domingo, 30 de dezembro de 2018

Balanço de 2018

Mais um ano a chegar ao fim... e como o tempo voa! Quase parece que foi ontem que estive aqui a fazer a meu balanço de 2017 e, bem, cá estamos nós outra vez.



2018 foi um ano interessante, um ano de novas oportunidades e de algumas decisões necessárias, do contacto de sempre com os amigos dos livros (sim, porque quem diz que as amizades feitas na internet não são a sério não conhece a gente dos livros que eu conheço) e de visitar uma Feira do Livro diferente (este ano, foi a vez da do Porto). Foi um ano profissionalmente produtivo e também um ano de muitas leituras, que somaram o belo total de 301 livros lidos (sim, com alguns livrinhos de poucas páginas pelo meio, e também com um ou outro calhamaço). E boas, principalmente. Tão boas que foi particularmente difícil escolher os melhores do ano entre tanta coisa fantástica que me passou pelas mãos. Mas tem de ser, não é? Por isso, cá vai...


Sim, vou começar pelo segundo volume da série, mas não temam. O primeiro vem já a seguir. E começo por este porque foi precisamente este o livro mais marcante de um ano particularmente proveitoso em termos de leituras. Se o primeiro me tinha enchido o coração de todas as maneiras (já lá iremos), este eleva todas as qualidades do anterior a um novo nível. Erlan torna-se ainda mais notável, a história torna-se ainda mais intensa e devastadora e o mundo expande-se ao ritmo das batalhas e tragédias das suas personagens. Tudo magnificamente escrito, claro, e com uma força tal que é quase como se estivéssemos lá ao lado de Erlan... nos momentos de glória e nos de dor.


E eis o primeiro... que vem logo, logo a seguir no lugar especial que ocupa no meu coraçãozinho negro. Este é o início da história, o que fez de Erlan a alma atormentada que ele virá a ser, as primeiras dores, os primeiros conflitos, as primeiras perdas... e a conquista de um lugar para si num mundo em constante mudança. Erlan é admirável, é complexo, é fascinante. E o mesmo se aplica a tudo o que o rodeia. Este - tal como o volume que se segue - é um livro repleto de acção, de emoções fortes, de intriga, de traição e fascínio... E é mágica a forma como nos vemos transportados para lá. Um exemplo perfeito do que é a magia dos livros. 


Continuando na senda das leituras fascinantes... Este é daqueles que prende logo desde a premissa, com a sua viragem do poder em consequência de um estranho dom desenvolvido pelas mulheres. É todo um mundo novo, cheio de revoluções e também de crueldades, com personagens marcantes, momentos dramáticos e um cenário que não pode deixar de trazer ao pensamento várias questões muitíssimo relevantes. E, claro, apesar de toda a complexidade, tem ainda o dom acrescido de ser absolutamente viciante, o que reforça ainda mais o impacto de todas as suas muitas qualidades.


Não seria eu se não tivesse pelo menos um livro deste autor na minha lista. Situado no mesmo universo da Trilogia dos Espinhos, mas abrindo uma nova história com novos protagonistas, tem as mesmas qualidades dos livros anteriores, a começar pela escrita fascinante e poderosa (daquelas que dão vontade de começar a tomar nota das inúmeras frases brilhantes), e acrescenta-lhe novas personalidades e um protagonista tão moralmente ambíguo como Jorg Ancrath... mas com um pendor bastante mais divertido.


Ah, Sarkan... Começa logo aí a magia desta tão fascinante história. Sarkan, com a sua personalidade ambígua e o peso de uma responsabilidade tão grande nos seus ombros, em contraponto com a impulsiva Agnieszka, com os seus misteriosos talentos. É um daqueles livros que se entranha aos poucos, com cada novo desenvolvimento a aproximar-nos mais das personagens e com os mistérios do seu fascinante mundo a tornarem irresistível a vontade de saber como tudo terminará. Cheio de magia e de beleza, uma história que fica na memória... quase como se a tivéssemos ouvido à lareira, há muito, muito tempo.


Parece ser algo característico desta autora, a construção de personagens que se nos entranham no coraçãozinho. E Nicolau é particularmente propício a isso. Mas há mais: há a beleza da escrita, há um contexto cuidadosamente explorado e há uma história pessoal que é muito mais que apenas a de Nicolau, expandindo-se a toda a sua família, num conjunto de perdas e sofrimentos, mas também de descobertas e de superações. Algo de belo, em suma, e mágico também, à sua maneira.


Uma saga repleta de aventuras, dificuldades, sofrimentos... e emoção, muita emoção. A autora tem uma capacidade notável de nos fazer sentir as tribulações das personagens como se lá estivéssemos, ao mesmo tempo que retrata um período difícil e repleto de questões relevantes. É fácil sentir com e por Nora e isso multiplica o impacto de todos os momentos - sejam eles felizes ou dolorosos. E o final... bem, o final é poderosíssimo. 


Mais um autor que não podia faltar, não é verdade? Já não é surpresa para ninguém que esta série está entre os meus favoritos incondicionais e este novo volume corresponde inteiramente às expectativas. Embora pareça arrancar com uma perspectiva menos pessoal relativamente à protagonista, Helen Grace é sempre Helen Grace. E o seu carisma, associado à sombra sempre presente do que lhe aconteceu ao longo de caminhos anteriores, faz com que a história ganhe uma intensidade profunda, mesmo quando o caso parece não a envolver tão directamente. Irresistível, como sempre. 


E por falar em favoritos incondicionais... Kim Stone é também uma personalidade notável no que toca a policiais e, por isso, está para mim quase ao mesmo nível que Helen Grace. Partilham, aliás, uma personalidade invulgar. Neste livro, Kim Stone revela muitos dos seus demónios pessoais, num caso que é, só por si, bastante maquiavélico e perturbador. O resultado? Uma leitura viciante - que é mesmo a única coisa previsível neste livro.


Termino com uma mistura de estranheza e beleza, na história da futura Madame Tussaud, contada com mestria, equilíbrio e uma perspectiva tão pessoal e profunda que não há como não sentir as dores e a revolta da pequena Marie, à medida que cresce num mundo à beira da revolução. Maravilhosamente escrito, é em todos os aspectos um livro memorável. 

Resoluções de Ano Novo? Nada de muito especial. Apenas continuar neste mundo que tantas alegrias - e gente fantástica - me tem trazido. Continuar deste lado e continuar a ler o mais possível, pois é esta magia dos livros que me faz realmente feliz. E as esperanças de sempre, claro, que são um cliché, mas não deixam de ser verdade: paz, trabalho, amizade e aquele bocadinho de luz que torna a vida um pouco melhor a cada dia.

Um feliz 2019 para todos - e que nunca nos faltem os livros para nos fazerem companhia! 

