perigosa. Ela tem sessenta anos; o gigolô, trinta e dois. Começa o jogo...
A narração desta aventura irá mesclar-se com as histórias dos escritores malditos da exposição que Soledad se encontra a preparar para a Biblioteca Nacional – e ser maldito é «desejarmos ser como os outros mas não conseguirmos, querer que nos amem mas só causarmos medo, talvez riso, não suportarmos a vida e, sobretudo, não nos suportarmos a nós próprios».
Como a própria Soledad, talvez?
Devorar ou ser devorado: A Carne é um romance audaz e surpreendente, o mais livre e pessoal de todos os que Rosa Montero já escreveu, que nos fala do passar dos anos, do medo da morte, da necessidade de amar e da gloriosa tirania do sexo. Tudo através da voz de uma eterna sedutora, apanhada de surpresa pelo seu próprio envelhecimento.

Rosa Montero nasceu em Madrid em 1951 e estudou Jornalismo e Psicologia. Desde 1976 que colabora em exclusivo com o jornal El País, tendo obtido em 1980 o Prémio Nacional de Jornalismo e em 2005 o Prémio Rodríguez Santamaría de Jornalismo. Figura central da literatura espanhola contemporânea, a sua vasta obra de romancista está traduzida nas mais diversas línguas. Com A Louca da Casa recebeu o Prémio Grinzane Cavour de literatura estrangeira e o Prémio Qué Leer para o melhor livro espanhol, distinção que também lhe foi atribuída, em 2006, por História do Rei Transparente.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

The Dark Sea War Chronicles - Fighting the Silent (Bruno Martins Soares)

Após um incidente que marcaria todas as suas escolhas, Byllard Iddo escolheu a vida militar como única forma possível de encontrar alguma paz. Mas agora, com uma guerra prestes a rebentar, e um inimigo mais capaz e mais preparado do que alguma vez poderiam esperado, o papel de Byl está prestes a tornar-se mais relevante do que ele alguma vez poderia prever. Mas o que começou como uma missão razoavelmente calma está prestes a transformar-se em caos: um caos que não se estende apenas às forças em guerra, mas às próprias relações no caminho de Byl. Pois numa guerra ninguém está seguro - e cada decisão pode ser de vida ou morte.
Primeiro (e relativamente breve) volume de uma série que promete ter ainda muito mais para dar, dificilmente se poderia pedir um início mais promissor. Entrando directamente num ritmo de acção alucinante, apresenta um cenário complexo e cheio de peculiaridades - desde as características das naves aos sistemas de combate e não esquecendo, é claro, as diferenças entre as várias forças em colisão - sem nunca perder de vista o ritmo compulsivo a que os acontecimentos se desenrolam. E sendo um primeiro volume - e, claro, o início da guerra - deixa também muitas possibilidades em aberto, o que, além de tornar a leitura compulsiva, deixa uma enorme vontade de descobrir o que acontecerá a seguir - de preferência, o mais cedo possível.
Mas bem, sendo uma história de guerra espacial, uma boa medida de acção era de esperar. O que já não era tão expectável - e que é, talvez, a maior surpresa de todas - é o lado emocional e a forte empatia que se sente para com as personagens. Sendo um livro tão breve, não há espaço para grandes reminiscências e, porém, tudo o que no passado moldou as personagens está lá. Além disso, o caminho de ascensão e perda (em ciclos sucessivos) que parece pautar a jornada de Byl consegue proporcionar momentos de uma intensidade fascinante. Até porque, no caminho das personagens (e não, isto não se aplica só a Byl) há todo um desenrolar de crueldades imprevistas - o que torna tudo muito mais marcante.
E tudo flui com naturalidade, o que, num livro onde tudo é novo, é um traço particularmente pertinente. As naves são estranhas, as forças em conflito são estranhas, as próprias hierarquias são algo de relativamente desconhecido - e, porém, tudo encaixa perfeitamente no ritmo da narrativa. É fácil entrar na história e acompanhar as personagens ao longo de todas as dificuldades. Na verdade, difícil mesmo é sair - principalmente tendo em conta as muitas possibilidades que ficam em aberto para o volume seguinte.
A impressão que fica dificilmente podia ser melhor. Intenso e viciante desde as primeiras às últimas linhas, conjuga um cenário complexo e cheio de particularidades com um enredo de acção constante e protagonizado por um núcleo de personagens fascinantes. A soma das partes é, claro, um início brilhante, que recomendo sem reservas. Genial.

Título: The Dark Sea War Chronicles - Fighting the Silent
Autor: Bruno Martins Soares
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Presença

Adam Haslett
Coleção: Grandes Narrativas no 674
Tema: Ficção e Literatura
Título Original: Imagine me Gone
Tradução: Manuel Alberto Vieira
ISBN: 978-972-23-6090-6 
Páginas: 368

Quando John, noivo de Margaret, é hospitalizado devido a uma depressão profunda, ela vê -se perante um dilema: avançar com os planos de casamento ou suspendê-los? Margaret decide casar. Esta história inesquecível desenrola-se a partir desse ato de amor. No centro da narrativa está o filho mais velho do casal , Michael, um jovem brilhante e apaixonado por música, mas atormentado por ansiedades e comportamentos disfuncionais. Ao longo de quatro décadas, os irmãos mais novos, Celia e Alec, lutam ao lado da mãe para cuidar da existência cada vez mais preocupante e precária de Michael. Alternando os pontos de vista de cada um dos protagonistas, este romance comovente, por vezes espirituoso, dá vida ao amor de uma mãe pelos filhos, à incontornável dedicação dos irmãos, às implicações do sofrimento de um pai no seio familiar. E não esquece uma derradeira questão: até onde podemos ir para salvar quem mais amamos? Combinando uma capacidade magistral de observação com um profundo sentido de humanismo, Adam Haslett revela ser um dos mais vibrantes romancistas americanos da actualidade.

Adam Haslett nasceu em 1970, em Port Chester, estado de Nova Iorque. É autor da colectânea de contos You Are Not a Stranger Here, bestseller do New York Times e finalista do Prémio Pulitzer e do National Book Award. É também autor do romance Union Atlantic, vencedor do Lambda Literary Award. Os seus livros estão traduzidos em dezoito línguas. Tem colaborado em diversas publicações, tais como New Yorker, Esquire, Financial Times e Der Spiegel. Imagina Que Não Estou Aqui foi considerado um dos romances do ano por diversos jornais e revistas como a Time, Wall Street Journal, Huffington Post, Elle, Buzzfeed, e distinguido com o L.A. Times Book Award. Foi finalista de vários prémios: Pulitzer de Ficção, National Book Critics Circle Award , Kirkus Prize, Carnegie Medal, tendo ainda sido nomeado para o National Book Award.

