quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Em Busca da Ilha Fianchair (Laura Vasconcellos)

Guiada pela percepção de um destino que a aguarda, Lynn, a Guerreira, deixa esposo e território para percorrer os mares em busca da misteriosa ilha Fianchair, onde, supõe, voltará a encontrar o seu mestre. Mas Fianchair é um destino desconhecido e o caminho passa por uma longa viagem, feita de caminhos difíceis e de encontros com figuras lendárias que tanto poderão ser aliados leais como traiçoeiros inimigos. Ainda assim, Lynn está segura da sua missão e confiante de que nenhum adversário será capaz de a deter...
Situada no ambiente mitológico celta e contada como que por um narrador que falasse a um público em seu redor, há neste livro alguns pontos de partida interessantes. Desde logo, o papel de Lynn como figura heróica, mas sem perder o que a torna mulher cria curiosidade em seguir as suas aventuras e, além disso, a forma como a protagonista se cruza com várias das figuras essenciais dos mitos celtas cria uma base bastante interessante para a sua aventura. Aventura que é contada num tom que é, no geral, cativante o suficiente, mas que se centra na exposição dos acontecimentos, deixando para um plano muito secundário a caracterização das personagens.
O que me leva aos pontos fracos deste livro. Sendo um romance relativamente breve, fica, por vezes, a sensação de que um maior desenvolvimento, principalmente a nível das personagens, poderia ter tornado a história bastante mais cativante. Centrada nas dificuldades de Lynn e dos seus companheiros, mas sendo estas expostas de forma bastante breve, cria-se a impressão de alguma distância, já que o impacto dos acontecimentos nas personagens e a natureza das suas personalidades não são expostos o suficiente para que se crie empatia. Há ainda algumas falhas de revisão, principalmente no uso do plural majestático, que vêm também prejudicar um pouco o ritmo da leitura.
Fica, portanto, deste livro a impressão global de uma história interessante, com um bom desenvolvimento a nível da abordagem à mitologia, mas que perde pelo escasso desenvolvimento das personagens e pela rapidez com que algumas das grandes dificuldades são resolvidas. Cativante quanto baste e com alguns momentos bem conseguidos, havia, provavelmente, muito mais a explorar nesta história.

Convite

Novidade Esfera dos Livros

Temos que reconhecer que os Santos permanecem para muitos como pessoas misteriosas de cuja vida pouco ou nada se conhece. O que é certo é que estão presentes no nosso dia a dia, em nomes próprios e em nomes de aldeias, ruas e praças. São patronos de paróquias. A eles se dedicaram igrejas, ermidas e capelas que perpetuam a sua memória. As festas anuais, em sua honra, tornam-se momentos de convívio social e expressões de fé que pertencem à identidade do povo português.
Estes santos viveram a mesma condição humana de todos os mortais. Neste livro, o autor, Alberto Júlio Silva,  ilumina o lado menos conhecido destes homens e mulheres, a sua vida em nome de grandes causas da justiça, da caridade e do bem comum, e o percurso que fizeram até atingir a santidade.
Por estas páginas passam os nossos santos e beatos e outros, estrangeiros, que Portugal adoptou e venera com afecto.
São mais de 200 santos e beatos. Saiba mais sobre Sancha, Teresa e Mafalda, filhas de Sancho I e beatas. Santa Rita, um insigne modelo de caridade e abnegação. Santo António de Lisboa, o mais universal dos santos portugueses que terá nascido em 1191 ou 1192 com o nome Fernando de Bulhões. Francisco e Jacinta Marto, beatos, videntes de Fátima e sobre o imperador Carlos I de Áustria, um político patriota que ascende aos altares.

Alberto Júlio Silva (São Miguel de Poiares, Peso da Régua, 1946). Antigo Curso de Filosofia e de Teologia (inc.) dos Seminários Maiores. Cursos do Institut Français de Lisbonne-Université de Toulouse le Mirail e do Istituto Italiano di Cultura di Lisbona. Licenciatura em Línguas e Literaturas Românicas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Frequência do Mestrado em Literatura Portuguesa (FLUL). Trabalhou em Pedagogia da Arte em diversos Museus Nacionais, tendo publicado trabalhos nas áreas da história da indumentária e da arte em Portugal nos séculos XIX e XX.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Mago - As Trevas de Sethanon (Raymond E. Feist)

Ao longo do último ano, a tranquilidade instalou-se em Krondor. Mas no dia em que Arutha apresenta ao povo os seus herdeiros surge também o primeiro sinal de que o inimigo poderá estar de volta. Novas tentativas de assassinar o príncipe e o ressurgir dos Noitibós são apenas parte dos sinais que indicam que Murmandamus prepara uma nova ofensiva. E, enquanto Arutha se encaminha, da melhor forma possível, para o que sabe que será o confronto final, cabe a Pug, o mago, encontrar o feiticeiro que detém todas as respostas, procurando uma forma de deter um Inimigo que é ainda imensamente superior ao que todos julgam enfrentar.
Tal como já acontecera no volume anterior, um dos aspectos mais interessantes deste livro é a forma como a narrativa evolui de um ponto inicial quase leve, partindo de um tom bastante descontraído e com um toque de humor, para avançar para algo de mais sério e mais sombrio, mas que é ainda assim, bastante pessoal (na medida em que diz respeito, no início, às decisões e ao caminho de Arutha), expandindo-se depois para uma situação que pode afectar os rumos de toda Midkemia e que, por isso, envolve todas as suas principais figuras. Constrói-se, assim, uma assimilação progressiva dos acontecimentos, primeiro no que toca à situação de Arutha e à profecia que o lida a Murmandamus (e que é a fonte de muitos dos seus problemas), depois evoluindo para uma visão mais vasta, com grandes batalhas, muita magia e uma série de revelações que culminam num final muito bem conseguido.
Muitas das principais personagens deste livro são já familiares, não havendo tanto desenvolvimento a nível da sua caracterização pessoal. São os acontecimentos, e não os que os protagonizam, o grande foco deste último volume. Ainda assim, há momentos particularmente interessantes a nível de personagens, quer na forma como Jimmy e Locklear acompanham o evoluir da situação (crescendo com ela), quer como alguns regressos e mudanças vêm revelar uma nova faceta de figuras já bem conhecidas. Além disso, se há menos destaque aos dilemas pessoais das personagens, já nas suas interacções há momentos muito bons, quer no que toca aos laivos de humor (principalmente os de Amos Trask), quer nas situações mais emotivas (e aqui, há múltiplas personagens a evidenciar-se).
Envolvente, com um ritmo inicialmente pausado, mas que cresce em intensidade com a evolução do enredo, As Trevas de Sethanon põe fim, de forma cativante e, em vários aspectos, surpreendente, a uma história que, de feita de acção e de magia, mas também de nobreza e de crescimento, apresentou aos seus leitores um mundo complexo e muito interessante. Recomendo.

Novidades Papiro

Quem não deseja a felicidade? Nem sempre a vida nos sorri! É preciso procurar. Sair fora do meio e aproveitar as oportunidades, tantas vezes únicas, mas determinantes para podermos encontrar o que não conseguiríamos se não tivéssemos mudado. Francisco saiu da Luz para salvar a sua aldeia e, depois de tanto dar, salva a terra que herdou e recebe o mundo, porque as pessoas são o universo de tudo e ele encontra finalmente o paraíso, no encontro de vidas. Neste Encontros de vidas, o sétimo livro de Angelino Pereira, todos percebem que a inevitabilidade da velhice acontece porque a natureza tem necessariamente que renovar a vida.

Ricardo Riso é engenheiro civil por parte de pai, sonhador e criativo por parte de mãe. Vive para a sua imagem, é elitista e rege-se por valores efémeros e egoístas. No entanto, uma série de acontecimentos vão fazer com que algum desânimo e frustração tomem conta de si. 
Depois de um casamento falhado, desempregado e pai de um lho com de ciência, Ricardo vai viver uma vida aparentemente vazia até que um acontecimento verdadeiramente marcante, que envolve o seu lho, vai desafiar de forma ímpar a sua criatividade. 
O Querubim Azul satiriza com muito humor este nosso quotidiano onde o material e instantâneo renegam, numa ampulheta de tempo esvaecido, a verdadeira essência da humanidade.

Lina Céu, audaz na procura da sua própria identidade, consegue, por uma necessidade quase egocêntrica de se mostrar poeticamente, concentrar nos seus sonetos a sensibilidade que a vida lhe doou, essa vida que não sendo apenas dela torna a sua poesia ainda mais abrangente porque sentida por aqueles que não a conhecendo se revêem nas emoções que transmite e nos sentimentos que equaciona. Lina Céu poderá experimentar outros voos e outras experiências poéticas, mas o soneto é, para já, a suprema libertação da sua alma, pela evasão dos fantasmas que povoam o subconsciente de quem sofreu, de quem amou e de quem enfrentou os paradigmas supér fluos e antipoéticos da frivolidade e da intolerância.  

