sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Contos Fantasia

A fantasia pode assumir muitas formas. O mais improvável dos contextos pode servir de base a uma boa história. Prova disso são os dois contos que constituem este pequeno livro, diferentes em muitos aspectos, mas ambos cativantes e interessantes. Em comum, têm o elemento fantástico e o facto de serem ambos boas leituras. O resto são histórias diferentes e características diferentes.
O Toque a Finados, de Stephen Vincent Bénet, conta, através das suas cartas, a história de um general inglês que se cruza com uma personalidade peculiar. De ritmo pausado e bastante descritivo, não é propriamente uma leitura viciante. É, ainda assim, agradável, sendo particularmente surpreendente a revelação final.
Por sua vez, O Homem que Fazia Milagres, de H.G. Wells, apresenta um indivíduo que se descobre capaz de conseguir tudo o que a sua vontade deseje. Algo caricato e com uma história cativante, também não é exactamente de leitura compulsiva, mas surge num registo bastante mais leve que o do conto anterior. Não é propriamente difícil imaginar que rumo seguirá o enredo, mas a história é, ainda assim, muito interessante, o mesmo se aplicando a algumas peculiaridades do narrador.
São, pois, dois contos interessantes e envolventes, com alguns momentos verdadeiramente inesperados e uma escrita também cativante a proporcionar bons momentos de leitura. Gostei, portanto.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

As Mulheres de Summerset Abbey (T.J. Brown)

Prudence Tate viveu durante anos na companhia das irmãs Buxton, educada, segundo a vontade do pai delas, Sir Philip, para ser uma irmã para elas. Mas, agora que o seu protector morreu, a vida de Prudence vai mudar. Lorde Summerset não está interessado em acolher como convidada uma rapariga que considera inferior e, por isso, a única forma que Rowena, a mais velha das irmãs, encontra de levar Prudence consigo, é indicá-la ao tio como sendo a criada pessoal que partilha com Victoria. O objectivo é que essa seja uma solução temporária. Mas o choque da chegada a Summerset Abbey cedo se transforma em rotina e, enquanto as irmãs Buxton se adaptam às suas novas vidas, Prudence compreende que a situação não é tão temporária assim. E, apesar de ser filha de uma governanta e razão de um grande segredo em Summerset, Prudence não cresceu para ser criada particular das raparigas que conheceu como irmãs.
Situado temporalmente no início do século XX, este livro tem como um dos pontos mais interessantes a forma como representa as questões das diferenças de classe e do papel das mulheres na sociedade. A posição de Prudence é, aliás, um ponto de partida privilegiado para essa abordagem. Primeiro, porque a sua própria passagem ao papel de criada, depois de ter vivido em igualdade com as Buxton, permite uma visão mais ampla do abismo que separa os dois mundos. E, depois, porque a incapacidade - ou relutância - das irmãs em imporem o seu ponto de vista reflecte bem o que era expectável de uma jovem daquele tempo. Este são apenas os aspectos mais evidentes, já que há outros relevantes, mas associados às principais revelações do enredo.
Falando do enredo propriamente dito, a história é bastante cativante, escrita de uma forma relativamente simples, mas num registo agradável, e vai crescendo em envolvência à medida que as personagens se tornam mais familiares e os seus dilemas se tornam mais claros. Claro que sendo este o primeiro volume de uma série maior, ficam bastantes questões em aberto, mas há um linha essencial para seguir e um caminho que culmina num final de grandes revelações.
Sobre o final, fica um pouco a impressão de que alguns aspectos poderiam ter sido mais desenvolvidos, principalmente no que toca aos acontecimentos entre o último capítulo e o epílogo, já que teria sido interessante ver acontecer as mudanças que são descritas. Ainda assim, esta impressão é um pouco atenuada pelo facto de, ao longo do enredo, as personagens terem despertado empatia, o que torna justificáveis certas circunstâncias mais abruptas.
De tudo isto, a ideia que fica, no fim, é a de uma história cativante e agradável, com alguns momentos particularmente intensos e um enredo que, sendo apenas o início de algo maior, apresenta já muito de interessante. Gostei.

Novidade Topseller

Quatro homens aparecem mortos num prédio devoluto, ao lado de um braço decepado que não pertence a nenhum deles. Com o passar dos dias começam a surgir outros membros humanos espalhados por Lisboa, até ser evidente que são partes do corpo de uma jovem de dezasseis anos, filha de um dirigente político, que foi assassinada e que estava desaparecida havia meses.
As investigações destes casos estão a cargo da inspetora-coordenadora da  PJ, Patrícia Ponte, ex-mulher de Gabriel Ponte, que enfrenta agora obstáculos dentro da própria PJ, além da pressão do ex-marido, que quer informações sobre o caso, e da jornalista Filomena Coutinho, que foi a causa da separação deles.
Os três acabam por descobrir um inferno escondido nos túneis subterrâneos de Lisboa: uma arena onde especialistas em combate corpo a corpo massacram homens e mulheres, numa imitação dos combates de gladiadores da Roma Antiga.

Escritor e tradutor profissional, Pedro Garcia Rosado elegeu o policial como o seu género de eleição, sendo o único autor português de thrillers a publicar um livro por ano na área da literatura policial. As suas narrativas vibrantes e contemporâneas têm conquistado os leitores portugueses que gostam de adrenalina e de enredos repletos de mistério e suspense.
Pedro Garcia Rosado foi jornalista em O Diário, O Jornal e no Diário de Notícias, colaborador no Expresso e na Grande Reportagem (1.ª série). Foi ainda crítico de cinema no Se7e e JL.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A Outra Face (Bárbara Salas)

Pamela Montenegro é uma mulher rica, poderosa e sem preconceitos, habituada às maiores aventuras e sem qualquer apego ao afecto. Mas tudo muda no momento em que se cruza com Rafael. Modesto funcionário de uma loja de telemóveis, dificilmente poderia ser mais diferente de Pamela. Ainda assim a atracção é imediata e basta um encontro para que ambos se sintam prontos a embarcar numa aventura de sensualidade sem reservas. O problema é que ambos querem coisas diferentes da relação que mantêm. E, mais que todas as diferenças de estatuto, pode bem ser isto a despoletar a separação.
Sendo este livro apresentado como um romance erótico, não é difícil deduzir que a atracção e o sexo terão um papel dominante ao longo do enredo. Ainda assim, há uma história associada a estes aspectos e o que mais cativa neste livro é precisamente o facto de tentar criar vidas e histórias para as personagens, para lá do que têm um com o outro (e não só). A premissa da mulher poderosa e da partida para a aventura é cativante quanto baste e há, de facto, alguns momentos bastante bem conseguidos. Além disso, a linha geral dos acontecimentos é interessante.
Mas há algumas fragilidades evidentes. A primeira prende-se, desde logo, com a revisão pouco cuidada, já que é difícil entrar no ritmo da leitura quando há frases estranhas, mudanças confusas de tempos verbais e inclusive alguns erros ortográficos. Não são, ainda assim, suficientes para prejudicar por completo a leitura.
O problema é que há outras questões. Tudo sucede demasiado depressa, o que leva a que muitas situações pareçam demasiado forçadas. O mesmo acontece com os diálogos, com a repetição de algumas expressões e a improbabilidade de outras a criar uma sensação global de estranheza. A leitura mantém-se cativante quanto baste para querer saber o que acontece a seguir, mas torna-se difícil projectar como real o que está a ser relatado. Além disso, alguns excessos descritivos no visual das personagens tornam certos momentos um pouco cansativos.
A impressão que fica é, assim, a de uma ideia interessante e de uma história que consegue ser de leitura agradável. Mas também de um enredo que, com um maior desenvolvimento e uma revisão mais atenta, poderia ser bastante mais cativante. E é isso, principalmente, que falta.

Novidade Sextante

Sean Devine, Jimmy Marcus e Dave Boyle são três amigos de infância. Um dia, um estranho carro parou na rua onde brincavam. 
Dave é levado pelos homens do carro, os outros ficam no passeio e algo de terrível vai acontecer que acabará com a amizade dos três e mudará as suas vidas para sempre. Vinte e cinco anos mais tarde, Sean é detective de homicídios, Jimmy é um ex-presidiário dono de uma loja e Dave está a tentar controlar os seus demónios. Quando a filha mais velha de Jimmy aparece assassinada, Sean é um dos detectives encarregados do caso. Mystic River é um thriller psicológico excepcional que serviu de base ao notável filme homónimo de Clint Eastwood.

