domingo, 30 de setembro de 2018

O Cobrador (Seth C. Adams)

Ao entrar na floresta pela primeira vez e avistar uma luz misteriosa, Joey está longe de imaginar que a sua infância e inocência acabarão ali. E o primeiro momento marcante, embora de conflito, também não lhe insinua que isso esteja prestes a acontecer. É ali que faz o seu primeiro novo amigo, no início do que se tornará o Clube dos Intrusos. Só que a luz misteriosa acaba por ser um carro abandonado com uma fortuna no interior e um cadáver na mala. E, enquanto Joey e os amigos começam a imaginar as possibilidades que aquele dinheiro lhes poderá proporcionar, outros há, porém, que também o procuram. Outros que não olharão a meios para atingir os seus fins.
Bastam algumas páginas para começar a sentir a ambiguidade que acompanhará o ritmo desta leitura até ao final. Ambiguidade não só nas sensações que desperta, mas principalmente nas decisões e comportamentos das personagens. Afinal, trata-se de um grupo de crianças e, assim sendo, a primeira coisa a surpreender terá de ser, necessariamente, a mistura de intrepidez e de violência que se manifesta no seu caminho. Mas toda a história é de sentimentos contraditórios, com empatia e aversão a ganhar forma em medidas iguais, e por isso surpreende também a mistura de distância para com as motivações das personagens... e a necessidade de saber se tudo acabará bem.
Também o ritmo do enredo parece sofrer oscilações, com um avanço relativamente pausado na primeira fase, ainda que rasgado por vários picos de intensidade, e uma intriga crescente que culmina num final bastante forte. Não é propriamente uma leitura compulsiva, até porque as personagens levam o seu tempo a entranhar-se. Mas tem, ainda assim, muitas boas surpresas ao longo do caminho e um ambiente de mistério que, ao acabar por conduzir num rumo totalmente diferente do que insinua, reforça o impacto dos momentos mais tensos.
Nem tudo encontra resposta e, nalguns aspectos, é inevitável a sensação de curiosidade insatisfeita - principalmente no que diz respeito ao carro e ao Cobrador. Ainda assim, há uma linha de desenvolvimentos que, mais do que os mistérios em si, culmina numa conclusão satisfatória: querendo ou não, Joey e os amigos acabaram por crescer. E, mais do que o que ficou por explicar, fica a imagem desse crescimento - e das marcas que inevitavelmente deixou.
Leva o seu tempo, sim, mas acaba por valer a pena. Pois, com a sua narrativa de ambiguidades, retrata uma história tão composta de segredos e perigos como das (tudo menos) simples barreiras do crescimento. Acaba, pois, por ser uma boa leitura - e um autor a acompanhar.

Título: O Cobrador
Autor: Seth C. Adams
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Convite


sábado, 29 de setembro de 2018

Atlas (Jorge Luis Borges)

Todos os lugares de uma viagem deixam, de alguma forma, a sua marca - ainda que nem sempre sejam fáceis de exprimir. E será, talvez, essa a essência deste pequeno livro, que, mais que um registo de viagens, parece formar mais um atlas de impressões, em que memórias, imagens, evocações e poemas encontram um equilíbrio delicado e cativante. Da brevidade, surge uma imagem completa, ainda que não exaustiva. E, no fim, fica a impressão de ter viajado - no espaço, mas também no tempo - sem se ter saído do sítio.
Provavelmente o aspecto mais cativante deste pequeno livro é a forma como parece possível dizer tanto em tão poucas linhas. É como se cada texto evocasse uma passagem completa, ainda que não haja grandes descrições e grande parte das referências visuais surjam das diferentes fotografias. Talvez porque a viagem não se concentra apenas no espaço físico: divaga por referências a autores, a memórias, a afectos e experiências pessoais. E, assim, a impressão que fica é a de ver aqueles momentos pelo olhar de quem os exprime: como uma memória enquadrada, completa.
Não é - e importa ter isto em mente - o que habitualmente se espera de um livro sobre viagens e talvez seja também por isso que a impressão que provoca é tão surpreendente. É que a viagem é, acima de tudo, ao mundo do autor, mas fica, ainda assim, a sensação de ter viajado. Além disso, a diversidade de imagens, de referências e até de registos faz com que pareça haver neste livro um mundo inteiro - apesar de haver certamente, para cada espaço ou referência, muito mais a contar.
E, claro, esta mistura de precisão e brevidade faz com que as páginas voem. É fácil mergulhar nesta estranha viagem e, embora fique a sensação de haver ainda mais mundo para descobrir (e basta qualquer um dos textos para gerar esta sensação), fica também a ideia de um percurso satisfatório: como que de ver pelos olhos de quem viu e, assim, ver de uma forma única.
É um livro breve, sim, e aparentemente simples. Mas há um equilíbrio tão eficaz e uma experiência tão pessoal por detrás de cada momento que, mais do que perguntas sem resposta ou cenários vistos apenas de forma velada, fica a sensação de uma viagem única. E basta isso para que a leitura valha a pena.

Título: Atlas
Autor: Jorge Luis Borges
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A Memória da Árvore (Tina Vallès)

Quando lhe dizem que os avós vêm viver com ele, Jan quer fica contente, mas algo lhe diz que essa não é a reacção certa. É que algo se passa com a memória do avô e, embora Jan não queira realmente saber, todos os sinais estão lá. Enquanto os pais tentam protegê-lo - a prazo, como necessariamente tem de ser - Jan agarra-se às histórias e aos passeios com o avô. Mas primeiro perder-se-á a memória. Depois... E, mesmo sem querer, Jan começa a ver a difícil verdade.
Inocência e tristeza: todos os aspectos deste livro convergem para realçar estes dois elementos. Inocência, a inocência de Jan que conta a história, que se vê confrontado com uma perda aos poucos, mas talvez por isso ainda mais devastadora, que se agarra aos fragmentos da memória para confrontar a memória que se esvai. E tristeza, a tristeza da perda em si, do tempo que passa, do crescimento inevitável e do que se perde nos meandros da vida. Tudo isto reside no âmago deste livro, contado com toda a simplicidade que compete a um protagonista tão jovem - e, por isso, com o seu máximo impacto.
Sendo essencialmente uma história de tempo, e de tempo que se esgota, talvez não seja uma surpresa a relativa brevidade de cada momento. Mas também esta brevidade, que reduz cada episódio à sua máxima precisão, realça o impacto da história que conta. Das memórias de Jan, como dos sonhos que o atormentam, do que partilha com o avô e com os pais e de um quotidiano simples em que, face ao fim, tudo se torna memorável, emerge um retrato de vida que, sendo breve, abrange tudo. E a forma como, a partir destes fragmentos, a autora constrói um todo tão abrangente não poderia ser outra coisa que não memorável também.
Há também uma estranha harmonia nas palavras, um equilíbrio que nascido da breve simplicidade, faz com que tudo pareça ter a medida certa. É como se a história nascesse realmente das mãos do jovem Jan e, por isso, os seus sentimentos transbordassem. Não há grandes descrições e as instrospecções nunca são muito demoradas, mas a verdade é que está tudo lá e há poesia a surgir até nas mais pequenas coisas. E nas árvores, claro. Principalmente nas árvores. 
Relativamente breve, mas absolutamente completa: assim é, pois, esta história de crescimento e de perda, em que o amor pode não vencer tudo - mas perdura, mesmo quando a memória não o faz. Muito bom. 