Novidade Casa das Letras

Em Outubro de 2006, Benjamin Mee, com a sua mulher, Katherine, os dois filhos pequenos, a mãe de Ben, com setenta e seis anos, e o irmão venderam tudo e mudaram-se para um jardim zoológico degradado nos limites de Dartmoor.
Assumindo a responsabilidade por uma colecção incluindo leões africanos, tigres siberianos e ursos-pardos europeus, juntamente com as responsabilidades igualmente avassaladoras da gestão do pessoal e das finanças do parque, iniciam juntos o percurso por uma vida de desafios novos e recompensas inesperadas. Perseguir um jaguar foragido, exercer diplomacia entre facções desavindas de macacos-verdes, recuperar um lobo em fuga e assegurar uma hipoteca de meio milhão de libras são apenas algumas das exigentes tarefas a concretizar.

No meio de tudo, a família é atingida pela tragédia. Katherine, depois de sobreviver a um tumor cerebral, recomeça a sentir os sintomas da sua doença. Cuidar da sua mulher torna-se outra tarefa a acrescentar às complexidades quotidianas da gestão de um jardim zoológico e da preparação da sua inauguração.
Querida, Comprei Um Zoo é uma história comovente e animadora que relata os esforços da família para reconstruir o parque, em simultâneo com o declínio de Katherine, bem como os seus últimos dias e a forma como a família conseguiu seguir em frente.

Antigo decorador, Benjamin Mee iniciou os seus estudos e a escrita sobre a inteligência animal num curso de Psicologia na University College London, seguindo-se um mestrado em Jornalismo Científico no Imperial College. Tornou-se editor da revista Men’s Health e colunista do Guardian. Mudou-se posteriormente para o Sul de França, iniciando a escrita de um livro sobre a evolução do humor no homem e nos animais. Depois, o jardim zoológico foi posto à venda e tudo mudou…

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Oscar Wilde e os Crimes à Luz das Velas (Gyles Brandreth)

Tudo começa quando Oscar Wilde entra numa sala para se deparar com o corpo de um dos seus jovens amigos - um potencial actor talentoso que Oscar ensinava - morto num cenário peculiar. Para muitos, é apenas uma morte sem importância, mas o afecto de Oscar pelo jovem Billy Wood não lhe permite esquecer o caso. Assim, junta-se aos seus amigos Robert Sherard e Arthur Conan Doyle na tentativa de descobrir o assassino. Mas toda a situação é um mistério e nem as autoridades parecem dispostas a dar ao caso a devida atenção...
Uma história intrigante, escrita de forma envolvente e com a dose certa de humor a acompanhar as aventuras de um grupo de personagens carismáticas são alguns dos pontos fortes desta aventura, a primeira de uma série de investigações protagonizadas pelo excêntrico Oscar Wilde. Conjugando um método de dedução com uma personalidade invulgar e cuidadosamente caracterizada, o autor cria um mistério a evocar as técnicas de Sherlock Holmes, ao mesmo tempo que desenvolve um protagonista invulgar em muitos aspectos, excêntrico numa série de comportamentos, mas, na globalidade, fascinante na conjugação entre o estranho e o admirável.
Contada pela voz de Robert Sherard, é possível ver desta narrativa não só o mistério da morte de Billy Wood, mas uma curiosa mistura de interacções sociais que, gravitando em torno de Oscar Wilde, não se limitam ao seu efeito sobre os que o rodeiam. Na verdade, ainda que seja a caracterização de Wilde a que se destaca, sendo este quem tem o maior protagonismo, também no desenvolvimento das suas relações há muito de interessante, quer no contraste de personalidades entre as várias personagens, quer pela complexidade dos estados de espírito do próprio Wilde, postos em evidência pela forma como o narrador - que é também o amigo - conta a história.
No que toca ao mistério propriamente dito, não é muito difícil adivinhar pelo menos uma das conclusões finais. Ainda assim, este conhecimento que, desde cedo, é insinuado na narração de Sherard, não prejudica em nada o ritmo da leitura, sendo tão interessantes os comos e os porquês do crime e da sua investigação como os resultados que desta se concluem. Além disso, a insinuada suspeita contribui também para que os movimentos das várias personagens possam ser interpretados de forma diferente: as supostas falhas, os suspeitos improváveis, os comportamentos inexplicáveis da parte de algumas personagens... No final, tudo tem uma razão de ser e, mais que a identidade do assassino, é isto que surpreende neste livro.
História de detectives com um investigador peculiar, nem só do crime e da sua investigação vive este livro. E é precisamente da conjugação entre um mistério interessante e as relações entre as curiosas personagens que o protagonizam que resulta a envolvência deste livro. Intrigante na história, fascinante no desenvolvimento das personagens e com um equilíbrio muito bem conseguido entre mistério, emoção e humor, um livro simplesmente viciante.

Novidades Leya para Março

Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta escrita de outro continente. Ou talvez nem aí.
Parece, afinal, mais importante a história do doutor Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte, que um dia andou de bicicleta todo nu. Através de episódios aparentemente autónomos – e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 –, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial. Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde.

Trinta anos depois da morte do pai, o filho, que teve sempre uma relação conturbada com ele, acerta contas com o passado de ambos. Inspira-se na «Carta ao Pai», de Franz Kafka, um escritor por quem nutre uma doentia, mas fértil, obsessão.
Uma canção de embalar, «Cala a boca», – a mesma que o pai lhe cantava para o adormecer – serve-lhe de bússola. É também sobre essa canção que assenta a estrutura do livro. Ribamar é um romance que se expõe. Um romance sobre a dor de escrever um romance.

Para escrever este romance, Sem-Sandberg, que com ele conquistou o Prémio August, inspirou-se no arquivo do gueto de Lodz. Nele encontrou muitos factos oficiais relativos ao gueto, mas também informações interditas, escondidas pelos resistentes, como boletins de guerra de aliados, cartas das frentes e diários íntimos. Ao mostrar o que o romance pode explicar do Holocausto, o autor apresenta-se como herdeiro de outra forma de cumprir o dever de lembrar: ele não é uma testemunha, mas um passador. Sem testemunhas a história perde o seu sentido; sem passadores, ela apaga-se.

A Zona de Desconforto é a memória íntima que Franzen guarda do seu crescimento dentro de uma pele hipersensível, de “uma pessoa pequena e fundamentalmente ridícula”, passando por uma adolescência estranhamente feliz, até um adulto de paixões fortes e inconvenientes. Nas suas próprias palavras, Jonathan Franzen era o tipo de rapaz que tinha medo de aranhas, bailes de liceu, urinóis, professores de música, bumerangues, de raparigas populares – e dos pais. Não tinha nada contra os miúdos totós, a não ser o pânico de que o tomassem por um deles, destino que resultaria para ele na imediata morte social.

O Livro 1 revelou a existência do mundo de 1Q84. Algumas perguntas encontraram resposta.
Outras permanecem em aberto: Quem é o Povo Pequeno? Como farão esses seres para abrir caminho até ao mundo real? Existirão mesmo?, como sugere Fuka-Eri. Chegarão Aomame e Tengo a reencontrar-se? «Há coisas neste mundo que é melhor nem saber», como diz o sinistro Ushikawa. Em todo o caso, o destino dos heróis de 1Q84 está em marcha. No céu, distinguem-se nitidamente duas luas. Não é uma ilusão.
Murakami descreve aqui um universo singular, que absorve, que imita a realidade, e a faz sua. A narrativa decorre em dois mundos que se cruzam, qual deles o mais real e o mais fascinante – o de 1984 e o de 1Q84. A perturbante história de um amor adiado, recortada num cenário marcado pelo desencanto e pela violência. Uma fábula sobre os dilemas do mundo contemporâneo.

No dia 6 de junho de 1944, a invasão da França pelos Aliados marcou o fim do do­mínio nazi na Europa. Este livro é um teste­munho verídico sobre esta batalha que fi­cou conhecida como o «dia mais longo» do século XX. Uma apresentação magistral de uma página da História e, como o general Sir Frederick Morgan, autor do plano ini­cial do desembarque, não temeu afirmar: «uma obra-prima».
Cornelius Ryan pesquisou, durante mais de dez anos, todos os dados relacionados com o desembarque de 6 de junho de 1944, incluindo uma verdadeira mina de docu­mentos confiscados pelos Aliados.
O Dia Mais Longo foi adaptado ao cinema, em 1962, por Ken Annakin e Andrew Mar­ton e interpretado por John Wayne, Robert Mitchum, Henry Fonda, Richard Burton, Sean Connery e Paul Anka.

Nunca ninguém viu o primeiro golo de sempre exibido pela SIC. Ou pelo menos, nunca ninguém o viu na televisão. Foi um petardo de Balakov a Silvino, aos 12 segundos. E o canal privado, que se estreava naquele dia nos jogos televisivos, só mostrou a nuvem de fumo dos petardos que a claque benfiquista tinha lançado. Balakov é um dos 101 CROMOS DA BOLA deste livro. Outro é Sousa Cintra, que o foi buscar ao desconhecido Etar da Bulgária. O mesmo dirigente que anos antes, no Cairo, “roubara” Amunike aos concorrentes do Duisburgo – numa história caricata que só se resolveu no aeroporto, com sportinguistas a puxarem o jogador por um braço e alemães pelo outro. São Histórias do futebol, dentro e fora das quatro linhas, todas de chorar a rir.

