sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Vim para Ver-te (Nils Verd)

Esta é a história de um ente Protegido e da forma como uma Entidade dele toma posse para lhe revelar, através de memórias retidas e de visões do futuro, o papel que este tem ainda a desempenhar no futuro da Humanidade. A história de uma criança aparentemente ferida que retira de um homem que lhe presta auxílio a energia para recuperar e que cedo se transforma numa batalha de vontades entre almas e Entidades de diversa origem.  É também o que pretende ser a base de uma mensagem de crescimento e perdão num cenário labiríntico.
É difícil organizar ideias para falar sobre este livro, até porque a própria narrativa tem muito de confuso. O cenário e o contexto em que decorre a narrativa são bastante elaborados e, devido à forma como são desenvolvidos são, por vezes, difíceis de assimilar. Isto acontece, aliás, com o próprio enredo, que, sem uma linha temporal definida e apresentado em tom de quase divagação, acaba por ser também confuso, quer pelos avanços e recuos na linha temporal, quer pelas mudanças bruscas na acção. Além disso, parece haver uma tentativa de transmitir a todo o custo a tal mensagem de perdão, mensagem essa que surge repetidamente em inúmeros diálogos e discursos, o que torna o texto bastante repetitivo.´
Há alguns momentos bons ao longo do enredo, sendo de destacar o das múltiplas vidas do Banido. O problema é que esses momentos se perdem entre as inúmeras divagações e a complicação de demasiadas viagens pelo tempo e pela memória. A impressão que fica é a de uma ideia que tem realmente bastante potencial, e que poderia ter resultado num enredo complexo e interessante, mas que é, afinal, apenas caótico.
O mesmo se aplica à escrita, que consegue ser cativante e interessante nos melhores momentos, surgindo inclusive alguns momentos memoráveis, mas que, durante uma boa parte do texto, se torna densa e confusa. Para isso contribuem também as falhas de revisão. A abundância de gralhas e algumas falhas de pontuação prejudicam ainda um pouco mais o ritmo de uma narrativa que é já difícil de seguir.
Com toda a sua visão da possível influência de seres superiores sobre a humanidade, este é um livro que tem como base uma ideia com muito potencial. Infelizmente, o enredo caótico e a escrita demasiado confusa fazem com que a concretização fique muito aquém das expectativas. Lamento, mas não gostei.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A Cruz de Esmeraldas (Cristina Torrão)

Afonso Henriques prepara-se para conquistar Lisboa com a ajuda dos cruzados. Um deles, Konrad, deixou para trás a promessa de uma vida estável para reconquistar, na Terra Santa, a honra e o estatuto que a fraqueza do pai lhe roubou, ao deixá-lo e ao irmão na miséria. Mas a vida reserva-lhe um destino diferente, até porque o mesmo irmão que o acompanha com relutância acaba por lhe impor uma obrigação que o forçará a permanecer em Portugal. Mas nem só essa obrigação o espera, pois, para lá das muralhas que o parecem fascinar, vive Aischa, a moura a quem a mãe disse estar destinada a pertencer a um cruzado e que tomará posse do coração de Konrad.
Escrita cativante e uma história rica em aventura em mistério são duas das melhores características deste livro em que a história particular de Konrad e Aischa se junta à visão mais global da história da conquista de Lisboa e das barreiras culturais que, na época, opunham cristãos a muçulmanos, para dar forma a uma narrativa envolvente, com uma boa caracterização do contexto histórico e um equilíbrio muito bem conseguido entre romance, mistério e conflito.
Tendo Konrad e Aischa como figuras centrais da história, e sendo o romance entre ambos um dos pontos centrais (mas não o único) do enredo, também a caracterização das personagens é um ponto importante para que a leitura seja cativante. E também este aspecto tem muito de cativante. Saídos, à partida, de mundos opostos, a moura e o cruzado representam na perfeição as diferenças entre as culturas a que pertencem. Mesmo quando a relação entre ambos começa a crescer, a diferença de mentalidades manifesta-se, por vezes, de forma involuntária (e, particularmente, nos comportamentos de Konrad), para lembrar as suas divergências. E isto expande-se também a personagens mais secundárias, já que são os companheiros de Konrad os primeiros a dar voz aos preconceitos, criando alguns momentos realmente revoltantes - mas também bastante credíveis, considerando o contexto em que decorrem. 
Conflitos e preconceitos à parte, ou talvez precisamente por eles, é fácil sentir empatia para com as personagens. Mesmo nos seus momentos de maior autoritarismo, as razões de Konrad são quase sempre as melhores e os valores que o movem, mesmo nas circunstâncias mais... constrangedoras, aumentam o seu carisma. E Aischa, forte apesar da complexidade das circunstâncias, cativa pela forma como, mesmo vulnerável, aprende a controlar o pouco da sua vida que está ao seu alcance.
Para lá do romance entre os protagonistas, cativante, por si só, devido ao percurso de dificuldades e superação de grandes barreiras que representa, importa ainda referir a história da conquista de Lisboa e o mistério da cruz de esmeraldas. Aparentemente secundários relativamente à aventura dos protagonistas, estes dois aspectos do enredo tornam a narrativa mais completa e, ao mesmo tempo, permitem uma visão mais clara da perspectiva global (no caso da história da conquista) ou um enquadramento dos protagonistas (no caso do mistério da cruz) na história da época. Também isto contribui para manter a envolvência da narrativa, já que permite uma compreensão mais vasta do papel das personagens na época que vivem.
Trata-se portanto, de uma obra envolvente, com uma escrita fluída e agradável e personagens carismáticas. Uma história que tem muito de romance, mas também muito mais para descobrir. Muito bom.

Novidades Planeta para Setembro


O demónio Lilith foi destruído e Jace liberto do cativeiro. Quando os Caçadores de Sombras chegam, porém, nada encontram além de sangue e vidros partidos.  
O rapaz que Clary ama desapareceu, bem como o que odeia.  
A magia da Clave não consegue localizar o paradeiro de nenhum dos jovens, mas Jace não pode ficar afastado de Clary.  
Quando se reencontram, Clary descobre o horror causado pela magia de Lilith – Mal.  
Apenas um punhado de pessoas acredita na salvação de Jace.  Juntos, Alec, Magnus, Simon e Isabelle negoceiam com a sinistra rainha Seelie, ponderam acordos com demónios e recorrem, por fim, às implacáveis construtoras de armas Irmãs de Ferro, que poderão forjar uma arma capaz de destruir a ligação entre Sebastian e Jace.  
E terão de fazer tudo isto sem Clary, mergulhado num perigoso jogo, na mais completa solidão. 
O preço da sua derrota não será apenas a própria vida  mas também a alma de Jace.  
Ela está disposta a fazer o que for necessário por Jace, mas poderá continuar a confiar nele?  

A história real e extraordinária do Médico de Gaza que,  em vez de procurar vingança continua a apelar às pessoas daquela região para que se unam, ao entendimento, ao  espeito e à paz. 
A prova de que um livro pode ser uma poderosa arma para resgatar a dimensão humana de conflitos armados mundiais. 

Inspirador e comovente, Não Odiarei é a história de vida extraordinária deste homem, contada na primeira pessoa, que nunca vai desistir de lutar contra a violência entre palestinianos e israelitas. 
Médico palestiniano formado em Harvard, nascido e criado num campo de refugiados na Faixa de Gaza, Abuelaish tem cruzado as linhas traçadas na areia que dividem israelitas e palestinianos ao longo de quase toda a sua vida, enquanto médico que assiste as vítimas de ambos os lados do conflito; enquanto humanista acredita numa melhor saúde e educação para as mulheres e numa via para o desenvolvimento no Médio Oriente. 
A sua reacção a esta tragédia fez notícia e valeu-lhe prémios humanitários em todo o mundo.  

O organizador», «o ambicioso», «o carismático», «o mestre»,  «o motivador», «o fraterno», «o comunicador» e «o frontal» são alguns  dos epítetos atribuídos ao treinador de futebol José Mourinho no decurso da sua longa carreira desportiva. 
À primeira vista parece ser uma pessoa mal-educada, brusca, egocêntrica e ambiciosa.   
Mas todos os que o conhecem bem dizem que é carinhoso, generoso, amável, sorridente e com valores fortes.  
Qual é o verdadeiro?  
Por que é tão valorizado dentro e fora do campo?  
O que se pode aprender com ele?  
Mourinho consegue, acima de tudo, que os seus jogadores se destaquem entre os melhores do mundo. Fá-lo marcando de forma clara as expectativas que deposita neles, ajudando-os a conhecer-se melhor a si mesmos, motivando-os e fomentando a disciplina. 
Este livro é uma análise das suas características, um retrato de como estimula os seus jogadores, de que maneira estuda o adversário, a gestão da sua relação com os meios de comunicação social e das tácticas e estratégias que utiliza. 
Uma obra para os amantes de futebol interessados em conhecer a filosofia deste treinador e a maneira como prepara os jogos. 
No entanto, também é dirigida a qualquer pessoa que pretenda levar uma empresa a bom porto, com lições bem-sucedidas sobre as tácticas e estratégias utilizadas pelo The Special One. 