Autora: Tina Vallès
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O Barqueiro (Claire McFall)

Dylan nunca conheceu o pai, mas isso está prestes a mudar. Mas, no comboio que a leva rumo a Aberdeen, a passagem de um túnel dá lugar a uma tragédia terrível - e a uma viagem muito diferente da que planeara. Dylan dá por si num lugar estranho, aparentemente a única sobrevivente, excepto por um rapaz de ar triste que parece estar à sua espera. Só que as coisas não são o que parecem. Ela não é uma sobrevivente e Tristan não é apenas um rapaz. É o barqueiro e a sua missão é conduzi-la em segurança à passagem para o outro lado. Porque aquele lugar não é seguro. As fúrias andam à caça de almas humanas e o cenário é cada vez mais desolador, lá fora e no coração dos dois jovens. Pois nenhum deles pertence entre os vivos - mas como podem aceitá-lo, quando o amor começa a florescer?
Provavelmente o aspecto mais cativante desta leitura é a estranha harmonia que parece definir-lhe o ritmo. Basta a premissa - de uma viagem pelo mundo dos mortos - para despertar curiosidade, mas a novidade desta viagem implica também longas descrições e algumas repetições que talvez pareçam quebrar um pouco a magia. Ainda assim, há um estranho equilíbrio na forma como os elementos se conjugam e isto deve-se em grande medida à fluidez com que a autora entrelaça cenários e emoções.
Cada momento, cada revelação, está associado a um impacto emocional, e é isso acima de tudo que marca nesta viagem. A situação delicada de Dylan, além, é claro, da do próprio Tristan, despertam desde muito cedo sentimentos fortes e cada situação por que passam contribui para aumentar esses sentimentos. E, quando as emoções de ambos começam a misturar-se... então o impacto das coisas torna-se ainda maior, até porque, dado o cenário onde tudo acontece, é difícil acreditar num final feliz.
Nem só das emoções vive esta história, ainda que elas sejam a sua verdadeira alma. Há todo um cenário a explorar - um mundo inteiro para além da vida, desolado, mas cheio de complexidades e a fazer lembrar, a espaços, os círculos infernais de Dante. É, aliás, difícil ignorar os paralelismos e não reconhecer o mesmo impacto: afinal, não é por acaso que algumas histórias se tornam intemporais e a ideia de uma vida depois da morte - e de um possível regresso à vida - nunca perde o seu estranho fascínio.
E, claro, a história não termina aqui. Mas, embora fiquem algumas questões em aberto, gerando boas expectativas para o que se poderá seguir, destaca-se também um outro aspecto: este livro é um ciclo completo em si mesmo e põe fim a uma fase específica do caminho das personagens. O que vier será inevitavelmente diferente e, por isso, fica, além da curiosidade, a sensação de uma conclusão satisfatória. 
História de vida e de amor para além da morte, trata-se, pois, de um livro que abre literalmente portas para outro mundo. E que, com os seus cenários complexos mas harmoniosos e as suas personagens marcantes, nos leva a viajar para lá da morte - e a descobrir o que importa na vida. Uma boa história, em suma, e uma bela viagem. 

Título: O Barqueiro
Autora: Claire McFall
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O Mistério dos Três Quartos (Sophie Hannah)

Ao chegar a casa após um almoço deveras agradável, Poirot vê o seu dia piorar irremediavelmente. Uma mulher transtornada acusa-o de lhe ter escrito uma carta onde ele a acusa a ela do homicídio de um homem. Ora, Sylvia Rule não conhece esse homem - nem é a única acusada. Seguem-se outras três cartas igualmente desagradáveis e o resultado... bem, o resultado é o esperado. Poirot vê-se impelido a investigar a subitamente misteriosa morte de Barnabas Pandy e a examinar a história dos quatro acusados. E é aí que as revelações começam a ganhar forma.
Um dos primeiros aspectos a destacar neste livro, principalmente para quem, como eu, ainda não tiver lido mais nenhum destes novos mistérios de Poirot, é a facilidade com que o registo parece ajustar-se aos originais escritos por Agatha Christie. São histórias novas e portanto tudo é novo - mas Poirot é o mesmo e, portanto, o seu método de actuar também o é. A sensação é, por isso, a de um agradável regresso a um local familiar - quer se goste mais ou menos das outras aventuras do famoso detective belga.
Claro que outro dos grandes pontos fortes é... bem, o próprio Poirot. Com a sua excentricidade e as suas eficazes celulazinhas cinzentas, faz de cada caso uma revelação, e este mistério não é excepção. Desde as invulgares comparações com um certo bolo à decisiva revelação final, há nas grandes e nas pequenas coisas todo um conjunto de qualidades que tornam a leitura irresistível. Além disso, o caso propriamente dito é todo ele cheio de surpresas e todas as outras personagens têm também muito de interessante.
E há ainda uma última faceta especialmente notável: é que, sendo embora um caso específico e de natureza relativamente particular (envolvendo essencialmente afectos, amores e vinganças), há, ainda assim, um grande tema subjacente que, embora abordado num estilo discreto que agradaria decerto ao próprio Poirot, não deixa de ter o seu devido destaque. É que há entre as personagens um defensor feroz da pena de morte e um igualmente feroz opositor. E, claro, se comprovado o homicídio, será esse o resultado expectável. A forma como a autora aborda esta divergência de posições e a influência que o caso tem na opinião das personagens acrescenta ao enredo uma nova camada de complexidade - além de reforçar o impacto da conclusão. 
Trata-se, pois, do mais agradável dos reencontros: uma história intrigante e cheia de surpresas, protagonizada por uma figura tão peculiar quanto fascinante e em que as motivações acabam por ser tão importantes quanto o acto em si. Viciante, surpreendente e com um belíssimo final, um livro que não posso deixar de recomendar. 

Autora: Sophie Hannah
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Danos Colaterais (David Baldacci)

Will Robie sabe que o seu trabalho para a Agência exige máxima calma e máxima precisão. Mas um incidente inesperado numa missão compromete a sua tão meticulosamente construída calma e, se quer voltar a desempenhar o seu papel, Will tem de resolver os problemas do seu passado. Até porque não podia haver melhor altura. O pai, a quem há muito virou costas, está preso e a acusação de homicídio parece mais sólida do que seria desejável. Will terá, pois, de voltar ao lugar onde cresceu, enfrentar o passado e, se possível, salvar a vida do pai. Pois todas as provas apontam para Dan Robie - mas a verdade não é assim tão simples.
Uma das grandes forças dos livros deste autor é a facilidade com que nos transporta lá para dentro, levando-nos numa viagem cheia de perigos e revelações, onde cedo se torna impossível resistir à vontade de saber mais. Isto deve-se a vários factores: a escrita, com os seus capítulos curtos e o ritmo de acção constante; o enredo, com todos os seus mistérios, intrigas e surpresas; e principalmente as personagens, com a sua natureza complexa, a inevitável ambiguidade moral e, todavia, uma empatia praticamente imediata.
Claro que Will já é uma figura conhecida, pelo menos para quem leu os outros livros desta série, e estas facetas não são propriamente novas. Mas aqui a história torna-se ainda mais pessoal e, se já antes era uma surpresa o grau de vulnerabilidade e empatia geradas por Will (principalmente tendo em conta a sua escolha de carreira), este confronto com o passado traz à superfície todas as marcas da sua vida e, por isso, é ainda mais irresistível a vontade de mergulhar na sua história - e só vir à tona no fim.
Nem só de Will vive a história, claro. E, sendo este um regresso às origens, a família e as amizades passadas desempenham um papel importante - além, é claro, da linha central do enredo. Afinal, é o pai de Will que está preso. Mas o mais impressionante é a forma como todas estas facetas - vida pessoal e profissional, amizades e reencontros, intrigas e revelações - se conjugam num equilíbrio praticamente perfeito, em que tudo - da tensão à emoção e sem esquecer o humor - tem precisamente as medidas certas.
Tudo somado, fica a melhor das impressões: a de uma história repleta de acção e intensidade, mas com espaço para as vulnerabilidades pessoais de uma personagem que, a cada volume que passa, se torna mais complexa e fascinante. Muito bom. 