Para mais informações, consulte o site da Editorial Presença aqui.

domingo, 24 de setembro de 2017

Um Mais Um - A Fórmula da Felicidade (Jojo Moyes)

Jessica Thomas está sozinha contra o mundo. O marido deixou-a e em nada contribui para ajudar os filhos. O trabalho como empregada de limpeza mal dá para pagar as contas ao fim do mês. E quanto aos filhos, Tanzie e Nicky, o facto de serem um pouco diferentes - Nicky, tímido e reservado; Tanzie, dotada, mas sem recursos para desabrochar - faz com que se tornem alvo de perseguições. E agora, a única esperança de conseguir algo de melhor para pelo menos um deles é levar Tanzie a uma olimpíada de matemática na Escócia. Parece impossível, mas, quando menos esperam, Ed Nicholls entra na vida de Jess. Rico e aparentemente bem-sucedido, Ed está no limiar de perder tudo o que construiu, e mais confusão é a última coisa de que precisa. Mas, ciente de como é estar-se perdido em pleno mundo, Ed sente uma necessidade inexplicável dos ajudar. E assim começa uma viagem confusa... mas capaz de mudar as vidas de todos eles.
Um dos aspectos mais cativantes nos livros desta autora - e este não é excepção - é como tudo começa de forma aparentemente leve, com uns quantos mal entendidos e episódios caricatos, para depois abrir caminho a sentimentos muito mais fortes e a uma visão bastante mais profunda e marcante dos obstáculos da vida. É precisamente isto que acontece neste livro. De início, são mais as situações bizarras, as discussões ligeiramente estranhas, as decisões tomadas por impulso que proporcionam momentos embaraçosos e divertidos. E depois tudo se torna mais sério, à medida que os problemas se tornam mais palpáveis e o impacto mais avassalador. Facilmente se passa do riso às lágrimas. E uma coisa é certa: nunca se fica indiferente.
E, se a história em si tem mais que matéria suficiente para despertar emoções fortes, a construção das personagens potencia ainda mais este impacto. De certa forma, acontece o mesmo que com o enredo. De início, parecem sobressair alguns defeitos, talvez devido à estranheza dos momentos. Mas as qualidades começam depois a emergir e com elas uma empatia cada vez mais forte. Jess é, no fundo, uma mulher desesperada e, por isso, especialmente vulnerável. Mas é também uma mãe feroz, disposta a ir até às últimas consequências se for isso que é preciso para dar uma oportunidade aos filhos. Já Ed... bem, Ed é um homem com o coração no sítio certo, mas marcado por um passado de desilusões com os outros e de pouca valorização quanto a si mesmo. No fundo, são ambos fortes, mas vulneráveis. E é essa sua falibilidade, essa evidente humanidade, que faz deste percurso algo tão marcante: pois o que é a vida senão bater no fundo e voltar a tentar subir, uma e outra vez?
E depois há pequenas grandes questões - e, bem, questões realmente grandes - a emergir da história. A importância de reconhecer os erros e aprender com eles, a superação do passado, a necessidade de reconhecer, num mundo por vezes cruel, a bondade de estranhos, o valor da família, a imperfeição humana... Tudo isto está presente, de alguma forma, neste livro. E a forma como a autora os faz surgir - em actos, mais do que em palavras - realça muito bem a sua importância.
Divertido e comovente, cativante e enternecedor. Repleto de momentos marcantes e com uma história tão forte como as personagens que a povoam. É esta, no fundo, a soma deste Um Mais Um - A Fórmula da Felicidade. E o resultado é muito, muito bom.

Autora: Jojo Moyes
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

More than Bread (Marya Layth)

Uma rapariga olha para as estrelas, em busca do desejo perfeito – esperando que, uma vez que as estrelas guardam todos os segredos da humanidade, a morte de uma delas lhe revele o único desejo que nunca foi pedido. Mas há também uma estrela a observá-la e ela sabe a verdade: se a rapariga soubesse esses segredos, só ficaria ainda mais confusa. A chave da paz que procura é algo diferente. Uma vida diferente.
Simultaneamente conto ilustrado e antologia de poemas, um dos aspectos mais impressionantes neste livro é a sensação de unidade. Conto e poemas, história e pensamentos, tudo se funde num equilíbrio delicado. Equilíbrio esse que parece fluir em cada fragmento do livro, já que cada poema parece reflectir a mesma harmonia do todo, formando, em si, uma espécie de unidade, mas pertencendo também a algo mais amplo e igualmente equilibrado.
Também bastante impressionante é a fluidez da escrita. Alguns dos poemas não têm senão poucas palavras. Outros são mais extensos. Mas, em todos eles, tudo parece fluir com total naturalidade, como se fossem pensamentos errantes pregados ao papel. Essa simplicidade, esse foco nos pensamentos e emoções essenciais, torna a leitura muito mais fluída. E também reforça a mensagem positiva, pois a ideia de uma vida simples, vivida com vista a algo maior, torna-se muito mais evidente na simplicidade das palavras.
Isto também se aplica ao conto. É uma história breve, simples, mas muitíssimo bem escrita e com uma mensagem muito clara. A verdade não está nas estrelas, mas em nós. E essa ideia – a mesma que se move nos poemas – é estranhamente reconfortante.
Portanto, tudo se resume a isto: um livro breve e simples com uma mensagem poderosa. Cativante, com muita matéria para reflexão e muitíssimo bem escrito, num equilíbrio delicado entre pensamento e emoção, um livro memorável. Recomendo.

Título: More than Bread
Autora: Marya Layth
Origem: Ganho num passatempo

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

The Last Night (Cesca Major)

Tudo começa quando Irina recebe na sua oficina uma escrivaninha que precisa de ser restaurada. O cliente já lhe enviou muitas peças interessantes, mas nenhuma como aquela. Não tarda a que Irina comece a ter sensações estranhas e, à medida que o trabalho evolui, também a estranheza aumenta. Há objectos escondidos na escrivaninha, restos de uma vida diferente. Pois, décadas antes, outra jovem, Abigail, mudou-se para casa da irmã na esperança de uma vida melhor após a morte da mãe, apenas para descobrir que há muitos obstáculos ao amor. E muitos desses vêm de quem devia protegê-la.
História de duas mulheres em busca do seu lugar no mundo – uma superando o passado, a outra encontrando a solução para uma sombra que há muito paira sobre ela, este é um livro que leva o seu tempo a ler. Porquê? Porque há muitos elementos para assimilar, não só que diz respeito ao cenário e suas mudanças, mas também na teia de pequenas revelações que parece definir a história das protagonistas. Assim, o ritmo começa por ser um pouco lento. Mas a parte interessante é que isto não retira impacto à história. Há uma aura de mistério em torno de Irina e de Abigail – e isso, essa sensação de que há algo prestes a ser revelado e que, depois disso, tudo mudará – confere à narrativa um tom deveras intrigante.
Também muito intrigante é o elemento sobrenatural – as coisas que acontecem quando Irina está a trabalhar na escrivaninha. E, embora essa parte da história pareça ficar um pouco para trás na fase final, também contribui para o mistério que rodeia toda a narrativa. Seria interessante, talvez, ficar a saber um pouco mais sobre as razões dos estranhos fenómenos. Ainda assim, há o suficiente para reforçar o enigma por trás da história de Abigail.
Ainda um outro aspecto que se destaca: a construção das personagens. Há algo de particularmente fascinante em ler uma história em que se sente a bondade das personagens, mas em que as más não são propriamente vilões óbvios. É fácil sentir solidariedade para com as dificuldades de Abigail ou sorrir ante o encanto de Richard e a inocência de Mary. Mas, no que diz respeito a Connie, Larry, a mãe de Irina… bem, têm posições bastante mais complexas, pois as suas escolhas são, por vezes, a fonte de muitos problemas. (E, bem, Larry é Larry.) Mas há vestígios de algo mais, algo no passado, algo que poderia ter sido. E isso aumenta a complexidade na teia dos relacionamentos… dando origem a uma história muito mais intrigante.
E, sim, há romance, mas um tipo de romance que parece fluir naturalmente, sem se impor demasiado aos outros aspectos da narrativa, mas antes complementando-os com emoções bem mais fortes. Romance que parece surgir como uma muito merecida recompensa depois de todo o caos passado.
No fim, tudo faz sentido, ainda que fiquem algumas perguntas sem resposta. E é este equilíbrio delicado entre todos os aspectos da história que faz deste livro uma leitura muito intrigante e cativante. Uma boa leitura.

