Stella sabe que viver com fibrose quística significa uma esperança de vida mais curta do que o normal, mas está disposta a fazer todos os possíveis para se manter viva o máximo de tempo possível enquanto espera pelo seu transplante pulmonar. Mas a mesma determinação que a leva a dedicar-se a fundo ao combate à doença tornou-a também obcecada pelo controlo. Por isso, quando conhece Will, um rapaz com a mesma doença, mas com uma infecção a agravar o seu prognóstico, o desinteresse dele em realizar os tratamentos tira-a do sério. Acaba, por isso, por dar por si involuntariamente interessada no que ele faz. Só que esse interesse é recíproco. E, à medida que começam a conhecer-se, a distância obrigatória de um metro e oitenta entre ambos - a fim de evitar qualquer contaminação - começa a tornar-se demasiado grande.
Basta conhecer a premissa deste livro e a situação em que os protagonistas se encontram para prever duas coisas acerca desta história: uma inundação de emoções e uma grande reflexão sobre o facto de a vida não ser algo tão certo como às vezes pensamos. Stella e Will são jovens com a certeza de uma morte prematura às costas e basta este facto para fazer com que esta história deixe a sua marca.
Mas, se a premissa é marcante em si mesma, a forma como os autores constroem a história a partir dela é algo de impressionante. Há todo um crescimento a acontecer, não só a nível das personagens e das suas relações, mas da visão que o livro transmite sobre a fibrose quística. E, tal como é inevitável chegar ao fim a saber muito mais sobre o tema, é também inevitável o percurso que vai da ligeira irritação que Will e Stella despertam - à sua maneira - no início da história ao profundo e devastador impacto dos últimos capítulos. Pelo caminho, estes miúdos tornaram-se mais que miúdo: tornaram-se heróis nas suas batalhas pessoais, falíveis e imperfeitos na forma como encaram uma situação imaginável, mas mais corajosos e humanos por isso. E há tanto a aprender com estas personagens - e tanto a descobrir sobre a vida.
Emoção não falta, é um facto, e há vários momentos de ficar com o coração nas mãos ou de lágrimas nos olhos. Mas há também um equilíbrio delicioso e contraste entre estes momentos mais dramáticos e a leveza das situações divertidas, dos momentos constrangedores ou da cumplicidade crescente que se vai manifestando, não só entre os protagonistas, mas também com aqueles que os rodeiam. Isto é particularmente notável não só porque permite uma assimilação mais fácil dos aspectos mais trágicos da vida das personagens e da sua convivência com a doença, mas também pelo muito que mostra da vida para lá da doença. Desde os momentos partilhados entre Stella, Will e Poe à relação com os funcionários do hospital, expandindo-se também às relações familiares e de amizade e à partilha de memórias boas e más, há em cada desenvolvimento algo de marcante para descobrir e isso tanto pode ser uma grande perda como a simples percepção de que, enquanto durar, a vida continua.
É, pois, no fundo, um poço de emoções. Um elogio à vida, à juventude e à descoberta do amor mesmo perante os mais terríveis obstáculos. E uma história cativante, surpreendente, repleta de momentos ternos e comoventes e com um equilíbrio tão delicado entre o humor e a emoção - ou, literalmente, entre sorrisos e lágrimas - que é difícil não guardar um lugar no coração para estas personagens uma vez terminada a leitura. Notável, em suma. E muito, muito marcante.
Título: A Distância Entre Nós
Autores: Rachael Lippincott, Mikki Daughtry e Tobias Iaconis
Origem: Recebido para crítica
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