Dennis Lehane nasceu e foi criado em Dorchester, Massachusetts. Antes de se dedicar à escrita a tempo inteiro, trabalhou com crianças sofrendo deficiências mentais e vítimas de abusos, foi empregado de mesa, motorista de limusinas, livreiro e carregador. Várias vezes premiadas e traduzidas em 22 línguas, algumas das suas obras foram também adaptadas ao cinema em filmes de grande êxito junto do público e da crítica, como Mystic River, Shutter Island e Gone, Baby, Gone.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Calafrio (Henry James)

Enviada por um tio desinteressado para educar duas crianças aparentemente inocentes, uma jovem preceptora vê-se num ambiente que é, não só de solidão, mas também de mistério. Por mais adoráveis que os seus pupilos possam ser, há um ambiente sombrio na velha casa e, ao ver pela primeira vez um desconhecido - que cedo se descobre ser também um fantasma - a jovem compreende que algo de negro está para acontecer. Mas sabe também que o que se passa não é algo que possa partilhar, mas antes uma batalha que tem de travar sozinha. A questão é se será possível vencer, quando tudo são enigmas e pouco há para provar as suas convicções.
Sendo esta, essencialmente, uma história de fantasmas, é expectável, antes de mais, encontrar um bom ambiente de mistério e alguma tensão. Neste aspecto, este livro não desilude. Narrado maioritariamente na primeira pessoa pela jovem protagonista, há, desde o início, uma aura de mistério a ganhar forma na história, aura essa que acaba por ser o que de mais cativante há nesta leitura.
Desta aura de mistério, e da perspectiva relativamente limitada da protagonista, que, ao narrar a história, o faz segundo as suas graduais descobertas, resulta, contudo, também uma inevitável ambiguidade. E se há, de facto, vários enigmas a serem desvendados ao longo do enredo, muito há também que nunca é completamente explicado, aprofundado, descrito. Desde a influência dos fantasmas, ao que os levou até ali, e passando por questões como o papel do tio na vida das crianças e a presença ou não de uma vontade própria nos pensamentos delas, há muito que é apenas insinuado. E se isto contribui, de facto, para adensar o mistério, deixa também a impressão de algo por dizer.
Ainda dois outros pontos chamam a atenção. O primeiro é o capítulo introdutório à história, que, ao mesmo tempo que desperta a curiosidade para o enredo central, apresenta vários detalhes relevantes. O outro diz respeito à intensidade do final, que, em poucas linhas, consegue surpreender tanto ou mais que em tudo o resto do livro, tornando essa conclusão memorável. De entre todas as questões sem resposta, surge uma certeza brusca e forte, que, precisamente por ser inesperada no rumo - e no ritmo - da narrativa, acaba por surpreender.
Sombrio e cativante, ainda que sem todas as respostas, não se pode dizer que este seja um livro de leitura compulsiva. Mas, com um ambiente bem construído, uma intrigante aura de mistério e alguns momentos particularmente brilhantes, apresenta, ainda assim, mais que o suficiente de elementos interessantes. Vale a pena ler, portanto.

domingo, 25 de agosto de 2013

México, 1850 (Sebastian Rook)

A caminho do México, onde esperam chegar antes de Camazotz, de modo a que possam ser eles a encontrar a última parte do amuleto, Ben, Jack e Emily sabem que a jornada em que embarcaram é perigosa. O que não sabem é que desta vez não estão sozinhos. Cientes da libertação de Camazotz, a Irmandade de Chac vigia e prepara-se para o combate com o deus vampiro. E, entre eles, está alguém que Ben e Emily julgaram nunca mais ver. Numa luta tão difícil, todos os aliados são preciosos. Mas serão, mesmo assim, suficientes?
Retomando os acontecimentos no ponto onde ficaram no livro anterior, e abrindo caminho para uma inevitável conclusão, este livro é, no fundo, o resultado de um desenvolvimento das características dos anteriores. Não surpreende, por isso, que tenha os mesmos pontos fortes. Tal como os anteriores, o ritmo é envolvente, ainda que nem sempre compulsivo, e a escrita é bastante agradável. Heróis e vilões são essencialmente os mesmos, apesar de algumas novas presenças, o que cria, desde logo uma sensação de proximidade, ao mesmo tempo que prepara algumas surpresas interessantes. E quanto ao desenvolvimento dos mitos, há sempre alguns elementos novos para descobrir.
Também aqui a acção continua a ser o foco central, mas há também um maior desenvolvimento das personagens e das suas ligações. E isto não acontece apenas relativamente aos três protagonistas. Situações de engano e traição criam um forte contraste com a força e a solidez da amizade, o que leva a que alguns momentos - principalmente na fase final - acabem por ser particularmente surpreendentes.
Haveria, talvez, ainda um pouco mais a explorar em termos de mitologia. Ainda assim, os elementos utilizados são desenvolvidos de uma forma bastante interessante e a forma como a luta contra Camazotz se conclui tem, de facto, alguns momentos muito bons.
Intrigante e envolvente, com alguns momentos de particular intensidade e um enredo muito bem conseguido, México, 1850 é, em suma, uma boa conclusão para o conflito entre Ben, Jack e Emily e o sombrio Camazotz. Há, seguramente, mais para descobrir sobre estes três amigos. Mas, enquanto conclusão desta sua aventura, tudo neste livro resulta bastante bem. 

sábado, 24 de agosto de 2013

Príncipe Mecânico (Cassandra Clare)

Depois do perigo e da traição, Tessa Gray encontrou, finalmente, alguma segurança junto dos Caçadores de Sombras do Instituto de Londres. Aí encontrou também o que de mais próximo podia desejar de uma segunda família. Mas a ameaça não se desvaneceu. O Magister continua atento e a elaborar planos e o braço da sua influência é longa. A liderança do Instituto foi questionada. Agora, os Caçadores de Sombras estão numa corrida contra o tempo, já que o prazo é curto e, se não encontrarem Mortmain, Charlotte perderá a sua posição. O problema é que a estratégia de Mortmain é segura e intrincada. E entre as traições do interior, as revelações por descobrir e o perigo que, de diferentes formas se manifesta, o caminho não será fácil para os Caçadores de Sombras. Muito menos, tendo em conta as suas próprias batalhas interiores.
Dando continuidade aos acontecimentos narrados em Anjo Mecânico, este livro apresenta, essencialmente, os mesmos pontos fortes, desde a escrita agradável e envolvente, ao ambiente interessante, sem nunca esquecer um enredo cativante e rico em momentos intensos e um conjunto de personagens fortes. Isto bastaria para fazer deste livro uma boa leitura. Mas, naturalmente, sendo este um segundo volume, há desenvolvimento e evolução, e isto é também uma parte fundamental.
Tal como no livro anterior - e na outra série da autora - são as personagens um dos aspectos que mais se destaca. Se, em Anjo Mecânico, era interessante notar alguns traços comuns entre as personagens desta série e as da outra série, aqui o que mais sobressai é o crescimento dos seus traços particulares. Os paralelismos continuam presentes, mas são agora as diferenças a ser realçadas, sendo isto particularmente evidente na história de Jessamine. Mas não só. Além disso, a identidade das personagens enquanto elas próprias tem também muito de fascinante, desde as razões para o lado mais negro de Will à forma como as suas ligações se definem, sem esquecer o estranho casal formado por Charlotte e Henry. Há muito a acontecer nas histórias pessoais destas personagens e, por isso, muita empatia e vários momentos emotivos.
Mas há uma ameaça a considerar e, ainda que as batalhas pessoais sejam uma parte importante desta história, Mortmain, o inimigo central, nunca deixa de ser importante. Com uma presença mais discreta, é certo, neste livro, deixando o protagonismo às figuras por si controladas, mas também com uma série de desenvolvimentos interessantes relativamente aos seus planos, passado e intenções. 
Continua a haver muitas perguntas sem resposta, quer na batalha contra Mortmain, quer no inevitável romance, até porque este último tem alguns desenvolvimentos que, não sendo completamente inesperados, abrem caminho, ainda assim, para uma situação potencialmente complicada. Fica, pois, muita curiosidade em saber de que forma se encerrará esta trilogia e que respostas serão dadas para as muitas questões deixadas em aberto.
Cativante, com um conjunto de personagens interessantes e uma série de bons momentos, tanto de acção como de emoção, Príncipe Mecânico apresenta novos desenvolvimentos e um caminho interessante para as personagens dadas a conhecer no livro anterior. Não desilude, portanto, este segundo volume. Muito bom.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Esperança (Albertina Fernandes)