Vencedores do passatempo Um Erro Inconfessável

Terminou mais um passatempo e, como habitual, é hora de anunciar os vencedores. Obrigada aos 171 participantes que enviaram as suas respostas.

E os vencedores são: 

110. Joana Saraiva (Guarda)
144. Carla Cruz (Linda-a-Velha)

Parabéns e boas leituras

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Sabor da Tentação (Elizabeth Hoyt)

A chegada de Samuel Hartley parece ser o tema preferido nas conversas da sociedade londrina. Há quem diga que é um cobarde, que fugiu para a floresta durante a batalha que custou a vida a demasiados bons soldados. Agora, com a sua postura enigmática e a estranheza dos costumes das colónias, pensa-se que Samuel terá vindo a Londres para tratar de negócios. Mas há um outro objectivo nas suas intenções e, ao procurar Lady Emeline para que esta apresente a irmã à sociedade, não é apenas nos costumes da elite que Samuel está a pensar...
Escrita envolvente, um ambiente agradável e umas quantas peripécias peculiares são apenas parte do que torna este livro cativante desde as primeiras páginas. Centrado essencialmente no romance entre os protagonistas, com todas as diferenças inevitavelmente associadas à relação entre figuras de mundos opostos, não há propriamente uma relação instantânea, apesar da inevitável força da atracção tão característica nos livros deste género. Na verdade, o mais interessante não está no romance entre o casal protagonista, mas antes no mistério que Samuel pretende resolver. A situação em volta da batalha de Spinner Falls, com a possibilidade da existência de um traidor que é imperioso descobrir e os esforços de Samuel nesse sentido, cria uma interessante aura de mistério ao longo da narrativa, sendo particularmente cativante na forma como molda a personalidade de Samuel e as suas fragilidades. 
Também o romance tem os seus pontos fortes, principalmente nas diferenças entre os protagonistas (e os mundos de que provêm), mas também na forma como a personalidade inesperadamente forte de Lady Emeline se define, moldada em igual medida pelas convenções sociais e pela sua própria curiosidade natural. Mas nem tudo é perfeito e há um ponto na narrativa em que, incitado talvez pelo surgir de um terceiro elemento com possibilidades românticas, o comportamento dominante de Samuel acaba por ser um pouco excessivo, levando a narrativa a centrar-se mais numa tentativa de ligação romântica a todo o custo e deixando o mistério para segundo plano. Este é, ainda assim, um aspecto que acaba por se desvanecer numa fase mais avançada da narrativa, mas fica, apesar disso, a impressão de uma situação um pouco forçada.
Ainda um outro aspecto bem conseguido está na lenda de Coração de Ferro, contada nos pequenos excertos que abrem cada capítulo. Sendo também ela uma história muito simples, vem dar um toque de ternura a um livro que se centra, em grande medida, numa forma de amor mais focada na atracção. Cria, também, uma ligação entre o protagonista da lenda e o protagonista do romance, ao mesmo tempo que estabelece algumas ligações para o que virá nos restantes volumes da série: dos quatro soldados na lenda insinua-se uma possível ligação aos quatro volumes da série e a forma como o mistério deste romance é resolvido dá a entender que mais haverá também a dizer sobre este elemento.
Cativante, de leitura agradável e com vários momentos bem conseguidos quer a nível de mistério quer no que toca à emoção, O Sabor da Tentação é, acima de tudo, uma história de atracção e de amor (com bastante de sensualidade), mas onde o passado e as suas marcas têm um papel fundamental a desempenhar. Leve e envolvente, um bom livro para descontrair.

Maçã de Zinco (Alice Caetano)

Breves reflexões sobre um momento ou uma situação, paisagens descritas com a perspectiva pessoal dos olhos que a observam, momentos de introspecção sobre os momentos e as formas de vida quotidiana ou simplesmente sobre as influências da arte e da vida no crescimento individual... Dos textos que constituem este pequeno livro, há uma diversidade de temas que se conjugam no que é, afinal, uma visão sobre a multiplicidade de experiências da vida. E em cada texto há uma imagem para descobrir, uma imagem por vezes simples, por vezes com a estranheza do onírico, formando um pequeno fragmento da paisagem maior que é o livro.
Da mesma forma que a diversidade de temas é o primeiro ponto que se destaca, também a forma como a escrita se adapta ao tema surpreende ao longo da leitura. Por vezes como descrição algo surreal de uma paisagem interior, por vezes como a simples percepção do que rodeia, por vezes ainda alcançando um registo de quase fábula para falar da sociedade em volta, mas sempre com uma fluidez que parece adequar-se na perfeição ao tema abordado. Alguns dos textos têm apenas poucas linhas, outros são mais extensos. Muitos têm algo de pessoal no seu interior, mesmo que apenas observando um lugar, ou uma história que emocionou. De todos, o que de melhor fica é a impressão de que, com algumas páginas, ou apenas um parágrafo, a visão é sempre completa. Mesmo nos textos mais curtos, onde o que é dito é simples e o ambiente será, talvez, algo de mais vasto, nunca fica a sensação de algo em falta.
Havendo ao longo do livro uma série de diferentes temas, e até de abordagens a várias circunstâncias, há, naturalmente, textos que marcam mais que outros. Sobressai, ainda assim, a nitidez das descrições e a intensidade de alguns textos mais emocionais, sendo estes os que mais cativam de entre um todo que é, na globalidade, bastante interessante.
Poético e simples em simultâneo, feito de breves visões, mas com uma forma de escrita muito interessante, fica, deste Maçã de Zinco, a impressão final de uma leitura cativante, com uma interessante conjugação entre o imaginário distante e os simples gestos do quotidiano e onde, apesar a curiosidade em saber mais sobre alguns dos elementos descritos, o essencial está sempre lá. Uma boa leitura, em suma.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Dormir Nu É Ecológico (Vanessa Farquharson)

Uma iniciativa ecológica por dia ao longo de um ano - que melhor desafio para provar que as pequenas coisas podem também ter um impacto a nível ambiental? Durante um ano, Vanessa Farquharson decidiu mudar a sua vida, um passo ecológico de cada vez, mantendo um blogue sobre os seus progressos nesse desafio. Este livro conta-nos a sua aventura, com os momentos de realização e as boas descobertas, mas também com as resoluções frustrantes, os momentos de cepticismo e os pequenos fracassos.
Um dos pontos mais curiosos deste livro é o facto de, ao mesmo tempo que a autora tenta melhorar o impacto das suas acções no ambiente, haver também uma série de preconceitos que, aos poucos, vão sendo quebrados, ao participar em iniciativas ecológicas colectivas e ao conviver com as pessoas associadas a essas acções. Assim, o que parece começar em parte com um desafio mais para provar a si mesma que é possível ser-se ecológico sem exageros acaba por se tornar numa iniciativa que deixará marcas depois de terminado o ano do desafio. Na verdade, é possível ver uma evolução na atitude, nos gestos e até na forma de pensar, à medida que a descrição do ano avança - mesmo tendo em conta os altos e baixos da consciência ecológica.
Há um lado bastante pessoal na forma como a autora apresenta as suas experiências. Pequenos elementos da sua vida privada são revelados ao longo do texto, também estes reveladores da forma como as mudanças implementadas pela autora acabam também por influenciar o mundo em seu redor. Além disso, este toque pessoal acaba por tornar mais fácil imaginar a aventura da autora, já que as dúvidas e dificuldades não são deixadas por contar. Os pontos de vista apresentados são bem definidos e (também) bastante pessoais, sendo sempre possível encontrar alguns pontos de discordância: ainda assim, a forma directa e, por vezes, divertida como a autora os expressa contribui para que a leitura se mantenha cativante.
Crónica de um desafio interessante e, ao mesmo tempo, cativante abordagem ao impacto ambiental das pequenas coisas, a impressão final que fica deste livro é a de uma leitura envolvente em que, para lá do relato de uma experiência pessoal, há bastante de interessante para descobrir no que toca à ecologia. Gostei de ler.

Novidades Papiro

«Em tempos conturbados, social e economicamente, o autor manifesta-se “paci ficamente” pela poesia. Alerta-nos para a necessidade de despertar consciências, de lançarmos as fundações de uma “Nova Era” que terá de brotar do interior de cada um; terá de ser do renascer individual que se conjugarão sociedades renovadas. 
Através de uma poesia interventiva, leva o leitor a auto-questionar-se: quem sou e o que pretendo fazer? Que caminho seguir? Como posso in fluenciar positivamente a sociedade onde vivo?  (...) Estando desperto, novos horizontes serão alcançados.  
Saberá quando dizer “sim” ou “não” e escolherá o seu trilho. 
O futuro começa hoje na definição de cada carácter.»