Sou Uma Rapariga Rebelde (Francesca Cavallo e Elena Favilli)

As Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes contaram-nos a história de muitas mulheres que deixaram no mundo a sua marca. Mas há por aí muitas raparigas com a mesma semente de potencial, não é verdade? Sabemos que sim. Este livro vem precisamente estimular esse potencial, através de um conjunto de desafios e actividades a preencher - que vão desde definir sonhos a reconhecer os próprios medos e a reconhecer as pessoas mais próximas e importantes - que, uma vez seguidos, farão deste livro um verdadeiro diário para uma revolução pessoal.
Diz a capa que se trata de um Caderno para Começar Revoluções e é uma descrição adequada. Embora repleto de cor e com um visual que basta para captar a atenção, todo o espaço é dado a quem o preenche. O tema resume-se a uma muito breve linha. O resto cabe à mente da rebelde que o preencher com a sua própria história e os seus sonhos. Fica, por isso, acima de tudo, a impressão de um desafio: olhar para dentro, responder aos desafios lançados e ficar com uma imagem mais clara do nosso próprio eu.
E desengane-se quem pensa que este livro só é apelativo para as rebeldes mais novas. Embora não o tenha preenchido - continuo a sentir aquela natural relutância em profanar um livro tão bonito com a minha caligrafia tenebrosa - dei por mim, à medida que passava as páginas, a pensar nas respostas que daria a cada um dos desafios. E essa é também uma das qualidades deste livro/caderno: a capacidade de nos fazer pensar. 
Tudo somado, a impressão que fica é a do que a capa do livro nos promete: um caderno para começar revoluções, logo a partir do nosso pensamento e da forma como encaramos o mundo e as nossas aspirações nele. Um livro bonito, cheio de ideias interessantes e um belo desafio para rebeldes de todas as idades.

Autoras: Francesca Cavallo e Elena Favilli
Origem: Recebido para crítica

sábado, 29 de dezembro de 2018

O Dragão de Gelo (George R.R. Martin)

Adara é uma criança de Inverno, o que significa que não tem frio e, ao contrário das outras crianças, conta os dias que faltam para a chegada do Inverno, pois com ele vem o Dragão de Gelo. Tocou-lhe pela primeira vez aos quatro anos, depois voou nele... e, a cada ano, os Invernos foram ficando maiores. Mas o mundo está a mudar e uma guerra distante aproxima-se agora de sua casa. E, quando os dragões do inimigo chegam em pleno Verão, ela tem medo. Mas, por mais que queira voar com o seu amigo para a terra de sempre-inverno, Adara sabe que a sua família corre perigo. E terá de tomar uma decisão difícil.
Muito breve e surpreendentemente simples, principalmente tendo em conta quem é o autor, este é um livro claramente pensado para um público mais jovem, mas igualmente capaz de encantar leitores de todas as idades. Pode ser uma história simples, e até, a espaços, ligeiramente previsível, mas tem a mesma magia dos grandes épicos, com os seus dragões e batalhas. E tem também uma mensagem bonita na sua história de uma amizade profunda, do tipo que faz sacrifícios pelos amigos e que aparece quando mais é necessária.
Surpreende a simplicidade não só do enredo, mas da escrita em si. Ainda assim, este registo tão simples resulta particularmente adequado. Primeiro, porque é da história de uma criança que se trata e a simplicidade parece reflectir a sua inocência. E depois porque as ilustrações acrescentam aquilo que o texto não diz, contendo não só uma imagem muito precisa de Adara, mas também dos próprios dragões, tanto em repouso como em combate. A história é um todo - texto e ilustração - e um todo tão equilibrado quanto fascinante.
Há ainda espaço para uma profunda empatia, pois Adara, criança de Inverno, que não tem frio, não chora nem ri como as outras crianças e parece não ter quaisquer sentimentos, é, afinal, muito mais do que isso e a percepção dos outros funciona inicialmente como factor de isolamento. Também aqui surge a mensagem positiva: nem sempre diferente é mau e nunca sabemos realmente o que vai dentro das pessoas. Às vezes, há magia à espera de acontecer...
Simples, belo e enternecedor: assim se resume, pois, este pequeno grande livro. Uma história cativante e encantadora para aquecer os corações de Inverno e capaz de conter, nas suas poucas páginas, toda a beleza e magia de um mundo inteiro. Muito bom.

Autor: George R.R. Martin
Origem: Aquisição pessoal

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A Casa da Aranha (Paul Bowles)

Fez. Vivem-se tempos conturbados, com o conflito entre árabes e franceses a gerar um crescendo de distúrbios e de tensão. Algo terá de ceder e, quando isso acontecer, nada na cidade ficará igual. Amar, jovem muçulmano sem grandes conhecimentos, mas de profunda devoção, vê-se dividido entre as diferentes perspectivas que cruzam o seu caminho. E quando se depara com dois americanos, a sua mente vê-se ainda mais fracturada. Pois, em busca do seu lugar no mundo, Amar viu-se envolvido com reflexos das duas grandes facções em colisão. E, ainda que não pareça, para eles, Amar é apenas mais uma peça na engrenagem.
Provavelmente o aspecto mais notável deste livro, onde tudo, desde os grandes distúrbios aos pequenos gestos de devoção, transpira política, é a forma vincada e meticulosa como o autor descreve o contraste entre mentalidades. Não só na diferença entre franceses e "nativos" (como uma das personagens se refere aos árabes), mas também nas questões de crença e de forma de estar. Jovem, imaturo, inocente, Amar vê o seu mundo a preto e branco: há o que diz a fé e o pecado. Mas, à medida que desenvolve novos conhecimentos, surgem também novas revelações: o mundo dos "nazarenos" tem também as suas qualidades; já os nacionalistas talvez não sejam tão dedicados à preservação dos costumes como parecem ser. E o que parecia algo simples por que lutar revela-se uma teia de intrigas e planos muito mais complexa e cruel do que parecia à mente de Amar. 
Depois há Stenham e o outro lado da história. Aí, nasce o que parece ser um romance disfuncional e, ao mesmo tempo, também uma guerra de mentalidades entre a evolução à força e a paz dos costumes instituídos. Stenham e Lee representam dois opostos e é Stenham quem parece o melhor dos dois. Mas também aqui, com o evoluir do enredo, as complexidades começam a vir à tona, ninguém é tão bom nem tão mau como inicialmente parece... e, no fim, fica a desolação do abandono, única resposta para uma história em que quase tudo é deixado em aberto.
É, aliás, precisamente este aspecto que deixa sentimentos ambíguos: tudo fica em aberto. Amar descobre, à custa de sofrimento, a crueldade do mundo em que se move. Stenham e Lee descobrem-se mutuamente. E o conflito avança, ainda que, às vezes, de forma algo velada. Mas não há para nenhum deles uma conclusão definitiva: só a estrada vazia de um final triste que é, também, sinal do crescimento do protagonista. Fica, pois, uma certa curiosidade insatisfeita, ainda que também a impressão de um certo sentido. Há vida, afinal, depois da crueldade...
Longo, pausado e meticulosamente construído em termos de cenário e contexto, eis, pois, um livro que exige o seu tempo. Mas, com a sua visão complexa do mundo e a sua história de uma inocência transformada em desolação, é também um livro que deixa as suas marcas no pensamento e no coração. Basta isso para que a leitura valha a pena. E já é muito.