Nascida e criada num meio rural, Rosa viveu as mesmas experiências de muitas raparigas do seu tempo. Mas havia na sua família uma serenidade e uma harmonia invulgares - e uma ligação as artes. Todos os seus irmãos eram talentosos, e também ela o era, mas enquanto os outros partiam em busca de um caminho para voar, Rosa apegava-se à vida familiar e ia ficando. Consigo, tinha a paixão pela escrita, um certo amor à tranquilidade e as marcas de algumas experiências. Mas seria o suficiente? Agora, recordando a sua história, Rosa percorre memórias e emoções, num romance que é quase um diário e a narradora é também protagonista.
Narrado na primeira pessoa e num registo bastante introspectivo, este é um livro em que as reflexões e o acto de recordar têm um papel tão importante como os acontecimentos propriamente ditos. Enquanto narradora e mulher que recorda, Rosa analisa muitos dos acontecimentos e sentimentos do passado. Isto confere à narrativa um ritmo relativamente, já que as considerações são abundantes. E se, por vezes, esta introspecção se torna demasiado longa, mais centrada nas ideias que na história, também é verdade que muitos dos pensamentos são interessantes e que há, inclusive, alguns trechos particularmente marcantes.
Este é um livro bastante breve, pelo que essa dispersão em pensamentos acaba por retirar, por vezes, o destaque à história. Mas a história está lá e, ainda que alguns aspectos pareçam explorados de forma um pouco apressada (seria interessante saber mais sobre a vida de Cecília, por exemplo, ou dos irmãos de Rosa), outros há em que a abordagem ambígua resulta particularmente bem, como é o caso da relação da protagonista com o seu "cientista".
A nível de escrita, o tom divagativo e introspectivo é bastante agradável, pontuado com alguns laivos de poesia, e a narração é, na globalidade, bastante cativante. O recurso a citações parece, por vezes, um pouco exagerado, até porque a autora expressa bem as suas ideias pelas próprias palavras, mas, por outro lado, essas citações fazem sentido no contexto da história e a perspectiva da protagonista complementa-as.
Breve e cativante, com uma protagonista que se revela no seu mais íntimo e uma história interessante, mesmo nas suas ambiguidades, eis, em suma, um livro agradável e envolvente, com um bom enredo e algumas reflexões muito bem conseguidas. Gostei.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O Meu Cão e Eu (Alexandra Santos)

Diz-se que o cão é o melhor amigo do homem e pode ser, de facto, um companheiro inestimável. Mas há muito a ter em conta quando se decide ter um cão. Factores como as características da raça, a disponibilidade do dono e a escolha de um cão que se adapte ao seu estilo de vida, os cuidados necessários e, é claro, o treino, são apenas alguns dos muitos factores a considerar. Este livro surge como um guia prático e completo para muitas dessas questões, não só relativamente ao treino, mas ao cenário geral, desde o momento em que se decide ter um cão até aos últimos dias do nosso companheiro.
Um dos vários pontos fortes deste livro e o primeiro a sobressair é o facto de ser acessível. A autora baseia-se na sua experiência profissional, mas também na ligação que tem com os seus próprios cães, o que confere ao livro um registo claro e preciso, mas também uma linguagem acessível, de fácil compreensão e com uma perspectiva pessoal que torna a leitura mais cativante. É importante assimilar as dicas, as ideias, as técnicas, mas a forma como são apresentadas também é relevante, e a autora faz a sua exposição de forma muito empática e muito interessante.
Outros dois pontos fortes são o facto de ser organizado e completo. Organizado, porque cada capítulo é dedicado a um aspecto em particular, e completo porque aborda todos os tópicos essenciais. Não surpreende que o treino seja o tema que se destaca, quer devido à experiência profissional da autora, quer pelo facto de haver muitas questões relativas a este tópico. Mas há mais para lá do treino, e esses elementos - alimentação, cuidados veterinários, linguagem corporal, entre outros - também não são esquecidos.
Ainda um último ponto positivo é o facto de ser esclarecedor. A linguagem acessível, as imagens, a organização, tudo contribui para que o conhecimento seja facilmente transmitido. Mas imprescindível também é o conhecimento em si e, nesse aspecto, a autora aborda todo um conjunto de questões e ideias relevantes, dando muitas dicas úteis e uma série de respostas claras e importantes.
O resultado de tudo isto é um guia útil e completo para quem já tem ou pensa vir a ter um cão - ou vários - em casa. Claro, acessível e agradável de ler, um óptimo livro para actuais e futuros donos. Recomendo.

Divulgação: Um Lugar Chamado Evalon

Sinopse: Ally é uma rapariga comum, habituada a viver uma vida simples numa aldeia desinteressante, sem grandes surpresas ou aventuras extraordinárias, mas tudo isso muda no dia em que ela descobre que é especial. Ally é uma credentis levada numa viagem surpreendente para o mais misterioso e perfeito dos mundos, Evalon um lugar cheio de criaturas diferentes que só existe devido à crença desinteressada de alguns humanos. Neste mundo indescritível, Ally conhece um dos mais poderosos sentimentos do homem, o amor que é capaz de trespassar todas as barreiras impostas pela vida com que ela se depara. De humana a credentis, de débil a portadora de um poder imenso, esta é a história de uma rapariga que se deixa levar pelos mais fortes sentimentos e que se atreve a lutar contra tudo que lhe foi imposto apenas para se dar à possibilidade de ser eternamente como é.

Sobre a autora: "Chamo-me Catarina Seabra, uso o nome do meu pai porque gosto mais da forma como soa quando o digo em voz alta. Tenho 18 anos, feitos em Setembro do ano passado, o que me leva a pensar que continuo a crescer a uma velocidade pouco desejada… Quer dizer crescer como quem diz, o número muda, mas pouco mais muda com ele. Moro em Vila Nova de Gaia, para quem não sabe é um lugar bem pertinho da praia. Consigo sentir o cheiro a mar quando abro a janela, por isso mudemos o “pertinho” para muito perto. Sou estudante ou pelo menos essa é aquela que todos dizem ser a minha profissão, mas para ser sincera não estudo assim tanto, já estudei mais e hoje faço outras coisas com o meu tempo, como escrever, apagar o que escrevo e escrever de novo. E basicamente é isto, se faltar alguma coisa a vida completa, ela completa sempre."

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bruges-a-Morta (Georges Rodenbach)

Para lidar com a morte de uma esposa amada, ou para perpetuar a sua dor, Hugues Viane muda-se para a cidade de Bruges, lugar que vê tão dolorido, tão melancólico como o seu próprio ser. Mas a tranquilidade do seu luto acaba por ser perturbada quando se cruza com Jane, a bailarina que tem o rosto, os cabelos, a voz da sua morta. Cedo Jane se torna uma obsessão para Hugues e um escândalo para os que o observam. Mas a verdadeira perda - o verdadeiro drama - acontece no seu interior, ao aperceber-se de que as semelhanças são só isso, semelhanças. E que a realidade completa se assemelha a uma desilusão.
Sendo um livro bastante breve, é expectável que, neste livro, tudo se centre no essencial. É, de facto, isso que acontece. Ainda assim, o ritmo da narrativa acaba por ser relativamente pausado, em grande medida devido a alguns momentos descritivos. Momentos que, se abrandam, de facto, o passo do enredo, são, ainda assim, um elemento essencial, quer porque tornam o cenário mais nítido, quer porque este se relaciona intimamente com os estados de alma do protagonista.
Há uma imensa ligação entre o luto e a melancolia de Hugues e a forma como ele vê Bruges, a sua cidade morta e sombria. Esta proximidade, em que homem e lugar quase se completam, é um dos pontos mais interessantes do livro. Mas a cidade não se resume ao que se revela nos olhos do protagonista e a percepção das mentalidades está também muito presente na forma como o comportamento de Hugues é analisado e comentado, pelos vizinhos, pelos religiosos. Também este é um elemento do cenário: o meio pequeno em que todos sabem tudo sobre todos.
Quanto ao enredo propriamente dito, sendo necessariamente breve, fica, talvez, a impressão de que mais haveria para explorar nalguns aspectos. Ainda assim, tudo o que é essencial está lá: intriga, traição e morte, num final que, não sendo propriamente difícil de prever, surpreende, ainda assim, pelo impacto de certos momentos. E, claro, pela fluidez das palavras.
Trata-se, então, de um livro, breve, mas cativante, com uma história que é tanto a de um crime e de uma tragédia, como a de um homem em luto que se deixa conquistar pela ilusão. Uma leitura cativante, com um ambiente muitíssimo bem construído e uma história que é muito mais que os acontecimentos que lhe servem de base. Um bom livro, em suma.

Novidade Porto Editora

Bruno Brian di Monreale, o Barão, como é conhecido, é o último descendente de uma antiga e nobre família siciliana. Bruno cresce na Califórnia, com um pai severo e distante e uma mãe dividida entre um casamento precipitado, onde não existe amor, e uma paixão deixada na sua Sicília longínqua. Mas são as raízes sicilianas que levam Bruno a regressar à sua ilha natal, ao seu avô, um velho aristocrata, e a Calò, o padrinho sempre presente. Serão estas duas figuras que lhe irão transmitir o saber ancestral das velhas famílias da nobreza e da sua ética e código de justiça. Bruno di Monreale envolve-se nos negócios do petróleo e das grandes multinacionais, tornando-se num homem poderoso e fascinante. Os amores inconsequentes e os casos fortuitos sucedem-se na sua vida glamorosa mas dominada pela insatisfação, até que se cruza com Karin, uma mulher reservada e misteriosa – o desafio por que Bruno ansiava e que lhe irá trazer o equilíbrio há tanto desejado.