Título: The Last Night
Autora: Cesca Major
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade 4 Estações

O relacionamento apresentado neste livro mostra uma realidade que inúmeras mulheres enfrentam na vida quotidiana, tanto real como virtual, ao encontrarem parceiros portadores da Síndrome de Peter Pan. A história mostra as dificuldades vividas pelo homem Peter Pan e, também, pelas pessoas que se relacionam com ele. No desenrolar da trama, verá que este comportamento é muito mais comum do que se imagina, e provavelmente identificará alguém do seu convívio que possui o perfil do homem Peter Pan.
Se este comportamento traz sofrimento as pessoas directamente envolvidas, muito maior é o dano quando estas atitudes se multiplicam e passam a dominar o comportamento de uma sociedade.
E é, precisamente o que vivemos hoje, uma sociedade carente de adultos, de referências maduras e de verdadeiros líderes, mas, saturada de comportamento adolescente. Uma sociedade de Peter Pans vive à margem do mundo real, caminhando sem rumo e sem propósito, resultando na estagnação de toda uma geração.

Eliana Guimarães Pyhn: Graduada em Psicologia Clínica e Naturolgia. Especialista em Iridologia e pós-graduada em Medicina Integrativa e Medicina Metabólica.
Autora de diversos livros.

Divulgação: Novidade Clube do Autor

Galerie Monier, Paris. Uma mulher é apanhada de surpresa por três homens armados que assaltam uma joalharia em plena galeria de lojas dos Campos Elísios. A mulher chama-se Anne Forestier. Trata-se nada mais nada menos do que a companheira do comissário Camille Verhœven, responsável pela Brigada Criminal. Fazendo tábua rasa da lei e correndo o risco de perder o posto de trabalho, o comissário esconde dos demais polícias o facto de conhecer Anne e toma a investigação a seu cargo. É o primeiro passo de uma manipulação orquestrada por um assassino vingativo. Na realidade, quem dá caça a quem? E quem é a verdadeira presa?
Gravemente ferida e coberta de cicatrizes, Anne fica internada no hospital, até que Camille a esconde na casa isolada que herdou da mãe. Perseguida por um dos atacantes, esta misteriosa mulher manterá o comissário na corda bamba, tanto a nível pessoal como profissional. Digno herdeiro de Sherlock Holmes e Hercule Poirot, com uma costela de Philip Marlowe, o comandante é um mestre na arte de bem investigar, mas este caso revela-se uma manipulação com requintes de vingança pessoal.
Como habitualmente acontece na escrita de Lemaitre, as aparências enganam, e Camille acabará por compreender que é vítima de uma intriga que remonta ao passado, vendo-se obrigado a recorrer a todos os expedientes e mais algum para descobrir o responsável, bem como as razões que motivam o enigmático assassino.

Pierre Lemaitre nasceu em Paris, em 1951. Deu aulas de Literatura francesa e americana durante vários anos e actualmente dedica-se à escrita e ao teatro.
Os cinco thrillers que escreveu, premiados pela crítica e aplaudidos pelos leitores, fizeram dele um dos grandes nomes das letras francesas e granjearam-lhe o reconhecimento internacional. 
A trilogia do comandante Camille Verhoeven recebeu, entre outros, os prémios Dagger, Prix du Premier Roman Policier de Cognac, the Prix du Meilleur Polar Francophone e Melhor Romance Policial Europeu. Até nos vermos lá em cima, a sua primeira incursão fora do romance «negro», foi galardoado com o Prémio Goncourt de 2013, o Prix du roman France Télévision, o Prix des lycéens en toutes lettres, o Prix des librairies Nancy/Le Point e o Prix littéraire de la ville de Brignoles.
As suas obras estão traduzidas em trinta línguas, e várias foram adaptadas ao cinema e ao teatro.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Longevidade à La Carte (Helena Mendes da Maia)

A procura da imortalidade ou da fórmula da eterna juventude é algo que data de um passado distante e que, tomando diversas formas, sempre se manifestou. Mas a verdade é que o envelhecimento é algo inevitável. O que se pode moldar é a forma como se lida com esse processo, recorrendo aos meios disponíveis e que passam essencialmente por um estilo de vida saudável, bem como pelo chamado envelhecimento activo. São estes dois aspectos que a autora aborda neste livro, que, mais que um caminho estrito, apresenta conselhos e orientações úteis (principalmente no âmbito alimentar, mas não só) para quem aspira a viver mais tempo e sempre com qualidade de vida.
Um dos problemas que mais surgem neste tipo de livros é que, muitas vezes, a ideia de dieta corresponde a um regime de regras precisas, sendo necessário seguir todos os passos um a um. Não é o caso deste livro, até porque o método da autora não ocupa assim tanto espaço na totalidade da obra. O foco está, acima de tudo, na exposição de conhecimentos úteis - os benefícios dos diferentes tipos de alimentos, o funcionamento dos mecanismos que provocam o envelhecimento, os factores de risco e de protecção para determinadas doenças. Tudo isto permite ao leitor criar o seu próprio sistema, ajustando-se a um estilo de vida mais saudável, sem ter de se cingir a um percurso rígido e repetitivo. E, assim, os benefícios assimilam-se muito mais facilmente, pois é mais fácil ajustar cada elemento às particularidades da vida de cada um.
Também a forma como o livro está escrito contribui para uma fácil assimilação do conteúdo. Agradável e acessível, sem demasiados termos ou números (mas com todos os elementos essenciais a uma compreensão básica dos mecanismos), é de fácil compreensão independentemente da existência ou não de conhecimentos prévios. Além disso, a estrutura simples e organizada faz com que seja fácil voltar atrás - ou relembrar mais tarde - uma parte específica do livro, pois é fácil localizar aquilo que se procura.
Há provavelmente aspectos que poderiam ser mais aprofundados, nomeadamente no que toca às interacções, ou aos possíveis regimes específicos para determinados tipos de doença. Ainda assim, o objectivo parece ser traçar uma visão geral e, nesse sentido, o livro cumpre bastante bem aquilo a que se propõe.
A impressão que fica é a de um livro sobre alimentação saudável que, de forma simples e sem determinar regras demasiado rígidas, permite ao leitor retirar conselhos úteis e muita informação relevante no que diz respeito a uma vida mais saudável. Interessante, pertinente e de leitura agradável, um bom guia para um melhor estilo de vida. 

Título: Longevidade à La Carte
Autora: Helena Mendes da Maia
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Topseller

LEONOR DE AQUITÂNIA
Uma das mulheres mais poderosas da História
Estamos em Inglaterra, no ano 1176, e Leonor de Aquitânia foi aprisionada pelo marido, o Rei Henrique II, por recusar submeter-se às suas ordens. Desesperada com os esforços do rei por mantê-la longe dos filhos, Leonor não tem outro remédio senão aguardar.
Com a morte do rei, tudo muda. Leonor torna-se rainha-mãe e ganha finalmente liberdade para tentar reparar todos os danos que Henrique causou. Os seus filhos vêem-se envolvidos numa perigosa rivalidade acicatada pelo pai, enquanto as suas filhas foram afastadas das posições de poder que lhes cabiam.
Leonor vai precisar de toda a sua coragem e força para os poder proteger de si mesmos. Para tal, terá de viajar continuamente por uma Europa medieval em guerra, e até mesmo cruzar os Alpes durante o inverno. Conseguirá Leonor manter a paz entre os filhos? E estará ela à altura de todas as provas que o destino lhe reserva?