José Belo Vieira, «Do Prefácio»


O traço desta história é o simples traço que nos chega como uma chave, deixando-nos a imaginar as portas que nele foram fechadas e ao fecharmos as suas portas, abrimos os olhos ao mundo. (…)
Um romance que nos transporta ao mundo maravilhoso dos nossos montados.

Prefácio de Américo Amorim.


Nesta aventura, o Joquinha será levado até ás nuvens numa bolinha de sabão e lá conhecerá a menina Mafalda e outros fantásticos personagens que enfatizam os valores da amizade, da solidariedade e do respeito.

Novidade Guerra e Paz

«Ainda Sonho Contigo» é um romance em que descobrimos que todos, mortos ou vivos, temos um segredo. Um romance de coragem e mistério, contado com humor encantador.
Maggie é a protagonista deste história, uma mulher que parece sempre feliz, já concorreu a Miss América e é a melhor vendedora de casas da cidade, mas vive sozinha. No jardim, gostaria de ouvir risos de dois ou três filhos, mas não tem nenhum. Maggie, a mulher por cuja ternura e humanidade nos vamos apaixonar, tem data marcada para se suicidar.

«Fannie Flagg escreveu um livro que é uma dádiva maravilhosa para todos nós - cinco estrelas»
Amazon

FANNIE FLAGG é uma escritora de sucesso nos Estados Unidos. Já foi actriz de cinema e viveu momentos de glória ao ser nomeada para Óscar de Melhor Argumento pelo Guião de Fried Green Tomatoes. Os oito romances que publicou conquistaram o público e foram New York Times Bestsellers. Em todos conjuga um maravilhoso sentido de humor com a criação de personagens em que transparecem o charme e a nostalgia do Sul onde Fannie Flagg nasceu.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Medo do Homem Sábio - Parte II (Patrick Rothfuss)

Enviado pelo Maer para lidar com os bandidos que atacam na estrada do Rei, Kvothe encontra-se agora na companhia de um grupo de mercenários e a desempenhar uma missão que poderá representar muitas dificuldades e muito tempo de busca. O ambiente é tenso e, para lá da missão de que foi incumbido, Kvothe tem também de lidar com os seus invulgares companheiros. Mas a missão é apenas o início de uma longa viagem pelo desconhecido e cada novo passo pode ser, ao mesmo tempo, uma ameaça e uma oportunidade de encontrar respostas para a sua busca de respostas. Um caminho longo, feito tanto de sucessos como de derrotas, de aventuras que ninguém mais terá vivido, mas também, e principalmente, de aprendizagem - pela vida fácil e pela difícil.
Ainda longe do ambiente já familiar da Universidade, e passando por uma série de cenários bastante diferentes dos conhecidos, este segundo volume apresenta, em parte devido à caracterização cuidada dos novos ambientes e culturas apresentados, em parte pelo maior foco em pequenos acontecimentos (ainda que igualmente relevantes), um ritmo um pouco mais pausado. Continuam a surgir os ocasionais grandes momentos em que, subitamente, tudo parece mudar, mas é no percurso de Kvothe e na sua aprendizagem com as novas figuras que cruzam o seu caminho que está o maior desenvolvimento nesta parte da narrativa e, gradual como todos os percursos de aprendizagem, o rumo das suas experiências é desenvolvido aos poucos, com alguma demora nos pequenos pormenores. 
Mantém-se a escrita cativante dos livros anteriores, associada a uma interessante caracterização das personagens, permitindo criar empatia para com estas. Neste aspecto, continua a ser Kvothe quem se destaca, principalmente no revelar das suas vulnerabilidades. Ao ser o protagonista a contar a sua própria história, é interessante notar a forma como essas fragilidades são assumidas, ganhando ainda uma maior evidência com o desenvolvimento ocorrido nos Interlúdios, onde, ao mesmo tempo que vários mistérios se insinuam (para culminar num final impressionante), o contraste entre as aventuras passadas e o presente de quem a conta é particularmente marcante.
Muito é deixado em aberto para o livro seguinte. Ao fechar este livro com o que é, em parte, uma conclusão adequada  - ao cenário de um narrador que gere as pausas da sua história pessoal - e um grande mistério que parece mal ter começado, fica a curiosidade em saber que respostas serão dadas para o que ficou por dizer e, principalmente, que aventuras estarão ainda para contar e de que forma terão levado o protagonista a um presente que é, em muitos aspectos, ainda um enigma.
De ritmo pausado, mas com uma história envolvente, momentos de grande força emocional e um protagonista ao mesmo tempo carismático, intrigante e vulnerável (e, por essa mesma vulnerabilidade, capaz de apelar à empatia), a impressão final que fica deste volume é, também, a mais positiva. Muito, muito bom.

Novidade Bertrand

A Revolução sem Líder explica o motivo por que as nossas instituições governamentais são inadequadas no que respeita à sua função de resolver problemas críticos, e apresenta uma série de passos que podemos seguir de modo a criarmos, por nós mesmos, soluções firmes que se mantenham a longo prazo. 
Ao darmos esses passos, estamos não só a reclamar o controlo que perdemos mas também a noção de sentido e de  comunidade, algo tão difícil no momento que atravessamos. Numa época em que tudo aparenta ser vazio e para lá do nosso controlo, este livro, poderoso e pessoal, resgata a esperança de que uma ordem melhor, mais justa e equilibrada está ao nosso alcance.

Carne Ross era um político em ascensão, focado nas questões mundiais mais difíceis, como o Afeganistão, o terrorismo e as alterações climáticas. Depois de trabalhar e se ver politicamente envolvido na ocupação do Iraque e das sanções contra este país, foi um dos dois diplomatas britânicos a demitir-se em 2003, durante a guerra. Essa experiência obrigou-o a confrontar-se com os problemas mais profundos de um mundo volátil e globalizado. 
É comentador frequente na CNN, BBC e Al Jazeera, além de escrever para o  The Guardian. Fundou a Independent Diplomat (www.independentdiplomat.org), um grupo de consultadoria que trabalha com países democráticos e grupos políticos mundiais. Vive em Nova Iorque. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sangue Quente (Isaac Marion)

R é um zombie. Do seu passado enquanto vivo, recorda apenas a inicial de um nome que desapareceu com todos os conhecimentos aprendidos. Não tem qualquer outra memória. A sua existência resume-se ao aeroporto onde deambula com os outros Mortos e às expedições de caça onde ele e muitos outros se alimentam... dos vivos. Mas R não é exactamente como os outros e, no dia em que o seu caminho se cruza com o de Julie (depois de uma conveniente refeição proporcionada pelo seu namorado), a natureza de R começa a alterar-se e a inevitável barreira que o separa dos Vivos deixa de parecer tão intransponível como julgara...
Muitas das histórias de zombies são, na verdade, sobre os sobreviventes humanos ao inevitável apocalipse zombie. É dos vivos que tratam e da sua capacidade de resistir. Mas não é o caso deste livro, ou, pelo menos, não completamente. Sangue Quente é contado do ponto de vista de um zombie e, como tal, é da vida (ou da não-vida) de R que se trata. E o seu percurso é um ponto de partida muito interessante para a abordagem de várias questões sobre o que define a natureza humana.
Sem memórias, sem sentimentos, sem uma história com a qual aprender, R é, à partida, uma figura com pouco de humanidade. E se lhes juntarmos o facto de ser um zombie que se alimenta dos vivos, a definição torna-se bastante mais clara: monstro. Mas as coisas nunca são exactamente a preto e branco neste livro e, ao apresentar os pensamentos de R e a forma como as mudanças o tornam bastante diferente da imagem inicialmente esperada, levanta-se então uma questão muitíssimo interessante: que elementos definem um ser humano? Uma pulsação, um coração que bate, o sangue vermelho que circula nas veias? Ou a capacidade de sentir e de pensar, de recordar e de planear, de fazer escolhas que moldam o futuro e, simplesmente, desejar viver? 
Da explicação para o aparecimento dos zombies - doença, maldição ou outra qualquer razão ignorada - não há grandes desenvolvimentos. Fica a curiosidade em saber os comos e os porquês, mas esse é um aspecto secundário: a situação surgiu e o mundo reagiu como sabia. Assim, o mundo de R é apresentado tal como é, sem origens nem grandes desenvolvimentos de história prévia, mas centrado essencialmente nas personagens. Há, ainda assim, algumas revelações interessantes à medida que R. se torna mais capaz de perceber o mundo em redor, tanto a nível da história de Julie (e Perry) antes do momento em que se encontraram como no que toca ao desenvolvimento dos Vivos e à reacção face à ameaça Morta. Também desses momentos surge algo para reflectir, quer sobre a capacidade de reacção à adversidade, quer sobre o valor das memórias e das emoções. Mais uma vez, parte do que define a condição humana.
O mundo de R é inesperadamente elaborado, não sendo, por isso, surpreendente o ritmo relativamente pausado da narrativa. Surpreende, contudo, a forma como a estranheza inicial se abre numa inesperada complexidade emocional: por um lado, o toque de macabro proporcionado pelas "rotinas" dos zombies, por outro a quase ternura com que o contacto entre R e Julie se vai desenvolvendo, por outro ainda a quase melancolia de um mundo em que uma ameaça levou a que todos se fechassem ao que dá valor à vida. 
No que toca a histórias de amor, esta tem, provavelmente, uma das bases mais estranhas. Ainda assim, e sendo muito mais que o simples envolvimento romântico entre criaturas de mundos opostos, Sangue Quente apresenta muito de bom para descobrir. História de um estranho amor, mas também reflexão sobre o que nos faz humanos, este é um livro que cativa tanto pela estranheza do cenário, como pelas emoções que, aos poucos, se tornam familiares. E é, acima de tudo, isso que fica na memória.