Reconhecida como a grande signora do bestseller italiano, com mais de 11 milhões de exemplares vendidos, Sveva Casati Modignani está traduzida em 17 países e é hoje uma das autoras mais populares em Portugal. No catálogo da Porto Editora figuram já os seus romances Feminino Singular, Baunilha e Chocolate, O Jogo da Verdade, Desesperadamente Giulia, O Esplendor da Vida, A Siciliana, Mister Gregory, A Viela da Duquesa e Um Dia Naquele Inverno. A sua obra autobiográfica, O Diabo e a Gemada também já se encontra publicada no catálogo da Porto Editora. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sangue e Ouro (Anne Rice)

Nascido na Roma imperial e, contra a sua vontade, roubado ao mundo dos mortais, Marius cedo descobriu a missão da sua longa existência. Era ainda jovem quando o espírito de Akasha, primeira entre todos, o chamou ao Egipto e o tornou guardião de Aqueles que Devem ser Preservados. Mas, mesmo com a missão de guardar os imutáveis, a eternidade seria longa e solitária. Agora, passadas eras de existência, Marius recebe a visita de um como ele. E a ele contará a a sua história.
Para quem segue as Crónicas do Vampiro, Marius dificilmente será uma personagem desconhecida. Complexo e misterioso, desempenhou um papel fundamental em muitos dos volumes anteriores. Ainda assim, longas partes da sua história continuavam a ser um enigma. Sangue e Ouro traz a narração dessas partes em falta. E, contadas pela voz do próprio Marius, sempre intensa e sempre pessoal, também essas memórias exercem vasto fascínio.
Tal como os outros livros da série, também este surge com o mesmo ritmo pausado, descritivo, muitas vezes, introspectivo. Parece ser algo de característico nestes livros. Tal como Lestat, também Marius analisa e pondera, considera a sua história e o que viveu, mas também o que pensou e sentiu. Isto faz com que o enredo avance, de facto, a um ritmo mais lento, mas sem lhe retirar qualquer parte da intensidade. 
Também característico destes livros é a complexidade das personagens, tanto no que caracteriza os vampiros, como na sua personalidade individual. E, enquanto figura antiga e complexa, Marius é fascinante, tanto pela sua história, como pela forma como esta se reflecte em sentimentos. Carismático, de forças insondáveis, mas com traços de uma vulnerabilidade comovente, Marius protagoniza, através da sua longa vida, uma história que, sendo muito pessoal, se aproxima em muito das dos outros vampiros. Há, aliás, pontos em comum com o enredo de outros livros (sendo, é claro, de destacar a parte que diz respeito a Armand). Mas estes pontos, longe de tornarem a história repetitiva, acrescentam algo de novo, pois são vistos pela perspectiva de Marius, personagem que, até agora, misteriosa, é aqui apresentada em toda a sua complexidade.
Ainda um outro aspecto interessante é que, apesar de haver já muitos volumes prévios a este livro, a autora acrescenta sempre algo de novo ao seu sistema, seja nos pequenos detalhes de uma história pessoal, seja no que toca a poderes que só alguns vampiros conhecem. Há sempre algo de novo para descobrir e isto faz com que, além de cativante no geral, e comovente nos seus momentos mais fortes, haja também algo de surpreendente pronto a surgir em algum acontecimento.
Complexo e fascinante, quer pelo seu protagonista complexo, quer pela perspectiva mais ampla que surge das suas vicissitudes, Sangue e Ouro acrescenta a um mundo já vasto e interessante, ainda novos elementos de fascínio. E tudo - cenário, personagens, emoções - se equilibra da melhor forma, para moldar uma história sempre mais vasta e brilhante. Soberba, em suma.

domingo, 18 de agosto de 2013

Vidas ao Vento (Jorge Lima)

Tudo é vaidade. Ou, pelo menos, assim parece ser na vida da família Rokh. Ricos, poderosos, influentes, Lara e Ricardo Rokh, e os seus filhos, Álvaro e Celeste, são, ainda assim, guiados por aspirações diversas, que, tendo, no fundo, sempre a vaidade presente, os guiam com firmeza na direcção de um caminho perigoso. Nem a vontade de dominar que gere a vida de Ricardo, nem os sonhos de Lara de um lugar mais novo, mais culto, nem mesmo a eterna solidão de ser diferente na mente de Celeste ou a necessidade de Álvaro se afastar das ideias dos pais estão completamente isentas dessa tal vaidade. Os seus passos, esses, avançam num percurso conturbado...
Totalmente centrado no conceito de vaidade e no que esta implica, tanto em acções como em consequências, há, inevitavelmente, uma forte componente de introspecção e reflexão filosófica neste livro. Nesta, há uma série de ideias interessantes e um conjunto de questões pertinentes, ainda que, por vezes, o discurso moralizante se torne um pouco excessivo, principalmente numa fase inicial em que os protagonistas são ainda pouco familiares. Mas há mais neste livro para além de reflexão e a história que, gradualmente, se revela por entre as várias ponderações, tem bastante de interessante.
Inicialmente, não é muito fácil sentir empatia para com as personagens. Sendo a sua vaidade o que é enfatizado, nem sempre são as ideias e atitudes mais positivas as que primeiro se destacam. Ainda assim, e entre pensamento e reflexão, as personalidades e pontos de vista das personagens vão-se revelando mais complexos, à medida que mais se reflectem em acções. Esta evolução abre caminho a um crescendo de intensidade, sendo a última parte particularmente cativante, e surpreendente na forma como encerra o enredo.
A nível de escrita, o texto flui a um ritmo relativamente pausado - devido à abundância de análises e pensamentos - mas de forma cativante. A leitura nunca deixa de ser agradável e há, na forma como a história é narrada, com alguns recuos no tempo e o recurso a diferentes pontos de vista, uma insinuação de mistério que se torna particularmente cativante. Além disso, ao dar ao narrador uma voz própria e as suas próprias opiniões, também ele é convertido em personagem, o que acaba por criar uma certa proximidade relativamente aos acontecimentos.
A soma de tudo isto é um livro que, não sendo de leitura compulsiva, não deixa de ser interessante, quer pela análise do seu tema fulcral, quer pela forma como este se reflecte na história das personagens. Uma boa leitura, portanto.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Paris, 1850 (Sebastian Rook)

As suas aventuras no combate a Camazotz deixaram em Emily, Ben e Jack um certo interesse nos assuntos maias... e o alívio de ver tudo terminar. Mas e se não tiver terminado? Esse é o pressentimento que assombra o pensamento de Jack e que cedo se revela acertado. Um convite do professor Adensnap leva os três jovens a Paris e a um inevitável confronto com o seu já conhecido inimigo. É que Camazotz continua à solta e, mais uma vez, é preciso que alguém faça alguma coisa para o parar.
Dando continuidade à aventura do primeiro volume, e, em certa medida, seguindo o mesmo percurso, este livro tem, também, as mesmas características essenciais do anterior. A escrita mantém o mesmo estilo directo e a acção continua a ser o elemento dominante. Na verdade, há até circunstâncias, a nível do enredo, bastante semelhantes, devido à necessidade dos protagonistas de contar - mais uma vez - a sua história a um adulto céptico. 
Mas há também novos elementos e um maior desenvolvimento dos já existentes. O ambiente continua a manter a mesma aura de mistério, adensada agora por novos elementos mitológicos e por situações mais complicadas para os protagonistas. Além disso, estes são agora figuras familiares, pelo que é mais fácil entrar nas suas histórias, que se tornam ainda um pouco mais interessantes por haver novos desenvolvimentos a nível de relações e empatia.
Ainda um outro aspecto curioso é que, ainda que os três jovens sejam personagens fundamentais, a história parece centrar-se um pouco mais em Jack. Sendo este o mais particular dos três protagonistas, com as suas origens a moldar uma coragem surpreendente, é particularmente cativante ver a sua evolução e, ao mesmo tempo, as suas perspectivas sobre o estranho mundo em que, quase sem querer, entrou.
Também aqui surgem perguntas em aberto, o que é natural, uma vez que a série continua. Mas se, no primeiro volume, havia uma conclusão, ainda que parcial, aqui tudo fica em aberto, deixando no ar muitas possibilidades para a próxima fase da aventura de Ben e dos seus companheiros. Fica, pois, ainda muito para revelar, mas também muita curiosidade em saber como irá evoluir a aventura dos três protagonistas.
Com um ambiente interessante e um muito agradável tom de mistério, eis, pois, uma boa continuação para a aventura iniciada em Londres, 1850. Cativante e surpreendente, uma boa leitura.