Autor: Paul Bowles
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Um Dia em Dezembro (Josie Silver)

Basta um olhar pela janela de um autocarro para Jack e Laurie sentirem o amor despertar. Mas... o momento passa, Jack não entra no autocarro a tempo e a verdade é que nada sabem um sobre o outro. E, quando voltam a encontrar-se, é com Jack como namorado da melhor amiga de Laurie. Aquele momento fugaz passa a ser um segredo a guardar a todo o custo. Nem Jack nem Laurie querem magoar Sarah, o que faz com que o que sentem um pelo outro tenha de ser sufocado. Os anos passam, a vida move-se. Jack e Laurie constroem vidas distintas. Mas o amor, esse, continua lá. Ainda que, ano após ano de oportunidades desperdiçadas, esse amor possa parecer um caso perdido.
Desde o encontro inicial à sucessão de peripécias e desencontros que definem todo o enredo, este é um livro que faz lembrar as comédias românticas tão típicas desta época do ano, sendo, por isso, uma bela leitura natalícia. Mas é mais do que apenas isso. Embora a história comece num dia em Dezembro, abrange vários anos e um vasto percurso de crescimento para as suas principais personagens. O resultado é uma história surpreendentemente complexa, mas também com toda a leveza que se espera de um livro deste género.
Nem Laurie nem Jack (nem os que lhes são mais próximos) são personagens perfeitas. Pelo caminho, há discussões, desentendimentos, gestos cruéis, desilusões... enfim, a vida, nos lados bons e nos maus. E, se estes comportamentos e atitudes negativas fazem com que a empatia para com as personagens se dilua, às vezes, também é verdade que tornam as personagens mais humanas. Afinal, ninguém é perfeito, não é verdade? E não deixa de ser marcante o facto de Jack e Laurie fazerem escolhas certas e escolhas erradas - e sofrerem as consequências de ambas. 
É também, como seria de esperar, uma história bastante emotiva, já que tudo se encaminha para a resolução de um grande amor longamente adiado. Mas, se a conclusão em si é relativamente previsível, já o caminho até lá chegar - e até mesmo a forma como as coisas acontecem - está longe de o ser. Há vários momentos surpreendentes ao longo do enredo: momentos devastadores, momentos divertidos, encontros, despedidas, laços que se quebram e voltam a formar-se... No fundo, o que parece é que a vida das personagens é completa, não se cingindo à história de amor central. E isso torna tudo mais interessante. 
Há ainda um aspecto aparentemente secundário, mas que contribui também para realçar alguns dos aspectos mais complexos das personagens: as relações entre casais. A forma como a relação entre Jack e Sarah evolui realça as diferenças de personalidade. Já em relação a Laurie e Oscar, são as diferenças de meio social - e até uma certa expectativa de cedência gerada por essas diferenças - o verdadeiro contraste. Mas, à sua maneira, ambos os casais representam o mesmo tipo de imperfeição que os torna humanos e vulneráveis. Às vezes, gostamos um bocadinho menos das personagens pelos comportamentos que têm - mas a verdade é que isso também as torna mais reais.
História de amor à primeira vista e do longo caminho em direcção ao amor, mas história também de gente imperfeita a tentar fazer o melhor possível, trata-se, pois, de um livro leve, mas surpreendentemente certeiro na caracterização das personagens que o povoam. Cativante, emotiva e surpreendente, uma boa leitura.

Autora: Josie Silver
Origem: Recebido para crítica

sábado, 22 de dezembro de 2018

Natal dos Livros



No meu Natal há príncipes e fadas,
Castelos, magos e imaginação,
Palácios de recordações quebradas
E gestos de aquecer o coração.

Heróis, vilões, almas atormentadas,
Fantasmas, ecos, conflito e perdão,
Hinos de glória, luzes abraçadas,
E um cântico real como a ilusão.

No meu Natal vive a chama vertida
Dos sonhos que ficaram noutra vida
E que espalham palavras na memória.

Páginas, tinta e a alma estremecida
Que sonha no papel, enternecida,
Ao ver todas as histórias numa história.

Nos livros, há sonhos todos os dias do ano. Mas, neste tempo de luzes, de família, de lembrar as amizades de agora e as de sempre, importa ter especialmente presente a infindável magia deste mundo: a magia das histórias que nos encantam, que nos levam para outro lado e nos dão a conhecer personagens que facilmente conquistam um lugar no nosso coração, e também a magia das pessoas reais que este maravilhoso mundo dos livros nos dá a conhecer. Pessoas mágicas, maravilhosas, encantadoras, que partilham connosco esta paixão especial, e que nos dão também a conhecer ainda mais pessoas maravilhosas. Porque o Natal dos livros é todos os dias - enquanto houver magia nas histórias e nas pessoas que as amam. 

Um Feliz Natal para todos, com livros e gente fantástica por companhia.

Vampiros Emocionais (Dr.ª Christiane Northrup)

Vampiros emocionais: pessoas que, devido a diferentes transtornos de personalidade, estabelecem relações disfuncionais, sugando a energia daqueles que lhes são próximos. É este o conceito que serve de base a este livro que, misturando perspectivas do âmbito da psicologia, elementos da espiritualidade e algumas facetas das terapias alternativas, pretende ser um guia para a superação desse tipo de relações. E, ao misturar elementos tão distintos, é apenas natural que surjam sentimentos contraditórios.
O ponto forte está nas questões de personalidade: a forma como a autora descreve os comportamentos dos ditos vampiros emocionais, a forma como as relações são afectadas por essas personalidades, e a análise dos diferentes tipos de transtornos permite uma visão bastante interessante do impacto destes transtornos na vida dos próprios e, principalmente, dos que com eles convivem. O mesmo se aplica à descrição que a autora faz dos empáticos - que pode gerar nos espíritos mais sensíveis uma sensação de familiaridade.
Começam aqui os sentimentos ambíguos: é que a autora leva o tema para uma visão bastante mais espiritual do que à partida seria de esperar. Vidas passadas, almas velhas, amor divino, fluxos de energia... Neste ponto, começa a ser necessária uma certa base de crença para assimilar este tipo de interpretações. Não deixa de ser uma visão curiosa para quem se interessa por este tipo de temas, mas acaba por passar para segundo plano o que parecia ser a linha central do livro: os ditos transtornos de personalidade.
E, à medida que a leitura prossegue, vêm à tona os pontos negativos, particularmente surpreendentes dado o facto de a autora ser médica: da associação de doenças graves a estados emocionais ao discurso anti-medicina, anti-vacinas e alimentado por uma certa diabolização do "sistema" e das empresas farmacêuticas (chegando ao ponto de afirmar que os médicos têm "uma receita para cada maleita"), surge um registo perigoso, como que de teoria da conspiração, e que nunca convence realmente, em parte devido a ideias como a de que o aumento da esperança média de vida se deve a factores espirituais (sendo a medicina e a tecnologia a fonte e origem de muitos dos males). 
Fica, pois, a impressão de uma leitura com algum material relevante, mas a ler com uma saudável dose de cepticismo. Muito interessante no que toca às questões de personalidade, e até mesmo nalguns aspectos da espiritualidade, peca pelo excesso nos ataques à ciência. E é pena, porque, para as outras facetas, o potencial é bastante.