Todas as Crianças Podem Ser Einstein, com 9 edições em Espanha, e mais de 40 mil exemplares vendidos, é um livro muito prático, com questionários e exercícios, escrito num tom positivo e desafiador onde qualquer pai ou educador encontrará soluções para orientar os jovens no sentido de tirar o máximo partido das suas capacidades.  
O autor, especialista em educação, mostra como potenciar a memória dos filhos e melhorar aspectos como a concentração, a atenção, compreensão leitora, resolução de problemas, o cálculo matemático. Cada criança é um ser único e genial que deverá contribuir para o progresso da sociedade em que vive, que seja feliz e faça felizes os que o rodeiam. 
Para provar a sua tese, Alberca explica a vida do Cientista Albert Einstein, que aprendeu a ler aos sete anos, que a mãe pensava que era atrasado e que a professora o classificou como “lerdo de morte”.  
Einstein viveu com este rótulo até aos 15 anos, porque não “encontrou as pessoas adequadas para estimular a sua inteligência e a sua motivação”.  
Só à custa de muito sangue, suor e lágrimas conseguiu entrar na escola politécnica. Depois de terminar o curso, a sua tese de doutoramento não causou o menor impacte no júri que a avaliou; na verdade considerou-a «bastante medíocre».  
Apesar disso, Einstein acabou por se revelar um dos cientistas mais geniais do mundo. O que se passou com ele não foi caso único; o mesmo aconteceu com Thomas Edison, Michael Jordan, Graham Bell, Stanley Kubrick, Federico García Lorca… A lista de génios que foram maus alunos é extensa.

A matemática tem muitas vezes má reputação, sendo caracterizada como árida e difícil. Mas Alex Bellos, escritor, matemático e jornalista,  consegue deixar os leitores viciados em números. Seja ao escrever sobre o modo como a álgebra resolveu problemas de trânsito na Suécia, ao visitar o Campeonato do Mundo de Cálculo Mental para desvendar os segredos do cálculo-relâmpago ou ao explorar as ligações entre os ananases e os dentes bonitos, este livro é um guia cativante, que traz à vida a beleza da matemática.  
Bellos viajou por todo o planeta e mergulhou na história para desvendar fascinantes histórias de façanhas matemáticas, desde as inovações de Euclides, o maior matemático de todos os tempos, às criações do mestre Zen do origami, uma das áreas mais activas do trabalho matemático. 
Ao longo de doze capítulos, o autor transporta-nos pelo mundo físico e pelas províncias do universo matemático. 
Revela a história de uma tribo nativa que apenas consegue contar até cinco e relata as mais recentes descobertas cerca da intuição matemática – incluindo a revelação de que as formigas conseguem  efectivamente contar todos os passos que dão.  
Viajando até à baía de Bangala, entrevista um sábio hindu sobre as brilhantes intuições matemáticas do Buda, e no Japão visita o avô do Sudoku e apresenta-nos as estimulantes delícias dos jogos matemáticos. 
Explica por que é impossível aos nossos iPods escolherem as canções ao acaso. 
Sondando as muitas intrigas do número mais adorado  de todos, o pi, visita dois irmãos tão obcecados por esse número que construíram um supercomputador no seu apartamento de Manhattan para o estudarem.  
Ao longo da obra, a viagem é acrescida de uma quantidade de ilustrações intrigantes, como as dos quebra-cabeças conhecidos por tangram e a criação de croché de uma professora de matemática norte-americana que num certo dia percebeu de repente que poderia tricotar uma representação de um espaço hiperdimensional que ninguém conseguira ainda visualizar. 

Novidade Porto Editora


Um canhão assombrando uma cidade. Um patíbulo armado de noite. Um istmo que conduz a uma cratera. Uma diligência cercada por cães selvagens. Nuvens de grifos imundos sobre o mar. A batalha sangrenta dos pescadores. Uma galeria de anarquistas, mais nobres que plebeus. A casa de Madame Ricciarda. A casa de Madame Musette. Dois jesuítas. Um padre que toca violoncelo. Um navio que não chega mais. Uma opereta com ecos de tragédia. Sol, luz, névoa e lua. Oito mulheres, amores duplos, triplos e quádruplos. De como a vida engana a morte. Ou o inverso. Porque há em gente pacata uma apetência de morte tão grande? Porque é que nunca se regressa daquela viagem? Porque é que aquele navio não chega? Porque é que aquele canhão jamais dispara?
O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel – primeiro livro de Mário de Carvalho no catálogo da Porto Editora – confirma-o uma vez mais como um dos grandes nomes da ficção portuguesa contemporânea.

Mário de Carvalho nasceu em Lisboa em 1944. Licenciou-se em Direito e viu o serviço militar interrompido pela prisão. Desde muito cedo ligado aos meios da resistência contra o salazarismo, foi condenado a dois anos de cadeia, tendo de se exilar após cumprir a maior parte da pena. Depois da Revolução dos Cravos, em que se envolveu intensamente, exerceu advocacia em Lisboa. O seu primeiro livro, Contos da Sétima Esfera, causou surpresa pelo inesperado da abordagem ficcional e pela peculiar atmosfera, entre o maravilhoso e o fantástico. Desde então, tem praticado diversos géneros literários –
romance, novela, conto e teatro –, percorrendo várias épocas e ambientes, sempre em edições sucessivas. Utiliza uma multiforme mudança de registos, que tanto pode moldar uma narrativa histórica como um romance de actualidade; um tema dolente e sombrio como uma sátira viva e certeira; uma escrita cadenciada e medida como a pulsão duma prosa endiabrada e surpreendente.
Nas diversas modalidades de Romance, Conto e Teatro, foram atribuídos a Mário de Carvalho os prémios literários portugueses mais prestigiados (designadamente os Grandes Prémios de Romance, Conto e Teatro da APE, o prémio do Pen Clube e o prémio internacional Pégaso). Os seus livros encontram-se traduzidos em várias línguas. Obras como Os Alferes, A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho, Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde, ou este O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel são a comprovação dessa extrema versatilidade.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O Highlander Indomável (Monica McCarty)

Parece impossível pôr fim à inimizade entre os MacDonald e os MacLeod, mas o rei está disposto a tentar e é por sua vontade que um noivado entre figuras dos dois clãs é celebrado. Mas nem Isabel MacDonald nem Rory MacLeod entram no compromisso sem segundas intenções. Rory espera cumprir o seu dever para com o rei aceitando o noivado de um ano, mas está determinado a repudiar a noiva e a assumir uma aliança mais vantajosa assim que o noivado terminar. Já Isabel pretende tomar posse de um dos objectos mais sagrados dos MacLeod e entregá-lo ao seu tio, para que este auxilie o seu pai contra os Mackenzie. O problema nos planos de ambos é que nenhum é tão indiferente ao outro como poderiam desejar.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é a contextualização da época em que decorre. A autora não entra em grandes pormenores ou em descrições extensas, mas a informação que apresenta é completa quanto baste para compreender o que está a acontecer e, ainda que a história se centre, em grande medida, no casal protagonista, compreender as suas acções no contexto da época - ainda que explicado de forma sucinta - ajuda a assimilar os dilemas das personagens. E dilemas não faltam ao casal.
Grande parte da história diz respeito à forma como a convivência quase forçada entre os protagonistas põe em causa os planos inicialmente traçados. A relação parte de um noivado imposto para um primeiro contacto em que o que liga Rory e Isabel é principalmente atracção física. Assim, não é de surpreender que seja esta a ditar os momentos mais sensuais da história, já que o aprofundar do afecto surge de forma mais gradual, a partir do momento em que as personagens deixam o papel que quiseram assumir e passam a ouvir-se verdadeiramente um ao outro. Também aqui se nota uma evolução interessante, já que a tensão do contacto baseado numa atracção indesejada parece criar situações um pouco forçadas, mas o revelar da verdadeira personalidade dos protagonistas dá fluidez à história e abre espaço para momentos realmente marcantes.
Tendo em conta toda a situação que serve de base ao enredo, não se pode dizer que a conclusão global seja particularmente imprevisível. É nos pequenos momentos que estão as situações mais surpreendentes e, curiosamente, algumas delas não dizem respeito à relação entre os protagonistas, mas entre um destes e alguma das muitas personagens secundárias sobre as quais fica uma certa curiosidade em saber mais. Aqui, destaca-se a influência de Isabel sobre Margaret e a forma como a amizade entre ambas muda as suas percepções da vida, entre outros pequenos momentos que expandem, de forma discreta, a visão da vida dos protagonistas, revelando-a para lá do romance e da atracção que os liga.
Trata-se, portanto, de uma história relativamente simples, sem grandes surpresas a nível do romance entre os protagonistas, mas cativante na forma como este é desenvolvido, bem como pelas pequenas histórias secundárias que, explorando outras personagens e outros afectos, o completam. Uma leitura agradável e um bom livro para descontrair.

Novidade Porto Editora


Mandorla é a filha feliz de uma mulher repleta de fantasia. Maria, a mamã, trabalha numa empresa de gestão de condomínios e tem o dom especial de transformar cada reunião de condóminos em vibrantes sessões de terapia de grupo.
Quando Maria morre num acidente com a sua mota, os moradores da Rua Grotta Perfetta, 315, descobrem uma carta onde ela anuncia à filha que o seu pai vive naquele prédio. Vendo a harmonia das suas famílias ameaçada, os moradores tomam uma insólita decisão: não realizar o teste de ADN e assumirem, em conjunto, a educação da criança, que passará dois anos em cada lar. Mandorla cresce obcecada em  descobrir a identidade do pai e com isso ter uma família normal, como a  de todos os outros. Quem será, na verdade, o pai de Mandorla?

Chiara Gamberale nasceu em 1977 em Roma, onde vive actualmente.
É criadora e apresentadora de diversos programas de rádio e televisão italianos. Colabora também com várias publicações, como La Stampa, Il Riformista e Vanity Fair.
As luzes nas casas dos outros é o seu sexto romance e o primeiro a ser publicado em Portugal.