Novidades Clube do Autor

Numa quinta-feira, Jeanie conhece Ray no parque e, aos poucos, vão cimentando uma amizade tranquila. Conversam, riem-se, partilham esperanças e segredos, e até desgostos de amor. Oferecem um ao outro uma nova oportunidade na vida e no amor, mas será que vão ter coragem de a agarrar?
Por que razão não posso encontrar-me com um homem no parque, enamorar-me e ter relações sexuais com ele? – pergunta Hilary Boyd.  Lá por não ser jovem uma mulher não deixa de gostar de sexo, acrescenta. Neste sentido, Boyd acaba por incitar as mulheres a assumirem a sua liberdade de escolha e a não temerem julgamentos. 
Porque, afinal, o amor não tem prazo de validade.

Numa noite luminosa, numa ponte sobre o rio Neva, um jovem sonhador depara-se com uma mulher em lágrimas. Petersburgo está mergulhada em mais uma das suas noites brancas, um fenómeno que faz as noites parecerem tão claras quanto os dias e que confere à cidade a atmosfera onírica ideal para o encontro entre essas duas almas perdidas. 
Ao longo de quatro noites, o tímido jovem e a ingénua rapariga estabelecem laços intensos, mas o desenrolar romântico deste fugaz encontro pode estar ameaçado… 
Mas será isso realmente o mais importante?

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O Livro Negro (Hilary Mantel)

Passaram três anos desde o segundo casamento do rei. Apesar do desdém da nobreza, Thomas Cromwell é um homem poderoso. Mas, mais uma vez, as vontades do rei estão a mudar. A sua segunda rainha parece também incapaz de lhe dar o desejado herdeiro. A primeira mulher recusa-se a aceitar a sua vontade. E os olhos de Henry são atraídos para a serena e mansa Jane Seymour. Mais uma vez, tomam-se partidos, sussurram-se rumores, intriga-se, conspira-se. E, no centro de tudo, Cromwell observa e age, movido pelas suas próprias ideias e pelo caminho que julga mais seguro... Sabendo que ninguém está seguro, se a vontade do rei for contrariada.
Retomando a história iniciada em Wolf Hall, O Livro Negro continua a percorrer o caminho da vida de Thomas Cromwell, da sua história e da época em que viveu. E fá-lo com total mestria. Fascinante em muitos aspectos, este é um livro surpreendente, cativante e, claro, muitíssimo bem escrito. Brilhante, portanto, em todos os aspectos.
Comecemos pela escrita. Hilary Mantel tem uma voz muito própria, elaborada, num estilo peculiar. Esta voz, familiar já para quem leu Wolf Hall, confere, inicialmente, à leitura, um ritmo mais pausado, mas, uma vez assimiladas as suas particularidades, torna a narrativa fascinante. Poética nos momentos certos, com um ritmo invulgar e uma adaptação muito precisa aos diferentes cenários e perspectivas, tudo na forma como este livro está escrito revela o seu brilhantismo, desde os momentos mais solenes aos traços de um humor que é também peculiar.
Esta mestria na construção do texto estende-se também ao desenvolvimento da história. Neste livro, tudo é relevante, sejam os grandes acontecimentos e as pequenas conversas. E isso vai sendo insinuando ao longo do texto, mesmo que, nalguns casos, a sua importância só se revele mais tarde. Além disso, todo o enredo é interessante, desde a história do rei, às intrigas das quais Cromwell é o centro, passando pelo desenvolvimento completo e claro do contexto em que tudo decorre. Contexto que não se resume a nomes e a eventos, mas que abrange até hábitos do quotidiano.
Ainda interessante é o desenvolvimento das personagens, de entre as quais sobressai Cromwell, como seria de esperar, mas em que todos os elementos são bem desenvolvidos. Neste livro, todas as personagens são complexas, com motivos e pensamentos associados a pensamentos, palavras e acções. Também isso torna a história mais viva, já que é fácil imaginar estas personagens tal como teriam sido no seu tempo e na realidade.
Tudo é, portanto, fascinante neste livro, desde a complexidade das personagens à intensidade que os momentos ganham, moldados pela tão expressiva e tão própria escrita da autora. Por tudo isto, O Livro Negro não desilude e fica na memória bem depois de terminada a leitura. Brilhante, pois.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Soberba Escuridão (Andreia Ferreira)

Carla é uma jovem bastante normal. Gosta de ler sobre o sobrenatural, porque é um tema que lhe interessa, mas, no restante, a sua vida é bastante rotineira. Até ao dia em que começa a ver uma sombra. Então, o medo começa a fazer parte da sua vida. Primeiro, o medo da loucura, pois mais ninguém consegue ver o que ela vê. Depois, algo de mais profundo, de mais negro, que cresce à medida que as coisas se tornam mais estranhas. Ao mesmo tempo, o rapaz mais belo que alguma vez viu entra na sua vida. Mas Caael é cheio de segredos. E o inexplicável acontece quando ele está por perto.
Narrado na primeira pessoa e com uma protagonista jovem, este é um livro em que o que mais surpreende são alguns dos aspectos sobrenaturais e o ritmo envolvente, em que vários momentos intensos mantêm a curiosidade em saber mais sobre a história. Não é difícil reconhecer, ao longo do enredo, algumas influências de Crepúsculo e similares, particularmente na postura de Caael e na forma como a protagonista reage à sua presença. Ainda assim, há elementos suficientes, com o evoluir da história, para diferenciar esta história, quer a nível de cenário, quer da introdução de outros elementos sobrenaturais.
Estes elementos são, aliás, um dos grandes pontos fortes deste livro. Parte essencial da aura de mistério que define a história, são, é claro, revelados de forma muito gradual, havendo ainda bastantes questões em aberto. Mas a conjugação de diferentes figuras, de anjos e demónios, passando pelos inevitáveis vampiros, abre portas a várias possibilidades interessantes. Além disso, ao lado romântico contrapõe-se um conjunto de momentos mais sombrios, que tornam a história mais equilibrada e também mais interessante.
A escrita é, no geral, agradável, apesar de algumas frases um pouco estranhas, que facilmente seriam resolvidas com uma revisão mais atenta. Felizmente, estes lapsos não são frequentes ao ponto de prejudicarem em demasia a leitura, pelo que, na generalidade, o ritmo dos acontecimentos se sobrepõe a esses momentos menos bem conseguidos.
Ainda uma referência para o final, que, intenso e surpreendente, deixa muito em aberto para o que poderá acontecer no livro seguinte. E, desde logo, muita curiosidade em continuar a ler.
Com um lado sombrio particularmente cativante e uma história interessante, eis, pois, uma leitura agradável e envolvente, e um início bastante promissor. Gostei.

Divulgação: O Armazém e Outras Estórias

Com temas muitos distintos, que vão do amor, à solidão, à velhice, ao sexo, à morte, à amizade, à unreality TV até ao fantástico, “O Armazém e Outras Estórias” revela-nos a ansiedade e a insegurança que temos connosco próprios, que jamais ousaremos contar a alguém, e a certeza que estamos sozinhos mesmo quando rodeados pelos nossos mais queridos. 
Em “O Armazém e Outras Estórias” pratica-se um requintado exercício de voyeurismo dos costumes, num desfile de fantasias, anseios, equívocos, manias e pequenos milagres que povoam o quotidiano de personagens maioritariamente anónimas. Num estilo fotográfico e linguagem elegantemente despudorada (já revelados em 2001 Instantâneos de Sapo) dá-se corpo a um universo que pode ser tão hilariante e patético, ou terno e improvável, quanto a vida de cada um de nós. Entre alguns dos contos mais emblemáticos destacam-se “A confidente” – o que poderá levar um indivíduo com fobia social que viaja numa carruagem do metro a sentir-se seguro para partilhar as suas angústias? –; “A porca”, em que um caso de amor alternativo tem um desfecho inesperado; e “Roy Blue está na cidade”, o qual revela o que mais se poderá ter, além de fama, para deixar a nossa marca no mundo. São 18 estórias escritas numa perspectiva individual e intimista, ilustradas por João Raposo.

PATRÍCIA MADEIRA nasceu em Coimbra, Portugal. Estudou no Porto. Fez teatro e jornalismo universitário, fez rádio em estações amadoras e regionais, desenvolveu um programa de música étnica como membro de uma organização não governamental. Trabalhou como redactora em diversas agências nacionais e multinacionais. 
Em 2001, publicou o seu 1.º livro de ficção "2001, Instantâneos de Sapo", pela Oficina do Livro. Em 2003 publicou o seu segundo livro de ficção, "Lau Mim", sob a chancela Temas e Debates. 
Actualmente vive em Lisboa, onde para além de trabalhar na área de estratégia e conteúdos de comunicação, escreve ficção.