Autor: David Baldacci
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Sangue Frio (Robert Bryndza)

A descoberta de um cadáver desmembrado dentro de uma mala deixa Erika Foster preocupada. Já lidou com muitos casos difíceis e basta um primeiro contacto para perceber que este será mais um. Só que aquele corpo é apenas o primeiro e as poucas pistas parecem não levar a lado nenhum. Certezas tem apenas duas: a de que há um assassino cruel à solta e de que precisa de resolver o caso. Mas, quando mais precisava de se concentrar, uma traição vinda de onde menos espera resulta num ataque que a deixa fragilizada. E o caso tem de ficar para segundo plano - pelo menos até poder regressar.
É sempre um prazer regressar à companhia de Erika Foster. É, aliás, uma das grandes qualidades desta série, a forma como, apesar dos diferentes casos e das relações que acabam ou se alteram, surge sempre uma agradável sensação de reencontro ao mergulhar na leitura de um novo volume. É que as coisas vão mudando: Erika rejeitou uma promoção, o relacionamento que começava a desabrochar mudou e até mesmo a segurança de trabalhar com uma equipa de confiança pode ser abalada. Mas Erika continua a mesma: feroz, determinada, com a cabeça no lugar.
Quem já leu os outros volumes da série, saberá, claro, que Erika tem muitas qualidades, mas está longe de ser perfeita - o que só a torna mais interessante. Isto é particularmente evidente neste livro, em que um ataque pessoal e alguns fios vindos da história anterior fazem com que o mundo pessoal de Erika ganhe um maior destaque. Claro que o caso continua a ser o elemento fundamental, e é no trabalho que o melhor de Erika se revela, mas conhecer o seu lado vulnerável torna tudo muito mais intenso e maior a curiosidade acerca do que poderá vir a seguir.
Quanto ao caso em si, é cheio de surpresas - sendo que só isto é que não é uma surpresa. O autor divide-se entre o percurso da investigação e o percurso dos criminosos, o que, por um lado, permite uma visão mais próxima do que está a acontecer de ambos os lados e, por outro, evidencia desde muito cedo que nunca nada será tão simples como parece. E assim, a história vai-se desenrolando, numa sequência de pistas, revelações e mudanças de rumo cuja intensidade vai em crescendo e culmina num final especialmente poderoso. Marcante não só pela resolução do mistério, mas porque não é só Erika quem tem questões pessoais a explorar - e a forma como os dois mundos se conjugam (ou, de certa forma, colidem) torna tudo bastante mais avassalador.
Com a sua protagonista notável e complicada, um caminho difícil e um caso cheio de surpresas e reviravoltas, trata-se, pois, de mais um volume que corresponde inteiramente às expectativas criadas pelos anteriores. Intenso, surpreendente e muito, muito viciante, um livro a não perder. Recomendo.

Título: Sangue Frio
Autor: Robert Bryndza
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A Ansiedade dos Nossos Dias (Diogo Telles Correia)

Vivemos num mundo frenético, competitivo e com cada vez menos espaço para o erro. Não surpreende, por isso, que a ansiedade seja um mal que tem vindo a aumentar. Mas o que é isso da ansiedade? Em que consiste? É toda igual? Há outras questões associadas? Como se diagnostica? E, mais importante ainda, como se trata? É a estas perguntas - e a mais algumas delas decorrentes - que este livro pretende dar resposta.
Uma das primeiras coisas que importa realçar acerca deste livro é que não é um livro de auto-ajuda. Não vai sugerir soluções, muito menos desencadear mudanças milagrosas. Não. É um livro que explica, que permite compreender e que, com as suas explicações esclarecedoras e os exemplos dos vários casos relatados, permite compreender melhor o que é a ansiedade e como se manifesta. As soluções, essas, partem sempre da procura de ajuda especializada.
Como todas as doenças, e principalmente as do foro mental, trata-se de um tema complexo e que envolve múltiplos factores. O interessante neste livro é a forma como o autor consegue simplificar, explicando o essencial de uma forma acessível - mesmo a quem não tenha grandes conhecimentos prévios sobre o tema - e realçando o mais importante: a necessidade de compreender o que se passa e de procurar ajuda para combater os problemas. Abordando os diferentes tipos de ansiedade de uma forma organizada, das causas ao diagnóstico e tratamento, e usando depois casos práticos, contados de forma aberta e cativante, para dar exemplos práticos, o autor abre portas a uma mais ampla compreensão deste problema.
É, curiosamente, um livro relativamente breve e é inevitável a sensação - até porque muito haveria a dizer sobre a complexidade dos mecanismos envolvidos - de que muito mais haveria a explorar sobre o tema. Ainda assim, o registo sintético parece, neste caso, ser bastante adequado, realçando os elementos essenciais sem se dispersar em demasiados detalhes, o que permite uma compreensão global do problema e das possíveis soluções.
Relevante, esclarecedor e de leitura agradável, trata-se, portanto, de um bom livro para começar a entender esta doença que, num mundo capaz de pôr a prova os nervos de qualquer um, tem vindo a tornar-se cada vez mais presente. Muito interessante. 

Autor: Diogo Telles Correia
Origem: Recebido para crítica

sábado, 15 de setembro de 2018

As Ondas do Destino (Sarah Lark)

Apesar da sua história delicada, Deirdre Fortnam leva uma vida alegre e protegida na plantação dos pais. O seu crescimento, porém, desperta algumas preocupações sobre o seu futuro. Por isso, quando o jovem médico Victor Dufresne entre na vida de Deirdre, parece ser uma solução caída dos céus. Victor e Deirdre amam-se e o facto de o futuro de ambos ter de ser em Saint-Domingue parece até uma bênção disfarçada. Mas também aí se vivem tempos de mudança e rebeliões começam a ganhar forma. E Deirdre encontrará paixão onde menos espera - uma paixão que não poderá continuar...
Apesar das evidentes ligações (e das personagens comuns) com A Ilha das Mil Fontes, esta é uma história essencialmente independente da anterior. Ainda assim, ganha um novo impacto conhecendo à partida o passado de algumas personagens. Deirdre e Jefe têm elos comuns e esses terão um papel fulcral na evolução dos acontecimentos. Além disso, é também interessante reparar nos paralelismos e nas divergências entre as histórias de Nora e Deirdre: caminhos diferentes, personalidades muito distintas, mas ambas em pleno ponto de viragem do mundo a que pertencem.
Os paralelismos não se ficam por aqui, claro, pois também nesta história o tema da escravatura desempenha um papel dominante. E é interessante a forma como a autora consegue acrescentar algo que diferencia às duas histórias ao mesmo tempo que realça as mesmas - e sempre pertinentes - questões. A vida em Saint-Domingue é diferente da da Jamaica, mas estão presentes o mesmo desprezo, a mesma crueldade... e as mesmas consequências, ainda que assumindo uma forma distinta. Tudo isto está subjacente à história central e reforça-lhe o impacto - pois compreender a vida das personagens e compreender também as condições e o contexto da época.
Mas passando à história. Uma das grandes qualidades dos livros de Sarah Lark é a naturalidade com que tudo parece fluir, ao ponto de nem as descrições mais extensas retirarem intensidade ao ritmo da narrativa. E também aqui há um cenário novo e regras novas, revelados de forma gradual e ao ritmo da percepção das próprias personagens. Há, pois, uma beleza e e uma fluidez naturais que facilmente nos transportam para o interior da história. E depois... Depois os acontecimentos fazem o resto.
O cenário pode ser idílico, mas nada - nem ninguém - é perfeito. E aqui está outra das grandes surpresas deste livro. Deirdre e Victor (e Jefe) estão muito longe de ser Nora e Doug. E, às vezes, não é tão fácil compreender as suas motivações. O impressionante é que, mesmo quando as escolhas são imperfeitas, quando não é difícil adivinhar que aquilo não vai correr bem, a história nunca perde a magia. A imperfeição humaniza as personagens. As consequências, essas, aumentam o impacto emocional. E no fim fica a sensação de uma longa e árdua jornada, feita tanto de sonhos e de esperanças como de queda e da redenção... possível.
Fica, pois, a mesma magia e o mesmo encanto, resultado de um mergulho profundo feito igualmente de beleza, de amor e de brutalidade. Uma história notável, em suma, com personagens marcantes e uma escrita que encanta desde as primeiras linhas. Belíssima. 

Autora: Sarah Lark
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro As Ondas do Destino, clique aqui.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Divulgação: Novidade Asa

Na noite em que a mãe lhes foi arrancada, os gémeos Maisy e Duncan perceberam que só podiam contar um com o outro. Se até então a vida deles não fora fácil, a partir desse momento piora dramaticamente pois o pai decide enviá-los para casa da avó, a ríspida Violet.
Os gémeos sentem-se mais abandonados do que nunca. Mas a negligência da avó tem um lado positivo: Maisy e Duncan passam a desfrutar de uma liberdade inesperada e podem explorar o campo e fazer novas amizades sem terem de se justificar a ninguém. Até ao dia em que Duncan desaparece sem deixar rasto.
À medida que os dias dão lugar a semanas, perante a ineficácia da polícia e a indiferença da avó, Maisy decide descobrir por si própria o que aconteceu à única pessoa que verdadeiramente ama. E vai começar por Grace Deville, a excêntrica amiga do irmão. Grace vive isolada na floresta... e tem segredos por revelar…
O Dia Em Que Te Perdi explora ternamente temas delicados e actuais. Lesley Pearse, uma contadora de histórias nata, fala-nos de perda, de esperança, de força interior, e dos inquebráveis laços de família.