Novidade Oficina do Livro

Manuel Sousa, agente da PSP, é assassinado num bairro às portas de Lisboa. A Polícia Judiciária está a começar a investigação quando é surpreendida pela notícia da morte de mais dois agentes. Quase ao mesmo tempo, um traficante de droga é deixado sem vida no Serviço de Urgência de um hospital. O que têm em comum estes factos? O bairro.
O país fala destes casos, os jornais e as televisões fazem eco das preocupações sociais, a hierarquia policial e a tutela política exigem respostas aos investigadores. O chefe Barata, a pouco tempo de se reformar, encara este caso como o seu derradeiro desafio.
O Bairro, baseado numa história verídica, é o retrato intenso de um mundo onde o crime e a honestidade convivem diariamente, onde prolifera o sentimento de abandono a que foi votado quem ali cresceu, para onde foi viver quem não tinha alternativa e onde é real a coragem de suportar o estigma de um nome. Mais do que um romance, O Bairro é a metáfora de tantos vulcões existentes em redor das grandes cidades contemporâneas, cuja eventual erupção todos temos o dever de evitar.

Carlos Ademar nasceu em Vinhais, em 1960. Em 1987, entrou para a Polícia Judiciária, onde exerceu durante quase duas décadas a actividade de investigador criminal na Secção de Homicídios.
Colaborou na investigação de alguns dos mais célebres crimes ocorridos na Grande Lisboa, como os que ficaram conhecidos pelos nomes de "Skinheads" e "O Estripador". Actualmente é professor na Escola de Polícia Judiciária.
Licenciado em História, o gosto pela escrita acompanha-o desde sempre. É autor das obras O Caso da Rua Direita, O Homem da Carbonária, Estranha Forma de Vida, Memórias de um assassino romântico e Primavera Adiada, editadas pela Oficina do Livro. O Bairro é o seu sexto romance.

Novidade Esfera dos Livros

O meu filho não me obedece. Está mal-educado, fala-me sempre num tom depreciativo, parece que goza comigo. A minha filha anda com uns amigos que não me inspiram confiança e mostra-se muita agressiva de cada vez que falo com ela. O meu filho faz chantagem por tudo e por nada. Perdi o controlo, não sei como agir com ele. Está indomável. Estas são algumas das queixas mais comuns entre pais e educadores de adolescentes. Uma etapa complicada na vida familiar, em que surgem conflitos geracionais difíceis de resolver. 
Ángel Peralbo, psicólogo especialista em terapia familiar e em questões ligadas à adolescência, recebe no seu consultório pais e filhos em busca de uma solução. O primeiro passo é não desesperar.
- Crie um diálogo produtivo;
- Aprenda a não ceder às suas exigências;
- Desperte o seu interesse quando parece apático e desinteressado;
- Aja de forma firme e decidida com a sua filha;
- Trabalhe a autoestima do jovem.
É fundamental os pais compreenderem o seu filho, as razões do seu comportamento difícil e encontrarem as estratégias adequadas para o ajudar e assim promover uma maior harmonia familiar. 
                                                          
Ángel Peralbo é licenciado em Psicologia Clínica e Saúde Mental. É especialista em terapia familiar e problemas relacionados com a infância e adolescência, bem como em questões como dificuldades de aprendizagem e conduta no meio educativo. Faz parte da equipa de especialistas da Álava Reyes Consultores, onde coordena a área dos adolescentes. 
Dirige ainda projectos de escola de pais, oficinas e colóquios, e realiza projectos de investigação sobre as variáveis que intervêm na melhoria psicossocial de adolescentes e jovens.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Despertar da Meia-Noite (Lara Adrian)

Apenas uma vontade move a vida de Elise Chase: vingança contra os Renegados que causaram a morte do seu filho. O seu dom invulgar permite-lhe localizar os escravos humanos do inimigo e, mesmo com as fragilidades que o uso desse dom lhe impõe, Elise já não suporta a ideia de ficar, simplesmente, parada no Refúgio à espera que outros travem a batalha que, agora, também lhe diz respeito. Mas o seu dom é também uma força capaz de a enlouquecer e o único capaz de a ajudar a controlar essa força é, provavelmente, o menos compassivo entre os Guerreiros da Raça. Ainda assim, os caminhos de Tegan e Elise cruzam-se e o guerreiro que a perda passada tornou insensível terá de descobrir não só uma forma de lidar com a ameaça que paira sobre a Raça, mas também com a súbita descoberta de que o seu coração ainda vive...
Muitos dos pontos positivos dos primeiros volumes desta série estão também presentes neste livro: a escrita cativante, as personagens bem conseguidas e uma história onde o romance é o foco principal, mas onde há um sistema circundante que tem vários pontos de interesse. É, aliás, neste último aspecto que se revela a maior evolução neste livro. Com uma maior intervenção das personagens dos livros anteriores (e de Lucan, em particular), uma série de desenvolvimentos relevantes na guerra com os Renegados e uma perspectiva bastante mais clara dos conflitos internos no seio da Raça (quer na forma como os vampiros dos Refúgios vêem a Ordem, quer até na forma como os Antigos viam a própria humanidade), o lado romântico do enredo, que continua a ser, apesar de tudo, o foco central, surge enquadrado num cenário mais amplo, levando a que o rumo dos acontecimentos entre o casal protagonista faça sentido tanto na história existente entre os dois, como no contexto da situação que os rodeia.
Também na caracterização e nas interacções do casal protagonista surge algo de diferente a tornar a história mais interessante. Não há, neste caso, a situação do segredo que tem de ser revelado a alguém vindo de um mundo onde os vampiros não existem, mas antes duas figuras que conhecem na perfeição os meandros do mundo da Raça, mas que, vindos de ambientes completamente diferentes, descobrem nas perdas comuns e nas experiências dolorosas os elos que, mesmo contra a sua vontade, estabelecem a sua relação. Além disso, o contraste entre a personalidade forte, mas com algumas vulnerabilidades de Elise e a do guerreiro impassível de Tegan faz com que os momentos emotivos, quando surgem, sejam particularmente bem conseguidos.
Com um enredo cativante, personagens carismáticas e uma sociedade que, com os novos desenvolvimentos que surgem neste livro, se vai tornando cada vez mais intrigante, esta é uma história que, com muito de romance e de sensualidade, mas também com as medidas certas de acção e de emoção, representa, nos rumos desta série, uma evolução muito interessante. Muito bom.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Uma Noite de Amor (Mary Balogh)

Neville Wyatt, conde de Killbourne está prestes a oficializar o seu casamento com Lauren, a mulher que sempre lhe esteve destinada, quando uma estranha, vestida como uma mendiga, entra na Igreja. Mas Lily Doyle não é uma desconhecida. Dois anos antes, em circunstâncias extremas, Neville desposou aquela mulher... e perdeu-a no dia seguinte, quando uma emboscada o deixou gravemente ferido e a ela morta. Ou assim pensava. Agora, Lily está de volta à sua vida, mas a mulher livre e selvagem que amou em tempos de guerra não poderá nunca adaptar-se aos modos da classe social a que Neville pertence. A não ser que tenha o melhor dos motivos...
Centrada no romance entre o casal protagonista, mas sem se limitar a esse aspecto, esta é uma história que cativa desde as primeiras páginas. Isto deve-se em grande parte à caracterização das personagens, que revela desde cedo os seus pontos mais cativantes, mas também às circunstâncias em que a história começa. Um regresso inesperado e, provavelmente, no momento mais inconveniente, serve para criar um momento de tensão inicial e para pôr os protagonistas em foco perante as restantes personagens, dando-lhes, desde logo, uma situação delicada para resolver.
Muito do desenvolvimento da narrativa gira em volta da relação entre Lily e Neville, mas nem só do romance e da sensualidade vive esta relação. Se há, de facto, vários momentos em que são estes elementos que se destacam, outros há em que são as dificuldades a ganhar protagonismo: vindos de diferentes classes sociais, as suas diferenças são evidentes e, como tal, por mais que se tente evitá-las, há sempre um abismo a separar os dois apaixonados. Desta situação surge uma interessante abordagem ao romance, com as tentativas de ambas as partes de facilitar as coisas um ao outro, mas também com a percepção de que as diferenças têm de ser superadas para contornar as desigualdades que, de facto, existem entre ambos.
E é este um dos aspectos mais bem conseguidos deste romance. Mais que a história da amada que regressa dos mortos, é o crescimento de Lily, o seu percurso de aprendizagem para estar à altura da sociedade que desconhece, o que mais cativa. A aquisição de novos conhecimentos, sem por isso renunciar à sua própria natureza, cria na história de Lily vários momentos emotivos e, ainda que alguns dos aspectos do seu crescimento pudessem ter sido mais explorados, define-se, ainda assim, uma personalidade que é, em simultâneo, forte e terna e que contrasta com as sombras da culpa que ambos os protagonistas parecem trazer consigo.
Há ainda um outro elemento curioso neste livro. O segredo da identidade de Lily, e a ameaça invisível a este associada, acrescentam ao lado romântico do enredo um interessante toque de mistério (ainda que, nalguns momentos, pudesse também ter sido um pouco mais desenvolvido), contribuindo, também, para a conclusão final do romance entre o casal protagonista.
Envolvente, com vários momentos emotivos e uma história interessante, esta é uma história que, não sendo completamente imprevisível, cativa pela leveza da narrativa, mas também pela caracterização das personagens que a protagonizam. Com bastante de romance, mas não só, uma leitura cativante e descontraída. Gostei.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Hora do Diabo (Fernando Pessoa)