"Roy Blue está na cidade", um dos contos desta colectânea, está disponível gratuitamente aqui.

Para a colectânea completa, ver aqui.

Outros Links:
Comunidade Facebook http://ow.ly/nP5WG
Website http://patriciamadeira.com/escrita/
Video Apresentação Ebook: http://ow.ly/nP61T

domingo, 11 de agosto de 2013

Engtiae - Parte I - Escapatória (Maria Mafalda Fernando)

Ealin cresceu em reclusão na casa Navrael, um lugar de regras rígidas onde jovens são educadas para desenvolver os seus poderes peculiares. Esse lugar nunca foi uma casa para Ealin, que sempre sentiu em si a vontade de descobrir uma saída para o mundo exterior, que, apesar de lhe terem dito que era de escuro e devastação, sempre quis conhecer. Mas a fuga será apenas o início. Há uma voz no seu pensamento que lhe parece atribuir responsabilidades que Ealin desconhece. E a cada novo passo que dá, a cada novo encontro, o seu caminho parece ser rumo a algo maior. Confusa e insegura, Ealin parece, ainda assim, destinada a grandes feitos - e a grandes dificuldades.
Narrado na primeira pessoa e com uma história rica em aventuras, este livro apresenta um mundo em que é fácil entrar. A escrita é bastante directa, com a descrição e a contextualização necessárias, mas sem se tornar maçadora, e o ritmo da narração é também bastante envolvente. Além disso, ao ser contada do ponto de vista da protagonista, há, desde logo, uma perspectiva mais próxima das coisas, o que facilita a empatia.
Esta perspectiva pessoal das coisas tem as suas limitações, nomeadamente quando Ealin parte de um lugar, deixando pessoas para trás ou quando se separa dos seus companheiros. Nesses momentos, fica alguma curiosidade em saber o que mais aconteceu a essas personagens ou o que está a acontecer longe de Ealin. Ainda assim, e até ao ponto onde esta primeira parte termina, essa informação em falta, ainda que possivelmente interessante, não é absolutamente essencial ao enredo. Além disso, a narração na primeira pessoa tem ainda uma outra vantagem, a de permitir ver as outras personagens pelos olhos de Ealin e, assim, conhecer os seus sentimentos relativamente a elas.
Relativamente ao mundo onde decorre a história, há muitos elementos interessantes e ainda potencial para muito mais, até porque, sendo este apenas um primeiro volume, ficam ainda muitas questões em aberto. Poderia, talvez, ter sido revelado um pouco mais sobre alguns aspectos, como, por exemplo, o objectivo da casa Navrael, mas o desvendar gradual de alguns dos muitos segredos presentes cria uma área de mistério que contribui também para manter a envolvência do enredo.
De leitura agradável, com personagens interessantes e um ambiente de vasto potencial, este é, pois, um início muito promissor para uma aventura ainda com muitas possibilidades a explorar. Uma boa história, portanto, e uma leitura cativante. Gostei.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Os Anéis de Saturno (W.G. Sebald)

Reminiscências de uma viagem através do litoral inglês, que servem de base a um desfiar de memórias, ideias e conhecimentos, num sem fim de referências e de percursos de vida, dão forma a Os Anéis de Saturno, um livro em que as ideias e as recordações individuais abrem caminho para uma análise - sempre pessoal, mas expandindo-se para o mundo circundante - de lugares, vidas e obras. Um livro que, vasto e conteúdo, e complexo na forma como este é desenvolvido, se torna bastante difícil de classificar.
Nem um romance nem uma autobiografia, nem sequer exactamente um livro de viagens, este livro conjuga elementos de múltiplas formas literárias, num resultado que é, em muitos aspectos, difícil de definir. Das memórias de um lugar, o autor parte para a análise de elementos históricos, de figuras históricas e literárias mais ou menos conhecidas e de certos episódios particulares das suas respectivas históricas. E tudo isto é feito ao ritmo do pensamento, não com uma organização definida, mas no que parece ser a evocação da memória.
Sabendo isto sobre o livro, é evidente que nunca será uma leitura fácil. Há toda uma vastidão de referências a assimilar, e a forma como são apresentadas, à medida que ocorrem ao pensamento do autor, exige do leitor uma total atenção, sob pena de perder de vista a linha do raciocínio. Além disso, a própria escrita, com uma voz muito própria e algo elaborada, exige também essa atenção.
Não sendo, pois, propriamente uma leitura leve, este livro é, ainda assim, uma obra muito interessante. Isto deve-se, desde logo, à tal voz própria em termos de escrita, mas também aos muitos elementos interessantes que vão sendo desvelados ao longo do texto, quer pelo reconhecimento das figuras em causa, quer pelos aspectos mais particulares de uma história, quer ainda pela forma sempre pessoal, mas abrangendo o mundo em volta, como o autor constrói as suas "notas". Há muito a descobrir neste livro e, se a leitura exige, de facto, tempo e atenção, também é certo que é bastante compensadora.
Ainda uma nota para a forma como as fotografias complementam o texto, nem sempre numa relação imediata, mas sempre acrescentando algo ao que é explanado no texto. Nalguns casos, permitem uma melhor compreensão do que o autor expõe, enquanto que, noutros, tornam os cenários mais reais. Em qualquer das situações, funcionam como um complemento valioso para o texto.
Difícil de classificar e exigente em termos de leitura, Os Anéis de Saturno é uma obra que leva algum tempo a assimilar em pleno. Mas é também um texto muito rico, quer a nível de escrita, quer no que respeita às muitas referências que contém. E, por isso mesmo, um livro muito interessante.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Justiça de Kushiel (Jacqueline Carey)

A longa estrada de Phèdre nó Delaunay levou-a ao mais sombrio dos destinos e a ter de suportar o intolerável. Mas o seu espírito não desistiu. O caminho que se propôs, o mistério que jurou desvendar e a promessa que tem ainda por cumprir obrigam-na a persistir, mesmo nas mais negras circunstâncias. E Phèdre não está só. Por perto, o seu Companheiro Perfeito espera a oportunidade de, mais uma vez, proteger e servir. Oportunidade que só a própria Phèdre pode encontrar forma de criar. O caminho é sombrio, mas continua, e a libertação é apenas o início de uma nova etapa. Terre d'Ange espera. Hyacinthe espera. E, por mais negra que seja a hora, Phèdre sabe que tem de lhes responder.
Volume final da história de um longo percurso, é difícil falar deste livro sem revelar demasiado. A história segue na continuidade da dos livros anteriores, havendo, por isso, neste livro final, todo um conjunto de revelações novas e desenvolvimentos inesperados. Os pontos fortes, no entanto, são os mesmos, e, todos juntos, fazem deste livro uma conclusão memorável.
Aqui, tal como nos restantes livros desta saga, tudo é fascinante. O mundo é, agora, familiar, mas há, ainda assim, novos lugares a conhecer e a autora desenvolve-os com mestria, num sistema complexo, mas muito bem explorado, apresentado de forma gradual e sempre envolvente, associando o fascínio do seu mundo ao fascínio dos que nele habitam. A história deste mundo é impressionante, por si só, mas é-o também pela forma como é revelada, sempre intimamente ligada à história das personagens centrais.
Personagens, estas, que são outra grande força deste livro. Complexas, repletas de facetas desconhecidas, com um carisma impressionante e profundamente marcantes no tipo de emoção que conseguem evocar, não há neste livro figura que não tenho algo capaz de apelar ao coração do leitor. Até os vilões o têm, vistos pelos olhos de Phèdre, a quem a sua peculiar natureza permite, por vezes, ver de um modo diferente. 
Emoção é algo que não falta neste livro. Seja nos pequenos momentos, seja pela enormidade das mais trágicas circunstâncias em que as personagens se encontram, há, ao longo desta história, inúmeros momentos marcantes. Alguns de deixar um sorriso nos lábios, outros de partir o coração, episódios intensos não faltam neste livro e o mais surpreendente é que nem sempre são as grandes situações. Às vezes, bastam algumas palavras usadas com mestria.
E é essa mestria com as palavras o ponto que falta referir. A escrita da autora tem um tom muito particular, de uma beleza surpreendente. Elaborado, mas com uma cativante fluidez, o estilo de escrita adequa-se na perfeição à história narrada e à personalidade da narradora. Aí está outro ponto marcante e mais um dos que definem a beleza desta história.
Marcante e surpreendente, Justiça de Kushiel é, para as suas personagens e para as histórias que viveram, o mais adequado dos finais. Muitíssimo emotivo, rico em momentos fortes e com uma beleza simplesmente comovente, não poderia haver melhor fim para este caminho. Maravilhoso.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Poesia (Alexander Search)

