Ao entrar na floresta pela primeira vez e avistar uma luz misteriosa, Joey está longe de imaginar que a sua infância e inocência acabarão ali. E o primeiro momento marcante, embora de conflito, também não lhe insinua que isso esteja prestes a acontecer. É ali que faz o seu primeiro novo amigo, no início do que se tornará o Clube dos Intrusos. Só que a luz misteriosa acaba por ser um carro abandonado com uma fortuna no interior e um cadáver na mala. E, enquanto Joey e os amigos começam a imaginar as possibilidades que aquele dinheiro lhes poderá proporcionar, outros há, porém, que também o procuram. Outros que não olharão a meios para atingir os seus fins.
Bastam algumas páginas para começar a sentir a ambiguidade que acompanhará o ritmo desta leitura até ao final. Ambiguidade não só nas sensações que desperta, mas principalmente nas decisões e comportamentos das personagens. Afinal, trata-se de um grupo de crianças e, assim sendo, a primeira coisa a surpreender terá de ser, necessariamente, a mistura de intrepidez e de violência que se manifesta no seu caminho. Mas toda a história é de sentimentos contraditórios, com empatia e aversão a ganhar forma em medidas iguais, e por isso surpreende também a mistura de distância para com as motivações das personagens... e a necessidade de saber se tudo acabará bem.
Também o ritmo do enredo parece sofrer oscilações, com um avanço relativamente pausado na primeira fase, ainda que rasgado por vários picos de intensidade, e uma intriga crescente que culmina num final bastante forte. Não é propriamente uma leitura compulsiva, até porque as personagens levam o seu tempo a entranhar-se. Mas tem, ainda assim, muitas boas surpresas ao longo do caminho e um ambiente de mistério que, ao acabar por conduzir num rumo totalmente diferente do que insinua, reforça o impacto dos momentos mais tensos.
Nem tudo encontra resposta e, nalguns aspectos, é inevitável a sensação de curiosidade insatisfeita - principalmente no que diz respeito ao carro e ao Cobrador. Ainda assim, há uma linha de desenvolvimentos que, mais do que os mistérios em si, culmina numa conclusão satisfatória: querendo ou não, Joey e os amigos acabaram por crescer. E, mais do que o que ficou por explicar, fica a imagem desse crescimento - e das marcas que inevitavelmente deixou.
Leva o seu tempo, sim, mas acaba por valer a pena. Pois, com a sua narrativa de ambiguidades, retrata uma história tão composta de segredos e perigos como das (tudo menos) simples barreiras do crescimento. Acaba, pois, por ser uma boa leitura - e um autor a acompanhar.
Título: O Cobrador
Autor: Seth C. Adams
Origem: Recebido para crítica