Ao regressar a casa depois de um baile de Carnaval, Maria fala com um rapaz vestido de Mefistófeles que se lhe apresenta como seja o Diabo. Mas não o Diabo tal como os mitos o apresentam. O homem (ou o demónio, ou o deus) que se apresenta a Maria diz não se definir como a ideia geral que todos conhecem dele. E explica-se, apresentando-se como uma versão bem diferente de si próprio, ao mesmo tempo que reflecte sobre o seu verdadeiro papel no mundo e sobre o mundo tal como ele o vê.
Sendo a história do encontro entre Maria e o Diabo uma simples introdução às reflexões e reivindicações deste, é curioso notar que os monólogos do Diabo nunca se tornam aborrecidos. Com laivos de um humor estranhamente cativante e, ao mesmo tempo, com uma profunda reflexão sobre a crença, nas suas múltiplas formas de vivência, o Diabo que aqui é apresentado é uma figura diferente, estranha, fascinante. Alguém com um papel importante a desempenhar nos rumos da existência.
Até o mais simples dos fragmentos da conversa do Diabo apresenta algo para reflectir. E apresenta-o de forma ao mesmo tempo complexa e cativante, sem menorizar o tema, mas desenvolvendo-o de forma acessível, com a fascinante fluidez de escrita que já seria de esperar numa obra deste autora. Há, portanto, todo um mundo de pequenas e grandes coisas a ponderar, desde o papel da religião na vivência de cada um à necessidade da convivência entre opostos.
Mas há também uma história e, do encontro de Maria com o Diabo, resultará ainda um final curioso e surpreendente, tanto na forma como encerra o episódio da conversa como enquanto reflexão sobre a forma como se lida com o aparentemente impossível.
Trata-se, portanto, de mais uma leitura rápida, mas vasta em material de reflexão. Interessante, de leitura cativante e com a fascinante forma de escrita que define a obra de Fernando Pessoa, esta é também, uma obra impressionante. Muito bom.

O Banqueiro Anarquista (Fernando Pessoa)

Um banqueiro... anarquista. A conjugação destas duas palavras parece, por si só, uma contradição. Contudo, o protagonista deste pequeno texto assume-se tanto no seu papel de banqueiro como no do único verdadeiro anarquista, a nível teórico e prático. O que é aqui apresentado é, na forma de um diálogo (com um interlocutor pouco participativo, é certo, mas diálogo ainda assim), a argumentação com a qual o protagonista da história se assume anarquista, bem como o processo que o tornou num rico banqueiro.
Tratando-se de um livro bastante curto e com uma premissa aparentemente simples, o que primeiro surpreende ao longo da leitura é a forma como um texto que tem como pontos essenciais uma exposição de raciocínios, com o que é uma lógica aparentemente imaculada, se revela como estranhamente envolvente. Argumentação sobre sistemas políticos, sobre o conceito de anarquia e sobre as ficções sociais, tendo estes elementos como ponto dominante de todo o texto, surpreende que não falte envolvência em momento algum, talvez devido à intrigante forma como o protagonista caminha para as suas conclusões, talvez até pelo tom de segurança inabalável com que as apresenta.
Há também algo de muito actual neste livro, já que, na figura do banqueiro que se liberta enriquecendo e nos argumentos com que se justifica, há muito em comum com o cenário dos nossos dias. Além disso, através das opções e das expressões do protagonista - e não é surpresa que tudo isto é magnificamente escrito, com total fluidez - é possível reconhecer um tipo de personalidade que não se limita a um determinado tempo, com a oposição entre princípios e acções e a necessidade de os apresentar como compatíveis - quer o sejam ou não.
Breve, mas fascinante, há neste pequeno livro muito de bom para descobrir. Quer pela caracterização da personagem, quer pela reflexão sobre as teorias políticas, quer ainda pelo interessante exercício de lógica, esta é uma obra que vale a pena ler. Muito bom.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Segredo da Casa de Riverton (Kate Morton)

Ao receber a visita de uma jovem realizadora que está a trabalhar num filme sobre os acontecimentos trágicos de Riverton, Grace dá por si a reviver o passado. Apesar das décadas que a separam dos acontecimentos, os seus fantasmas permanecem vivos e a recordação de uma história cheia de sombras e de segredos, de uma história que só ela conhece por completo, lembra-lhe que o tempo é curto e que, consideradas as tragédias da sua própria família, não pode partir com o segredo que guarda. É hora, portanto, de quebrar o mistério e contar a sua história: a da criada que chegou a Riverton sem saber exactamente porquê, mas cuja história se ligaria à dos senhores de uma forma inimaginável.
Depois da maravilhosa experiência de leitura que foi O Jardim dos Segredos, as expectativas para este livro eram as melhores. E não me desiludi. Há uma estranha magia nos livros desta autora, um toque de fascínio que se insinua desde o início e que se vai tornando mais e mais intenso à medida que o mistério se adensa, para culminar numa revelação poderosa e de uma força emotiva impressionante. Uma história vasta em complexidades, mas escrita de uma forma envolvente e com uma beleza tocante e onde cada personagem se torna familiar de uma forma muito própria.
Cativa, desde logo, a forma como a história é contada, na primeira pessoa, pela voz de Grace, a mulher que olha para o passado. O seu papel de criada deu-lhe a possibilidade de, de uma posição de quase invisibilidade, ver muito e saber ainda mais. Além disso, esse papel serve também para caracterizar uma época de divisões, onde a barreira entre "nós" e "eles", entre senhores e serviçais, era aparentemente intransponível. Grace representa o perfeito exemplo deste contraste, ao mesmo tempo que, do seu papel de criada e algo mais, observa, nas outras personagens, a definição das linhas de conduta aceitáveis - e a sua subversão.
Pois nem só de Grace vive esta história e ao seu crescimento com o tempo e a experiência das dificuldades, vêm juntar-se outras personagens igualmente fascinantes, tanto entre os que têm um maior protagonismo, como entre as figuras mais secundárias. Do ambiente dos serviçais, destaca-se uma certa mudança de mentalidades proporcionada por Nancy e, principalmente, por Alfred. Do mundo dos senhores, é Hannah a principal figura, com o seu lado rebelde, mas com uma grande consciência das consequências, e com um papel determinante na grande história de segredos e tragédia que é, afinal, a deste livro.
Porque de segredos se trata, de um passado onde cada segredo tem as suas consequências, desde as ligações familiares de Grace às marcas deixadas pelas experiências da guerra e, claro, às ligações de amor impossível mas que é imperioso manter. E é aqui que o melhor deste livro se revela: os fantasmas de Grace são nítidos, quase palpáveis, e as sombras de toda uma vida são apresentadas com a intensidade dos sentimentos genuínos. Há momentos, ao longo deste livro, que são de uma força emocional devastadora e, se em todo o livro a escrita da autora é de uma fluidez belíssima, nesses momentos o resultado é impressionante. É fácil sentir com as personagens. É fácil sofrer com elas.
História da permanência do passado para lá do momento em que sucedeu, das marcas deixadas pela perda e da necessidade de escolher, tendo em conta as consequências, O Segredo da Casa de Riverton é, acima de tudo, a história das pessoas que a povoam, mas também a história de um lugar, com todas as memórias que o percorreram. Intenso, misterioso e comovente, um livro que fica na memória. Impressionante.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Eterno Efémero (Urbano Tavares Rodrigues)