Autora: Dr.ª Christiane Northrup
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Olá, Universo (Erin Entrada Kelly)

Virgil Salinas é um rapaz com dificuldades em sair da casca, daí que a família lhe chame Tartaruga. Mas, embora lhe custe falar com a rapariga de quem quer ser amiga, o universo está prestes a intervir em seu favor. Tudo começa com uma coincidência - que faz com que Virgil, Valencia e Chet (o pior inimigo de Virgil) passem pelo mesmo local no mesmo dia. Seguem-se alguns problemas e mal-entendidos que acabam com Virgil a precisar de ser salvo e Valencia e Kaori (uma médium de doze anos) à procura dele no bosque. Porque, quando o universo conspira, as coisas acontecem. E, se Virgil não tem coragem para falar... então talvez precise de uma ajudinha. 
É nas diferenças de personalidade entre as várias personagens que reside uma das principais forças deste livro. Nenhum dos principais intervenientes é o que se poderia considerar o habitual miúdo popular, mas, cada um à sua maneira - Virgil com a sua introversão, Valencia com os problemas auditivos, Kaori com a sua ligação ao espiritual e até mesmo Chet, que usa o comportamento de rufia para mascar o medo - todos deixam uma marca muito própria na história. Há, pois, desde logo uma mensagem positiva a retirar daqui: a diferença existe e é algo de natural. 
Depois, há o enredo propriamente dito. Tudo parece girar em torno de uma espécie de destino - ou, pelo menos, de uma ideia de que o universo parece agir em favor do encontro de duas das personagens. Ainda assim, a história nunca se torna previsível nem demasiado mística - isto apesar dos peculiares talentos de Kaori. Muito pelo contrário. Se não é propriamente difícil prever a resolução da situação de Virgil no poço, já no que toca à ligação entre Virgil e Valencia, o final tem o seu quê de inconclusivo. E, se é certo que fica uma certa curiosidade insatisfeita acerca das questões deixadas em aberto, também o é que o essencial está lá. E faz um certo sentido, quando há tantas possibilidades pela frente, que muita coisa fique também em aberto.
Importa ainda referir a escrita, bastante simples, mas também bastante eficaz na forma como transmite as emoções das personagens. Os capítulos dedicados a Virgil são particularmente marcantes, mas há uma sensação global de que, para todas as personagens, há como que um abrir de portas para o seu mundo interior. Ora, sendo que todas as personagens têm pensamentos notáveis (com a excepção talvez de Chet, que serve, ainda assim, o seu propósito), esta visão precisa do que as move torna a história bastante mais cativante. Ao mesmo tempo, claro, que realça o que torna única cada uma destas personagens.
Trata-se, pois, de uma história relativamente simples, mas cheia de momentos marcantes e com uma mensagem muito positiva. Um livro sobre a unicidade de cada um - e também sobre o que nos torna corajosos. Gostei. 

Título: Olá, Universo
Autora: Erin Entrada Kelly
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Mistério em Branco (J. Jefferson Farjeon)

Quando, em plena véspera de Natal, um comboio fica preso na neve, os passageiros estão longe de imaginar que os espera o mistério das suas vidas. Ansiosos por chegar aos respectivos destinos, decidem sair do comboio e dirigir-se a pé a outra estação, mas acabam por se perder e encontrar refúgio numa casa aparentemente habitada, mas onde não se encontra ninguém. Eis o primeiro enigma: que é feito dos donos da casa? Mas o enredo adensa-se com a chegada de novos elementos e o conhecimento de uma morte no comboio. Começam então a surgir as suspeitas - mas também as pistas para o desvendar do mistério. 
Parte do que torna esta história cativante é a sucessão de reviravoltas que parece definir todo o enredo. Não é propriamente uma leitura compulsiva, não havendo, aliás, grandes rasgos de acção, mas a passagem de uma situação de isolamento para a possibilidade de um crime e depois para a de vários faz com que haja sempre uma surpresa ao virar da esquina. Além disso, ao haver muitas personagens reunidas num espaço reduzido, cria-se uma margem de suspeição capaz de pairar sobre todos. Não necessariamente no que respeita ao crime - há, aliás, um suspeito evidente - mas às motivações e comportamentos, principalmente no que toca ao extravagante Sr. Maltby. 
É um policial clássico, daqueles que vivem mais das pistas e da dedução do que propriamente da tensão e do perigo. Ainda assim, isso não lhe retira qualquer envolvência. Há algo de intrigante na forma como as verdades vêm à superfície, não só através de raciocínios lógicos, mas também com uma notável presença... espiritual. Surpreende, pois, também esta faceta psíquica do enredo, que faz com que parte dos passos dados pareçam nascer de pressentimentos... para depois lhes conferir também uma nova perspectiva.
Não quer dizer que não haja tensão, entenda-se. Desde as deambulações no meio da tempestade de neve às situações provocadas pelo misterioso Smith, há várias situações intensas a contrapor à aparente serenidade de espírito com que o mistério é desvelado. O que cria um contraste interessante, pois, sendo embora um livro mais pausado, consegue, ainda assim, surpreender com os seus picos de intensidade.
Tudo somado, fica a impressão de uma leitura misteriosa e cativante, com personagens peculiares e um enredo que, apesar de relativamente pausado, consegue, ainda assim, prender do início ao fim. Uma boa história, em suma, e um belo enigma natalício.

Autor: J. Jefferson Farjeon
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O Pai Natal e Eu (Matt Haig)

Depois das dificuldades por que passou no albergue, Amélia Wishart tem agora uma nova vida na Elfolândia. Mas, embora haja muito de divertido por ali, nem tudo é fácil. Enquanto única humana - ou pelo menos, a única humana que não foi mergulhada em magia - Amélia sente que não pertence realmente ali, pois não tem jeito para fazer a maioria das coisas que os elfos fazem. E quando o Pai Vodol, o velho inimigo do Pai Natal, começa a espalhar as suas mentiras, Amélia sente que precisa de fazer algo. Não sabe o quê, mas ficar quieta não é uma opção. Até porque, se o Pai Vodol conseguir o que pretende, então deixará de haver Natal.
Recuperando o espírito aventureiro de A Rapariga que Salvou o Natal e também o misto de ternura e vulnerabilidade de Um Rapaz Chamado Natal, este livro conjuga o melhor de ambas as histórias para dar forma a uma aventura cativante, divertida, mas com espaço também para grandes rasgos de emoção. É fácil compreender Amélia e as suas apreensões, sabendo que não pertence ao mundo que deixou, mas também que é totalmente diferente dos que a rodeiam. E é especialmente fácil sentir com ela, pois as dúvidas que a assaltam e a situação em que se vê envolvida conseguem, apesar de toda a abundância de magia, ter muitos e notáveis paralelismos com as pequenas grandes dificuldades do quotidiano real.
Há sentimentos profundos nesta história. Mas há também uma aventura, cheia de perigos, de intrigas, de revelações e de acção. Amélia terá, mais uma vez, de salvar o Natal, com a ajuda dos mais improváveis aliados. E, pelo caminho, talvez descubra o seu lugar. É isto que torna a história tão interessante: há um destino, e um destino muito importante, mas há também uma jornada que é tanto de aprendizagem como... bem, de diversão. Desde a falta de contenção da Duende da Verdade à peculiaridade dos vilões, há em toda esta aventura tanto de humor como de emoção. O resultado é uma aventura irresistível.
E, claro, também neste terceiro livro não falham as deliciosas ilustrações que, com o seu estilo invulgar e a expressividade que conferem à história, complementam na perfeição a beleza e a fluidez da escrita de Matt Haig. Dão mais vida a uma história que, embora pensada para os mais jovens, contém em si algo de universal.
Cheio de ternura, de magia e de esperança, trata-se, pois, de uma história emotiva, cativante e cheia de surpresas. Uma deliciosa aventura para entrar no espírito natalício e lembrar o que realmente importa - nesta época e também no resto do ano. Recomendo. 