Menos conhecido que outras identidades pessoanas, Alexander Search, considerado por alguns pseudónimo, por outros pré-heterónimo ou ainda uma de outras possíveis designações, é, ainda assim, uma personagem incontornável na obra de Fernando Pessoa. Neste livro, reúne-se a poesia que lhe é atribuída, um conjunto bastante vasto e interessante em muitos aspectos.
Se se estabelecer uma comparação entre os poemas deste livro e outros de Pessoa e dos seus heterónimos, há duas coisas que sobressaem. A primeira é o conjunto de semelhanças - em temas, em opções estruturais, até mesmo nalgumas referências bastante próximas - entre estes poemas e outros que lhe são posteriores. Outro é a existência, apesar disto, de uma identidade própria. Se, por vezes, a poesia de Alexander Search se aproxima da do ortónimo ou da de Álvaro de Campos, por exemplo, há ainda assim, diferenças, seja de perspectiva ou de estilo.. São identidades com pontos em comum, mas distintas, ainda assim.
Outro aspecto interessante deste conjunto prende-se, precisamente, com a temática. Com o eu muito presente em grande parte dos poemas, há, ainda assim, todo um conjunto de questões e possibilidades ao longo do livro, desde a perspectiva algo sombria da solidão e da incompreensão ao olhar sobre a morte, passando pela existência ou não de Deus e por todo um vasto conjunto de questões e pontos de vista mais ou menos filosófico. Também as opções estruturais vão variando, o que faz com que, mesmo numa leitura consecutiva de vários poemas, a obra nunca se torne repetitiva. Há, aliás, tantas pequenas coisas a descobrir, que o fascínio nunca se desvanece.
E depois há o fascínio individual de cada poema, a beleza das palavras e das imagens que projectam. Mais ou menos introspectivos, mais sombrios ou mais filosóficos, há em todos os poemas deste livro algo de bom para descobrir, seja mais com a razão ou com o coração. É, afinal e acima de tudo, isso que faz com que fiquem na memória.
Diferente, em muitos aspectos, da poesia ortónima ou da dos heterónimos, mas também com evidentes semelhanças, este conjunto de poemas tem também muito de fascinante para revelar. Vale, por isso, a pena conhecer esta poesia. Vale muito a pena.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O Toque do Highlander (Karen Marie Moning)

Circenn Brodie, guerreiro imortal, jurou proteger as relíquias das fadas, mesmo negando os seus dons particulares. Mas a negação do seu dom colocou-o numa situação delicada, já que uma maldição pouco ponderada o obrigou a um juramento difícil. Circenn jurou que, quando o frasco regressasse às suas mãos, mataria o seu portador. Mas não é fácil cumprir esse voto, quando o dito portador é uma mulher vinda de um tempo futuro e que parece ter um efeito estranho sobre o seu coração. Orgulhosa, forte e pronta para enfrentar a adversidade, Lisa é um factor que Circenn não pode controlar. Mas talvez seja também a mulher de quem ele precisa.
Tal como nos outros livros desta série, o elemento central do enredo é, mais uma vez, o romance entre os protagonistas. Assim sendo, é natural que muitos dos acontecimentos se centrem em questões de atracção, sensualidade e amor. Estes são, muitas vezes, os aspectos dominantes. Mas, desenvolvidos de forma cativante e numa história que tem mais para além do romance, são também parte do que torna a leitura interessante, em grande parte devido ao equilíbrio entre o romance com o restante do ambiente e da história, mas principalmente pela empatia que as personagens vão conquistando.
Se é fácil sentir empatia para com Lisa, vinda de uma vida difícil e projectada para um tempo de que pouco conhece, mas forte e determinada, apesar disso, Circenn demora o seu tempo a exercer o mesmo efeito. Apresentado primeiro como guerreiro dominador, as suas melhores características vão-se revelando aos poucos. Uma vez reveladas, contudo, Circenn surge como um protagonista carismático, com um lado emocional particularmente cativante e uma muito interessante base de valores.
Também muito interessante neste livro é o elemento sobrenatural. O desenvolvimento do mundo das fadas - com a sempre intrigante presença de Adam - conjuga-se com a questão das viagens no tempo para servir de base a um bom conjunto de situações invulgares, mas fáceis de imaginar. Para isso contribui também o contexto histórico, com a presença dos Templários e a iminência da batalha a tornar as coisas um pouco mais complexas.
Ainda um outro ponto curioso é a posição temporal deste livro relativamente ao restante da série, o que permite ver relações com os outros volumes - ainda que continue a haver questões por responder - e também conhecer um lado diferente para algumas personagens,sendo que papel de Adam neste livro acaba por ser particularmente surpreendente.
Com um enredo interessante e momentos bastante emotivos, esta é, pois, uma história que cativa pela força das personagens, bem como pela forma como se enquadram no seu tempo e nas suas naturezas. Uma boa história, cativante e agradável, e uma boa leitura.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Sorte Explosiva (Janet Evanovich)

Não é fácil ser-se caçadora de recompensas, principalmente quando se anda em maré de azar. É esse o caso de Stephanie Plum. Acaba de regressar do Havai, descobre-se na posse de uma fotografia que, sem dar importância, manda para o lixo, mas que é procurada por muita gente perigosa. Além disso, os faltosos que tem de procurar são, além de caricatos, inesperadamente evasivos. Como se não bastasse, a vida amorosa anda bastante complicada e a da sua melhor amiga também parece ter levado uma reviravolta... peculiar. Lidar com tudo isto pode ser um desafio difícil, mesmo que o invulgar já se tenha tornado rotina da vida de Stephanie.
Escrito num estilo simples e com uma história leve e divertida, este é um livro feito, acima de tudo, para entreter. E cumpre o objectivo. Enquanto caçadora de recompensas, Stephanie Plum não podia estar mais longe do ideal, com um nível de força física não muito elevado e uma tendência para ser algo desastrada. E isto coloca-a numa série de situações caricatas, que, desde logo, proporcionam vários momentos divertidos. 
Mas os traços invulgares não se esgotam na protagonista. Desde os seus interesses amorosos, à família, passando pela melhor amiga e sem esquecer os alvos, quase todas as personagens têm algo de peculiar. Nalgumas delas, nota-se algum exagero, o que torna as situações um pouco menos credíveis. Ainda assim, e no geral, a história é cativante quanto baste, agradável e bastante divertida.
Sendo apenas parte de uma série maior, há, naturalmente, questões em aberto, como seria de esperar. Ainda assim, os problemas essenciais - dos faltosos de Stephanie e da abundância de pessoas em busca da tal fotografia - são resolvidos. O enredo, com as suas várias linhas, tem ponto de partida e conclusão, o que permite apreciar a leitura, mesmo sem conhecer tudo o que aconteceu nos livros anteriores.
Intrigante e envolvente, com uma história divertida - e um pouco surreal - e um conjunto de personagens interessantes, Sorte Explosiva é, em suma, um livro de entretenimento puro. Agradável e divertido, um bom livro para descontrair.

domingo, 4 de agosto de 2013

E Depois, a Paulette... (Barbara Constantine)

Desde que o filho mais novo deixou a quinta, levando consigo a mulher e os filhos, Ferdinand vive sozinho. Tem as suas rotinas e as suas pequenas travessuras, mas a verdade é que não consegue ser feliz a viver naquele lugar deserto. Mas, um dia, tudo muda. Ao passar pela casa da vizinha, apercebe-se de que o tecto está prestes a desabar sob a força da tempestade e, sem pensar demasiado no assunto, convida-a a partilhar a sua casa. Essa mudança é apenas o início. Com o passar do tempo e novos acontecimentos, outras pessoas em necessidade juntam-se também àquele lugar. E, quase sem crer, forma-se uma comunidade. E talvez todos sejam mais felizes assim...
Relativamente breve e com uma história que acaba por ser, no essencial, tão simples como a forma como está escrita, este livro cativa principalmente pelas emoções que evoca. Com os seus protagonistas, cuja idade nem sempre se reflecte nas acções, com o que vivem e as vulnerabilidades que apresentam, a autora traça um retrato que tem tanto de nostalgia como de ternura. É fácil simpatizar com os novos habitantes de quinta, sentir empatia para com as suas circunstâncias, sorrir ante os seus momentos mais ternos e sentir a emoção das suas vulnerabilidades. E tudo isto numa história que é mais de pequenos gestos que de grandes acontecimentos.
Nesta história aparentemente simples, por vezes, quase inocente, há também questões relevantes a surgir, desde o que aproxima e afasta os jovens dos idosos, às diferenças entre gerações, passando pelo que dá sentido à vida e pelos inevitáveis problemas associados às relações. São questões que surgem aos poucos, de forma discreta e sem prejudicar a leveza da narrativa, mas que tornam o impacto da história um pouco maior.
Toda a evolução dos acontecimentos é interessante, ainda que fique a impressão de um futuro por explorar. O final é ambíguo em alguns aspectos e, principalmente no que respeita a Murial, há explicações que nunca são dadas. Poderia, talvez, ter havido um maior desenvolvimento nesse aspecto, mas não é algo que, por estar ausente, prejudique o essencial da história.
Cativante e enternecedor, E Depois, a Paulette... é, no fundo, uma história feita de pequenas coisas, mas de grandes sentimentos. Uma leitura leve, agradável e, por vezes, tocante, com uma boa história e personagens marcantes. Gostei.