Da história de um homem que, na sequência de uma estranha relação com quatro mulheres, acaba por morrer em circunstâncias estranhas, e também do inspector que leva a cabo a investigação dessa morte, trata este livro. Em parte romance de mistério, em parte reflexão sobre o quotidiano e sobre a busca de momentos memoráveis, em parte ainda reflexão sobre o domínio e a submissão nas relações, este é um livro que conjuga uma multiplicidade de aspectos, moldando-os num interessante equilíbrio.
Conjugando tantos aspectos numa história que é, afinal, relativamente curta, seria de pensar que algumas coisas ficassem por dizer, mas, na verdade, não é isso que acontece. No que toca ao mistério, o autor constrói a história de forma cativante, moldando-a como um muito bom ponto de partida para os outros aspectos da narrativa. Da interacção entre o inspector e os suspeitos, surge um lado mais introspectivo, quer sobre motivações para o crime, quer sobre as razões da própria relação. Desta surge, por sua vez, um toque de erotismo, relacionando-o, em certa medida, com a busca de algo mais, fugaz, talvez, mas capaz de dar alento a longos tempos de vida. E, entre as conversas com os suspeitos, as reflexões mais pessoais do próprio inspector e, por fim, o surgir da revelação, há fragmentos do quotidiano de muitos, das coisas boas e das coisas más que ficam esquecidas, que marcam, mas não o suficiente para aparecer nas notícias.
Pausado e introspectivo, mas estranhamente envolvente e com uma escrita belíssima, este é um livro que surpreende tanto pela história (ou histórias) que conta como pela forma como estas são construídas, base para pensamentos e sentimentos, numa visão que é, ao mesmo tempo, filosófica e emocional, onde a vida, nas grandes e nas pequenas coisas, é, ainda e sempre, o verdadeiro foco. Muito bom.

Gota Vermelha de Chama Sagrada (Hilda Martins)

Um toque de mistério, bastante de nostalgia e uma certa ambiguidade de sentimentos são apenas alguns dos traços que definem o conjunto de poemas que dá forma a este livro, muitos deles bastante breves, outros um pouco mais longos, mas todos com um equilíbrio bastante preciso entre ritmos e harmonias, com a dimensão adequada para o que as palavras pretendem transmitir. 
Mensagens fortes, com uma vastidão de abordagens ao espectro sentimental (da saudade à revolta, passando pelos simples afectos do quotidiano e alcançando o que se sente na perda quase inexplicável) constroem uma certa diversidade a nível de temas, mantendo, ainda assim, uma evidente impressão de unidade. Cada poema é, por si só, um reflexo completo, mas há uma impressão mais forte que se retira da globalidade do livro.
Há um lado muito pessoal nestes poemas, algo que dá voz a sentimentos pessoais que, desta forma, são partilhados. Mas há também o tal toque de ambiguidade que faz com que a emoção não esteja exclusivamente ligada a uma experiência específica. Alguma abstracção faz com que os sentimentos evocados possam ser associados a diferentes formas e experiências de vida e isso faz com que diferentes leitores se possam identificar com a emoção expressa nos poemas.
E da emoção do sujeito poético transparecem imagens curiosas, algo abstractas, a contrastar com as súbitas referências de elementos concretos que ocasionalmente surgem no texto, evocando paralelismos e oposições entre a realidade e o imaginário, entre o que se é perante a vida e o que somos dentro de nós.
Breve, mas marcante tanto pela construção das imagens, como pela melodia formada pelas palavras e ainda pela força emocional que transparece dos poemas, este é um conjunto de poemas que surpreende e que fica na memória. Muito bom.

Passatempo Um Erro Inconfessável

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a Planeta, tem para oferecer dois exemplares do livro Um Erro Inconfessável, de Emma Wildes. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Como se chamam os dois protagonistas deste livro?
2. Que outros títulos desta autora foram publicados pela Planeta?
3. Em que universidade estudou Emma Wildes?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 26 de Fevereiro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

Novidade Porto Editora

O comissário Adamsberg encontra-se em Londres a convite da Scotland Yard para assistir a um congresso de três dias. A estadia decorre tranquilamente até ao momento em que Radstock, o seu colega inglês, é alertado para uma estranha ocorrência: à entrada do antigo cemitério de Highgate apareceram dezassete sapatos… com os respectivos pés lá dentro.
Enquanto a investigação começa, a delegação francesa regressa a casa e é confrontada com um crime horrível numa mansão dos subúrbios de Paris: um jornalista especializado em temas judiciais foi, à primeira vista, triturado. Adamsberg consegue relacionar os dois casos e descobre uma pista que o levará até à Sérvia, a uma pequena e misteriosa aldeia onde, reza a lenda, terá nascido o mito dos vampiros.

Fred Vargas (pseudónimo de Frédérique Audouin-Rouzeau) nasceu em Paris em 1957. Estudou História e Arqueologia e publicou vários romances policiais que estão traduzidos em trinta e cinco países. Unanimemente reconhecidos como a rainha francesa do polar, os seus livros foram galardoados com numerosos prémios: o Prix Mystère de la Critique (1996 e 2000), o Grande Prémio de Novela Negra do Festival de Cognac (1999), o Trofeo 813, o Giallo Grinzane (2006) e o CWA International Dagger (2006, 2007 e 2009). Só em França, as suas obras venderam já mais de cinco milhões de exemplares.

Novidade Guerra e Paz

Delmore Schwartz nasceu em 1913. Poeta e ficcionista, foi o maior expoente literário da sua geração. Em 1935 escreveu «Nos Sonhos Começam as Responsabilidades e outras histórias», obra-prima da literatura norte-americana do século XX. O prefácio desta edição é assinado por Lou Reed, seu aluno e confesso admirador.
«Nos Sonhos Começam as Responsabilidades e outras histórias» conta a história de um jovem, cujo nome nunca saberemos, que assiste à projecção de um filme mudo num velho cinema de Nova Iorque. Para seu espanto as imagens que desfilam à sua frente são as do romance dos próprios pais. Um livro que é uma ode nostálgica à cidade que nunca dorme. A mais bela, alucinatória e comovente que alguma vez terá sido escrita.

Delmore Schwartz nasceu em 1913, filho de emigrantes judeus. Poeta e ficcionista, foi o maior expoente literário da sua geração que, nos Estados Unidos, cresceu com a Depressão, ganhando proeminência na II Guerra Mundial.
Em Julho de 1935 Delmore escreveu «Nos Sonhos Começam as Responsabilidades», definitivamente a sua obra maior. Amores agitados e a dissipação no álcool cruzam-se com a vida de escritor e a vida académica. Encantava os seus alunos, um dos quais, Lou Reed, o louva no extraordinário prefácio que se publica. Delmore morreu na miséria, em 1966. O seu corpo esteve na morgue três dias sem que ninguém o reclamasse.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Despertada (P.C. Cast e Kristin Cast)

Falhada a tentativa de eliminar Zoey Redbird no seu momento mais vulnerável, Neferet precisa agora de um novo plano e o domínio que tem sobre Kalona pode ser a arma de que necessita para regressar ao centro dos acontecimentos. Mas o refúgio de Zoey é um lugar de magia poderosa e, por isso, um local seguro para a jovem recuperar das experiências vividas. Assim, Neferet precisa de atrair a sua adversária de volta para o lugar que, apesar de tudo, ainda domina e, mais uma vez, a Casa da Noite de Tulsa será o cenário para o inevitável conflito, onde a perda não poderá ser impedida e a necessidade de escolher um lado poderá mudar os rumos do mundo.
Dando continuidade à mudança de rumo iniciada no livro anterior, um dos pontos mais interessantes deste livro é a forma como o foco deixou de estar apenas na protagonista, sendo possível acompanhar a evolução de várias personagens pelos seus próprios pontos de vista. Aliás, ao desenvolver alguns dos capítulos do ponto de vista de Kalona e Neferet, as autoras constroem uma visão mais clara dos dois lados da batalha - e do que falha em ambos os lados. São mais evidentes as divergências - e aqui a interacção entre Kalona e Neferet, associada às questões do fracasso e da submissão é particularmente interessante - e as decisões menos unânimes, o que resulta numa perspectiva mais ampla dos acontecimentos.
Também há menos situações forçadas a nível de relações amorosas, ainda que continuem a surgir ocasionalmente. Talvez devido à tensão crescente que vai surgindo com o agravar das circunstâncias, ou talvez ao elemento de perda que surge em força neste livro, não é no lado romântico que estão os melhores momentos, mas no afecto mais simples de quem ama e perdeu, ou de quem julga ter perdido para encontrar uma resposta inesperada.
Em termos do desenvolvimento global, continuam a ficar muitas perguntas sem resposta e a resolução da situação na Casa da Noite acaba por recordar acontecimentos de volumes anteriores. Fica, apesar disso, uma boa medida de curiosidade em saber o que virá depois, principalmente devido à inclusão de alguns novos elementos interessantes, e às mudanças operadas sobre algumas personagens.
Escrito de forma simples (como vem sendo habitual nesta série), mas com uma história envolvente e alguns momentos particularmente bem conseguidos (principalmente nas situações mais comoventes e nos rasgos de humor que vão surgindo), Despertada dá continuidade a uma história que, apesar de alguns elementos mais forçados, tem, ainda assim, bastante de interessante. Gostei.

