2012. O ano do fim do mundo (ou não), o início do fim da crise (também não) e mais uma série de promessas e profecias, cumpridas... ou não. 2012, que chega, agora, ao fim, altura em que, como em muitos outros fins, é tempo de olhar para trás e fazer um balanço do que aconteceu.
Não foi, provavelmente, um dos melhores anos. A nível criativo e a nível profissional, as coisas podiam ter corrido bastante melhor. Mas, como nem tudo é mau, já no que toca à leitura não tenho qualquer razão de queixa. Muito pelo contrário. Com um total de 383 livros lidos, e alguns deles particularmente memoráveis, este foi um ano particularmente bom a nível de descobertas - e redescobertas - literárias.
(E, para quem se está a perguntar como é possível que eu tenha lido tanto só num ano, a resposta é simples: muito (demasiado) tempo livre e também uns quantos livros muito pequenos. Para além da vontade, claro, que também conta).
Mas voltemos à questão dos livros memoráveis. Como disse, este foi um ano de muitas e boas leituras. Por isso, nunca poderia referir todos os que me marcaram, ou este post seria muito longo. Fica, portanto, a minha escolha - que foi difícil, mas possível - dos favoritos deste ano.
Desde O Jardim dos Segredos que tinha vontade de ler mais desta autora, e este foi o ano de conhecer os outros livros. Deste, sobressaem, como sempre, o fascínio de um ambiente que é, ao mesmo tempo, misterioso e emotivo, a capacidade de criar personagens fascinantes e a beleza da escrita, numa história que, de ritmo mais pausado, mas com todas as melhores características da escrita da Kate Morton, cativa tanto pela complexidade do mistério como pela profundidade do que define os seus protagonistas.
Impressionante em todos os aspectos, esta é a história de uma jornada difícil, pessoal para os que a protagonizam, mas semelhante à de tantos outros e, por isso, retrato global de tempos difíceis. É, também, uma imensa reflexão sobre valores e interesses, capacidade de luta e superação de dificuldades e o abismo que, por vezes, separa a expectativa de realidade. Um livro magnífico que, na actualidade das questões que evoca, se revela como uma história intemporal.
Mais Kate Morton. E mais um livro que não podia deixar de incluir nesta lista. A justificação é, no essencial, a mesma que referi para As Horas Distantes: uma escrita belíssima, o equilíbrio perfeito entre o lado mais sombrio e misterioso e o impacto emocional das circunstâncias, um conjunto de personalidades complexas e a capacidade de surpreender nas grandes revelações. Tudo bons motivos. Tudo boas razões para ler.
Uma forma diferente de contar a história e um enredo que, partindo do que parece ser simplesmente o mistério de um desaparecimento, evolui para uma história que é tanto uma busca por respostas como uma reflexão sobre o que dizemos e o que sentimos por aqueles de quem mais gostamos. São estas as grandes características deste livro que, diferente em muitos aspectos, cativa tanto pela força emocional como pela intensidadade do enredo e pela beleza da escrita.
Em jeito de homenagem a Blade Runner, mas com uma identidade própria, este livro alia um enredo intenso e com muita acção a uma bem conseguida reflexão sobre vários temas relevantes. Além disso, apresenta uma protagonista que, tanto nas suas forças como nas suas vulnerabilidades, se revela como profundamente humana, questionando, em muitos aspectos, o que nos define enquanto tal. O resultado é um livro de leitura compulsiva, mas também com muito material para reflexão.
Último volume de uma trilogia que tem por base o mito arturiano, o que mais marca neste livro é a capacidade do autor de humanizar os seus heróis, construindo uma história que trata mais dos homens que dos mitos. Pausado e bastante descritivo, este é um livro que sobressai pela força e complexidade das suas personagens, bem como pelo impacto dos grandes momentos, intensificado, também, pela criação de um cenário muito realista - mesmo nos momentos em que parece haver magia envolvida.
Fazendo lembrar, por vezes, os livros da Kate Morton, também esta é uma história com bastante de mistério e algo de sombrio no ambiente, insinuando tragédias prestes a acontecer. Os pontos fortes são, no essencial, os mesmos que para os livros da Kate Morton: beleza de escrita, personagens complexas, momentos de grande força emocional e revelações surpreendentes. O resultado desta conjugação é o melhor possível.
Primeira metade do segundo volume das aventuras de Kvothe, nota-se neste livro uma evolução em termos de intensidade. O ritmo é mais pausado que o do primeiro volume (o que também se evidencia na segunda metade), mas há vários acontecimentos mais pessoais e as personagens tornam-se mais empáticas e familiares - e, ao mesmo tempo, mais complexas. Tudo isto mantém viva a curiosidade em saber mais sobre o misterioso Kvothe, até porque, ao mesmo tempo que recorda o seu passado, algumas pistas vão surgindo relativamente ao seu futuro. E isso é parte do que torna a leitura viciante.
Intensos, surpreendentes e com uma escrita belíssima, os livros desta autora têm vindo a conquistar um lugar entre os meus favoritos. Este não é excepção. Cheio de novas revelações e momentos intensos, conjuga os detalhes mais fascinantes de um mundo diferente com dois protagonistas muitíssimo carismáticos. Também este é uma primeira metade, pelo que, por cá, espero ansiosamente pela chegada da segunda.
Simplesmente mágico. Muito bem escrito e muitíssimo cativante, apesar do ritmo relativamente pausado, surpreende pelo ambiente invulgar, pela peculiaridade de algumas situações e pela força dos seus protagonistas. Misterioso e surpreendente, O Circo dos Sonhos foi uma das grandes descobertas deste ano.
Mencionados os dez eleitos, há, ainda, três outras leituras que merecem uma referência especial.
História de um exilado em Londres, este livro viciante e muito bem escrito consegue transmitir ao leitor uma perspectiva mais pessoal do conflito entre absolutistas e liberais, ao mesmo tempo que desenvolve, para o seu protagonista, uma história individual fascinante. Tudo razões para recomendar este livro, que, mesmo não tendo chegado aos dez favoritos, se destacou também entre as minhas melhores leituras deste ano.
Não podia, também, deixar de referir duas histórias que me marcaram particularmente e que, sem surpresa, foram escritas pelas minhas autoras favoritas.
A primeira, "You, and you alone", de Jacqueline Carey, faz parte da antologia Songs of Love and Death .
Trata-se de um conto belíssimo, que responde a um dos grandes enigmas da série Kushiel e que, dando uma perspectiva diferente dos últimos momentos de uma das suas personagens, marca e comove com a sua poderosíssima força emocional.
A outra é The Voice, de Anne Bishop.
Enquadrado no mundo de Ephemera, mas revelando uma série de novas possibilidades para esse mundo, não só abre muitas portas para o que poderá suceder em Bridge of Dreams, como apresenta uma história marcante e intensa, com personagens fortes e, também, um grande impacto emocional.
E assim foi 2012 - o meu 2012 - em livros. Para o ano que vem, prefiro não fazer promessas nem criar expectativas. Que seja o melhor possível. Que seja o melhor possível para todos.
Bom ano! E... boas leituras!