Autor: Matt Haig
Origem: Recebido para crítica

domingo, 16 de dezembro de 2018

Pocketful of Dreams (Jean Fullerton)

1939. Vem aí a guerra e, para os Brogan, como para muitas outras famílias, há medos e possíveis perdas a assombrar-lhes os pensamentos. Mas são uma família corajosa e a vida tem de continuar mesmo perante o medo. Por isso, cada um escolhe a sua forma de lidar com a situação. Mattie Brogan, a filha mais velha, decide ajudar no esforço de guerra e é assim que conhece um jovem intrigante. Mas o seu coração está noutro lado: pois chegou um novo padre à sua paróquia, um padre com uma aura de mistério que parece fasciná-la e atraí-la. E, embora tal romance pareça impossível, a verdade alterará tudo. Pois o Padre Daniel McCree não é exactamente quem diz ser. E os sentimentos de Mattie por ele são correspondidos.
Provavelmente o aspecto mais impressionante neste livro é o facto de se tratar essencialmente de um romance, mas nunca apenas uma história de amor. Sim, grande parte da história gira em torno de Mattie e Daniel, mas há muito mais para além disso. Há a guerra e as dificuldades que traz à vida das pessoas. Os movimentos secretos das diferentes facções, desde as que tentam defender o país aos que, em segredo, simpatizam com o inimigo. E há também um retrato muito preciso das mentalidades da época, com os ataques a judeus levados a cabo pelos simpatizantes nazis a contrastar com os ataques aos residentes italianos motivados pela guerra.
É, portanto, uma história bastante complexa, com muitos ângulos a considerar. E é, todavia, também um romance, e um romance bastante intenso. Há algo belo a acontecer entre os protagonistas e esta beleza é intensificada pela escuridão do mundo à sua volta. Daniel está numa situação muito delicada e Mattie tem os seus próprios problemas, mas o crescimento natural dos seus sentimentos e todos os momentos intensos, comoventes e perigosos que isto gera tornam esta história muito cativante.
E depois há as outras personagens: também os outros Brogan parecem ter as suas próprias histórias, algumas reveladas neste mesmo livro, outras deixando a muito agradável sensação de que haverá muito mais a descobrir sobre esta família. A Cathy parece ter calhado uma situação particularmente difícil e difícil de superar. E estas histórias, fundindo-se com a de Mattie, contribuem para dar forma a um todo mais complexo: não há finais perfeitamente felizes em temos de guerra. Alguns podem nem sequer ter o seu final feliz, o que dá mais força a cada momento de alegria - por mais fugaz que possa ser.
Situada em tempos sombrios, mas repleto de emoção, trata-se, pois, de uma história de amor em tempos de guerra. Uma história maravilhosamente escrita, com personagens notáveis e um enredo que, completo em si mesmo, tem todo o potencial necessário para ser o início de uma saga brilhante. Belo, emotivo e cheio de surpresas, um livro memorável.

Autora: Jean Fullerton
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

O Presidente Desapareceu (Bill Clinton e James Patterson)

Uma ameaça sem precedentes paira sobre a Casa Branca. A qualquer momento, um vírus informático pode erradicar toda a tecnologia dos Estados Unidos, causando caos e destruição a uma escala nunca antes vista. E resta muito pouco tempo para o travar. A melhor hipótese é seguir os passos de dois dissidentes que parecem determinados a correr o risco de ajudar o presidente. Mas, para isso, Jonathan Duncan terá de seguir as instruções, mantendo todo o seu pessoal às cegas numa tentativa de prevenir o ataque - ou então de minimizar os estragos. Até porque uma coisa é certa: há um traidor no seu círculo interno. E descobri-lo pode ser secundário face à necessidade de travar o vírus, mas é, ainda assim, necessário.
Há uma característica que é, à partida, expectável neste livro, a partir do momento em que tem o nome de James Patterson na capa: será, certamente, uma aventura viciante. E esta expectativa é altamente cumprida, não só devido à intensidade do enredo, que é todo ele uma corrida contra o tempo, cheia de acção e de reviravoltas, mas também à construção das próprias personagens, que, movendo-se num mundo implacável, fazem sobressair, acima de tudo, as qualidades que as sustentam em tempos de crise.
Parte do que torna tudo tão intenso é o protagonista. Jonathan Duncan, enquanto presidente de uma super-potência, tem de tomar decisões difíceis e escusado será dizer que a política e a estratégia desempenham um papel fulcral neste livro. Mas é também uma personagem profundamente humana e inesperadamente complexa: a perda da esposa, a doença, o passado apenas ligeiramente aflorado, mas mais do que suficiente para despertar empatia e a forma como equilibra as necessárias manobras políticas com uma vontade profunda de fazer algo de bom acrescentam à figura do presidente uma nova camada de complexidade que o torna muito mais interessante. E, claro, há o seu lado vulnerável: não é apenas o presidente que dita ordens ao ritmo da crise. É um homem que se preocupa, angustia e sofre com o que está a viver e com o que tem de fazer.
E, claro, isto é essencial para potenciar o impacto de tudo o resto, pois grande parte da história gira em torno de relações de confiança e traição. O vírus, com todos os passos necessários para o combater, pode ser o elemento central nesta corrida cheia de acção e de perigo, mas é ao acrescentar os outros elementos que a história se torna memorável. Bach, com o passado que a levou às circunstâncias actuais. Carolyn, braço direito de Duncan. Kathy, alvo de todas as suspeitas. Augie, criador do vírus e potencial salvador. Todas estas personagens são mais do que inicialmente pareciam e é também isso que torna o enredo tão fascinante. E o fim... o fim é de uma intensidade irresistível, cheio de surpresas e profundamente satisfatório.
Intenso, viciante, cheio de personagens marcantes e com um enredo sempre surpreendente, trata-se, pois, de um livro que, apesar de extenso, se devora quase de uma assentada. Surpreendente na história, mas também na construção das personagens, uma belíssima aventura que é muito mais do que apenas um thriller político. Recomendo.

Autores: Bill Clinton e James Patterson
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Alves e Cª (Eça de Queirós)