O que acontece quando mãe e filhas são separadas?
Malásia, 1955. Lydia Cartwright regressa a casa, onde apenas o vazio a espera. Os criados, o marido e, o pior de tudo, as filhas foram-se embora sem deixar rasto. Desesperada e sem rumo, ela contacta o patrão do marido à procura de pistas. Eles estão bem, diz-lhe. Estão noutra região do país. Mas algo não bate certo. Porque é que não esperaram por ela? Porque é que não lhe deixaram uma carta a explicar a mudança?
Seguindo a sua única pista, Lydia embarca numa perigosa viagem por um país em guerra. E é então que, enquanto atravessa a selva minada de grupos de guerrilheiros, se vê forçada a pedir ajuda a Jack Harding, o homem que amou no passado e que abandonou.
Com o coração de mãe apertado, Lydia sabe que terá de sacrificar tudo para reencontrar as filhas. Mas será que está preparada para a terrível traição que a aguarda e para as consequências devastadoras?
O relato comovente de uma família dividida pela mentira, e de como o amor de uma mãe ultrapassa a barreira do tempo e atravessa continentes.

O que será que se esconde por trás de uma fachada de normalidade?
Há dois tipos de profissionais que se ocupam do futuro: os estrategistas de tendências, que procuram organizar as cidades para sobreviver ao inevitável colapso da sociedade, e os previsores de estratégias, mais preocupados em preparar cada um dos seus clientes. Os primeiros são pagos por caridades e ONG, os segundos por empresas de segurança e corporações.
Estas são profissões de desgaste rápido, impossíveis de manter durante muito tempo. A depressão instala-se e, se o «olhar de abismo» se instala, há apenas um lugar para onde ir. O Cabo Normal.
Quando Adam Dearden, estrategista de tendências, chega ao Cabo Normal, está preparado para relaxar e aceitar o tratamento. Pouco depois, no entanto, um dos outros pacientes desaparece, deixando para trás apenas uma pilha de insectos. Uma investigação arranca, e a vigilância torna-se total. À medida que o mistério se vai desvendando, Adam começará a pôr em causa a forma como vemos o futuro... e também o passado e o agora.

Uma história de amor encantadora, inteligente e espirituosa.
Lady Cassandra Monroe esperou sete longos anos para que o homem dos seus sonhos, o Capitão Julian Swift, voltasse da guerra. Escreveu-lhe durante todo o tempo em que ele esteve fora e agora, por fim, ele regressou. Infelizmente, Julian está comprometido com Penelope, prima de Cassandra…
Julian regressa com a intenção de romper o seu compromisso com Penelope e procurar Cassandra, mas esta não o sabe, julgando que Julian nunca poderá ser seu. É então que a sua amiga Lucy tem a ideia de apresentar Cassandra a Julian como Patience Bunbury, de modo a aproximá-los.
Patience não existe, é apenas uma amiga que Penelope inventou para escapar a obrigações sociais. Só que Julian fica encantado com esta bela e sensual dama, não percebendo que se trata, na verdade, da mulher que realmente ama.
Poderá uma grande farsa conduzir ao verdadeiro amor?

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Divulgação: Novidade Porto Editora

Sofia Stern nasceu na Alemanha em 1919 e fugiu para o Brasil nas vésperas da Segunda Guerra Mundial. Filha de um judeu cego afinador de pianos e duma enfermeira que a abandonou ainda bebé, Sofia terá sido sempre tratada com o desprezo e humilhação que os alemães reservavam aos judeus.
Ronaldo é neto de Sofia, vive em Copacabana e, certo dia, recebe o telefonema de uma juíza alemã às voltas com um processo judicial que o pode tornar multimilionário.
Com a descoberta do diário da avó, Ronaldo reconstitui a juventude da pacata senhora e da sua conturbada amizade com Klara Hansen, revelando peças de um passado que envolve paixões, inveja, traições, dinheiro e a morte de Klara, em 1938.
Quando outros factos surpreendentes e inesperados vêm à tona, Ronaldo depara-se com uma série de dilemas morais.

Ronaldo Wrobel nasceu em 1968 no Rio de Janeiro, é escritor e advogado. Tem cinco livros publicados: três romances, uma colectânea de contos e um título infantojuvenil.
Publicado em oito países, o seu romance Traduzindo Hannah (Record, 2010) foi finalista do Prémio São Paulo de Literatura, na categoria de melhor livro do ano.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O Beijo da Madame Ki-Zerbo (Adriano Mixinge)

Cultura nas suas múltiplas formas e nos também múltiplos modos de encarar: poder-se-ia definir assim o elo comum a este conjunto de 36 textos, que, escritos e publicados ao longo de vários anos, a partir de Espanha e França, consideram o impacto cultural de várias obras e referências culturais. Textos breves, mas cheios de referências particulares, que percorrem uma vasta gama de elementos para traçar, enfim, um retrato amplo do que é a cultura: tanto a das raízes como a que se vai aprendendo a conhecer. E é esta vasta diversidade também o cerne do que mais fica na memória, pois, com tantos nomes e tantas obras, abre-se um amplo espaço para a descoberta.
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é que, apesar da brevidade, nem sempre é fácil entrar no âmbito das crónicas que o compõem. Porquê? Porque são muitas as referências invocadas, vasto o contexto que elas têm associado. E, assim, o que acontece é que, havendo embora nomes e obras familiares, são também muitos os perfeitos desconhecidos. Ora, o primeiro impacto cria uma certa confusão - pois quem são todas estas figuras? Mas esta impressão logo se dissolve e, uma vez assimilado o ritmo das palavras, fica uma imagem bastante mais intrigante: a de um mundo com laivos de familiaridade, mas que é também um ponto de partida para coisas a descobrir.
Também a escrita contribui para este despertar de curiosidade, pois ao acrescentar laivos de uma perspectiva pessoal ao conhecimento das obras e dos objectos, o autor transmite a quem o lê uma impressão de maior proximidade. Ora, ao ler-se sobre algo desconhecido, mas que deixou uma marca na memória, fica uma certa curiosidade em ver e saber mais. E, sendo certo que, destes pequenos textos, o que se tira (no que toca às referências desconhecidas) é essencialmente uma primeira impressão, fica também a vontade de aprofundar conhecimentos - até porque, de muitas dessas referências, fica também a sensação de haver uma história maior para descobrir.
A impressão que fica é, acima de tudo, a de um princípio de descoberta (com laivos de reencontro, quando se fala de obras já conhecidas). De uma descoberta que nasce de textos bastante sucintos, mas mais que capazes de despertar a vontade de saber mais. E como, no que toca à cultura, a curiosidade nunca é demasiada, é este incentivo à busca que se grava na memória - e que chega perfeitamente para que valha muito a pena esta leitura. 