Novidade Quetzal


«Uma poesia muito forte, de uma sensibilidade à flor da pele, ao mesmo tempo misteriosa e quotidiana, numa visão bem feminina dos dias que passam.»
Maria Teresa Horta, Diário de Notícias

Figura relevante da geração poética que se afirmou na década de 1990, Maria do Rosário Pedreira reúne neste volume, prefaciado por Pedro Mexia, os seus três livros de poesia publicados – A Casa e o Cheiro dos Livros  (1996),  O Canto do Vento nos Ciprestes (2001) e  Nenhum Nome Depois (2004) – e um livro inédito intitulado A Ideia do Fim.

«(…) Estamos perante uma visão do mundo de feição romântica, que  concentra no amor a justificação da existência. É certo que o romantismo nunca deixou de influenciar  a poesia portuguesa, e que os neoconfessionalismos recuperaram o tema do sofrimento passional, mas as poetas têm-se mostrado reticentes a esse discurso que o feminismo estigmatizou, acusando-o de idealizar a mulher ou mitificar o homem, tornando-os criaturas falsas, alienadas. Em autoras mais novas, o lirismo amoroso, mesmo quando é sugerido, vê-se logo ironizado ou sabotado. 
Nesse sentido, a poética de Maria do Rosário Pedreira parece deslocada no tempo, e assume todos os riscos «intempestivos» de um aparente confessionalismo sentimental.» (do Prefácio, de Pedro Mexia)

Maria do Rosário Pedreira nasceu em Lisboa em 1959. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, é editora, dedicando-se hoje à descoberta e divulgação de novos autores portugueses. Como poeta, estreou-se em 1996 com A Casa e o Cheiro dos Livros (traduzido em italiano e atalão), a que se seguiram  O Canto do Vento nos Ciprestes (também editado no Brasil) e  Nenhum Nome Depois. A sua poesia está representada em numerosas antologias e revistas portuguesas e estrangeiras. Além de 
poeta, escreveu o romance Alguns Homens, Duas Mulheres e Eu (1993) e duas séries de livros juvenis que foram adaptadas à televisão. Recebeu vários  prémios literários e tem participado em numerosos encontros de escritores nacionais e internacionais.  Mantém o blogue  Horas Extraordinárias (http://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt),  no qual partilha diariamente a sua paixão pelos livros.

Novidade Asa


Paul Auster, incansável criador de ficções e de personagens inesquecíveis, vira agora o olhar para si próprio e para o sentido da sua vida. As descobertas da infância e as experiências da adolescência, o compromisso com a escrita – que marcou a sua entrada para a idade adulta –, as viagens, o casamento, a paternidade, a morte dos pais… Uma vida que transborda das páginas deste Diário de Inverno, um definitivo autorretrato construído com a paixão e a transbordante criatividade literária que são as marcas distintivas da identidade deste escritor amado pelos leitores e admirado pela crítica.

Escritor, argumentista, tradutor, ensaísta, realizador, marinheiro, inventor de um curioso jogo de cartas e muito mais, Paul Auster é considerado um nome cimeiro da literatura dos nossos dias. Nascido em 1947 em Newark, frequentou a Universidade de Columbia e residiu durante quatro anos em França, antes de se radicar em Nova Iorque, onde vive com a mulher, Siri Hustvedt. Distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Literatura 2006, Paul Auster foi nomeado Comendador da Ordem das Artes e das Letras de França em 2007.. A sua obra encontra-se traduzida em quarenta e uma línguas.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O Último Lobisomem (Glen Duncan)

Depois de duzentos anos de existência, Jacob Marlowe está cansado da sua existência. A vida tornou-se-lhe indiferente e essa apatia torna-se ainda mais evidente no momento em que lhe é comunicado que, após a morte do berlinense, ele é agora o último dos lobisomens. Já com pouca vontade de continuar, Jake faz um último esforço para deixar as suas questões resolvidas antes da lua cheia seguinte, altura em que um caçador movido pelo desejo de vingança deverá obter finalmente o que tanto deseja: a sua morte. Mas, enquanto Jake se prepara para aceitar, impávido, o confronto com o caçador, outras forças se movem e essas parecem ter um estranho interesse em que Jake se mantenha vivo. A lua cheia aproxima-se e, com ela, um percurso de revelações...
Construído num registo muito diferente do dos outros livros do autor, O Último Lobisomem apresenta, ainda assim, todos os pontos positivos do trabalho de Glen Duncan. E explora-os da melhor forma. O cenário dificilmente podia ser mais negro, com a violência e a crueldade como elementos inevitáveis para o contexto apresentado, e, ainda assim, há muito mais na história para lá da perseguição e da luta pela sobrevivência. E é aqui que entra uma das melhores características da escrita deste autor: a capacidade de construir momentos de introspecção e de reflexão sobre o mundo sem quebrar o ritmo compulsivo da narrativa. Jake Marlowe analisa constantemente o seu percurso e a sua natureza, e fá-lo com uma profundidade inesperada, mas sem perder de vista a tensão inerente à sua situação. Jake é perseguido, afinal, e tem de lidar com isso. As suas circunstâncias servem de base a um equilíbrio praticamente perfeito entre o lado de acção compulsiva do enredo e o lado mais introspectivo que se manifesta nas considerações sobre a personagem, as espécies e o mundo em geral.
Jake é um lobisomem e, tendo isto como ponto de partida, há, evidentemente, uma série de aspectos a desenvolver a nível de construção do cenário em que decorre a acção. Também aqui há muito de interessante. A informação é apresentada de forma gradual (e ainda incompleta, já que este é o primeiro volume de uma série), o que permite surpreender o leitor à medida que novas revelações são apresentadas e, ao mesmo tempo, assimilar aos poucos um sistema em que, ainda que os lobisomens sejam o centro do enredo, os outros seres sobrenaturais têm também uma função a desempenhar.
Há muito de interessante no contexto criado para esta história, portanto, e também a forma como a acção evolui, com todas as surpresas e mudanças associadas ao percurso de fuga e confronto que parece inevitável para o protagonista, contribui para o impacto global deste livro. Mas o mais importante, o que mais complexidade confere à narrativa, está nas personagens, e particularmente em Jake. Se muitas das figuras que cruzam o seu caminho parecem, em certa medida, secundárias - até porque a narração é feita, na maioria, do ponto de vista de Jake - a verdade é que quase todas as que têm com ele algum contacto mais pessoal, mesmo se breve, influenciam o rumo dos seus passos. E é este contacto, esta percepção de que todas as experiências deixaram marcas e sentimentos (mesmo que indesejáveis) que faz de Jake uma personagem capaz de evocar empatia, mesmo num cenário sombrio e cruel em que o próprio herói é um monstro.
Falta ainda referir uma das mais interessantes características da escrita de Glen Duncan e uma que, neste livro, se adequa na perfeição à personalidade do seu protagonista. Trata-se um sentido de ironia, com laivos de humor negro, que, associado a uma série de referências literárias particularmente certeiras, molda o tom da narrativa, consoante as circunstâncias, numa reflexão perfeita dos sentimentos e das ambivalências na mente do protagonista.
Acção e introspecção nas medidas certas, com o toque de emoção que torna humano um protagonista que, pela sua natureza, pouco o deveria ser, fazem de O Último Lobisomem uma leitura viciante, tanto pelo ritmo de acção e pelas sucessivas surpresas ao longo do enredo como pela complexidade e pelo fascínio que exercem as suas personagens. Fantástico.

Novidade Porto Editora


Desde a publicação da sua primeira obra, um livro de contos intitulado  Los Días Enmascarados (1954), ficou bastante claro que estávamos  perante um dos mestres contemporâneos da arte do conto. As obras  que se seguiram, Cantar de Ciegos, A Fronteira de Vidro e Todas las  Familias Felices, só vieram confirmar essa ideia.  Contos Naturais  recicla vários contos originalmente publicados nas obras acima  mencionadas, à excepção do último, que saiu em Cuerpos y Ofrendas.

Carlos Fuentes (1928 - 2012) é autor de uma vasta obra, que inclui romances, contos, teatro e ensaio, e um dos principais expoentes da  narrativa latino-americana. Ao longo da sua carreira recebeu  numerosos prémios, entre eles o Prémio Cervantes (em 1987) e o  Prémio Príncipe das Astúrias (em 1994). Em 2003 foi condecorado  com a Legião de Honra pelo governo francês e em 2008 recebeu a 
Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica. A Porto Editora, que, de  Carlos Fuentes, já publicou Adão no Éden, publicará em breve Contos Sobrenaturais, segunda parte deste díptico de narrativas breves.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Histórias Reais de Reencarnações (Clara de Almeida)