Godofredo Alves tem uma vida pacata. Dá-se bem com o sócio, a sua vida doméstica é tranquila, ama a sua Lulu e nada lhe falta na vida. Mas essa tranquilidade desfaz-se no dia em que, ao voltar a casa, encontra Lulu nos braços do seu sócio. A cólera é insuportável. O primeiro que lhe ocorre fazer é pôr a esposa na rua. Depois exigir a Machado o preço daquela traição - de preferência em sangue. Só que, passada a fúria inicial, começam a vir à tona os obstáculos logísticos. E os amigos que escolheu como testemunhas começam a fazê-lo ver a razão e tudo o que perderá se persistir na ideia do duelo.
Um dos aspectos mais surpreendentes deste livro é que, embora relativamente breve, (principalmente se o compararmos com, por exemplo, Os Maias) contém a mesma exacta precisão na descrição dos hábitos e pensamentos das personagens. O cerne da história é um acontecimento dramático, mas, em volta dele, giram questões bastante mais práticas: se a mulher é posta fora, é, ainda assim, preciso pagar-lhe uma mesada; se vai haver duelo, então tudo tem de ser acertado; e, se houver reconciliação, então tanto as relações pessoais como as profissionais têm de ser acauteladas. É uma história de traição, e isso implica dramatismo, mas é também uma história em que as minúcias da vida quotidiana assumem o seu respectivo peso. Do equilíbrio destas duas facetas resulta uma história muito surpreendente.
Também interessante é a forma como este contraste entre dramático e pragmático é transposto para a mente do próprio protagonista. Se inicialmente o marido traído surge como a figura compreensivelmente exaltada e furiosa, o certo é que não é só na mente dos amigos que as questões pragmáticas começam a surgir. O próprio Godofredo, que primeiro anseia pela morte, depois pela vingança, começa a ver todas as possibilidades de uma forma mais lúcida - pesando não só a justa retribuição, mas também o que poderá perder com ela. Surpreende, pois, este contraste, mas acaba também por fazer sentido - pois a vida da personagem não se resume a Ludovina e o mundo continua a girar. 
E há, claro, uma análise de mentalidades a retirar desta história: fruto do seu tempo, Godofredo pensa em primeiro lugar em lavar a honra, de preferência com morte. Mas, à medida que o bom senso se manifesta, as coisas vão mudando, gradual, mas naturalmente. É também esta a beleza da escrita de Eça de Queirós: há toda uma mudança de pensamento escondida nas linhas do enredo. E também ela não deixa de surpreender. 
Lê-se de uma assentada e surpreende a cada instante. E, com a sua mistura de grandes gestos dramáticos e superação pragmática das circunstâncias, traça também um retrato de um pensamento em mudança - em Godofredo e também no mundo que o rodeia. Vale, pois, a pena descobrir esta história. Vale muito a pena.

Título: Alves e Cª
Autor: Eça de Queirós
Origem: Aquisição pessoal

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Uma Magia Mais Escura (V. E. Schwab)

Partilham um nome, mas é mesmo a única coisa que as quatro Londres têm em comum: uma transborda de magia, outra quase não a tem, a terceira fez da magia um poder que a esvai gradualmente e a última deixou que a magia a destruísse. Têm o mesmo nome, mas estão totalmente separadas - excepto para os poucos que, como Kell, conseguem viajar entre mundos. O seu dom particular fez dele embaixador da realeza da Londres Vermelha, mas não basta isso, nem a capacidade de ver todos os mundos, para satisfazer os anseios de Kell. Como passatempo, leva objectos entre os mundos e vende-os a quem puder pagar o seu preço. Mas o que devia ser um hábito inofensivo, embora altamente ilegal, torna-se extremamente perigoso quando Kell dá por si na posse de um talismã da Londres Negra. A partir daí, tudo se complica... e Kell precisará de toda a ajuda possível para se livrar daquele objecto sem se perder pelo caminho.
Com o seu mundo fascinante, personagens carismáticas e enredo cheio de surpresas e de momentos marcantes, este é um livro cheio de qualidades e um daqueles que prendem desde a primeira página para, uma vez terminada a leitura, ficarem como que gravados a fogo - ou a magia - na memória.
Tudo começa com Kell e a sua personalidade fortíssima, capaz dos mais audazes dos gestos (um pouco à semelhança do seu príncipe), mas também consumido por angústias interiores. Kell, com o seu delicioso carisma a despertar uma curiosidade imediata e depois, com o evoluir dos acontecimentos, uma empatia tão profunda que é quase como partilhar das suas dificuldades. Depois vêm os outros: o exuberante Rhy, a fascinante Lila Bard, os maquiavélicos monarcas da Londres Branca e até mesmo o esquivo Holland. Todos têm os seus traços especiais. Todos cativam à sua maneira, despertando sentimentos fortes, sejam de proximidade ou de aversão. E, no contexto que os une, todos contribuem de forma notável para tornar esta aventura tão marcante.
Há também o mundo em si, cheio de particularidades e com um equilíbrio interessantíssimo. Às diferenças entre as várias Londres, com a sua ligação à magia, mas também à forma como os seus habitantes vêem o poder, juntam-se os mecanismos da própria magia, as diferentes formas como pode ser controlada - ou utilizada para controlar - e a vida subjacente ao que aparenta ser apenas uma ferramenta. E tudo isto vai sendo descrito de forma gradual, surgindo à medida que é necessário ao enredo, o que torna tudo mais natural e também mais surpreendente.
E há, claro, o enredo em si e a belíssima voz que a autora confere à sua história. Sempre intensa e cativante, a escrita realça na perfeição o impacto de todos os momentos, sejam eles uma batalha, um pequeno roubo, um rasgo de emoção ou uma divertida e acutilante troca de palavras. Tudo tem o tom certo, o que é especialmente impressionante se tivermos em conta a complexidade das circunstâncias das personagens. E, no fim, tudo faz sentido, pois também a forma como tudo termina é natural.
Dificilmente se poderia pedir um início de série mais promissor. Intenso, viciante, cheio de surpresas, prende desde os primeiros momentos. E, com as suas personagens marcantes, o seu mundo em tudo fascinante e o seu enredo memorável, deixa as melhores das expectativas para o que virá a seguir. É desta matéria que se fazem as grandes histórias - e este livro é, sem dúvida, uma delas. 

Autora: V. E. Schwab
Origem: Aquisição pessoal

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O Feitiço da Lua Azul (Joanne Harris)

Ela é uma criatura sem nome e é isso que lhe permite viajar na pele de todas as criaturas vivas. Selvagem e sem alma, é livre, como todos os que pertencem à gente viajante. Mas tudo muda quando o seu caminho se cruza com William, um jovem e belo nobre que lhe conquista o coração. Por ele, ela aceita sacrificar a sua liberdade e aceitar o nome que ele lhe deu, para que possam ficar juntos para sempre. Mas, por mais verdadeiro que seja o coração dela, o amor de William não o é. E, perdidas todas as esperanças, só há agora uma forma de ela recuperar a sua liberdade: vingança.
Com os seus capítulos curtos e uma aura de mistério que nasce logo nas primeiras páginas e se prolonga até ao fim, este é um livro que facilmente se torna viciante. Primeiro, pelo enigma da protagonista, cuja natureza peculiar desperta, desde logo, a vontade de saber mais. Depois, pelo crescendo de intensidade e de fúria que pauta a evolução do enredo, passando de um amor inocente à mais meticulosa das vinganças, sem nunca perder de vista a magia quase fantasmagórica que move as personagens. E finalmente a revelação de que, tal como tudo é mais complicado do que parece, também tudo parece ter um qualquer sentido - ainda que não seja o que inicialmente esperávamos.
Ao contar a história pela voz da protagonista, o livro acompanha essencialmente a sua perspectiva: o que se passa do lado de William, primeiro nos afectos e depois nas perseguições, é visto sempre pelo olhar parcial da narradora. Mas, embora isto imponha algumas limitações, não deixa de ser interessante notar que, dividida entre o amor e a vingança, a protagonista consegue ver as ambiguidades da situação. Sim, os seus movimentos são claros e há algo que sabe que tem de fazer - mas o amor permite-lhe ver o outro lado, ainda que não baste isso para a fazer recuar.
A própria escrita reflecte esta ambiguidade, pois realça na perfeição os sentimentos contraditórios que habitam a alma da protagonista. E mais: a forma como descreve a sua natureza, as transformações, o instinto selvagem que nunca se desvanece, realça o que ela e o seu povo têm de diferente, mas também o coração comum entre as coisas bravias e as coisas amansadas. Nada é linear, nem mesmo nos momentos mais previsíveis. E é também isso - associado, naturalmente, as belíssimas ilustrações - que torna a leitura tão cativante. 
No fim, fica a intrigante sensação de um equilíbrio de opostos: uma história sombria, mas que se percorre com estranha leveza, protagonizada por uma personagem capaz de despertar a máxima empatia, mas capaz também da máxima crueldade. História de amor e de magia, de inocência e de vingança, eis pois um livro que surpreende em todas as suas facetas. E que, viciante desde o início, fica na memória bem depois do fim.