Título: O Beijo da Madame Ki-Zerbo
Autor: Adriano Mixinge
Origem: Recebido para crítica

domingo, 17 de setembro de 2017

Uma Perfeita Estranha (Megan Miranda)

Forçada a deixar para trás a vida e a carreira na sequência de um artigo que levou longe demais, Leah Stevens muda-se para a Pensilvânia na companhia de uma amiga que acaba de reencontrar. Mas as dificuldades não se cingem a ter de se habituar a uma nova profissão e ao papel de forasteira numa vila com pouca afeição pelos desconhecidos. Primeiro, surge a descoberta de que uma mulher muito parecida com ela foi brutalmente agredida. Pouco depois, Leah descobre que a sua amiga, Emmy, desapareceu. E, embora de início as explicações pareçam relativamente claras, pelo menos no que diz respeito ao primeiro caso, não tarda a que as primeiras pistas apontem num sentido bem diferente. Emmy não é quem aparentava ser. Há até quem pense que ela não existe. E, se se aceitar essa teoria, então a responsabilidade do que ela deixou para trás pertence a Leah... cuja vida pode muito bem vir a desabar de vez.
Narrado na primeira pessoa e, portanto, acompanhando muito de perto os sentimentos e apreensões da protagonista, um dos primeiros aspectos a sobressair neste livro é a forma como a autora equilibra um enredo complexo e cheio de intrigas convergentes com uma fluidez narrativa que prende desde as primeiras páginas. É fácil entrar na história e sentir a aura de mistério que alimenta a vontade de saber sempre mais. E é fácil também entender a difícil posição de Leah, o que faz com que cada instante, desde as grandes reviravoltas às mais pequenas descobertas, ganhe um novo impacto.
Há um tema subjacente a toda esta história e a forma como a autora o desenvolve é fascinante. A ideia de que nunca ninguém se mostra por completo e, assim, ninguém é apenas o que aparenta ser está presente ao longo de toda a narrativa e manifesta-se de diferentes formas. Emmy é, evidentemente, o ponto central desta perspectiva, com toda uma vida assente em mentiras. Mas, na verdade, esta visão também se aplica a todas as personagens, desde o ligeiramente sinistro Theo à aparentemente crédula Paige. E, claro, sem esquecer Leah, cujo instinto de sobrevivência faz com que vá ajustando os seus passos ao ritmo que as circunstâncias parecem ditar-lhe.
E é interessante como esta visão geral emerge de uma teia bastante intrincada - e porém muito fácil de acompanhar - de intrigas e de mistérios. Há múltiplos enigmas presentes na história de Leah e daqueles que a rodeiam, desde a questão das chamadas anónimas ao mistério do desaparecimento de Emmy, não esquecendo também o passado e a forma como os acasos se revelaram algo mais. Múltiplos pontos aparentemente pouco relacionados acabam por convergir num todo mais complexo. E, no fim, é este todo que fascina, pois o que parecia um percurso relativamente simples (embora assente em múltiplos segredos) acaba por se revelar algo mais vasto, que culmina num final onde nem tudo fica encerrado, mas cujo último ponto de viragem parece coincidir com o momento perfeito para deixar a história.
Eis, pois, um livro onde ninguém é o que parece e em que todos os segredos se encaminham para uma verdade que pode ser dura, mas é a verdade. Um livro intenso, misterioso, empolgante, que prende desde as primeiras páginas e não larga mais até ao fim. E um livro, então, onde tudo é memorável, tudo cativa, tudo surpreende. Onde tudo atinge o melhor dos equilíbrios para dar voz aos desconhecidos... que se escondem dentro de cada um. Recomendo.

Título: Uma Perfeita Estranha
Autora: Megan Miranda
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Blaze a Toda a Vela! (Nickelodeon)

Tudo começa com o desafio inofensivo: uma corrida entre o veleiro do Blaze e dos amigos e o do Crusher e do Pickle. Mas o mau perder do Crusher e a sua necessidade de fazer batota fazem com que os dois barcos acabem por chocar contra uma ilha deserta. Para voltarem a casa, o Blaze e os amigos precisam de encontrar as partes pedidas do barco e de voltar a construí-lo. E o mesmo se passa com o Crusher, claro, que, mais uma vez, quer ser o primeiro. Só que primeiro e melhor nem sempre significam a mesma coisa...
Tal como acontece com outros livros similares de que já por aqui falei, um dos primeiros aspectos positivos a realçar neste pequeno livro é que, ao ter por base as personagens de uma série (e, neste caso, um episódio em específico) é fácil para os seus leitores reconhecer as personagens e, assim, entrar mais facilmente na aventura. Além disso, para quem ainda não conhecer a série, também funciona como um bom ponto de partida, pois fica uma certa vontade de conhecer melhor as aventuras deste grupo de amigos. 
Também bastante interessante é que, embora sendo uma história simples e bastante breve, há, ainda assim, muito espaço para a aventura, o que é também um bom ponto de partida para cativar os leitores mais novos. O texto é simples e directo, as imagens complementam a história e o resultado é uma aventura cheia de acção e em que, embora sendo apenas expectável que tudo acabe bem, os acontecimentos nunca deixam de cativar.
E depois há ainda uma pequena, mas muito relevante, questão, que tem a ver com a mensagem subjacente a esta história. Afinal, é o mau perder do Crusher - e a disponibilidade para fazer batota - a causa de todos os problemas que se seguem, o que não deixa de ser uma forma bastante boa de realçar a importância de jogar limpo e aceitar as derrotas com calma e boa disposição. Até porque vencer ou perder faz parte da vida - nas grandes e nas pequenas coisas.
Trata-se, portanto de uma boa leitura para os mais novos - sejam eles ou não seguidores fiéis da série de desenhos animados. Simples, curto, mas cativante e divertido, um bom livro para crianças. 

Título: Blaze a Toda a Vela!
Autor: Nickelodeon
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Presidente de uma firma familiar com três mil empregados, Miguel tem a vida plácida e cheia de encantos de um menino rico. Mas, com um dia-a- dia previsível e repetitivo, não se consegue libertar da inquietante sensação de que morrerá sem nunca ter conhecido a verdadeira vida. Aproveita o 25 de Abril de 1974 para se demitir e partir sozinho para Paris, onde tem a intenção de se «pôr à prova». Como broker, entra no mundo dos mercados financeiros, e as aventuras românticas não se fazem esperar…
Poder-se- á pensar que a vida do narrador tem uma alarmante semelhança com a do autor e que este terá escrito uma autobiografia. Não é verdade, ainda que os dois tenham seguido caminhos semelhantes. O autor não tem de ajustar contas com ninguém, mas reconhece que teve a mesma profissão do narrador e que também se envolveu numas quantas intrigas amorosas. Ainda assim, adverte que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

Manuel Lemos Macedo. Nasceu em Tomar. Estudou no University College Dublin, na Irlanda, e na Columbia Business School, nos EUA.
Depois da nacionalização da firma familiar da qual era presidente, foi viver para a Irlanda. Seguiu-se Paris e Madrid, onde trabalhou em bancos de investimento. Em 1989, criou uma sociedade de serviços financeiros em Lisboa, com a família Rothschild, da qual foi sócio-gerente até 1997. Desde então, dedica-se ao que verdadeiramente lhe interessa: a leitura, a escrita, o campo e a sociedade de alguns dos seus amigos.
Tem autores preferidos (todos mortos), que relê continuamente. Interessou-se por vozes modernas, que só leu uma vez e nem sempre até ao fim. Leva para a cama sempre os mesmos, entre os quais Proust, Waugh e Lermontov. Nunca percebeu porque é que Goethe é considerado um grande homem.
Piedade para os Pecadores é o segundo livro que publica.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Conquista da Liberdade (Jay Luís)