Do recurso à história de vidas anteriores enquanto forma de conquistar uma consciência do mundo e do nosso papel dele fala este livro em que, através das suas próprias regressões e das de outras pessoas com quem trabalhou, Clara de Almeida apresenta exemplos bastante interessantes dos fundamentos básicos da teoria da reencarnação. O essencial deste livro são as histórias das tais vidas passadas e a forma como a compreensão destas influencia a percepção dos acontecimentos na vida presente. E o resultado é um livro que, escrito de forma cativante e agradável, não deixa de ser, independente da medida de cepticismo do leitor, uma leitura interessante.
São as experiências captadas através das regressões às vidas passadas o elemento central deste livro.   A forma como as regressões são conduzidas ou os fundamentos da teoria da reencarnação são explicados de forma muito sucinta, deixando às histórias e às interpretações destas o papel de explicar pelo menos parte da forma como essas vidas influenciarão a vida presente. É necessária, pois, uma certa medida de crença da parte do leitor para aceitar por completo os significados atribuídos a essas experiências e que características lhe atribuem esses significados - até porque a forma como se atinge esse ponto de contacto com as vidas anteriores nunca é realmente explicada.
Mas, e pondo de parte a crença ou não em reencarnações e na possibilidade de aceder a vidas anteriores, há um lado particularmente envolvente neste livro e esse está na forma como a autora conta as múltiplas histórias a que terá acedido. Acreditando-se ou não em vidas passadas, mesmo considerando as histórias apenas pelos acontecimentos que narram - sem significados ou ligações para com o futuro - os pequenos momentos narrados cativam pelo impacto das situações apresentadas e isso basta para manter vivo o interesse ao longo da leitura.
Ainda que as interpretações e as ligações entre vidas sejam um aspecto bastante desenvolvido - ou não fosse este um livro sobre reencarnações - também a forma como essas explicações são apresentadas é um ponto forte, pois, não sendo apresentadas durante a regressão, mas apenas depois, permitem apreciar a história tal como ela é, deixando a necessidade de procurar (ou não) essa interpretação para depois de assimilado o relato. Também este ponto facilita a percepção das histórias, sem o peso de ter de assimilar a possível relação com outras vivências e possíveis existências posteriores.
Num contexto que exige algo de fé, mas interessante independentemente da existência dessa fé, Histórias Reais de Reencarnações constitui, portanto, uma leitura agradável, com um tema interessante e, principalmente, um conjunto cativante de histórias. Gostei de ler.

domingo, 26 de agosto de 2012

Anjo Sombrio (Cynthia Hand)

O propósito de Clara falhou. Ou não? Na sequência do incêndio em que Clara decidiu ignorar o seu propósito e escolheu Tucker, as consequências parecem ter sido poucas ou nenhumas. Mas, pouco depois, novas visões começam a manifestar-se, desta vez em sonhos, passadas num lugar que Clara não consegue reconhecer, mas onde a tristeza é palpável, o que a leva a considerar a presença de um Asa Negra. Até que Christian reconhece o lugar e Clara compreende o significado da tristeza: alguém que lhe é próximo vai morrer. Agora, ela tem de viver com esse conhecimento, à espera que o momento chegue, enquanto assimila alguns segredos que lhe são - finalmente - revelados e tenta lidar com o perigo que parece pairar sobre os que a rodeiam. E decidir se, apesar das novas revelações, o seu coração continua a escolher Tucker ou se o seu propósito continua, afinal, ligado a Christian.
Com início pouco depois do ponto onde o volume anterior terminou, este livro mantém todos os pontos fortes de Celestial. A mesma escrita leve e fluída, sem grandes elaborações, mas agradável e cativante, marca o ritmo de uma história envolvente, com uma série de eventos surpreendentes e um bom ritmo de acção. Não há já a urgência de concretizar o propósito, como no primeiro livro, mas há, ainda assim, um grande acontecimento à espera de acontecer, e um que irá também abalar a vida de Clara.
Ainda que a situação da protagonista pareça ser agora menos perigosa, em parte porque o acontecimento central está na perda que está para vir, a ameaça não desapareceu e os momentos em que Samjeeza aparece vêm recordar que, ainda que, agora, sejam as questões mais pessoais a abalar a vida de Clara, o conflito continua e o adversário continua a estar interessado nas capacidades da sangue-de-anjo. Há, aliás, algumas revelações importantes sobre o porquê deste interesse, que, aliadas às revelações sobre Christian, levantam, desde logo, algumas questões interessantes quanto ao possível futuro de ambos. Este é um lado do enredo em que muitas perguntas ficam ainda sem resposta, mas é também o centro de algumas das situações mais surpreendentes, quer nas mudanças a nível da família de Clara e das semelhanças que esta tem com Christian, quer na forma como essas revelações justificam, pelo menos em parte, o interesse de Samjeeza.
Se há novas revelações a nível de contexto e uma interessante evolução nos rumos do enredo, há também um crescimento a nível de questões emocionais. O inevitável triângulo amoroso continua presente, mas o seu desenvolvimento não se sobrepõe a todas as outras situações a acontecer, surgindo de forma equilibrada e bem enquadrado nas circunstâncias que dificultam a escolha de Clara. Além disso, as novas revelações sobre a vida familiar da protagonista conduzem o abalo aos sentimentos de Clara num rumo de intensidade crescente e que culmina num final que, não sendo propriamente inesperado, marca pelo forte impacto emocional.
Trata-se, portanto, de uma leitura envolvente e agradável, com uma boa história e o equilíbrio adequado entre acção e emoção. Surpreendente, com a medida certa de romance e uma série de revelações importantes que contribuem para o impacto dos momentos mais comoventes, Anjo Sombrio apresenta uma muito bem conseguida continuidade para a história iniciada em Celestial. Muito bom.

sábado, 25 de agosto de 2012

Carl Sagan - Vida e Obra (Keay Davidson)

Figura fundamental na história da Era Espacial, cientista e divulgador científico, Carl Sagan foi um homem capaz de inspirar sentimentos contraditórios. A sua obra foi vasta e controversa e também o seu percurso pessoal foi marcado por mudanças e atribulações. Neste livro, Keay Davidson apresenta um relato completo e imparcial de uma vida complexa e de uma obra vasta, numa biografia que tem em conta as opiniões e testemunhos de admiradores e detractores, de colegas, amigos e familiares e de muitos dos que, de alguma forma, tiveram com Sagan algum contacto relevante. O resultado é uma biografia extensa, rica em pormenores e teorias, o que a torna, por vezes, algo densa, mas muitíssimo interessante no conteúdo que apresenta.
Um dos aspectos mais interessantes neste livro é o evidente (e bem conseguido) esforço do autor de passar aos leitores um retrato de Sagan que fosse o mais completo possível. Assim, a história da sua vida privada desenvolve-se em paralelo com a do seu percurso como cientista, intimamente ligadas em muitos aspectos, mas realçando em pleno as múltiplas facetas do complexo carácter de Sagan. Destaca-se, também, o cuidado em apresentar uma visão completamente imparcial, dando voz tanto aos mais convictos admiradores como aos críticos mais ferozes. O objectivo é plenamente alcançado: a imagem que fica de Sagan depois desta leitura é a de um homem com todas as qualidades e defeitos inerentes à sua condição, e a de um homem capaz de inspirar sentimentos muito diferentes, mas dificilmente de indiferença.
Ao acompanhar o percurso de Sagan desde os primeiros anos e até à morte, é difícil evitar referir as muitas figuras com quem este interagiu e os que com ele colaboraram nos seus inúmeros projectos. Assim, e como não poderia deixar de ser, surgem teorias divergentes, questões e possibilidades refutadas, discussões por vezes ferozes, principalmente no contexto da batalha ciência vs. pseudociência. É, talvez, neste aspecto as razões para que, apesar de muito interessante, este livro dificilmente se torne leitura compulsiva, já que exige atenção constante para não perder de vista o rumo dos acontecimentos narrados. É que, além das ideias e teorias de Sagan e dos projectos em que este participa, são também apresentadas muitas outras teorias que, estando, de alguma forma, relacionadas com o trabalho de Sagan, não lhe dizem directamente respeito. Há, pois, toda uma série de nomes e de teorias para assimilar, bem como a forma como estas se relacionam com a figura central desta biografia, e a exposição de todas estas teorias e discussões remete, por vezes, para segundo plano os pontos mais relevantes. Resulta, disto, um livro que, interessante pela vastidão do seu conteúdo, acaba por ser, ainda assim, um pouco denso e difícil de seguir.
Longe de ser uma leitura fácil, devido à multiplicidade de teorias e pormenores a assimilar, trata-se, ainda assim, de um livro fascinante, quer pelo retrato complexo e imparcial que apresenta de Sagan, quer pela visão completa das complexidades e teorias do meio científico em que este se enquadrava. Densa, complexa, mas muito interessante, uma biografia que vale a pena ler.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Casa dos Sonhos (Liz Fenwick)