Autora: Joanne Harris
Origem: Recebido para crítica

domingo, 9 de dezembro de 2018

Um Rapaz Chamado Natal (Matt Haig)

O pequeno Nicolau não tem uma vida fácil, mas tem o amor do pai e isso basta-lhe. Até ao dia em que as coisas começam a correr mal. Tudo começa com a chegada de um caçador que convida o pai de Nicolau a embarcar numa expedição em busca da terra dos elfos. Ora, isto significa que Nicolau acaba por ter de ficar com a sua tia, que é tudo menos simpática e afável. Com o passar dos meses e a falta de notícias do pai, Nicolau acaba por decidir ir à procura dele. Mas o caminho é árduo e não basta descobrir os elfos. Pois o que aconteceu à expedição traz algumas verdades difíceis. E só a fé de Nicolau no impossível poderá mudar um pouco as coisas.
Pensado para os mais novos, mas perfeito para leitores de todas as idades, este é um livro que tem muitas qualidades. E a primeira é a mistura de inocência com lucidez, pois Nicolau, sendo uma criança, ainda vê o mundo com a inocência da infância e a sua história é feita de aparentes impossíveis, mas há também verdades duras e dificuldades. A história de Nicolau pode ser mágica, mas não se faz de soluções fáceis. E é talvez por isso mesmo que acaba por ser tão marcante. 
Outra grande qualidade é a magia em si, claro. Magia na história, magia nas capacidades das personagens, magia como força motriz do mundo dos elfos... e magia na escrita. Matt Haig escreve maravilhosamente, e isto aplica-se tanto aos seus romances mais adultos como a estes livros pensados para os mais novos. Há frases simplesmente deliciosas ao longo desta história e tudo parece fluir com total naturalidade. Mesmo quando o que nos é contado é improvável! Além disso, as ilustrações complementam na perfeição a magia do texto, dando caras e corpos às personagens e também um toque peculiar a um cenário já de si incomum.
E depois há as personagens, naturalmente. Nicolau, com a sua infância difícil, a sua crença vincada na bondade e o seu longo percurso rumo à descoberta de quem é, é uma personagem que cativa desde o primeiro contacto e nunca deixa de surpreender com a sua sabedoria inocente. E depois há os que o rodeiam: os sempre peculiares elfos, as renas, a Duende da Verdade... todas estas personagens acrescentam magia à história, além de alguns rasgos bastante brilhantes de humor. E, no fim, todas têm o seu papel na transmissão de uma mensagem positiva e clara: a de que, na vida, nem tudo corre bem... mas também há muito de bom à espreita.
Magia e inocência nas medidas certas: são estes os ingredientes centrais desta história ternurenta, cativante e, a espaços, muito comovente. Uma história para iluminar o Natal de leitores de todas as idades. Recomendo.

Autor: Matt Haig
Origem: Aquisição pessoal

sábado, 8 de dezembro de 2018

História de Portugal: Perguntas e Respostas (Luís Mendonça)

Desde a alegada descendência dos lusitanos aos motivos para a adesão à moeda única, passando por invasões, revoluções, guerras e tratados, sem esquecer, claro, os hábitos e mentalidades dos diferentes períodos históricos: de tudo isto é feito este livro que, através de um conjunto de perguntas que englobam toda a história de Portugal, desmistifica algumas ideias, ao mesmo tempo que apresenta uma explicação sucinta, mas bastante clara, de vários pontos essenciais. São setenta perguntas ao todo. E, nas respostas, há muito para descobrir.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é a forma como consegue abranger uma história tão vasta e, embora não a analisando de forma exaustiva, não deixar de fora nenhum elemento essencial. É verdade que há grandes acontecimentos aos quais não é dedicada uma pergunta específica. Mas estão tão presentes no contexto de algumas das outras perguntas que a informação relevante acaba por estar lá de qualquer forma, sendo assimilada também da mesma forma.
Setenta perguntas, muitos séculos de história e menos de trezentas páginas implicam, naturalmente, que não será uma abordagem detalhada a todas estas questões. Também não parece ser esse o objectivo: para isso, há livros mais concentrados num único destes temas, o que lhes permite uma abordagem mais completa. Ainda assim, é interessante notar que, apesar da brevidade, a sensação que fica é a de ter lido um texto bastante completo, não só por toda a informação essencial estar presente, mas também, talvez, pelo registo algo grave que parece definir a escrita.
É, pois, um livro mais denso do que o habitual neste género de livros dedicados a explorar sucintamente múltiplos episódios históricos. E, sendo por isso uma leitura mais pausada, não perde, ainda assim, nenhuma da sua capacidade de cativar. Até porque o conhecimento transmitido é muito e, apesar da relativa brevidade das respostas, há muita informação interessante para descobrir ao longo desta leitura.
Tudo se conjuga, então, numa impressão bastante positiva: a de um livro que demora o seu tempo, mas que apresenta muita informação relevante sobre a história de Portugal - não só no que respeita aos grandes acontecimentos, mas também aos hábitos e mentalidades. Interessante e cativante, uma boa leitura, em suma.

Autor: Luís Mendonça
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Miss Marley (Vanessa Lafaye)

Clara e Jacob Marley são dois órfãos a viver na rua e todas as noites Jacob promete a Clara que as coisas vão melhorar. Mas, quando isso acontece, é devido a um homem que morreu na rua e esse facto assombrar-lhes-á o caminho até ao fim. Pois Jacob tem apenas um objectivo: garantir que não voltarão a ser pobres. E, à medida que as suas vidas evoluem a partir dessa primeira bolsa dourada, o coração de Jacob começa a mudar. Enquanto Clara se move por compaixão e piedade, Jacob pensa apenas nas suas ambições. E, quando os negócios e os assuntos pessoais começam a misturar-se, revela-se a verdadeira frieza do coração de Jacob.
Jacob Marley é uma personagem célebre. Quem não o reconhece de Um Cântico de Natal? Mas, visto pelos olhos de Clara, este livro mostra um Jacob muito diferente e o caminho que fez dele o fantasma que todos conhecemos. Pois Jake, o pequeno órgão, é muito diferente do homem que surge no fim e a história desta mudança é muito impressionante.
É também uma história muito comovente. Clara, vulnerável desde criança, cresce para se tornar uma mulher com o coração no sítio certo. Há, por isso, um óbvio contraste e um equilíbrio muito delicado entre as acções e pensamentos de Jacob e os de Clara. É Clara a personagem que realmente marca neste livro, com a triste história de tudo o que passou e a sua natureza fiel, compassiva e afectuosa a guiá-la mesmo até ao fim. E é também uma pequena luz entre as trevas do irmão. Um farol de bondade no meio da crueldade dos negócios.
Há em toda esta história uma beleza algo melancólica, algo comovente que a torna memorável. E também a escrita faz parte do que a torna assim. Tudo parece fluir com naturalidade, desde os diálogos mais intensos às descrições dos diferentes cenários. E aquela visão final... bem, é digna do próprio Dickens.
Tudo se resume, pois, a isto: uma história bela, intensa e capaz de partir corações, apresentando uma nova perspectiva para uma muito célebre personagem e introduzindo novos elementos - e também novas profundidades - a um conto já bastante impressionante. Clara e Jacob Marley - na sua perfeita oposição - são ambos personalidades memoráveis. E o mesmo se aplica a esta sua bela história. 