Novidade Asa

Mount St. Gabriel’s é um dos mais prestigiados colégios femininos americanos. Cada ano lectivo vê chegar novos rostos e dita um novo equilíbrio na hierarquia social da escola. No Outono de 1951, uma das turmas destaca-se pela excelência e singularidade, duas características que, juntas, são potencialmente imprevisíveis. Apenas a jovem professora Kate Malloy e a rígida matriarca da escola, a madre Suzanne Ravenel, se apercebem de que as espera um ano invulgar. Não poderiam, claro, imaginar até que ponto a história do próprio colégio se alteraria.
Tudo começa quando Tildy Stratton, a incontestada líder da turma, abandona a sua fiel aliada, Maud, para se aproximar de Chloe Starnes, uma nova aluna que ficou recentemente órfã após a morte prematura e misteriosa da mãe. Esta amizade preenche um vazio nas vidas das duas jovens e põe em marcha uma série de acontecimentos que vão ameaçar a delicada harmonia da escola e mudar para sempre a vida de todos.
Cinquenta anos depois, com o colégio há muito encerrado, a madre Ravenel recorda esse ano, cruzando passado e presente, numa derradeira tentativa de se reconciliar com as origens trágicas daquele que ficaria conhecido com “o ano tóxico”.

Gail Godwin nasceu em 1937, em Birmingham, no Alabama, Estados Unidos. Após o curso de Jornalismo na Universidade da Carolina do Nortte em 1959, foi repórter do Miami Herald e trabalhou na embaixada americana em Londres. Fez um mestrado e um doutoramento em Inglês na Universidade do Iowa, em 1968 e 1971, onde estudou com John Irving e John Casey, tendo como professor Kurt Vonnegut. Foi por três vezes finalista do National Book Award e é autora de doze romances aclamados pela crítica e pelo público. Vive atualmente em Woodstock, Nova Iorque.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Frankenstein - Morto e Vivo (Dean Koontz)

A tentativa de Victor Helios de dominar o mundo através da sua Nova Raça parece estar ameaçada. Os comportamentos inexplicáveis que Victor tentava explicar por singularidades que em nada comprometeriam o todo do seu ambicioso plano começam a afectar demasiados dos seus seres para a sua própria tranquilidade. Ainda assim, seguro da sua própria genialidade, Victor julga-se capaz de controlar o caos que se abate sobre o seu império. O problema é que os inimigos são muitos e já nem da fidelidade da sua criação pode estar seguro. O seu programa falha. Criaturas que deviam estar mortas voltam a surgir. E é a primeira das suas criações quem encaminha a situação para um confronto final inevitável. Mas bastará esse confronto para salvar a Velha Raça?
É, tal como nos volumes anteriores, o ritmo intenso o que primeiro se destaca neste livro. Acção constante, contada em capítulos curtos e acompanhando as diferentes personagens num curto espaço de tempo fazem com que o ritmo de leitura seja compulsivo, mantendo constante a curiosidade em saber mais. Além disso, ainda que muitas das personagens mais importantes sejam já familiares, há novos elementos a surgir, sendo de destacar a estranha figura de Jocko e o seu papel simultaneamente  obscuro e enternecedor na história de Erika, bem como, numa fase mais avançada, o aparecimento do Ressuscitador.
Mantém-se também, ainda que em menor grau, a interessante visão acerca do que define, afinal, a humanidade. Enquanto Helios, humano apesar de todas as suas mudanças, é, na sua perturbadora crueldade, quem menos o parece, há, entre as suas criações, quem desenvolva uma estranha capacidade de amar. Assim, ao representar ternura e crueldade tanto nos humanos como na Nova Raça, cria-se uma visão menos linear do bem e do mal. O inevitável conflito criado por Victor não significa que a linha que separa os dois lados separe também os bons dos maus.
Ficam, mais uma vez, algumas questões em aberto. Em parte devido a um final um pouco brusco, mas também à forma como algumas possibilidades são deixadas para explorar nos livros seguintes, fica a impressão de que a resolução final da situação (e muito muda com este final) poderia ser um pouco mais aprofundada. Não deixa, ainda assim, de ser uma conclusão bem conseguida para este livro, tendo em conta que a história continuará.
Viciante, com momentos muito bem conseguidos e uma interessante evolução para as personagens que o protagonizam, fica deste livro a impressão final de uma boa leitura, com muito de acção e uma história interessante. Não atinge a intensidade dos volumes anteriores, é certo, mas trata-se, ainda assim, de um bom livro.

Novidade Oficina do Livro

Vitorino da Piedade Nunes foi um dos mais célebres cadastrados portugueses. Entre polícias e ladrões, advogados e guardas-prisionais, era conhecido por Dillinger, em alusão ao gangster da América dos anos 30.
Instigado pelo próprio pai, o qual seria condenado pela morte do avô, Vitorino cometeu os primeiros crimes ainda na infância. Poucos portugueses passaram tanto tempo atrás das grades como ele. Depois de trinta anos a entrar e sair de prisões, voltou finalmente à terra natal, onde roubara os primeiros animais e fizera as primeiras patifarias, mas não para se redimir: o seu nome foi então envolvido em duas mortes.
Antes de morrer, em 2003, Vitorino deixou centenas de páginas onde contou episódios da sua longa carreira de marginal, descreveu conversas com quem o quis contratar para matar, anotou reflexões sobre a vida e elaborou uma infindável lista de truques que adoptava nos crimes para ser mais eficaz. 
Baseado nesses escritos e narrado com o ritmo absorvente de um romance, Diários de um Gangster Português reconstitui a vida de um bandido implacável mas fiel a uma certa ética. Um homem que, no fim, conseguiu cumprir o seu maior desejo: morrer em liberdade.  

André Rito nasceu em Braga, em Outubro de 1977, e é licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade da Beira Interior.
Começou a trabalhar como jornalista em 2003, no jornal Tal & Qual, passou pelo Metro e escreveu também para as revistas Sábado, «Notícias Sábado» e Rotas & Destinos. Em 2009, integrou a equipa fundadora do jornal i. Actualmente, é repórter freelancer e colaborador do Diário de Notícias.
Diários de um Gangster Português é o seu primeiro livro.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Isabel I de Inglaterra e o seu Médico Português (Isabel Machado)

A promessa de um país mais tolerante e onde uma nova era começava levou Rodrigo Lopes, médico judeu português, a Inglaterra. Naqueles primeiros dias, quando assistiu à coroação da soberana, esperava uma vida mais promissora que a que levava em Portugal, mas estava longe de imaginar que viria a ser o médico pessoal de Isabel I. Mas, num reino em mudança e onde o percurso da própria Isabel até ao trono viria a ditar muitos dos valores do seu reinado, cedo o sonho se transformaria em ambição. E, com a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir, Rodrigo passaria a desempenhar também outras funções. Funções que acabariam por ditar o seu destino...
Há muito de interessante para descobrir na época histórica relativa à dinastia Tudor e o reinado de Isabel I é, por si só, um percurso fascinante. Assim, há, à partida, bastante de cativante na época histórica que serve de base para esta narrativa. E é precisamente a linha temporal deste romance um dos pontos que, desde cedo, o tornam envolvente: ao começar num período relativamente avançado (mas determinante tanto para as acções de Inglaterra como para a própria interacção entre o médico e a soberana), recuando depois para a história de Isabel, desde os últimos anos do reinado de Henrique VIII, seguindo para a sua caminhada até ao trono e, depois, o seu reinado, revela-se, desde logo, a ligação entre os dois protagonistas, que se irá evidenciando à medida que a narrativa evolui, mas que é conhecida desde o leitor desde bastante cedo.
A decorrer num longo período de tempo e com uma multiplicidade das personagens, tanto na história da rainha, como na de Rodrigo, é natural que o ritmo da narrativa seja relativamente pausado. Ainda assim, e à medida que tanto a hierarquia como a própria personalidade das personagens se tornam mais familiares, o enredo cresce em intensidade, também devido aos vários momentos emotivos que vão surgindo ao longo da narrativa.
A nível de caracterização de personagens, destaca-se, naturalmente, a personalidade de Isabel I. Nota-se um cuidado em mostrar a soberana tanto no seu papel de monarca (com todas as difíceis decisões associadas), como de mulher - sensível, amada e capaz de amar, vulnerável à perda e capaz de lealdades para toda uma vida. Humana, em suma, com todas as forças e fragilidades associadas a essa condição.
Importa referir, por último, e no que toca à escrita, algumas falhas de revisão. Não sendo nada de muito grave, são, ainda assim, evidentes algumas gralhas, palavras repetidas e vírgulas fora do sítio. E é pena, porque acaba por quebrar um pouco o ritmo de uma leitura que é, no geral, bastante cativante.
Com um contexto histórico muito interessante, uma bem conseguida caracterização de personagens e um bom desenvolvimento a nível de enredo, este é um livro que, apesar do ritmo algo pausado (e das tais gralhas), nunca deixa de ser uma leitura envolvente e agradável. Gostei, portanto.