Depois da morte do marido, Maddie e a sua enteada adolescente vêem-se obrigadas a vender a casa em Londres e a mudar-se para Trevenen, uma velha mansão que Maddie herdou. A relação entre as duas é tudo menos fácil e, depois da morte de John, Hannah parece canalizar para a madrasta toda a fúria e todo o ódio que sente. Mas Trevenen, apesar dos estragos causados pelo tempo, vai encantá-las a ambas e o mistério da casa e da família de Maddie, bem como a descoberta de Hannah de que a vida naquele lugar pequeno em que todos sabem tudo não é assim tão má, será o ponto de partida de que precisam para resolver a situação de guerra constante em que vivem.
Apesar de ter como ponto de partida uma mudança que resultou de uma tragédia, este livro surpreende, em primeiro lugar, pela leveza da fase inicial. Esta deve-se, em grande parte, a um estilo de escrita simples, em que as descrições se resumem ao essencial e em que, tendo a interacção entre personagens (e, particularmente, as discussões entre Hannah e Maddie) um papel de relevo em toda a história, o diálogo é predominante. Além disso, os atritos entre madrasta e enteada são um dos pontos centrais do enredo, o que faz com que os mistérios da casa e da família surjam numa fase mais avançada da história, deixando o protagonismo aos conflitos da vida familiar e à adaptação à vida em Trevenen.
Mas são esses mistérios o mais cativante do enredo. Se há muito de interessante na história passada das personagens (e no segredo que Maddie carrega consigo desde a morte de John) e na forma como a relação entre Maddie e Hannah acaba por se equilibrar, também é certo que as atitudes de Hannah se pautam, em grande medida, pelos típicos dramas adolescentes, o que dá origem a alguns momentos emotivos, mas também a circunstâncias em que é difícil sentir alguma empatia. Assim, o conflito com Maddie surge de forma bastante credível (pois é certo que há fases na vida em que cada desilusão parece o fim do mundo), mas também como um percurso de situações em que o comportamento das personagens é difícil de analisar. É fácil compreender parte da angústia de Hannah, devido à perda recente e à drástica mudança de vida, mas também é fácil compreender o cansaço de Maddie face a uma linha de comportamento que é, por vezes, revoltante. Mais que empatia, há tensão, e o restante da história empalidece um pouco ante o protagonismo que é dado, por um lado, a este aspecto da vida de Hannah e Maddie e, por outro, às escolhas românticas desta última.
Mas regressando aos mistérios. Antes de Trevenen, há, desde logo, a sombra da promessa que Maddie fez a John e que, sem ser revelada, insinua uma experiência que molda todas as escolhas da personagem e que está na base de um dos momentos mais intensos da narrativa. A isto, juntam-se os segredos da casa, partindo, desde logo, da história da mãe biológica de Maddie e expandindo-se à história das gerações anteriores de habitantes de Trevenen. Há aqui muito de interessante, quer na descoberta dos esconderijos na casa, quer na investigação de Maddie sobre a sua família. São partes da história que acabam por ter uma presença discreta - o que deixa a sensação de que mais haveria a explorar sobre algumas das situações - mas que complementam bem a história mais pessoal da reconstrução da vida de Maddie e da enteada.
História de tragédias pessoais, mas equilibrada com um agradável toque de mistério, trata-se, assim, de um livro cativante, com uma escrita simples, mas envolvente e um enredo que parte de um início quase leve para explorar, depois, um percurso de vidas em que as complicações são sempre inevitáveis. E a isto junta-se a sombra de um passado mais vasto, que podia ter sido um pouco mais desenvolvida, mas que acrescenta, ainda assim, algo de maior a uma história que é, acima de tudo, do crescimento pessoal das protagonistas. Gostei de ler.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sepulcro (Kate Mosse)

1891. Na sequência de alguns problemas que não consegue explicar, Anatole Vernier e a irmã, Léonie, chegam a Rennes-les-Bains para passar algum tempo na tia. Mas o que parece ser apenas um convite inocente e oportuno é bastante mais que isso. O Domaine de la Cade esconde mistérios e lendas sombrias e as próprias razões de Anatole são mais vastas que a simples necessidade de uma fuga aos problemas. Diz-se que, naquele lugar, há um sepulcro antigo onde o demónio ronda, à espera somente de ser invocado. E, enquanto o mistério intriga Léonie, o inimigo, Victor Constant, segue os passos de Anatole, em busca de vingança pelo que este lhe roubou. O mistério adensa-se... e prolonga-se até mais de um século mais tarde, altura em que Meredith Martin chega, também, ao Domaine de la Cade, em busca de respostas para o mistério na história da sua mãe biológica.
Algo que parece ser característico dos livros desta autora é a sua forte componente descritiva. Os cenários são caracterizados até ao mais ínfimo pormenor, quer no respeitante à paisagem e as características dos lugares, quer aos detalhes de objectos e edifícios. A isto junta-se também o desenvolvimento pormenorizado das divagações e pensamentos das personagens, acompanhadas de tudo o que observam cada vez que chegam a um lugar novo. Escusado será dizer, portanto, que esta é uma narrativa de ritmo pausado, em grande medida devido à muito detalhada caracterização. E isto tem um lado positivo, na medida em que permite uma visão claríssima do ambiente em que decorre a narrativa, e um lado negativo, já que os excessos descritivos atenuam, por vezes, a intensidade de alguns dos momentos mais relevantes.
Mas há outra razão para que o ritmo seja lento, e esta está na forma como a autora cruza diferentes histórias num todo bastante complexo. Não apenas as histórias separadas no tempo de Léonie e Meredith, mas a forma como cada uma delas lida com vários mistérios em simultâneo: Léonie com os mistérios do sepulcro, os segredos de Anatole e Isolde e a ameaça de Victor Constant, Meredith com a sua missão oficial de escrever a biografia de Débussy, a sua busca por respostas para o passado da sua família e a situação complicada de Hal. No meio de tudo isto, e ainda que seja o Sepulcro o elo comum entre as duas histórias, a sua importância acaba por se tornar relativamente discreta, sendo as outras questões, muitas vezes, que passam para primeiro plano. O resultado é uma aura de mistério que paira ao longo de todo o enredo, mas que deixa também a sensação de alguma dispersão entre demasiadas situações.
Apesar da lentidão no fluir da narrativa, a história não perde totalmente a envolvência. Personagens cativantes, com as quais é fácil sentir empatia nos momentos de maior intensidade, momentos de particular tensão e uma boa medida de mistério contrastam com os momentos mais parados, mantendo viva a curiosidade em saber de que forma se resolverá o enigma do sepulcro e das cartas. Além disso, há uma beleza cativante na forma como a autora escreve, e isto aplica-se tanto às descrições como à narração dos acontecimentos. Também isto contribui para que, mesmo quando a intensidade da acção parece atenuar-se sob o peso da descrição, a história continue a ser intrigante e a leitura agradável.
Este é, pois, um livro que, longe de ser de leitura compulsiva, cativa pela beleza da escrita e do ambiente apresentado, bem como pelo mistério em torno das personagens e dos acontecimentos em que estas se vêem envolvidas. Um livro interessante, portanto, e que gostei de ler.

Novidade Oficina do Livro


Marilyn à Beira-Mar atravessa o século XX português numa pequena vila alentejana junto ao mar. Laura é uma mulher à procura da felicidade depois dum casamento que a maltratou e roubou um filho.
O primeiro romance de Vicente Alves do Ó é a biografia amorosa dos seus pais. Uma história real que, devido aos contornos absolutamente extraordinários e mágicos apaixonou o escritor durante anos e anos e que agora ele decidiu colocar em livro. 
Uma história onde o cinema, o amor e a coragem foram a grande herança que herdou de um homem e uma mulher fadados ao amor e à incompreensão. Uma mulher alentejana se apaixona por Marilyn Monroe e durante anos veste-se como ela, vivendo nas calçadas de S. Torpes, terra de pescadores, o sonho do cinema e da mulher mais bela do mundo.
Narrada pelo filho, esta é história de Laura, uma mulher pouco convencional que desafia os limites do permitido no Portugal conservador dos anos 50.


Vicente Alves do Ó nasceu em 1972. Argumentista, trabalhou com realizadores como Ruy Guerra, António-Pedro Vasconcelos, Mário Barroso e Solveig Nordlund.
Em 2011 estreou-se como realizador de longas com "Quinze Pontos na Alma" e em 2012, a segunda longa-metragem chegou aos ecrãs: "Florbela" inspirada na vida e obra da poetisa Florbela Espanca. Actualmente, dedica-se à escrita do novo romance.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Noites de Jasmim (Julia Gregson)

Tudo começa com uma canção. Durante um pequeno concerto num hospital militar britânico, a cantora Saba Tarcan conquista a alma de Dom, piloto de caça. Bastam alguns instantes e tudo está terminado, mas a memória de Saba permanece no coração do piloto, mesmo depois da sua recuperação. Só duas coisas importam no pensamento de Dom: voltar a voar e encontrar Saba. Mas, em plena guerra, Saba está também na sua própria demanda. Cansada dos obstáculos levantados pela família e decidida a seguir o seu sonho, Saba junta-se à ENSA para colaborar no esforço de guerra na forma que melhor sabe: cantando para os soldados. No norte de África, Dom e Saba voltarão a encontrar-se, no centro da agitação e do caos da vida entre soldados. Mas, enquanto Dom volta aos voos num esforço por ignorar as dificuldades e a culpa, Saba vê-se envolvida num ambiente bem menos inocente do que o que esperava. É que a voz de Saba pode ser uma porta de entrada para segredos cruciais à vitória no conflito...
Ainda que o afecto entre os protagonistas seja o motivo para muitas das suas escolhas e acções, não é o romance o aspecto mais marcante neste livro. Há momentos de grande ternura entre Dom e Saba e discussões que mostram a falibilidade (e, portanto, dão realismo) na relação, mas a história deste livro é mais dos seus percursos individuais que da relação entre ambos. Neste aspecto, a história de Saba é bastante mais complexa e explorada em maior profundidade, até porque o seu percurso é bastante mais complicado que o de Dom, mas também na história deste há alguns momentos marcantes, principalmente no trauma e na persistência da culpa resultante do sucedido aos amigos.
O caminho de Saba é o da história de um sonho e do despertar para a realidade. É, também, a base para uma interessante abordagem a várias questões interessantes, sendo a mais relevante a dos preconceitos relativamente ao papel da mulher na sociedade e da prioridade das suas escolhas relativamente às do homem. Isto é explorado tanto a nível familiar como, mais tarde, em algumas das atitudes de Dom, o que cria também um curioso paralelismo. Apesar das diferenças culturais, Dom reflecte também muitos dos defeitos do pai de Saba. Mas há mais dificuldades na história da jovem cantora e a forma como o seu papel na guerra e no palco acaba por se tornar muito diferente do que sonhara - primeiro com os atritos com Bagley, depois com a aplicação da sua voz enquanto arma de espionagem - acaba por ser, de certa forma, a destruição da inocência, dando lugar a uma existência marcada pelas situações difíceis, mas, ainda assim, longe de vazia.
Importa ainda referir a forma como a autora mostra, neste livro, um lado bastante diferente da guerra. Longe dos grandes conflitos, mas centrada na imprevisibilidade das circunstâncias, evoca um poderoso contraste ao opor festas e momentos de boémia com a necessidade de viver o dia a dia sob o medo e a ameaça de um fim próximo. Isto influencia, também, o meio em que se movem os protagonistas, conferindo intensidade aos momentos mais marcantes da sua história.
A escrita é envolvente e agradável, apesar de alguns momentos em que o tom parece ser demasiado distante para as circunstâncias descritas. Além disso, alguns dos capítulos referentes a Dom são bastante descritivos, com muitos pormenores sobre a sua experiência de voo e as recordações que repetidamente o perturbam. Isto torna o ritmo de leitura bastante mais pausado, o que, associado à ocasional distância do tom e a algumas perguntas que ficam sem resposta, apaga um pouco o impacto emocional de alguns dos momentos da história. 
História de um romance em tempos difíceis, mas, acima de tudo, do crescimento e da descoberta da identidade própria dos seus protagonistas, Noites de Jasmim apresenta uma interessante visão do lado menos imaginado da guerra, ao mesmo tempo que questiona preconceitos através da vida de uma protagonista humana e determinada. Trata-se, portanto, e apesar de alguns aspectos menos conseguidos, de uma leitura envolvente, com uma escrita cativante e uma boa história. 