O mundo mudou com a chegada ao poder de um tirano de recursos e influência quase ilimitados. E, fulminante na sua capacidade de acção, pouco espaço deixou aos que lhe queriam fazer frente. Ainda assim, nem toda a liberdade morreu, pois um grupo de cientistas rebeldes conseguiu destruir a tecnologia que permitiria ao ditador dominar as colónias espaciais. E ainda há rebeldes na Terra. Mira e Lora, cientista e guardiã, são dois dos elementos mais importantes do grupo rebelde, desempenhando perigosas missões de resgate ao mesmo tempo que guardam o vasto conhecimento de Mira enquanto engenheira espacial. Mas, ainda que a família seja sempre o mais importante, a tentativa de resgatar os irmãos de ambas traz perigos inesperados - e as perdas podem vir a ser incalculáveis. 
Início do que promete ser uma série maior e de uma aventura onde a acção parece apenas ter começado, este é um primeiro livro de grandes forças e grandes fragilidades. Forças que se podem definir do mais simples dos modos: forma e conteúdo. Pois, se há um grande potencial a nível de enredo e um desenrolar de acontecimentos que deixa em aberto muita curiosidade em saber o que virá a seguir, já em termos de escrita, há vulnerabilidades que são difíceis de ignorar.
E é precisamente por aqui que importa começar, pois desde muito cedo se torna evidente que uma revisão atenta teria feito maravilhas por este livro. Há uma fluidez de pensamento que se consegue pressentir no texto, mas que acaba por se perder no ritmo algo vacilante a que as coisas são narradas. E, mais importante ainda, no excesso de vírgulas e ocasionais erros ortográficos que quebram completamente o ritmo da leitura. O que é pena, claro, porque nas bases da história há muito potencial - quer no que é contado, quer nas possibilidades que ficam em aberto.
Mas passando à história e às personagens. Não se pode dizer que seja um enredo perfeito, já que há muito que fica por explicar e a posição de algumas das personagens parece ser também um pouco ambígua. Ainda assim, é fácil entender a posição de um grupo de rebeldes que luta pela liberdade e, ao longo do caminho, há muitos momentos intensos, cativantes e divertidos, bem como um potencial mais vasto que, devidamente explorado, tem tudo para dar origem a uma grande história. Além disso, e uma vez assimiladas as vulnerabilidades do texto e apanhado o ritmo da narrativa, a história começa a tornar-se empolgante, já que a acção constante e as reviravoltas mais inesperadas acabam por alimentar a curiosidade em saber o que vem depois. 
O que fica são, portanto, sentimentos ambíguos, pois, por um lado, as fragilidades são claras, mas, por outro, estas não são impeditivo de apreciar os pontos bons da história. E, num enredo em que as personagens cativam aos poucos, fica também uma estranha e agradável vontade de saber o mais cedo possível de que forma poderá evoluir esta história em volumes futuros. Porque o potencial está lá e a capacidade de prender também.
Não é perfeito, não - e havia espaço para grandes melhorias. Ainda assim, fica uma impressão positiva: a de uma história e de um contexto cativantes e com muito potencial de evolução. Interessante, portanto.

Título: Conquista da Liberdade
Autora: Jay Luís
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Os Pássaros de Seda (Rosa Lobato de Faria)

Lugar de lendas e de mistérios, Pedra Moura, casa de uma moura encantada capaz de profetizar grandes mudanças, tornou-se o lar para dois irmãos de afecto. Mário e Diamantina cresceram naquelas terras, viveram e construíram - e travaram batalhas contra os seus próprios corações. E um dia foi lançado o desafio: escreverem cada um, a sua história, para depois poderem comparar os dois relatos. Mal sabia Diamantina que o livro de Mário seria o testamento que ele lhe deixava. E que, ao ler as palavras do mais próximo dos amigos - pois nunca o pode ver de outra maneira - viria a descobrir tanto que não sabia...
História de vidas aparentemente simples, mas unidas por laços dos mais fortes sentimentos, este é um livro que começa por prender pela estranha espécie de nostalgia que marca as primeiras páginas e que, depois, abre caminho a uma ampla passagem para o passado. Partimos do fim, do momento em que Diamantina começa novamente a recordar e, assim, com ela descemos à memória de um percurso que foi tanto de crescimento como de superação. E há algo que, desde logo, se destaca nesta viagem ao passado: é que grande parte do romance é o livro de Mário, mas a história, essa, é acima de tudo a de Diamantina (por razões que o próprio Mário se encarregará de confessar). 
Ao deixar um dos protagonistas contar a história do outro, o que acontece é que a própria narrativa parece ganhar a forma dos sentimentos que quer exprimir: como se o livro que Mário escreveu contivesse, enfim, os sentimentos a que nunca pôde dar voz. Mas há ainda um outro efeito nesta forma de contar a história: é que é possível ver Diamantina pelos olhos de quem melhor a conhece e, assim, ajuizar com a necessária clareza, mas também com empatia, da sensatez das suas decisões. É como se, ao ler o romance, se ganhasse também um papel próximo - ainda que menor - no desenrolar dos acontecimentos, o que, escusado será dizer, torna todos os momentos muito mais marcantes.
Mas há ainda muito mais a desvendar neste livro, desde a fluidez de uma escrita de onde cada sentimento emerge com as palavras certas ao desenrolar de uma sucessão de acontecimentos em que é fácil antever os problemas - como o próprio Mário os anteviu - mas de onde sobressai a mesma impotência que tão participante narrador terá sentido. Tudo parece, afinal, tão simples - e, contudo, há tanta complexidade na vulnerabilidade das personagens. E, entretanto, a vida passa - e a história continua sempre. 
No fim, tudo converge para uma realidade mais dura - mais longe dos sonhos, mais perto da vida que fica depois das ilusões perdidas. Mas é isso, acima de tudo, que torna tão memorável esta viagem ao passado: a certeza de que, com todas as suas fragilidades e defeitos, Mário e Diamantina podem ter posto tudo em causa, menos o afecto. Esse, pelo menos, é irrecusável.
Eis, pois, o que fica desta leitura: uma viagem envolvente e memorável, repleta de emotividade e descoberta, e em que a vida não deixa espaço para a perfeição - pois não há tempos perfeitos nem vidas perfeitas, e muito menos pessoas perfeitas. Marcante em todas as suas facetas e especialmente no modo como retrata as múltiplas faces do amor (seja redentor ou destrutivo, obsessão eterna ou lampejo temporário, carnal, platónico, fraterno ou maternal), um livro que encontra um espaço na memória - e lá se aninha durante muito tempo.

Autora: Rosa Lobato de Faria
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Divulgação: Novidades Guerra e Paz

A fotografia, a arte, a literatura africana contemporânea são as grandes fontes de inspiração e de debate deste livro. Antologia de 36 textos de Adriano Mixinge, publicados, entre 1997 e 2009, nas colunas «Cartas de Espanha» e «Postal de Paris», no Jornal de Angola, este é um livro cosmopolita: nele se comparam pinturas como Dans la Guerre, de Viteix, e Guernica, de Picasso; nele se fala da singularidade da obra artística de Annette Messager; da vitalidade cultural de Paris e de Madrid; da transcendência do encontro com Jacqueline Ki-Zerbo em Granada; desse momento em que também conhece Rosa Cubillo; das saudades de Luanda e o sonho de uma n’denguelândia em Angola.
Um livro que testemunha um período fértil em experiências culturais e em encontros que marcaram a vida do autor, e que ajudam a compreender tanto a trajectória profissional como as escolhas estéticas e criativas até à publicação do premiado romance O Ocaso dos Pirilampos.

