O fim está próximo, mas o sofrimento está longe de ter terminado. A descoberta da sua família sobrenatural não trouxe paz a Emmy, mas sim a certeza de que uma terrível ameaça paira sobre si e sobre todos os que lhe são queridos. E embora os pactos estabelecidos impeçam a sua família de a atacar directamente, isso não implica que não possam pôr em acção outras peças. Kammi está prestes a regressar, e traz consigo um furioso desejo de vingança. Mas atacar Emmy onde mais dói e também despertar a sua fúria. E a vingança será terrível...
Há algo de fascinante na forma como, a cada novo volume, esta história vai ganhando novas complexidades e desvendando novos mistérios, sem nunca perder o seu contraste certeiro com o que é - assombrações à parte - um cenário de grande simplicidade. Há um equilíbrio poderoso entre a aparente pacatez de Harrow County e as sombrias forças sobrenaturais em conflito nas suas sombras. E, chegados ao penúltimo volume, é inevitável a sensação de que o percurso pode ter sido longo, mas passou com uma rapidez quase sobrenatural, tantas são as surpresas e os picos de intensidade espalhados ao longo da viagem.
Outro contraste poderoso é o que emerge da comparação entre o que é, no fundo, uma separação bem definida entre bem e mal (Emmy e Kammi... ou mais do que isso...) e a ambiguidade resultante do tipo de criaturas e poderes utilizados por ambas. Isto torna-se particularmente evidente na forma como este volume termina, mas é também algo que já vem de trás, com a vontade de Emmy de ser tudo menos o que Hester era, mas a necessidade de recorrer ao seu poder de formas dramáticas. Há, além disso, uma surpreendente profundidade emocional em todo este percurso, que, no caso deste volume específico, ganha ainda mais impacto por surgir de onde - e quando - menos se espera.
Claro que, ao sétimo livro, há certos aspectos que já são familiares, não só a nível de personagens, mas sobretudo em termos visuais. Mantém-se o contraste eficaz entre os tons claros do quotidiano e a escuridão opressiva das partes sobrenaturais, sendo que esta tem vindo a assumir um protagonismo cada vez maior (ou não tivesse este livro o título que tem). Mantém-se a expressividade dos rostos, particularmente eloquente no caso de Emmy e, neste livro específico, no de Kammy. E mantém-se a peculiaridade das criaturas, que alimenta a incessante curiosidade em saber sempre mais sobre o que virá.
Sete livros passados, mantêm-se, portanto, as mesmas qualidades num constante crescendo de intensidade. O mesmo fascínio, a mesma envolvência, a mesma sombria ambiguidade de circunstâncias que contrasta com a firmeza do coração da protagonista. O mesmo equilíbrio, em suma, entre os múltiplos elementos que fazem de Harrow County uma série absolutamente memorável... e prometem grandes coisas para o volume final.
Autores: Cullen Bunn e Tyler Crook
Origem: Recebido para crítica