Novidade Porto Editora


Ben, filantropo e ambientalista em part-time, e o seu amigo Chon, ex-mercenário, dirigem um negócio bastante rentável de plantação de marijuana em Laguna Beach.
Chon sempre se encarregou de eliminar qualquer ameaça ao seu território, mas agora os dois amigos deparam-se com um problema que os ultrapassa – o Cartel de Baja, o núcleo do narcotráfico mexicano, quer uma parte do negócio e não está disposto a aceitar um «não».
Quando Ophelia, amiga e amante de ambos, é raptada, eles terão de tomar uma decisão: ceder à chantagem, resgatar Ophelia, ou pagar vinte milhões de dólares…
Selvagens é uma combinação hábil de adrenalina e suspense, numa visita guiada ao mundo do crime e da guerra contra o narcotráfico pela mão de um dos mestres do thriller.

Don Winslow, nascido em Nova Iorque e ex-detetive privado, é autor de quinze romances policiais, publicados em vários países.
Selvagens, considerado pelo The New York Times, Entertainment Weekly e The Los Angeles Times um dos melhores livros de 2010, foi adaptado ao cinema por Oliver Stone.
A Porto Editora publicará em breve The Winter of Frankie Machine.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Um Estranho nos Meus Braços (Lisa Kleypas)

Longe de ser feliz no seu casamento, Lara recebeu com um alívio culpado o anúncio da morte do seu marido num naufrágio. Mas agora, um ano depois, chega a notícia de que, afinal, Lorde Hawksworth está vivo, pois o homem que acaba de regressar tem todos os sinais e conhecimentos necessários para provar que não é um impostor. Até mesmo Lara o reconhece... pelo menos, na aparência. Já no comportamento, Hunter parece ser um homem bem diferente, e isso não se resume aos efeitos do tempo passado na Índia. O marido frio e, por vezes, cruel, parece ter dado lugar a um homem sedutor e carinhoso, capaz de despertar em Lara um desejo que ela nunca conheceu verdadeiramente. Mas serão este homem e o seu marido realmente a mesma pessoa?
Centrada, em grande parte, na relação entre o casal protagonista, mas com um toque de mistério associado à identidade de Hawksworth enquanto ele próprio, esta é uma história que, não sendo propriamente surpreendente, cativa, ainda assim, pela leveza e pela envolvência da narrativa. A escrita é relativamente simples, mas fluída e cativante, e a forma como a autora conjuga ternura e emoção (não necessariamente associadas à relação entre Hunter e Lara) com alguns momentos divertidos e algumas situações de tensão fazem desta obra uma leitura agradável e interessante.
Grande parte do enredo diz respeito à sedução de Lara por parte do seu possível marido. Não surpreende, portanto, que a sensualidade seja um dos elementos que se destacam no desenvolvimento da história, juntamente com uma certa emotividade derivada das acções a que Hunter está disposto para reconquistar a esposa. Também aqui não há grandes surpresas, mas mantém-se a curiosidade em saber de que forma irá evoluir a relação entre o casal, principalmente porque os pequenos conflitos entre ambos insinuam a existência de um ponto de viragem que, inevitavelmente, exigirá escolhas e cedências mais profundas da parte de ambos.
O que leva à história para lá do romance. Neste aspecto, fica, por vezes, a sensação de que mais haveria a dizer sobre algumas das situações apresentadas, já que, apesar de representarem um interessante complemento à evolução da relação amorosa, acabam por desempenhar um papel relativamente discreto, deixando a curiosidade em saber um pouco mais. Isto acontece no respeitante às ambições de Arthur e Janet, cujas acções surgem apenas na fase final e das quais poderia ter sido apresentado um pouco mais de planeamento, mas também no que diz respeito ao passado de Hunter e à forma como este se relaciona com algumas das personagens secundárias. Já o mistério de quem é, afinal, o regressado Lorde Hawksworth é explorada da forma mais adequada, já que as pequenas e pouco reveladoras insinuações mantêm vivo o enigma, preparando caminho para um final intenso e surpreendente. Há, ainda, a história da irmã de Lara, também esta explorada de forma relativamente discreta, mas sem deixar perguntas sem resposta e com um agradável sentido de justiça poética na forma como tudo se resolve.
Não é uma história particularmente surpreendente e há pequenas coisas que poderiam ter sido um pouco mais aprofundadas. Apesar disso, Um Estranho nos Meus Braços apresenta uma história leve e envolvente, com personagens empáticas e alguns momentos enternecedores. Uma boa história, portanto.

Novidade Asa


Tiago Rebelo conta-nos as aventuras de um oficial português em Angola, nos finais do século XIX, nos conturbados anos que se seguiram ao Ultimatum britânico, uma época em que a coroa portuguesa se debate com extremas dificuldades militares no interior da colónia.
Num universo de ficção e veracidade histórica acompanhamos a história de sobrevivência do jovem tenente Carlos Augusto de Noronha e Montanha, um antepassado do escritor, que é destacado para algumas das operações mais difíceis no interior de Angola, e o seu romance impossível com Leonor, a filha do governador, rebelde e determinada.
Intensamente apaixonados vêem, no entanto, a sua relação amorosa comprometida por conflitos de interesses que opõem a família de Leonor ao tenente Montanha.

Com uma década de produção literária recheada de êxitos, Tiago Rebelo é um dos escritores portugueses mais lidos e preferidos pelo público, sendo os seus livros presença habitual nos lugares cimeiros das principais tabelas de vendas nacionais.
É autor de grandes sucessos como O Último Ano em Luanda,  O Tempo dos Amores Perfeitos e Uma Noite em Nova Iorque. Com títulos disponíveis em diversos países, desde o Brasil a Angola e Moçambique, foi igualmente editado Itália e Argentina.
A par da actividade literária, Tiago Rebelo tem já uma longa carreira de jornalista, sendo actualmente editor executivo na TVI, e escrevendo regularmente para a revista do Correio da Manhã.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Lírio Vermelho (Nora Roberts)

Na Harper House, Hayley encontrou um lugar onde ficar, um trabalho e uma família - o novo começo de que precisava. Encontrou também algo mais que amizade, ainda que tenha tentado ver Harper como apenas um bom amigo. Mas, quando Hayley decide assumir os seus sentimentos e descobrir se o que sente por Harper é correspondido, o espírito da casa não fica nada satisfeito. É que a Harper House é habitada pelo fantasma de uma mulher a quem todos os sonhos foram destruídos e que julga que os homens não são de confiança. Muito menos se forem descendentes de Reginald Harper...
Tal como nos livros anteriores desta trilogia, e ainda que a história se centre no casal protagonista, há muito mais no enredo para lá do romance entre ambos. Desde logo, há a história da Noiva Harper, um mistério que vem desde A Dália Azul e para o qual têm surgido algumas respostas, mas que apenas neste livro é explicado na sua totalidade. Amelia ganha protagonismo neste livro em que, mais que uma interferência secundária nos problemas das protagonistas, o seu passado e o desejo de vingança para além da morte interferem directamente na vida de Hayley, sendo, aliás, o grande obstáculo na sua vida. Assim, a história da Noiva Harper, quer enquanto mulher, quer enquanto fantasma, acaba por se tornar um dos elementos dominantes ao longo de toda a história, juntamente - como não podia deixar de ser - com o romance entre Hayley e Harper.
Ainda que quase tudo no enredo diga respeito, principalmente, a Hayley e Harper (com excepção dos passos finais, que dizem respeito, em tudo, aos protagonistas dos três livros), há todo um grupo de personagens já familiares que se unem e interagem no sentido de ultrapassar os obstáculos. Assim, e mais até que a ligação romântica entre o casal, é este sentido de união e de empatia que se cria entre todas as personagens (os protagonistas dos outros livros, as crianças, o discreto, mas sempre presente, David) o que mais cativa neste livro e a base de alguns dos momentos mais enternecedores.
Quanto ao romance, não é propriamente difícil prever o rumo dos acontecimentos, até porque já havia, nos livros anteriores, algumas pistas  sobre o que estaria para acontecer. Ainda assim, é interessante a forma como, gradualmente, a autora dá a conhecer as suas personagens, com todas as qualidades e defeitos que possuem, numa relação que, longe de ser perfeita e apesar de todas as barreiras, resiste às dificuldades. Dificuldades que, por vezes, são criadas pelos próprios envolvidos, mas que a situação do fantasma ajuda a pôr em perspectiva.
Com uma escrita agradável e uma história que, não sendo particularmente inesperada, cativa e surpreende pelos momentos mais emotivos e pelo agradável sentido de humor, trata-se, portanto, de um livro leve e envolvente, com um interessante toque de sobrenatural a complementar uma história de romance, amor e amizade. Gostei.