Adriano Mixinge. Nasceu em Luanda, em 1968. É autor do romance Tanda (Edições Chá de Caxinde, Luanda, 2006) e do livro de ensaios Made in Angola: arte contemporânea, artistas e debates (Éditions L’Harmattan, Paris, 2009). Com o romance O Ocaso dos Pirilampos, recebeu o Prémio Literário Sagrada Esperança (Guerra e Paz, 2014).
Aos 11 anos, viajou para Cuba. Passou a sua adolescência na Ilha da Juventude. Formou-se em História da Arte, em Havana. Em 1993, regressou a Angola. Foi investigador no Museu Nacional de Antropologia de Luanda, editor cultural do Jornal de Angola e comissário de diversas exposições de arte, sendo a mais importante «Entre a Guerra e a Paz», exibida na primeira Bienal de Arte Contemporânea de Joanesburgo, em 1995.
Em 2002, foi nomeado conselheiro cultural na Embaixada de Angola em França. Organizou o projecto artístico «Angola, mon amour» (Musée du Quay Branly, Paris, 2008) e a exposição «Angola, Figuras de Poder» (Musée Dapper, Paris, 2011), entre outras.
Actualmente é conselheiro cultural na Embaixada de Angola em Espanha.

A casa de Henrique é a Natureza. Henrique é um sem-abrigo de corpo, mas a sua alma guarda a única realidade que aceita e lhe chega através de uma entidade superior. «E se eu fosse Deus?», pergunta.
O autor percorre as ruas de Lisboa com Henrique, que lhe mostra as histórias de outros sem-abrigo e um submundo perturbante. A prostituição, a droga, a dor, a loucura, a violência, mesmo o suicídio fazem parte deste submundo, que a maioria de nós tende a ignorar. E se Deus estivesse, como um sopro, em cada um destes rostos de sofrimento? E se a beleza se esconder onde menos esperamos?
Este é um romance baseado em testemunhos e factos reais. Por vezes, o duro dia-a-dia supera qualquer ficção.

Fernando Correia. Jornalista, comentador de rádio e televisão, professor, nasceu em 1935 e dividiu a sua infância entre a Mouraria, o Alto de Santo Amaro e São Domingos de Benfica.
Entrou para a Emissora Nacional em 1958. Trabalhou depois na RDP, Rádio Clube Português, Rádio Comercial e TSF. Foi director do Diário Desportivo e redactor e colaborador dos jornais Record, A Capital, O Diário, Gazeta dos Desportos, Jornal de Notícias e Diário Popular.
Actualmente, colabora na Rádio Amália e é comentador residente da TVI. Sportinguista assumido, colabora também com a Sporting TV, depois de ter sido director adjunto e director do jornal do clube.
É casado, pai de cinco filhos e avô de dez netos. Nascido num dia quente de Verão, é caranguejo de signo.
Na Guerra e Paz, publicou os livros Piso 3, Quarto 313, O Homem Que Não Tinha Idade e Moniz Pereira: Vida e Obra do Senhor Atletismo.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes (Elena Favilli e Francesca Cavallo)

Rainhas, pintoras, cientistas, escritoras, activistas... Ao longo dos séculos, foram muitas as mulheres que deixaram a sua marca na história do mundo, e a verdade é que nem todas são tão conhecidas como deveriam. Mas há sempre espaço para começar - e quanto mais cedo melhor, não é verdade? Neste livro, são contadas, de forma muito breve, as histórias de cem mulheres que mudaram o mundo. Histórias capazes de inspirar e encorajar quem decidir conhecê-las. 
Pensado para um público jovem, mas capaz de cativar leitores de todas as idades, este é um livro que facilmente chama a atenção pelo aspecto visual. Ricamente ilustrado e cheio de cor, prende a atenção para as histórias que quer contar ao mesmo tempo que dá um rosto a cada uma das suas protagonistas. Ora, isto tanto desperta curiosidade como reforça a mensagem, pois cada ilustração parece ajustar-se na perfeição não só à pessoa que retrata, mas também à história que lhe está subjacente.
E falemos das histórias. Há, obviamente, um elo comum a todas estas cem histórias que constituem este livro: todas as protagonistas são mulheres e todas tiveram (ou têm) um papel de relevo a desempenhar no mundo. Mas há ainda um outro aspecto a sobressair: a diversidade. Diversidade de momentos na história, diversidade de espectros de acção, diversidade de meios e contextos em que se movem. Há histórias de rainhas da antiguidade e de grandes atletas dos nossos dias, de activistas do passado e do presente, de pintoras, escritoras, cientistas que marcaram diferentes épocas. E, claro, há o outro elo em comum a tudo isto: o sonho na base de tudo. O sonho que, seja qual for a área que se pretende seguir, faz com que tudo seja possível, com esforço e dedicação.
No fundo, é esta a imagem principal que fica desta leitura. Sim, as histórias são, todas elas, muito interessantes, ainda que uma só destas figuras bastasse para originar um livro inteiro. Mas, acima de tudo, há uma mensagem positiva a retirar de todos estes exemplos, a de que há sonhos por que lutar e um lugar no mundo para cada jovem sonhadora. No fim, é esta ideia inspiradora que fica - e, sim, neste caso, a idade não importa.
Bonito, cativante e muitíssimo pertinente - assim se pode descrever este Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes. Um livro para aprender, mas, acima de tudo, para inspirar. E para descobrir mais sobre as mulheres que mudaram a história do mundo. Recomendo.

Título: Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes
Autoras: Elena Favilli e Francesca Cavallo
Origem: Recebido para crítica

domingo, 10 de setembro de 2017

The Hangman's Replacement - Sprout of Disruption (Taona D. Chiveneko)

Passou algum tempo desde que o último carrasco se reformou e, com a abolição da pena capital a inspirar discussões acaloradas, não se fizeram grandes esforços para o substituir. Mas agora, uma estranha planta carnívora começa a espalhar-se pelo Zimbabwe e muitas mentes conspiram com vista a um resultado misterioso. Um candidato promissor e desesperado, de nome Abel Muranda, parece ser a escolha mais óbvia. Mas, embora ele não saiba no que se está a meter, há muitas forças em conflito envolvidas na sua escolha. Algumas, querem protegê-lo de tal destino. Outras, precisam que seja ele o novo carrasco. E, à medida que a planta se espalha e, com ela, uma teia de fenómenos misteriosos, há vidas que são tomadas, planos que desabam… e um plano de génio começa a revelar-se.
Assente num enigma complexo e evoluindo ao longo de uma série de planos e contra-planos ainda mais complexos, este é um livro que leva o seu tempo a assimilar. Há um vasto conjunto de personagens, um núcleo ainda mais vasto de intrigas em colisão e inúmeras possibilidades para as quais todas as explicações trazem ainda um novo mistério. Por isso, leva tempo assimilar tudo isto. E, porém, há algo de estranhamente viciante no decurso destes acontecimentos. A possibilidade de seguir diferentes personagens, vendo como os seus conhecimentos parciais encaixam num panorama muito mais amplo, e de os reconhecer pelo que são – peças de um puzzle muito mais complexo – faz de cada novo capítulo uma revelação. E, assim, a necessidade de saber mais intensifica-se.
Também muito intrigante é o facto de, embora haja um vasto contexto a assimilar, com todos os planos e forças em conflito a ganhar forma em torno de uns poucos elementos principais, haver também espaço para a emoção. E isto é particularmente memorável por duas razões: primeiro, a fria racionalidade que parece mover muitas das personagens cria um contraste bastante impressionante com as provas inegáveis dos seus medos; e, segundo, há inocência no meio desta intrincada conspiração, e essa inocência (vinda principalmente de Abel) cria fortes sentimentos de empatia.
E depois há a estrutura. Ao acrescentar artigos de jornais e cartas de (e sobre) diferentes personagens à narrativa, o autor permite que a história assuma a sua identidade peculiar. É, de facto, uma história estranha e, ao segui-la de diferentes perspetivas, narrando de forma diferente os diferentes acontecimentos, a complexidade inerente sai reforçada. Isto e as muitas perguntas que deixam em aberto a necessidade de saber o que acontece a seguir contribuem também em muito para tornar memorável este livro.
No fim, a soma das partes é um livro deveras intrigante e um início muito, muito promissor para o que parece poder vir a ser uma intriga ainda mais complexa. Intenso, viciante e cheio de surpresas, um início impressionante para uma série a seguir. Muito bom.