sábado, 3 de agosto de 2013

O Perfeito Cavalheiro (Imran Ahmad)

Imran ainda era um bebé quando os pais deixaram o Paquistão para viver em Londres. O seu crescimento foi, por isso, uma adaptação progressiva a um ambiente diferente daquele em que nasceu. Cresceu com a luta contra as dificuldades e a persistência do sonho, a sombra do racismo e a descoberta de alguns bons companheiros, os dilemas religiosos e a tentativa de definir um percurso pessoal. Este livro contém as memórias dessa infância e juventude, num conjunto de episódios e pensamentos que ora são peculiares, ora estranhos, ora comoventes.
Sendo um livro autobiográfico, é natural que sobressaia deste livro a sua perspectiva pessoal. Mas há, nesta, um detalhe particular que se destaca. É que o autor recua à infância e juventude não só nas memórias, mas também nos pontos de vista. Em muitos aspectos, mas em particular no que diz respeito à religião, o autor consegue retratar a inocência da infância, a excessiva convicção da juventude - e, por outro lado, a possibilidade de se deixar influenciar e até um relativo dramatismo de um tempo em que as certezas são tudo e duvidar é insuportável.
Deste ponto de vista pessoal, resulta, ainda assim, uma perspectiva mais global. O fascínio de Imran com a religião e a sua incessante necessidade de a questionar - ainda que de uma forma muito própria - apelam a alguma reflexão sobre essas mesmas questões. Além disso, as memórias permitem vislumbrar os grandes problemas da vida nessa época, as demonstrações de racismo, os conflitos daquele tempo, as principais ideologias religiosas e a forma como entravam em conflito. Tudo de uma perspectiva pessoal, mas questionando o âmbito global.
O retrato do crescimento de Imran, com todas as ilusões e descobertas do percurso, é feito de forma muito clara, e a escrita sucinta, directa - evocando, também, em certo grau, a idade que o autor teria nos episódios que narra - contribui também para que a leitura seja cativante. Há, ainda assim, perguntas sem resposta, já que, entre o grosso das memórias e os epílogos há um hiato de tempo e, sendo evidentes as mudanças - de vida e de mentalidade - do autor nesse intervalo, fica daí a impressão de algo deixado por contar. É dessa parte da história que se sente a falta ao concluir a leitura, sendo ela algo que poderia, talvez, tornar o relato mais completo.
Cativante e interessante, ainda que com algumas questões sem resposta, este é, portanto, um livro que cativa tanto pela história pessoal do autor, quer pelas grandes questões que lhe estão associadas. Um livro interessante, em suma. Gostei.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O Cavaleiro da Águia (Fernando Campos)

Dotado do tempo e da inspiração necessárias, um cónego toma papel de cronista para narrar a vida de uma das figuras centrais do seu tempo. O seu protagonista é Gonçalo Mendes, ousado cavaleiro e notável da sua época, presença incontornável em muitas batalhas e moderador de outras tantas intrigas. Esta é a sua história, mas é também a dos seus adversários. E, através do decorrer do tempo, é ainda a narrativa de um narrador mais participante do que seria de esperar.
Crónica da fundação de uma nação - e de antes dela - e também, com todas as batalhas e intrigas, encontros e perdas e um toque de mistério, narrativa de gentes e corações, este livro é, em muitos aspectos, peculiar. E a primeira peculiaridade reside, desde logo, no estilo de escrita. Aproximando-se do tom que seria de esperar de uma crónica da época, o autor imprime ao seu texto um estilo muito próprio, invulgar nos episódios que escolhe para destacar, mas também na fluidez da narração, no ritmo muito peculiar das palavras. Este é um estilo que, diferente em tudo, causa primeiro estranheza e depois fascínio, já que, uma vez assimilada esta voz peculiar, também ela se torna parte do que torna a leitura envolvente.
Outra peculiaridade diz respeito à estrutura, com duas histórias que, inicialmente, se afiguram distante, mas que, aos poucos se aproximam, mesmo tendo elas elementos bastante diferentes. A história do cronista, aparentemente figura acessória, cedo se torna tão interessante como a crónica histórica, com o mistério de determinados crimes a conferir à narrativa um muito curioso toque de mistério. Além disso, se tudo se encaminha para uma necessária - e expectável - conclusão nas guerras travadas por Gonçalo Mendes, o mesmo não sucede com o cronista, cujo mistério culmina num final que, sem dar todas as respostas, surpreende por ser tão adequado à situação.
Quanto à crónica em si, sobressaem os muitos elementos históricos, que, apesar de muitos nomes e lugares a assimilar, são apresentados de forma sempre interessante, em parte devido à forma como são narrados, em parte pelos toques de proximidade, que, quer nas perdas pessoais, quer nas pequenas conquistas, complementam a força dos grandes eventos históricos.
Dificilmente será uma leitura compulsiva. Com tantos dados e particularidades para assimilar, é, necessariamente, um livro que exige do leitor toda a sua atenção. Mas é também um livro que nunca deixa de cativar e que, a cada novo acontecimento, simples ou grandioso, surpreende ou fascina ou comove. E tudo isso cativa neste livro. Muito bom.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

The Jezebel (Saskia Walker)

Maisie Taskill está em fuga. Cyrus, o seu guardião ambiciona os seus poderes invulgares e planeia manter o controlo sob a jovem bruxa, comandando-a segundo a sua vontade. Mas Maisie descobriu os seus planos e está decidida a escapar-lhe. A única hipótese, contudo, encontra-se no Libertas, e no seu capitão. Roderick Cameron é um homem que se dedica a actividades irregulares, mas é também a sua única esperança. E, para conseguir um lugar no seu navio e uma hipótese de alcançar a Escócia, Maisie está disposta a oferecer o seu bem mais precioso: a virgindade.
Parte do que torna esta leitura interessante é a conjugação entre o romance e o sobrenatural, com os conhecimentos de Masie relativamente à bruxaria a funcionarem como elemento fulcral da história – mas não o único elemento. A grande maioria do enredo centra-se no romance entre os protagonistas, mas a magia de Maisie e as respectivas consequências são algo que está sempre presente. Isto torna a história bastante mais envolvente, quer pela tensão e pelo mistério quer origina, quer porque o contexto se torna bastante mais vasto.
O romance é o centro e, por isso, o contexto é desenvolvido de forma gradual, como um complemento aos acontecimentos centrais. Ainda assim, este desenvolvimento pausado cria para o enredo uma aura de mistério que é bastante agradável. Além disso, a história pessoal de Masie antes da fuga tem também vários momentos interessantes, sendo particularmente cativante a sua história familiar.
Grande parte do enredo situa-se no percurso até à Escócia. Isto implica um período relativamente longo em que tudo decorre no mesmo espaço. Disto deriva que os primeiros capítulos dedicados à longa viagem têm um pouco menos de intensidade que o restante, já que há menos acção e um maior foco na sensualidade. Mas também estes momentos, e tal como a generalidade do livro, estão muito bem escritos, daí que, mesmo quando tudo o resto desaparece da história, há ainda bastante de bom que apreciar.
Quanto ao romance propriamente ditto, não é difícil adivinhar como vão acabar as coisas entre os protagonistas. Há, ainda assim, um bom equilíbrio entre sensualidade e emoção e uma empatia que cresce a cada momento tocante. Empatia que é também parte do que torna a leitura interessante.
Bem escrito, com personagens fortes e uma história envolvente, este é, portanto, um livro muito cativante. Por vezes tocante, por vezes intrigante, um bom romance e uma muito boa leitura.

Novidade Europa-América

Título: A Divina Comédia: O Inferno
Autor: Dante
Colecção: Clássicos
Pvp: 16.91€
Pp.: 152


Leia a obra-prima de Dante e acompanhe Dan Brown na descida ao Inferno

A mais extraordinária criação daquele que foi o maior poeta italiano de todos os tempos e um dos espíritos mais brilhantes de que a Humanidade se pode orgulhar.

«Pelo seu carácter ardente e reflectido, pela sua imaginação criadora e visionária e pelo seu profundo realismo, pelo equilíbrio entre o sentimento religioso e o sentimento cívico e político, pela sua altivez indomável.
Dante é um dos espíritos mais completos e mais universais de todos os tempos.»

«Foi sobretudo em O Inferno que Dante soube dar livre curso à sua imaginação descritiva.»

Versão em prosa.
Texto integral anotado.