domingo, 19 de agosto de 2012

Nove Semanas e Meia (Elizabeth McNeill)

Tudo começou com uma troca de palavras com um desconhecido, mas rapidamente evoluiu para um contacto mais íntimo. Durante pouco mais de nove semanas, uma mulher deixou-se envolver numa estranha relação, obsessiva, disfuncional, ditada pelas regras da submissão e do prazer pela dor. Percorrendo as memórias desse período, este livro acompanha as mudanças na relação entre os dois protagonistas e a forma como os limites da narradora são testados, à medida que ela analisa o seu companheiro e a sua própria percepção do que está a acontecer, deixando-se, ainda assim, conduzir até ao limite.
Este é um livro que deixa impressões contraditórias. Relativamente breve e escrito de forma cativante e sem grandes elaborações, apresenta uma história envolvente, apesar de uma boa medida de estranheza no que toca à relação apresentada. Há, também, um toque de mistério na forma como a narradora conta a sua história, insinuando desde cedo o rumo que a relação tomará, mas deixando os acontecimentos que confirmam a profundidade do seu envolvimento para serem explorados de forma gradual. A estes acontecimentos, que acabam por ser o centro do livro (os pequenos passos e as rotinas são abordadas de forma muito breve), juntam-se longas e detalhadas análises dos comportamentos e do estilo de vida do homem com que a narradora se relaciona, criando um contraste entre uma vida que parece ser definida por disciplina e austeridade e o mundo (aparentemente) sem limites da relação que se estabelece entre ambos.
Se a escrita directa parece ser adequada ao tipo de história que está a ser contado, já no enredo em si fica a sensação de que falta informação. A complexidade da relação entre os protagonistas é explorada até ao limite, particularmente no tipo de actos a que a narradora é capaz de se sujeitar para agradar ao companheiro (dúvidas e imposições incluídas), mas as razões e as características que os levam a viver tão intensamente aquele tipo de relação nunca são realmente abordadas. Há traços de personalidade que são analisados ao pormenor - os que, de alguma forma, se manifestam no contacto entre ambos - mas tudo o resto (vida anterior, relações com o mundo, razões para as escolhas que fazem) é deixado em aberto. Em tudo o resto para lá da estranha relação que os une, as personagens são um enigma.
O mais interessante neste livro acaba por ser a forma como reflecte sobre a obsessão e a dependência em que a narradora acaba por cair, dispondo-se a fazer tudo o que for necessário para satisfazer a vontade do companheiro. É esta a base para alguns dos momentos mais intensos - e também de maior estranheza - de todo o livro, e serve também como ponto de partida para uma interessante reflexão sobre uma certa necessidade de deixar para trás o controlo e as responsabilidades da vida "normal". 
Ficam, portanto, sentimentos ambíguos desta leitura. Na sua abordagem à dependência e à submissão enquanto estranha forma de liberdade, proporciona algo de relevante sobre que reflectir, ao mesmo tempo que apresenta uma história cativante, apesar da sua relativa estranheza. Seria interessante, ainda assim, saber um pouco mais sobre o que move e o que define as personagens para lá da relação entre ambos - e é neste aspecto que fica a sensação de que falta qualquer coisa. Uma leitura interessante, ainda assim.

sábado, 18 de agosto de 2012

O Assassino 50/50 (Steve Mosby)

Ao chegar atrasado ao seu primeiro dia como detective, Mark Nelson está longe de imaginar o caos que será o seu primeiro caso. John Mercer, o chefe da equipa, tem uma reputação impressionante, mas a história do seu esgotamento, dois anos antes, desperta preocupações nos que o rodeiam. E o homicídio daquele dia parece ter relações com um caso do passado, com o caso que motivou o colapso de Mercer. O responsável, conhecido como o Assassino 50/50 já atacou antes, e está de volta. O método parece ter sofrido algumas mudanças, mas o essencial continua igual: o homem escolhe casais como vítimas, e sujeita-os a uma noite de horror, ao mesmo tempo que obriga um deles a escolher qual dos dois sobreviverá ao amanhecer. 
Sombrio e intenso, centrado no que é, em certa medida, uma corrida contra o tempo, este é um livro que cativa desde as primeiras páginas e cedo se torna de leitura compulsiva. A escrita fluída e a caracterização precisa das motivações e pensamentos das personagens juntam-se a um enredo rico em acção e suspense para dar forma a uma narrativa intensa e surpreendente, viciante e, ao mesmo tempo, complexa na forma como explora múltiplas personalidades num cenário em que tudo está relacionado e nada é o que parece.
Há um lado negro em muitos dos aspectos que fazem parte desta história. O mais evidente é, desde logo, o modus operandi do assassino. Assente sobre actos de tortura e manipulação, perturba pelas acções em si, mas também pelas razões que as motivam, já que, na mente retorcida do criminoso, o objectivo está mais em atingir e quebrar a relação que os elementos que a constituem. Isto serve de base a uma muito interessante abordagem aos demónios e complexidades das relações humanas, e não só nos meios que o assassino usa como armas de destruição, mas pela forma como, na mente das vítimas e, de forma diferente, na história passada de Mark e Mercer, a consciência das escolhas e das consequências destas surge como um fardo permanente. Também aqui se reflecte o tal lado negro das coisas, na forma como o autor explora o peso da culpa nas acções das personagens e na forma como esta culpa acaba por influenciar as suas decisões ao longo da investigação.
É fácil sentir empatia para com as personagens. Apesar das circunstâncias tenebrosas e do facto de ser a acção o ponto central da narrativa, a caracterização do que as personagens pensam e sentem e do que as move é completa e equilibrada, revelando tanto o melhor como o pior das suas personalidades em reacção a tudo o que lhes está a acontecer. Aliás, ao construir a narrativa através do ponto de vista de várias das personagens, o autor consegue apresentar a situação de diferentes perspectivas, expandindo também o que cada personagem sente e vê da situação que está a decorrer.
Ainda sobre o enredo e sobre a forma como os múltiplos pontos de vista moldam a percepção daquilo que está a acontecer, importa referir a capacidade do autor de manipular o que está a ser contado sobre a história e as personagens, conduzindo o leitor de revelação em revelação, num enredo em que cada fragmento de informação basta para que tudo mude. Assim, as suspeitas que se mostram erradas e a forma como estas influenciam o curso da investigação mantêm a envolvência numa história que, cheia de surpresas ao longo de todo o percurso, culmina num final marcante e inesperado.
Sombrio,  com um lado negro que se insinua ao longo de toda a história e uma visão particularmente marcante dos demónios interiores das personagens,  O Assassino 50/50 apresenta uma história perturbadora, com um conjunto de personagens fortes e complexas e um enredo rico em acção, suspense e com um toque de emoção. Viciante, intenso e surpreendente... Impressionante.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Desejo (J.R. Ward)

Para Isaac Rothe, manter-se nas sombras é a única forma de se manter vivo. Mas a sua situação complica-se quando o organizador das lutas em que participa decide divulgar a sua fotografia, dando ao seu antigo chefe uma forma fácil de o encontrar. E, como se não bastasse, a polícia interrompe uma das lutas e Isaac é preso, tornando-se assim um alvo fácil para os que o procuram. O passado persegue-o e tudo indica que não terá dificuldades em encontrá-lo. Mas o que realmente vai mudar a sua vida é o momento em que se encontra frente a frente com a sua advogada oficiosa. Grier Childe é uma mulher forte e determinada, guiada pelas perdas do seu próprio passado à missão de defender aqueles que mais precisam, e decidida a salvar Isaac, mesmo que este não queira. Mas a salvação de Isaac é mais que a redenção de um homem relativamente inocente. É uma das encruzilhadas na guerra pelas almas que decidirão o conflito entre o Bem e o Mal e é isso que leva Jim Heron a interferir.
Ainda que a relação entre os protagonistas seja um dos pontos centrais no enredo deste livro, há muito mais nesta história para lá do romance. Na verdade, a grande força deste livro está na forma como a autora equilibra uma relação que, desenvolvida ao longo de poucos dias de tensão, cresce, ainda assim, de forma relativamente gradual, com um enredo rico em acção, mistério e intriga. Na história de Isaac e Grier, a sombra do passado permite uma caracterização sólida das suas personalidades e a complicada situação em que acabam por se ver envolvidos cria, em cenário de perigo constante, grandes momentos de tensão, bem como situações mais emotivas, que equilibram o desenvolvimento da relação, mostrando-a como algo mais que simples atracção física. Além disso, o amor e a atracção estão longe de ser os únicos aspectos relevantes a nível sentimental. A vida familiar de Grier reflecte, de forma marcante, as complexidades dos segredos de família e a forma como as expectativas e as esperanças defraudadas influenciam os afectos, nessa área. Isaac, por sua vez, com as suas recordações do passado e o papel que ele e Jim desempenharam na vida do seu superior, mostram as ligações que se estabelecem entre companheiros, principalmente em circunstâncias extremas.
Mas a história é muito mais que a redenção de Isaac e à descoberta do amor e, a este lado do enredo, já por si uma história interessante e rica em grandes momentos, juntam-se os desenvolvimentos na batalha entre Jim e Devina e, consequentemente, entre o Bem e o Mal. Também neste aspecto há momentos de grande intensidade e situações que revelam muito a respeito dos que as protagonizam. Enquanto forças em conflito, há, entre Jim e Devina, subterfúgios e sacrifícios que revelam um pouco mais da complexidade das suas naturezas. Jim, em particular, torna-se, pelas suas acções, uma personagem ainda mais carismática, quer pelas razões que o movem, quer pela forma como lida com circunstâncias devastadoras.
O romance é, portanto, apenas um dos muitos aspectos que constituem este livro - e nem sequer é o mais marcante. Ainda assim, é a conjugação de todos os elementos - romance, acção, mistério e emoção - que torna a história cativante desde a primeira página. A capacidade de evocar empatia para com personagens - e por sentimentos bastante distantes do ideal do amor romântico - devido às suas personalidades, às experiências passadas e a um percurso que se resume a redimir o que for melhor possível, estende-se até mesmo a figuras do lado dos vilões e isto torna mais intensas as situações de tensão no enredo, porque quase todos podem estar a ser manipulados. O resultado é uma história com vários momentos surpreendentes e um equilíbrio notável entre o romance e os outros componentes da narrativa.
Com um evidente lado sombrio a transparecer em vários dos acontecimentos, mas que é contrabalançado pela ternura dos pequenos momentos e pelo afecto e nos valores que transparecem no que move algumas das personagens, trata-se, portanto, de uma história cativante, de ritmo intenso e com as medidas certas de acção, romance e emoção. Viciante desde os primeiros capítulos e até ao virar da última página.