Título: The Hangman's Replacement - Sprout of Disruption
Autor: Taona D. Chiveneko
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A Súbita Aparição de Hope Arden (Claire North)

Ninguém se consegue lembrar de Hope Arden. É uma condição que ela tem. Começou quando tinha dezasseis anos e, quando todos a esqueceram por completo, amigos e família incluídos, Hope percebeu que nunca poderia ter uma vida normal. Assim, decidiu escolher o único caminho possível e tornou-se ladra - pelo desafio, por revolta, por simples sobrevivência. Mas agora Hope está diante do maior desafio de sempre. Graças ao Perfection, uma aplicação de estilo de vida que leva todos a aspirar à vida perfeita - corpo perfeito, amigos perfeitos, fortuna perfeita - uma mulher de quem gostava e que considerava amiga (embora todos os dias se conhecessem pela primeira vez) morreu. E isso faz com que Hope anseie por algum tipo de justiça ou vingança. Mas o que começa como um simples roubo de diamantes não tarda a revelar-se uma batalha bem mais longa. A Prometheus, criadora do Perfection, sente-se afrontada com o roubo e quer que a ladra seja apanhada. E Hope...quer o Perfection destruído, seja de que forma for...
Partindo de um elemento estranho e construindo, a partir dele, toda uma aventura, este é um livro em que o primeiro elemento a destacar-se é, inevitavelmente, a forma como o improvável se torna natural. A condição de Hope, tal como é descrita, torna a sua vida difícil de conceber, à primeira vista - alguém que é visto e esquecido, quase de imediato. Mas a forma como a autora desenvolve este elemento, fazendo do percurso de Hope uma jornada de crescimento e, ao mesmo tempo, uma missão para lá de si mesma, faz com que o que começa por ser estranho rapidamente se torne um dado adquirido. Hope é esquecida - e isso não tarde a ser simplesmente um facto que a caracteriza. E, claro, o facto de a história ser narrada pela voz da protagonista contribui também para esta naturalidade, já que, a cada novo momento, as emoções e pensamentos de Hope estão lá para reforçar o impacto do sucedido. 
Há ainda dois outros aspectos a destacar neste livro todo ele cheio de qualidades. Primeiro, a escrita, com os seus traços peculiares a marcar a diferença, ao mesmo tempo que os acontecimentos, emoções e reflexões que expressam lhe conferem a devida fluidez. E, depois, a capacidade de entrelaçar numa história que é, afinal, profundamente pessoal - ou não fosse a condição de Hope a raiz central de toda a narrativa - um vasto conjunto de temas relevantes. Destes, sobressai, naturalmente, o ideal da perfeição, e a forma como esse ideal pode ser usado com intenções menos nobres, tendo em vista o lucro, a influência ou algum tipo de controlo, mas também a influência da sociedade enquanto formadora de carácter, a estratificação social entre pobres e ricos, belos e feios, homens e mulheres. E, mais uma vez, a narração na primeira pessoa intensifica a percepção, pois a forma como Hope analisa estas questões e as encaixa na situação que está a viver põe-nas num muito claro contraste em relação à visão dos que a rodeiam. 
Mas, mais interessante de tudo (e, acreditem, é tudo muito interessante) é a forma como todas estas questões se encaixam num enredo cheio de acção e de surpresas. Enquanto ladra, Hope enfrenta vários desafios complicados. E, a partir do momento em que o seu caminho se cruza com o Perfection, a situação torna-se ainda mais intensa. O que se segue é uma história cheia de aventuras, de momentos de perigo e de acção, de planos e intrigas, descobertas e revelações. Há sempre algo de importante a acontecer, outro passo a dar, um novo segredo a descobrir. E se, no meio de tudo isto, há crescimento e emoção, tanto melhor, pois Hope, protagonista complexa, humana, carismática, falível, tem uma alma maior do que ela própria se atreve a admitir. E também isso faz parte do que torna o seu caminho tão memorável.
Com uma protagonista fascinante e um enredo repleto de surpresas na sua complexidade, eis, pois, um livro que aborda a perfeição para chegar muito perto do tema que lhe serve de base. Intenso, viciante e cheio de momentos marcantes, um livro que surpreende até nos mais pequenos aspectos - e que, por todas as razões e mais algumas, dificilmente se esquecerá. Brilhante.  

Autora: Claire North
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Presença

Natal de 1558. O jovem Ned Willard regressa a Kingsbridge, e descobre que o seu mundo mudou.
As velhas pedras da catedral de Kingsbridge contemplam uma cidade dividida pelo ódio de cariz religioso. A Europa vive tempos tumultuosos, em que os princípios fundamentais colidem de forma sangrenta com a amizade, a lealdade e o amor. Ned em breve dá consigo do lado oposto ao da rapariga com quem deseja casar , Margery Fitzgerald.
Isabel Tudor sobe ao trono, e toda a Europa se vira contra a Inglaterra. A jovem rainha, perspicaz e determinada, cria desde logo o primeiro serviço secreto do reino, cuja missão é avisá -la de imediato de qualquer tentativa quer de conspiração para a assassinar, quer de revoltas e planos de invasão.
Isabel sabe que a encantadora e voluntariosa Maria, rainha da Escócia, aguarda pela sua oportunidade em Paris. Pertencendo a uma família francesa de uma ambição brutal, Maria foi proclamada herdeira legítima do trono de Inglaterra, e os seus apoiantes conspiram para se livrarem de Isabel.
Tendo como pano de fundo este período turbulento, o amor entre Ned e Margery parece condenado, à medida que o extremismo ateia a violência através da Europa, de Edimburgo a Genebra. Enquanto Isabel se esforça por se manter no trono e fazer prevalecer os seus princípios, protegida por um pequeno mas dedicado grupo de hábeis espiões e de corajosos agentes secretos, vai-se tornando claro que os verdadeiros inimigos, então como hoje, não são as religiões rivais.
A batalha propriamente dita trava-se entre aqueles que defendem a tolerância e a concórdia e os tiranos que querem impor as suas ideias a todos, a qualquer custo.

Ken Follett tinha 27 anos quando escreveu The Eye of the Needle, o premiado thriller que veio a tornar-se um aclamado bestseller internacional. Na década seguinte, em 1989, surpreendeu os leitores com Os Pilares da Terra, uma magnífica obra sobre a construção de uma catedral em plena Idade Média, que continua a cativar milhões de leitores em todo o mundo; em 2007, surgiu a muito aguardada sequela, Um Mundo Sem Fim, que chegou ao topo das listas dos livros mais vendidos nos EUA, no Reino Unido e em toda a Europa. Mais recentemente, escreveu a aclamada trilogia O Século, de que fazem parte os volumes A Queda dos Gigantes, O Inverno do Mundo e No Limiar da Eternidade. O seu romance mais recente, Uma Coluna de Fogo regressa à saga dedicada ao ciclo de Kingsbridge.



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