Lesley Pearse é autora de uma vasta obra publicada em todo o mundo e uma das escritoras preferidas do público português. A sua própria vida é uma grande fonte de inspiração para os seus romances. Quer esteja a escrever sobre a dor do primeiro amor, crianças indesejadas e maltratadas, adopção, pobreza ou ambição, ela viveu tudo isto em primeira mão. Lesley é uma lutadora, e a estabilidade e sucesso que atingiu na sua vida deve-os à escrita. Com o apoio da editora Penguin, criou o Women of Courage Award para distinguir mulheres comuns dotadas de uma coragem extraordinária.

Divulgação: Novidade Saída de Emergência

Shadow Moon sai da prisão e descobre que a sua mulher morreu. Derrotado, falido e sem saber para onde ir, conhece o misterioso Sr. Wednesday, que o emprega como guarda-costas, empurrando Shadow para um mundo mortífero onde fantasmas do passado regressam da morte e onde uma guerra entre deuses está iminente. O romance vencedor de prémios Hugo, Bram Stoker, Locus, World Fantasy e Nebula que deu origem ao sucesso televisivo da Starz, com autoria de Neil Gaiman, é adaptado como novela gráfica pela primeira vez!Compilando os primeiros nove números da série de banda desenhada Deuses Americanos, juntamente com arte adicional, esboços de personagens e capas de David Mack, Glenn Fabry, Becky Cloonan, Skottie Young, Fábio Moon, Dave McKean e mais!

NEIL GAIMAN é um autor galardoado de romances, novelas gráficas, contos e filmes para todas as idades. Os seus títulos incluem Mitologia Nórdica, A estranha vida de Nobody Owens, Coraline, O que se vê da última fila, O oceano no fim do caminho, Neverwhere: Na Terra do Nada e a série de novelas gráficas The Sandman, entre outras obras. A sua ficção recebeu os prémios Newbury, Carnegie, Hugo, Nebula, World Fantasy e Will Eisner. A adaptação cinematográfica do seu conto Como falar com raparigas em festas e a segunda temporada da adaptação televisiva aclamada e premiada com Emmy do seu romance Deuses Americanos estreará em 2019. Nascido no Reino Unido, vive actualmente nos Estados Unidos.

Formado em pintura pela Universidade de Cincinnati, P. CRAIG RUSSELL fez de tudo na banda desenhada. Depois de se distinguir ao serviço da Marvel pelo trabalho com Killaraven e Doctor Strange, tornou-se um dos pioneiros no desbravar de novos rumos para esta forma de expressão subestimada com, entre outros esforços, adaptações de óperas de Mozart (A Flauta Mágica), Strauss (Salomé) e Wagner (O Anel dos Nibelungos). Craig é autor dos cinco volumes da adaptação em banda desenhada dos Contos de Fadasde Oscar Wilde e deu vida de forma soberba a personagens tão diversos como Batman, Conan, Hellboy, The Spirit, Morte e Sandman. O seu trabalho mais recente inclui adaptações em banda desenhada de Coraline e The Graveyard Book de Neil Gaiman.

SCOTT HAMPTON nasceu em 1959 em High Point, Carolina do Norte, e cresceu embrenhado em literatura clássica, romances de horror e banda desenhada. O seu irmão mais velho, Bo, foi responsá-vel por alimentar um enorme apetite por banda desenhada em Scott.
Foi natural que, quando Bo se tornou ilustrador de banda desenhada, o irmão mais novo lhe seguisse o exemplo (ambos estagiaram com Will Eisner em 1976!) Scott tornou-se um dos mais respeitados artistas e contadores de histórias no meio da banda desenhada. O seu trabalho em Silverheels (Pacific Comics, 1983) é considerado o primeiro título de banda desenhada pintado com continuidade. Além de ilustrar as suas histórias, Scott ilustrou livros de alguns dos melhores autores de fantasia, incluindo Neil Gaiman (Books of Magic, Robert E. Howard (Pigeons from Hell), Clive Barker (Tapping the Vein), Archie Goodwin (Batman: Night Cries) e David Brin (The Life Eaters).

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Chamar as Coisas pelos Nomes (Vânia Beliz)

Sexualidade. Para muitas pessoas, é um autêntico palavrão. E, no entanto, é um elemento essencial do desenvolvimento humano e deve ser abordada desde cedo - não só para uma maior consciencialização, mas também para prevenir potenciais riscos. Este livro, que pretende orientar a família para a abordagem a este tema durante as diferentes fases do crescimento, é um guia útil para compreender o que fazer, o que explicar e de que forma lidar com os possíveis constrangimentos. 
Simples, acessível e muito, muito útil, este é um livro nitidamente pensado para os pais que precisam de começar a pensar na abordagem das questões da sexualidade com os filhos. E, assim sendo, uma das primeiras qualidades a destacar-se é a ausência de tabus: escrito de forma clara e abordando com naturalidade todas as questões, pode funcionar como uma base orientadora para quem precisa de discutir estes temas com um filho ou familiar. Mas há mais: a linguagem acessível e os esquemas e exercícios permitem um trabalho em conjunto e, consequentemente, funcionam como estímulo ao tão necessário diálogo.
Apesar de ser um livro relativamente breve, todos os elementos essenciais estão presentes e a forma estruturada com que a autora aborda os diferentes elementos - considerando os tempos certos, mas também as diferenças existentes - faz com que o livro seja uma boa ferramenta de consulta. Além disso, ao não se esquivar a nenhum assunto, transmite também, de certa forma, a compreensão e confiança que se espera que, depois, os pais venham a manifestar ao falar sobre o tema. O que acontece é, pois, que o livro acaba por ser uma espécie de exemplo, não só de abrangência, mas também de registo.
Haverá naturalmente questões a aprofundar, além da base essencial aqui apresentada. Mas é interessante notar que também nesse sentido a autora aponta caminhos, não só através dos vários projectos referidos no final, mas também no possível recurso a aconselhamento especializado. 
É um ponto de partida, acima de tudo - e um ponto de partida muito claro. Acessível e esclarecedor, desmistifica algumas ideias sobre o que é realmente a sexualidade e de que formas deve ser abordada ao longo do crescimento - abrindo deste modo caminho a relações mais confiantes, conscientes e seguras. Uma boa leitura para pais e educadores, em suma.

Autora: Vânia Beliz
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Clube do Autor

Sertã, Estoi, Arzila: parecem lugares pequenos para palco de um romance épico onde se narram grandes façanhas, batalhas que marcaram a história da nação e ajudaram Portugal a descobrir o mundo. Não são. Lopo Barriga, o herói desconhecido das páginas deste livro, nasceu na Sertã e viveu em Lisboa mas foram as lutas que travou no Norte de África que o tornaram conhecido e inspiraram a narrativa que invoca os nomes maiores dos Descobrimentos.
Lisboa, 1471: Lopo Barriga e o seu fiel amigo Nuno Fernandes de Ataíde embarcam numa expedição rumo a África. Aí protagonizam e saem vitoriosos de sangrentas batalhas, feitos que depressa chegam ao reino e conduzem Lopo Barriga a adail de uma das principais praças do Norte de África.
Alcunhado “o terror dos mouros”, Lopo Barriga foi todavia esquecido pela História. Neste livro, o autor recupera a bravura do destemido e audaz cavaleiro português e oferece ao leitor um romance rico e envolvente que nos transporta para as ruas de Lisboa no tempo dos Descobrimentos, evoca o cheiro dos mares bravios, as brisas quentes do deserto, a emoção e a inclemência dos campos de batalha em África.
Abrir este livro é viajar no tempo, embarcar nas caravelas que ajudaram Portugal a descobrir o mundo e ao mesmo tempo mergulhar numa história de amor, aventura e luta. Tudo Em Nome D’El Rey.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