Novidade Presença


Título Original: The Last Werewolf
Tradução: Ana Mendes Lopes
Páginas: 384
Coleção: Via Láctea Nº 106
PREÇO SEM IVA: 16,89€ / PREÇO COM IVA: 17,90€
ISBN: 978-972-23-4859-1

Jacob Marlowe é um lobisomem solitário, o último da sua espécie. Há duzentos anos que vagueia pelo mundo, escravo dos seus apetites ferinos, que o condenam a devorar um humano a cada nova lua cheia. Mesmo sabendo que irá pôr fim a uma lenda com milhares de anos, Jacob pensa no suícidio. No entanto, em breve Jacob descobre uma razão muito mais forte para querer continuar a viver, quando se apaixona por Tallulah, a última lobisomem. Sangrento, brilhante e sensual, este thriller, que reúne romance e mistério, impõe-se como uma nova e poderosa versão da lenda dos lobisomens.

Glen Duncan nasceu em Bolton, no Reino Unido, em 1965. Estudou Filosofia e Literatura na Universidade de Lancaster e é autor de diversos romances. O Último Lobisomem tem sido um sucesso de vendas na Grã-Bretanha e os seus direitos foram vendidos para diversos países, entre os quais Austrália, Brasil, França,  Alemanha, Itália e Espanha. Os direitos cinematográficos foram adquiridos pelo realizador britânico Ridley Scott.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Paixão (Lauren Kate)

Decidida a encontrar as respostas que todos lhe parecem recusar, Luce entra no Anunciador e recua até ao passado, em busca de uma explicação para o que acontece nas suas múltiplas vidas com Daniel... e para o que mudou a maldição no seu ciclo presente. Através das suas vidas passadas, Luce vê-se a si mesma e a Daniel vivendo de formas diferentes a mesma história de amor, sempre com o mesmo fim. Mas não está sozinha e, enquanto Daniel a segue pelo passado sem que a consiga encontrar, Luce encontra, dentro do Anunciador, um estranho companheiro para a ajudar na sua busca por respostas. Mas será Bill aquilo que diz ser?
Mais centrado agora no percurso de Luce e menos na sua relação com Daniel (ou, pelo menos, com o Daniel da sua encarnação), surpreende, desde logo, neste livro, a mudança operada pela protagonista. Se o seu crescimento era já evidente no livro anterior, em Paixão uma boa parte das decisões de Luce são tomadas por sua própria iniciativa, com algumas influências perturbadoras, é certo, mas sem o silêncio imposto por Daniel. Isto revela um lado mais forte da personalidade de Luce e a forma como esta observa e interfere nas suas vidas passadas permite-lhe não só encontrar algumas respostas como perceber, por si mesma, o que sente. 
Também Daniel, agora com uma presença mais discreta (ou, tal como com Luce, pelo menos na sua encarnação actual) surge agora como uma personagem mais cativante, principalmente devido à revelação do impacto na sua natureza do sucedido nas vidas anteriores. O seu papel neste livro é claramente secundário, relativamente a Luce, mas a eternamente repetida história de ambos serve de base para alguns momentos particularmente marcantes e para um final de grande intensidade, que, deixando ainda bastante sem resposta, abre muitas possibilidades para o que poderá suceder no próximo livro.
Mantêm-se, dos livros anteriores, a escrita simples e directa e o destaque dado a alguns momentos mais emotivos. Mas evidencia-se, quer pelo crescimento dos protagonistas, quer por algumas explicações que são, finalmente, dadas para a maldição, uma interessante evolução a nível de enredo e de caracterização das personagens. Apesar de, por vezes, a história se tornar um pouco repetitiva - resultado de muitas vidas passadas que se encaminham, inevitavelmente, para um fim similar - há algo de relevante a descobrir em quase todas elas e isso contribui em muito para que a história se mantenha cativante, mesmo sabendo, à partida, a conclusão para alguns dos acontecimentos.
Mais empatia para com as personagens, mais respostas apresentadas, apesar do que é ainda deixado por explicar, e um enredo com vários momentos marcantes e um final bem conseguido são os principais pontos na base da considerável evolução deste livro relativamente aos anteriores. O resultado é uma leitura envolvente, com uma boa medida de emoção e que deixa muita curiosidade em ver como se encerrará esta história. Uma boa leitura.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Casa dos Dias Felizes (Nancy Thayer)

Os Wheelright são uma família complicada. Diferentes em temperamentos, mas com um elo comum na ligação à história familiar, são, por vezes, conflituosos e cada divergência é motivo para ainda uma outra discussão. Mas todas as tensões e emoções florescem naquele Verão, quando, como habitual, toda a família se junta na casa de Nantucket e os aniversários, casamentos e resoluções da Reunião Familiar parecem criar ainda mais divergências. Para três das mulheres da família - Nona, Charlotte e Helen - é possível que aquele seja um ponto de viragem. Mas, Charlotte com a sua horta orgânica e a descoberta do que gosta realmente de fazer, Helen, com a tensão de lidar com três filhos muito diferentes e o seu casamento em risco, e Nona, com a sombra dos segredos do passado e a percepção de que a vida já vai longa, serão também a base de umas quantas mudanças na sua já complexa vida familiar.
Centrada nos atritos e tribulações familiares dos Wheelright, esta é uma história que, naturalmente, se define, em grande medida, nas suas personagens. E há bastante diversidade de temperamentos, neste aspecto. Desde as três protagonistas, todas elas bem diferentes, quer como resultado do meio em que viveram, quer pela própria postura perante a vida, aos restantes elementos da família e à forma como influenciam o ambiente que os rodeia, há, na vasta maioria das personagens deste livro, um conjunto de traços bastante vincados que os definem e que se manifestam visivelmente em todas as suas acções. É certo que, em alguns deles, são os defeitos que mais sobressaem, mas são também estes defeitos uma das bases para a tensão que caracteriza toda a convivência entre as personagens desta história.
A outra base está nos segredos que todos eles escondem e na forma como lidam com eles. Neste aspecto, uma das partes mais marcantes do enredo está nas recordações que Nona tem do seu passado, já que não só mostram a forma como a sua família se formou, mas, e principalmente, revelam vários paralelismos entre a sua vida e a de outros elementos da sua família. Na verdade, há muito de similar entre Charity (a sogra) e Grace (a filha). Além disso, o passado dá uma muito boa explicação para o aparente favoritismo de Worth e serve de base para revelar imperfeições nos momentos em que são as qualidades a sobressair do temperamento de algumas personagens.
Ainda que a história se centre em Charlotte, Nona e Helen, dando protagonismo alternadamente às três, os acontecimentos mais importantes têm também um impacto significativo noutras personagens e as acções destas são também relevantes, chegando a estar na base de alguns dos momentos mais marcantes. Há muito a mudar na vida familiar dos Wheelright e esta mudança, associada às complexidades e pequenos atritos das diferentes personagens, leva a que a história evolua a um ritmo pausado, com grandes momentos de tensão a surgir entre pequenas coisas. A leitura acaba por não ser propriamente compulsiva, mas não deixa de ser cativante.
Ficam algumas perguntas sem resposta, na forma como a autora conclui esta história. O futuro de Teddy e a possibilidade de uma relação amorosa para Charlotte são apenas alguns dos elementos que são resolvidos de forma um pouco ambígua. Fica, pois, nestes aspectos, a sensação de que um pouco mais poderia ser dito, mas também a de uma conclusão adequada, em que o futuro das personagens não se encerra nas últimas linhas do texto, mas deixa alguma coisa à imaginação do leitor.
De ritmo pausado, mas envolvente, com personagens de carácter muito vincado, mas que protagonizam momentos marcantes e surpreendentes, A Casa dos Dias Felizes parte da complexidade das relações familiares para criar uma história cheia de conflitos e de pequenas guerras, mas que marca principalmente pela união que prevalece apesar de todos os conflitos. Gostei.