Título: Miss Marley
Autora: Vanessa Lafaye
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O Homem que Matou o Diabo (Aquilino Ribeiro)

Uma visita fortuita fez com que o caminho de Máxima, célebre actriz, se cruzasse com o de Macário, que imediatamente fica enfeitiçado por ela. E agora, incapaz de a esquecer, apesar do seu lugar seguro e do conformismo que sempre o manteve ali, eis que, sem conseguir resistir à tentação, Macário parte numa peregrinação invulgar. É que Máxima incumbiu-o de esculpir o seu busto. E isso - bem como o amor inebriante que o consome - basta para levar Macário a atravessar Espanha e parte de França a pé, passando por inúmeras provações, em nome de um amor que não consegue esquecer. Só que o amor não basta - muito menos para alguém como Máxima. E o que Macário julgava ser o fim da sua via sacra poderá ser apenas o início...
Denso, pautado por vastas reflexões, descrições tão extensas como a paisagem que retratam e uma linguagem também muito elaborado, este é um livro que exigirá o seu tempo, mas que não deixará de trazer as suas recompensas. Leva o seu tempo, porque ao ritmo pausado associa-se uma visão surpreendentemente ampla de certos temas de fé e moralidade - principalmente tendo em conta a quase improvável inocência inicial do protagonista. Mas vale a pena, pois, além da peregrinação física de Macário, com todas as suas aventuras e desventuras, há também como que uma peregrinação interior, da inocência de uma fé cega à percepção de um mundo muito mais complexo e cruel.
Há toda uma multiplicidade de facetas em torno da figura de Macário, personagem central de toda esta aventura. Enquanto homem apaixonado, deixa-se levar pelo seu demónio interior até ao mais amargo dos cálices. Enquanto inocente, vê-se perante um mundo cujas forças nunca conseguirá realmente vencer. E se, ao longo do seu caminho, há todo um conjunto de momentos notáveis - das situações mais caricatas às mais inesperadamente comoventes - é o final que realmente marca. O Macário do final deste livro está muito longe de ser o do início e, mais do que as longas palavras dedicadas ao seu mentor, são os derradeiros gestos que o provam. Do homem que tinha medo dos ruídos do convento abandonado nada resta. E as escolhas, essas... bem, nada faria prever que fossem de tal molde.
Mas, voltando ainda à questão da densidade da escrita, pois faz também um certo sentido que assim seja. A história de Macário é um aprofundar das percepções do mundo, uma descoberta de que a vida é muito mais complexa e mais dura do que o que sempre lhe foi ensinado. É certo que este alongar de explicações e pensamentos torna a leitura mais pausada. Mas também o é que realça a transformação operada em Macário: da inocência de uma criança grande à indiferença de um homem duro como a vida.
Repito-me, pois, em jeito de conclusão, dizendo que é, de facto, um livro que leva o seu tempo, mas que vale muito a pena. Pois, com o seu protagonista invulgar e o atribulado percurso de crescimento para ele construído, consegue reflectir na perfeição algumas das facetas mais duras do mundo e dos homens. E é também essa familiaridade que torna a leitura notável. 

Autor: Aquilino Ribeiro
Origem: Recebido para crítica

domingo, 2 de dezembro de 2018

Almanaque de Natal

Vem aí o Natal. Luzes nas ruas, cânticos natalícios, árvores enfeitadas, presépios, doces... enfim. Um sem fim de pequenas coisas para nos lembrar o espírito festivo. E é de tradições, de histórias, de convívios e... mais uma vez, de doces... que é feita esta quadra. Por isso, o que este almanaque pretende é reunir todos estes aspectos da época numa viagem pelas particularidades do Natal: desde as origens aos hábitos, sem esquecer, claro, o inevitável Pai Natal.
Quer se seja um apaixonado por esta época de luzes, quer um daqueles que acham o Natal uma simples época de consumismo e hipocrisia (e, por isso, se irritam com tudo quanto é natalício), provavelmente há neste livro algo fácil de compreender. Quanto mais não seja a secção intitulada "Eu Odeio o Natal". Mas, gostando ou não, há muito sobre esta época que importa lembrar e descobrir, desde as tradições mais famosas às mais surpreendentes (e um tanto ou quanto aterradoras) criaturas. Este livro é, por isso, ideal para entrar no espírito natalício, mesmo para aqueles para quem esse espírito não é coisa muito abundante.
Mas não é só o teor do livro que é natalício. O próprio aspecto visual grita Natal em cada página, com as ilustrações a reforçar o ambiente festivo que caracteriza todo este Almanaque. É um livro bonito, o que faz dele também - naturalmente - um bom presente de Natal. E é, acima de tudo, um daqueles livros que nos fazem voltar a tempos inocentes: ou não teremos todos um dia ficado todos na esperança de que o Pai Natal descesse pela chaminé e nos trouxesse algo de bom?
Voltando ainda um bocadinho atrás. Há um pouco de tudo neste livro, desde as tradições dos diferentes países aos hábitos culinários, passando pela história, os cânticos, as decorações, várias sugestões (livrescas, naturalmente) de presentes de Natal e até algumas anedotas da época. E há também, no fim, um espaço para um Natal mais literário, com dois contos surpreendentemente angustiantes e comoventes e dois poemas de também surpreendentemente leveza, para nos lembrar que Natal pode ser luz e festa, mas, para alguns, está muito longe de ser perfeito. 
Bonito, cativante, capaz de arrancar sorrisos com a sua escrita leve e o seu retrato animado destes tempos de luz - e também lágrimas com algumas das páginas finais. Assim é este Almanaque de Natal: completo, envolvente e cheio da magia que caracteriza esta época do ano. Muito bom, em suma. 

Origem: Recebido para crítica

sábado, 1 de dezembro de 2018

Plano Natalício de Leituras


Estamos na época das luzes, dos embrulhos, do frio e da música natalícia em toda a parte. Vem aí o Natal. E que melhor forma de entrar no espírito do que... livros natalícios? 
Este ano, decidi tentar algo um pouco diferente. Sem grande organização - até porque os outros livros continuam a chamar por mim - , decidi escolher esta pequena pilha de livros natalícios para intercalar com as (muitas) outras leituras em curso. Por isso, se tudo correr de acordo com este meu plano natalício, estes são alguns dos livros que me vão fazer companhia durante este mês.

E vocês, o que vão ler este Natal?