D. Dinis, Um Destino Português (José Jorge Letria)

A posteridade atribuiu-lhe como cognome o Lavrador. Mas foi muito mais do que isso. Poeta, legislador, diplomata, marido, amante e pai, deixou a sua marca em elementos tão distintos como a poesia do seu tempo, a língua, as bases de um sistema de classes menos dominado por uns poucos privilegiados e, claro, o inevitável pinhal de Leiria. Esta é a história do rei D. Dinis, contada em parte pela sua própria voz.
Não sendo bem uma biografia, pois há elementos nascidos da pura imaginação, mas também não sendo exactamente um romance, pois os factos assumem, ainda assim, a predominância, poder-se-ia definir este livro como uma biografia poética, em que o autor pega num conjunto de elementos e constrói, com certa liberdade, mas mantendo presentes as linhas gerais dos factos reais, um relato mais linear para a história de toda uma vida. E, sendo certo que isto impõe certas limitações, já que o contexto acaba por ser visto apenas da perspectiva do protagonista escolhido, também o é que o essencial está lá e que esta forma de contar as coisas tem o efeito de, além de tornar a leitura mais cativante, despertar a vontade de ir à procura de um conhecimento mais aprofundado.
É também uma visão bastante pessoal, além de invulgar. As cartas atribuídas ao rei permitem como que uma visualização do que poderia ir na mente da figura central deste livro durante os momentos mais determinantes da sua vida. E, além de criar um retrato do rei que nos aproxima mais do homem, o autor transmite ainda uma outra coisa: é que bastam uns poucos parágrafos para perceber o registo que definirá o livro inteiro. O de uma profunda admiração pelo homem, pelo rei e, principalmente, pelo poeta.
Porque a poesia é fulcral neste livro, sendo constantemente evocada ao longo do livro. Não só pelos poemas que vão surgindo a espaços, mas também na importância que o autor lhe atribui ao contar certos acontecimentos e determinações do rei. Legislador, combatente, lavrador também - mas acima de tudo poeta - é esta a imagem que o autor aqui constrói para D. Dinis.
Biografia poética, portanto - o que faz especial sentido quando se fala de um rei poeta. E um livro que, relativamente sucinto, mas sempre muito cativante, permite uma visão bastante clara da vida de um rei que terá, afinal, sido muito mais que Lavrador. Muito interessante.

Autor: José Jorge Letria
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 11 de setembro de 2018

O Messias das Plantas (Carlos Madgalena)

A sua paixão pelas plantas e os sucessos alcançados na conservação de várias espécies em risco de extinção valeram-lhe o título de Messias das Plantas. Mas, para Carlos Magdalena, qualquer um pode ser um messias, mesmo que com recursos limitados, bastando para isso olhar um pouco mais aos perigos que ameaçam o equilíbrio do ecossistema. Este livro conta a sua história - mas principalmente a das plantas que mais marcaram o seu percurso. O resultado é uma aprendizagem constante.
Assente numa experiência pessoal, mas cedendo às plantas o verdadeiro protagonismo, este é um livro que exigirá, talvez, alguns conhecimentos prévios da biologia das plantas para uma completa apreciação. Não que o autor seja demasiado técnico. Na verdade, o registo é bastante acessível. Ainda assim, poderá ser útil lembrar algumas ideias básicas das aulas de biologia para entender algumas das características e procedimentos descritos ao longo do livro. 
É uma leitura bastante fluída, pese embora as especificidades das várias plantas e a abundância de nomes científicos.A forma como o autor descreve as plantas, além, é claro, das fotografias, permite uma visão bastante clara do que nos está a ser contado. Além disso, e apesar da importância dos pormenores mais técnicos, é fácil compreender a mensagem global, não só devido a clareza do texto, mas à própria paixão com que o autor fala daquilo que faz.
A mensagem é clara: a importância de proteger as espécies ameaçadas, bem como o equilíbrio dos diferentes ecossistemas. E mais clara se torna pela forma envolvente e empolgada com que o autor descreve as suas experiências. É quase como estar lá, a vê-lo entrar em cenários invulgares - e a passar pela ocasional situação caricata - para conseguir uma amostra, uma semente, uma possibilidade de fazer alguma coisa. E, assim, acaba por surgir também uma segunda mensagem positiva: a do poder da determinação, mesmo quando parece impossível ter sucesso.
História pessoal, mas com uma mensagem muitíssimo mais abrangente, trata-se, pois, de uma boa leitura não só para os interessados pela conservação das espécies, mas para todos os que se interessam pela protecção do mundo em que vivemos. Cativante, muito interessante e de leitura agradável, vale a pena conhecer este Messias. 

Autor: Carlos Magdalena
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Asa

Dylan mal se lembra da cara do pai, tinha cinco anos quando ele se foi embora – e nunca mais o viu. Descobriu entretanto que ele vivia em Aberdeen, no Norte da Escócia. Telefonou-lhe, falaram longamente, e hoje é o grande dia: vai visitá-lo. Sente borboletas na barriga, e a verdade é que não dormiu bem, teve um sonho muito estranho…
O comboio percorre lentamente paisagens verdejantes. Até que, ao passar num logo túnel, dá-se um acidente terrível. E Dylan é a única sobrevivente. Ou talvez não.
Ao emergir dos escombros, ao encontrar a saída do túnel, não percebe bem onde está. A paisagem verdejante deu lugar a um cenário desolado, desértico, terrível.
E Tristan, um rapaz de olhos tristes, está à sua espera. Ela levará tempo a perceber o que se passa. Tristan é o barqueiro, tem a mesma missão há muito, muito tempo: encaminhar os mortos para o outro lado. É uma longa travessia, que ele já fez com milhares de pessoas. E com enormes perigos: porque à espreita estão as fúrias à caça de almas humanas…
Ao longo do caminho, sem perceber como nem porquê, Dylan sente-se cada vez mais próxima do rapaz dos olhos tristes. E ao aproximar-se do seu último destino, sabe que a história não pode acabar ali, sabe que tudo fará para permanecer ao lado do seu barqueiro, por toda a eternidade.
Mas como? Será que o amor pode transcender a morte?

Claire McFall é escritora e professora e vive e trabalha no Norte da Escócia. O seu primeiro livro, O Barqueiro, conquistou o prémio Scottish Children's Book Award e foi nomeado para os prémios Branford Boase Award e Carnegie Medal.
Autora também das obras Bombmaker e Cairn Point (vencedora do primeiro prémio Scottish Teenage Book Prize), dedica-se a tempo inteiro à escrita desde que os direitos de O Barqueiro foram vendidos para o cinema.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Espada de Vidro (Victoria Aveyard)

Foi por pouco que Mare e Cal escaparam a uma sentença de morte, mas a guerra está longe de estar terminada. Agora que sabe que não é a única com sangue vermelho e habilidades prateadas, Mare sabe que precisa de alcançar os que são como ela - antes que Maven o faça. Só que o caminho é tudo menos fácil. Maven tem todo o poder de um reino - e de inúmeros Prateados - nas suas mãos. E ela tem apenas uns poucos aliados e a certeza de que não pode confiar em ninguém. Ainda assim, desistir não é opção. E, por mais que Maven apele à sua rendição, Mare sabe que nenhuma ameaça a poderá fazer ceder.
Dando continuidade aos acontecimentos de Rainha Vermelha, mas elevando-os a todo um nível de intriga, este é um livro que vê todas as qualidades do anterior reforçadas por uma maior complexidade. Se já antes havia traição e intriga ao virar de cada esquina, aqui as coisas atingem um ponto em que nem em si mesma Mare consegue confiar inteiramente. E se antes ainda havia algumas divisões claras entre certo e errado, essas definições a preto e branco são aqui completamente esbatidas por todo um conjunto de escolhas difíceis, pois nenhuma decisão é boa ou má, e todas têm consequências.
Há também um grande avanço em direcção às sombras, pois a guerra tornou-se inevitável e de consequências terríveis. Mas o mais impressionante neste percurso é a forma como os acontecimentos se repercutem nas personagens. A Mare deste livro é muito diferente da do anterior e as mudanças acentuam-se com o evoluir da história. O mesmo se aplica também às outras personagens, mas é em Mare, já que a história é contada pela sua voz, que essas alterações são mais notórias. Mare, com o peso da culpa, da perda, da desconfiança constante, de sentimentos que não têm lugar no seu mundo. Mare que, para combater um monstro, talvez tenha também de se tornar um.
E, claro, tudo isto acontece a um ritmo intenso, cheio de grandes confrontos e grandes perdas, e principalmente de momentos emocionalmente devastadores - a que os ocasionais laivos de humor vêm contrapor alguma leveza. É difícil resistir à vontade de saber o que o futuro tem reservado a Mare e a Cal - e, ao alcançar os grandes pontos de viragem, impossível deixar de sentir o impacto. Além do mais, a história não acaba aqui e a forma como tudo termina... bem, digamos que a vontade de ler o próximo volume é ainda mais irresistível. 
Intenso, sombrio e profundamente emotivo, trata-se, pois, de um livro que eleva ainda mais as expectativas para o que poderá estar reservado à sua protagonista. Com um enredo cheio de surpresas e alguns picos de intensidade simplesmente devastadores, uma leitura a não perder. E que recomendo, naturalmente.

Título: Espada de Vidro
Autora: Victoria Aveyard
Origem: Recebido para crítica

domingo, 9 de setembro de 2018

O Décimo Círculo (Jodi Picoult)

Trixie Stone tem catorze anos e está a passar por uma situação delicada. O namorado, que julgava ser o seu amor para sempre, deixou-a e Trixie não está a conseguir lidar com a situação. E, numa noite que esperava ser de algum descontrolo, mas também a única forma de o reconquistar, as coisas descontrolam-se de facto, mas não da forma como Trixie esperava. Nessa noite de caos, Trixie volta para casa a dizer que Jason a violou e, nesse momento, inicia-se uma verdadeira descida aos infernos. Não só para Trixie, que nunca mais será a mesma, mas também para os pais, que, cada um com os seus segredos, têm agora de deixar de lado tudo o resto para tentar proteger a filha. 
Provavelmente o aspecto mais marcante desta história é a forma como a autora constrói todo um turbilhão de emoções intensas, ao mesmo tempo que lhes acrescenta questões relevantes e um mistério a resolver. O que realmente aconteceu a Trixie naquela noite é apenas a primeira de várias perguntas que vão surgindo e, a cada nova revelação, a história tende para um rumo mais inesperado. O resultado é uma leitura intensa, não só pelas emoções que desperta, mas pelas muitas surpresas que se manifestam ao longo do enredo e que culminam num final que só é previsível num aspecto: não é, de todo, o que se esperaria no início.
É também muito fácil entrar no ritmo na narrativa e, uma vez lá dentro, é irresistível a vontade de saber mais, não só devido ao mistério e aos consequentes passos que cada uma das personagens tem de dar após as novas revelações, mas também pela forma como as personagens estão construídas. Há em todas elas forças e fraquezas e as evidentes vulnerabilidades só torna mais forte o impacto emocional do que lhes vai acontecendo. Além disso, há também um crescimento a acontecer, não só em Trixie, mas também em Laura e Daniel enquanto casal. E esse crescimento - com as inevitáveis dores associadas - define-se também por momentos de grande emotividade.
Depois, claro, há as muitas questões relevantes, desde a forma como são tratados os casos de violação às dificuldades de superar os fantasmas de passado, passando, claro, pela facilidade com que se destrói uma vida inteira e as pequenas mentiras que se tornam numa mentira incontornável. Tudo isto está presente e tudo isto justifica uma reflexão, reflexão essa que se estende das personagens ao próprio leitor. E tudo surge com naturalidade, perfeitamente enquadrado na fluidez de um enredo em que todas as facetas parecem ter a medida certa.
Ainda uma última nota para referir dois traços que, embora não sendo os mais importantes, acrescentam também algo de marcante à história. Primeiro, a banda desenhada, que, além de introduzir no livro um elemento peculiar, permite vários paralelismos interessantes entre a criação de Daniel e a sua própria vida. E depois o elemento Dante, com os círculos infernais a desempenharem um papel muitíssimo relevante na interpretação dos acontecimentos, tanto na vida de Laura, que os estuda, como nas de Daniel e Trixie.
A soma das partes é uma leitura memorável, com uma história envolvente e equilibrada, personagens humanas e vulneráveis e uma série de acontecimentos tão surpreendentes quanto emocionantes. Intenso, empolgante e muito relevante, um livro cheio de surpresas. Muito bom.

Autora: Jodi Picoult
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Novembro (Sebastià Cabot)

Gus trabalha numa loja de discos enquanto procura encontrar a sua inspiração como escritor, e não está muito interessado em grandes momentos de socialização. Mas tudo muda no dia em que conhece Clara. Também à procura do seu lugar no mundo, Clara transborda de vida e a necessidade faz com que os dois acabem a viver na mesma casa. Da proximidade, nasce a paixão e um amor que prometia durar para sempre. Mas nada é eterno. E a vida em comum começa a desmoronar - não com estrondo, mas com uma multiplicidade de silêncios...
Parece ser uma história muito simples - a história de um amor jovem a nascer - e é quase num tom de leveza que esta leitura começa por emergir. Mas, se olharmos com atenção, há todo um mundo de verdades difíceis e actuais por detrás desta história. Tantas que, pese embora a sensação que desde cedo se manifesta de que nem tudo virá a ter uma resposta, há todo um mundo na história destas personagens.
Às diferenças de personalidade e de forma de encarar a vida, acrescentam-se as dificuldades do mercado laboral, as inevitáveis dores de crescimento, a sensação de se estar sozinho contra o mundo e de a vida poder ser, às vezes, demasiado pesada. E isto não acontece apenas com Gus e Clara, mas também nas histórias dos seus amigos mais próximos. É, aliás, aqui que fica a tal curiosidade insatisfeita, pois haveria talvez mais a dizer sobre estas personagens. Ainda assim, faz um certo sentido que assim seja: afinal, também na vida não sabemos o final de todas as histórias.
Mas voltando a Gus e Clara - e à sua história de amor e desamor. Quase parece haver uma vida inteira na história que nos é contada e, todavia, tudo surge com a máxima simplicidade. Os diálogos são reduzidos ao mínimo e também no movimento, nas expressões, nos próprios cenários se sente esta redução ao essencial. E porém ajusta-se. Pois, numa história tão feita de silêncios - os silêncios do amor que não precisa de palavras, do crescimento que se insinua sem darmos conta, do afastamento que se vai moldando aos poucos - faz todo o sentido que as grandes verdades se manifestem com a mesma discrição. A mesma que se vê nos diálogos sucintos, mas também num traço e num tom que quase parecem conter toda a melancolia da vida. 
Parece uma história simples, mas é isso que a torna universal, pois amor, crescimento e desamor são uma parte inegável da vida. E é isso, no fim, que dá tanto impacto a esta história de desencanto: a impressão de que Gus e Clara podiam ser qualquer um de nós. Fica, por isso, esta imagem marcante: a de uma história simples, actual e intemporal. Uma história de amor, naturalmente. 

Título: Novembro
Autor: Sebastià Cabot
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Chega Aqui que Vamos Falar de Amor (Francisco Sexto Sentido)

Há quem diga que o amor é efémero, que passa, que depende de nos amarmos em primeiro lugar, que pode desaparecer à primeira desilusão ou que é tudo menos fiel. A visão do autor é diferente. E, nesta longa declaração de amor a uma mulher desconhecida, praticamente tudo é questionado: ciúme, necessidade, confiança, amor-próprio, fidelidade, constância. Ao fundo, vislumbra-se uma mulher que só o autor parece conhecer verdadeiramente - mas é a mente do autor a base deste livro.
A primeira impressão que surge ao ler este livro - e também a que fica depois de terminada a leitura - é a de uma imagem feita de sentimentos contraditórios. Ora questiona lugares-comuns e generalizações, ora cai noutro tipo de generalizações. Ora recusa o amor-próprio para se abrir unicamente ao amor por outra pessoa, ora se demora na sua própria visão. E, no meio de tudo isto, fica uma impressão ambígua: a de haver, de facto, várias ideias relevantes, mas também algum exagero e alguns pontos de vista perigosos.
Faz todo o sentido, por exemplo, questionar a ideia de que só alguém seguro e confiante conseguirá alcançar o sucesso. Afinal, ninguém é perfeito. Já não faz tanto sentido o quase menosprezo com que parece falar de aspectos como a educação obtida nas escolas, pondo o amor acima de tudo e de todos - incluindo as outras facetas essenciais da vida. 
Além disso, o livro tem um registo muito vincado, muito (demasiado) afirmativo, de quem tem todas as certezas absolutas e está, parafraseando algumas das afirmações, "rodeado de idiotas". Parece demasiada a certeza para quem fala de algo tão vasto como o amor e demasiado o isolamento resultante: é como se só o amor existisse no mundo e fossem essas duas pessoas contra o mundo. O que, tendo em conta a tão grande certeza de que "ninguém pode ser feliz sozinho" acaba por ser também um pouco estranho.
Não deixa de ter os seus pontos de interesse e, principalmente na forma como aborda os sentimentos negativos, há, de facto, alguns pontos de vista muito relevantes. Ainda assim, fica a sensação de que acabam por se perder um pouco no ciclo repetitivo de um amor que parece devorar tudo o resto, deixando para trás todas as outras forças do mundo. Além, é claro, de uma última surpresa no registo: é que o autor questiona múltiplas vezes os autores motivacionais - mas acaba por cair no mesmo tom quase imperativo de alguns desses autores.
Ficam, pois, os tais sentimentos contraditórios de uma leitura que contém, de facto, boas ideias - e alguns textos realmente marcantes - mas que se perde demasiado no ciclo fechado da sua própria visão. Interessante quanto baste, ainda assim.

Autor: Francisco Sexto Sentido
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Um Mundo sem Fim - Volume I (Ken Follett)

Passaram duzentos anos desde a construção da catedral e Kingsbridge continua a ser um lugar próspero. Mas a passagem do tempo não traz apenas crescimento e as quatro crianças - Merthin, Caris, Gwenda e Ralph - que assistem ao combate entre um misterioso cavaleiro e dois outros homens têm pela frente destinos muito diferentes. É que as lutas pelo poder surgem onde menos se espera e o mesmo acontece com o afecto dos corações. Sonhos e aspirações acabam por dar origem a conflitos e enganos. E o caminho é longo, pois tem a dimensão da vida.
Embora relacionado com Os Pilares da Terra, não só pelo cenário comum, mas também pelas referências ao passado que vão surgindo ao longo da narrativa, esta é uma história perfeitamente independente. Novas personagens, novos obstáculos e novos caminhos - além, é claro, das mudanças que o tempo impôs a Kingsbridge - fazem deste livro um percurso completamente novo, ainda que com as mesmas qualidades da história anterior.
E, tal como em Os Pilares da Terra, também aqui um dos grandes pontos fortes é a capacidade de gerar sentimentos intensos, sejam eles de empatia ou de aversão para com diferentes personagens - e, mais do que isso, de os ir moldando ao ritmo de um enredo repleto de reviravoltas, fazendo com que ninguém seja apenas aquilo que pareça e com que o futuro aparentemente traçado acabe por seguir um rumo completamente diferente. As crianças do início da história crescem e amadurecem, passando por muito ao longo do caminho. E também aqueles que as rodeiam têm as suas próprias histórias. Histórias essas que, da fusão de múltiplos percursos pessoais, fazem nascer um todo maior, com Kingsbridge como derradeiro protagonista.
Claro que, sendo este apenas o primeiro de dois volumes, não fica muito em aberto: fica tudo. Mas é interessante notar que a escolha do ponto de divisão é particularmente adequada, fazendo com que este primeiro volume culmine num pico de intensidade... e deixando uma vontade irresistível de descobrir o que acontece a seguir.
Mas voltando às personagens. Além do impacto dos seus percursos pessoais, feitos de dor e de conflito, de sucessos e de perdas, de esperanças e de desespero, há ainda uma outra faceta a retirar destes percursos. É que, no caminho de cada um deles, surgem diferentes elementos da construção mais vasta do mundo: lutas de poder, segredos obtidos para benefício próprio, intrigas, conspirações, julgamentos manipulados. Há tanto para descobrir ao longo desta história, e é tudo contado de forma tão marcante e intensa que é impossível não sentir todo o impacto de cada um desses momentos dramáticos.
Com uma fascinante teia de intrigas, personagens fortes na empatia e no carácter e toda uma série de episódios memoráveis, dificilmente se poderia pedir mais a este livro. Marcante, surpreendente e notável em todos os seus aspectos, uma história a não perder e uma grande promessa para o que virá na segunda metade. Muito, muito bom. 

Autor: Ken Follett
Origem: Aquisição pessoal

Para mais informações sobre o livro Um Mundo sem Fim - Volume I, clique aqui.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

O Diário das Raparigas Rebeldes 2018 - 2019 (Elena Favilli e Francesca Cavallo)

Conhecem a sensação de gostar tanto de um livro que só querem é descobrir mais coisas - cadernos, bonecos, seja o que for - do mesmo universo? Tem uma certa magia, não é? E, se já conhecem a magia inspiradora das Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes, então provavelmente também vão gostar desta ideia. Trata-se de um diário/agenda pensado para o ano lectivo que agora começa, e, além de muito espaço para escrever, tem várias das ilustrações das Histórias de Adormecer, desafios a preencher, citações, curiosidades, questionários e até mesmo páginas para colorir. É, por isso, um livro especial - um livro para cada um moldar à sua imagem, tornar especial... tornar seu. 
Destina-se, naturalmente, aos fãs das Histórias de Adormecer e, principalmente, aos mais jovens. Mas tem ainda um aspecto curioso: é que, embora abrangendo o espaço de um ano lectivo, não se limita a uma utilização enquanto agenda. Desde os pequenos desafios para preencher, que estimulam a criatividade, a um espaço organizado que permite igualmente uma utilização enquanto diário pessoal, funciona essencialmente como um diário inspirador. Pois que melhor ideia do que escrever os nossos próprios pensamentos e planos junto às histórias e imagens de tantas e tão inspiradoras rebeldes?
E é aqui que entra a tal magia de reencontrar, num formato diferente, aquele livro que nos fascinou. É que até podemos já não fazer parte do público a que se destina este livro - como, aliás, as próprias Histórias de Adormecer. Mas isso não lhe retira nenhuma da magia, e reencontrar o mesmo encanto e a mesma beleza neste pequeno e delicioso diário é, em si mesmo, um belo matar de saudades.
Gostaram das Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes? Então provavelmente também vão gostar deste encantador complemento. Diário, agenda, livro de pensamentos... as possibilidades são imensas! E que melhor realçar a mensagem dos livros que lhe serviram de base? Tudo é possível. Não há limites. Basta fazer.

Autoras: Elena Favilli e Francesca Cavallo
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Porto Editora

A CADA GERAÇÃO, NA OBSCURA ILHA DE FENNBIRN, NASCEM TRÊS IRMÃS GÉMEAS.

Três rainhas herdeiras de um só trono, cada uma possuindo um poder mágico muito cobiçado. Mirabella é capaz de inflamar o incêndio mais violento ou a tempestade mais terrível. Katharine consegue ingerir um veneno mortal sem sentir os seus efeitos. De Arsinoe diz-se capaz de fazer florir a rosa mais vermelha e controlar o leão mais feroz.
Mas para uma delas ser coroada rainha, não basta ter a linhagem certa. As trigémeas terão de conquistar o seu direito à coroa, lutando por ele... até à morte.
Na noite em que as irmãs completam 16 anos, a batalha começa. E a rainha que sobreviver, conquistará a coroa!

Kendare Blake nasceu na Coreia do Sul, mas cresceu nos EUA. Tem um mestrado em Escrita, pela Middlesex University em Londres. Vive actualmente em Kent, Washington.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Em Chamas (Thomas Enger)

Henning Juul era um jornalista de sucesso, até à tragédia que pôs a sua vida em suspenso. Agora, dois anos passados desde o trauma, regressa ao trabalho, sem saber muito bem qual é o seu lugar ou como recomeçar. E começa em grande: uma estudante universitária foi encontrada numa tenda, com sinais de apedrejamento e flagelação, além de uma mão cortada. O caso promete tornar-se mediático e basta o enigma para atrair Henning à investigação. Só que nada é o que parece e a suspeita inicial de um crime de honra não tarda a dar lugar a uma intriga de contornos bastante mais elaborados. A notícia tornou-se um quebra-cabeças. E Henning Juul não vai parar até o resolver.
Um grande mistério, escrito de forma intensa e com um protagonista forte: bastam estas três características para pôr em evidência a qualidade do livro. A história cativa desde as primeiras páginas, com o mistério do que aconteceu na tenda a associar-se a elementos delicados (como a questão de um alegado choque cultural e uns quantos inimigos do piorio) e a um percurso pessoal que deixou marcas para dar forma a uma leitura viciante e cheia de surpresas. A escrita, com os seus capítulos curtos e directos, mas com intensos e precisos mergulhos aos abismos da alma do protagonista, atinge o equilíbrio perfeito entre tensão, mistério e emoção. E Henning Juul... bem, Henning Juul é fascinante, com o seu passado trágico e os seus esforços por recuperar o controlo da vida.
O que leva, naturalmente, a outro dos grandes pontos fortes deste livro: a construção das personagens. Não só de Henning, embora baste ele para realçar esta faceta particularmente marcante, mas de todas as personagens. Há uma moralidade ambígua, como que uma imperfeição subjacente, em cada uma das personagens mais relevantes: de Brogeland, com a sua obsessão pouco profissional com a colega em contraponto à eficiência que demonstra no seu trabalho, a Heidi, cuja posição é toda ela fonte de ambiguidades, passando, é claro, pela peculiar Annette, cujos segredos ninguém parece conseguir alcançar, e pelo enigmático 6tiermes7, elo de ligação e fonte de distância. E é uma ambiguidade que faz sentido, pois humaniza as personagens, tornando-as muito mais reais do que uma simples divisão entre bons e maus alguma vez poderia fazer. Além do mais, o protagonista é jornalista, algo que lhe basta para despertar amores e ódios.
Mas voltando ao caso. Sendo este o primeiro volume de uma série, é apenas de esperar que fiquem perguntas sem resposta. E ficam, de facto, mas essencialmente acerca da história pessoal de Henning. O caso em si é perfeitamente independente, com princípio, meio e um final bastante inesperado. Também aqui há um equilíbrio bem conseguido: uma história que atinge um fim satisfatório, mas que tem subjacente uma outra história, deixando por isso uma vontade imensa de ler os volumes seguintes da série.
Intenso, viciante, cheio de surpresas e com um protagonista que apenas se torna mais forte pela sua evidente vulnerabilidade, cativa desde as primeiras páginas e não deixa de surpreender até ao fim. Não se poderia, pois, pedir muito mais a um início de série. Uma série - e um protagonista - a acompanhar. 

Título: Em Chamas
Autor: Thomas Enger
Origem: Recebido para crítica

domingo, 2 de setembro de 2018

Nos Passos de Magalhães (Gonçalo Cadilhe)

Odiado por uns, idolatrado por outros, Fernão de Magalhães faz parte da lista das figuras históricas incontornáveis. E seguir os seus passos é uma longa viagem, capaz de levar até aos confins do mundo. É esse o ponto de partida deste livro que, numa mistura de narrativa histórica e percurso de viajante, segue o caminho de Magalhães, conjugando impressões modernas com a história de um tempo bastante mais distante.
Um dos elementos mais cativantes ao ler um livro de viagens é a possibilidade de conhecer lugares nunca visitados como se lá se estivesse. Neste aspecto, o livro cumpre plenamente as expectativas. Bastam, aliás, as muitas fotografias para criar uma forte primeira impressão do que será uma longa viagem, cheia de experiências notáveis. É também uma viagem bastante vasta, não se cingindo a uma única área geográfica, mas seguindo os contornos de uma volta ao mundo. Assim, os lugares visitados são muito diferentes e tanto o texto como as fotografias permitem uma percepção muito nítida dessas diferenças.
Ao associar a esta longa viagem um percurso histórico anterior, cria-se um equilíbrio interessante. De um lado, está a viagem do autor pelos lugares modernos. Do outro, o percurso de Magalhães. E o contraste entre ambos é notório, tanto nos locais mais alterados pelo tempo como nos que mantiveram muitas das suas características. Ao desenvolver a história da sua viagem em conjunto com a da viagem histórica, o autor constrói um retrato de um mundo em mudança, ao mesmo tempo que expõe as suas percepções pessoais e, claro, um percurso histórico de incontestável relevância.
Claro que, ao conjugar as duas facetas, ambas acabam por assumir uma dimensão mais sucinta. Haveria certamente mais a dizer, tanto sobre os passos de Magalhães como sobre os do próprio autor. Ainda assim, não fica a sensação de que falte nada de essencial e esta relativa brevidade tem também o agradável efeito de reforçar o impacto das coisas essenciais. Talvez não se fique a conhecer tudo, mas o que fica não se esquece facilmente.
Fica, por isso, a curiosa sensação de ter feito duas longas viagens sem sair do sítio. Viagens igualmente fascinantes ao passado e ao presente, num caminho de descobertas incessantes. Porque afinal, é isso a leitura, não é? E esta é deveras uma boa leitura.

Autor: Gonçalo Cadilhe
Origem: Recebido para crítica

sábado, 1 de setembro de 2018

The Last Hours (Minette Walters)


1348. Develish não é como os outros sítios. Embora o seu senhor seja tão cruel e insensível como qualquer outro, Lady Anne, a esposa, detém uma influência que o marido jamais poderá reconhecer. E as coisas estão prestes a mudar. Quando a Peste Negra chega durante uma das ausências de Sir Richard, Lady Anne assume a responsabilidade de proteger Develish. Mesmo que isso signifique fechar as portas ao marido e à peste que ele traz consigo. Mas fechar as portas à Peste Negra é apenas o início da luta pela sobrevivência. Isolados, mas com um ninho de intrigas no seu seio, as gentes de Develish têm de encontrar novas formas de sobreviver até que a pestilência passe. E uma nova ordem que permita a todos estarem seguros.
Acompanhando um conjunto de personagens bastante distintas através de um período conturbado, esta é uma história que, apesar de todas as suas complexidades, não demora muito tempo a cativar. Talvez porque todas as personagens criam uma primeira impressão forte – para o bem ou para o mal – e, assim, a necessidade de saber o que lhes vai acontecer não tarda a tornar-se irresistível. Mas também devido à história em si, com todas as suas intrigas e interesses em colisão, e bons corações forçados a tomar decisões terríveis.
As figuras principais são, claro, Lady Anne e Thaddeus Thurkell. Dificilmente podiam ser mais diferentes um do outro e, todavia, parecem complementar-se na perfeição. São também frutos perfeitos do seu tempo. Laddy Anne, culta e sábia, mas presa a um casamento com um marido cheio de falhas. Thaddeus, amaldiçoado pelo seu nascimento a ser tido sempre como um homem superior, mesmo sabendo mais e tendo melhor coração do que muitos dos seus alegados superiores. No seu esforço de fazer o melhor pelo seu povo, estes dois têm pela frente um percurso impressionante, e a história que a autora tece, com toda a sua teia de intrigas, é também ela bastante impressionante.
Há ainda um outro aspecto a ter em conta. Se estas duas personagens principais são fundamentalmente boas, o mundo em que se movem é… bem, bastante brutal. E, assim sendo, faz sentido que todas as personagens manifestem também as suas imperfeições. Thaddeus não é um homem paciente. Lady Anne guarda segredos. E até mesmo os mais temíveis dos seus inimigos – os que estão dentro das muralhas de Develish – parecem às vezes manifestar qualidades redentoras. Isto torna tudo muito mais interessante, pois deixa a mais relevante das questões: quanto nas ações destas personagens faz parte do seu próprio mal e quanto é fruto do seu tempo?
A história continuará – e eu mal posso esperar para ler o próximo volume. Porque, com a sua intrincada teia de poder e intriga, as suas notáveis personagens fortes e uma história tão cheia de surpresas como de momentos intensos e emocionantes, não se pode pedir muito mais a este primeiro livro. Brilhante, intrigante e cheio de surpresas, um livro que recomendo sem reservas.

Título: The Last Hours
Autora: Minette Walters
Origem: Recebido para crítica