sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Balanço de 2016

Não foi propriamente o melhor dos anos, se o considerarmos em termos globais. Mas, a nível pessoal, a verdade é que podia ter sido bastante pior. 2016 foi um ano razoavelmente tranquilo, de muitas (boas) leituras, como sempre, e em que, apesar daquela mania que o tempo tem de fugir (e, oh, se foge...) o total de leituras deu um número bastante bonito.

232. Sim, foi mesmo isso. Se me acompanham no Goodreads, provavelmente viram um número um bocadinho mais baixo, mas isso é porque, no Goodreads, eu só tenho os livros físicos e, apesar da eterna lentidão nas leituras digitais, ainda li algumas coisas em e-book. Portanto, 232, de entre os quais uma muito boa quantidade de boas leituras e alguns absolutamente memoráveis. Mas já lá vamos.


2016 também foi o ano em que (finalmente) visitei a Feira do Livro de Lisboa. E foi... um marco na história deste meu ano. Primeiro... bem, obviamente... pela possibilidade de me perder entre livros e mais livros e mais livros e... ainda mais livros. (É preciso dizer mais?) E, igualmente importante, ou até mais, pela oportunidade de rever ou de conhecer pessoalmente algumas das muitas pessoas simpáticas que este mundo dos livros me deu a conhecer. Obrigada por me receberem, gente encantadora! É, sem dúvida alguma, uma memória para guardar para sempre. 

Mas voltemos aos livros, porque, antes de falar nas melhores leituras do ano, quero falar também numa das minhas coisas preferidas nos livros: personagens memoráveis! E este ano de leituras permitiu-me matar saudades ou conhecer pela primeira vez alguma gente ficcional fascinante. Helen Grace, Kim Stone, Andrew Blackrose, Darrow, Elias, Harry August... e tantos, tantos mais. É que, sabem, quando a uma boa história se juntam grandes personagens, tudo se torna mais mágico. E, no que aos livros diz respeito, este ano houve magia em abundância. 

E, dito tudo isto, passemos finalmente ao que nos trouxe aqui: as melhores leituras do ano. E essas, para mim, foram as que se seguem. 


Desde que o li que sabia que ia ocupar esta posição. Porquê? Porque, segundo os meus critérios, roça a perfeição. O protagonista é simplesmente brilhante. A história, tão intensa e complexa como capaz de partir o coração a cada três capítulos. O rumo dos acontecimentos surpreende a cada página. E a escrita, essa... irresistível. Não é só o favorito do ano. É um dos meus favoritos de sempre. E mal posso esperar para deitar aos mãos ao volume seguinte. 


Sabem aqueles livros que pegam numa figura histórica e a apresentam de um ponto de vista diferente? Adoro. E este é um deles. É também um livro muito bem construído, equilibrado, capaz de transmitir na perfeição os sentimentos do protagonista ao mesmo tempo que constrói um enredo fascinante e bem enquadrado no contexto histórico. Ah, e claro, muitíssimo bem escrito. Recomenda-se, naturalmente. Sem dúvida alguma. 



Tenho com este livro uma relação muito parecida com a que tenho com o Filho Dourado. Aquela coisa do partir o coração a cada três capítulos? Também acontece aqui. E, diferente, à sua maneira, a verdade é que desperta emoções muito parecidas. Junte-se a isto um conjunto de personagens fascinantes, um sistema tão brutal como intrigante e um enredo onde crueldade e emoção parecem andar (estranhamente ou não) de mãos dadas e a soma é um início memorável. Também aqui mal posso esperar para ler o seguinte.  


Se leram a trilogia Nocturnus, preparem-se para algumas surpresas. E também para reconhecer o que de melhor havia nos livros da trilogia. O cenário é novo, o protagonista é outro (e, se possível, ainda mais fascinante), mas os pontos em comum estão lá. Além disso, há todo um crescimento a acontecer neste livro: mais intensidade, mais emoção, um enredo mais complexo e surpreendente a cada nova reviravolta. E emoção - inesperada, intensa, abundante. Maravilhosa. Ficou-me na memória desde que o li... e nunca mais de lá saiu. 


Viagens no tempo (mas não da forma habitual). História e as possíveis consequências de a mudar. Intrigas capazes de abalar o futuro do mundo no tempo presente e em todos os futuros possíveis. E tudo isto maravilhosamente escrito e tendo no centro de tudo um protagonista absolutamente fascinante. Harry August também já tem um lugar de destaque na minha lista de personagens preferidas. E que mais dizer, além de que vale muito a pena ler este livro?


Completamente diferente de tudo o que eu estava à espera, este foi, provavelmente, um dos livros que mais me surpreendeu. Certeiro na descrição da vida num meio pequeno, mas transpondo-a para novas possibilidades, com um grande mistério no cerne dos acontecimentos e uma resolução em tudo inesperada. Maravilhosamente escrito e dando a cada personagem a voz adequada e a cada momento o ambiente de que precisa. E, na intrigante fusão de tudo isto, moldado numa estranha beleza que cativa sempre... e nunca deixa de surpreender. Memorável, em suma.


Helen Grace. Viram-me falar dela ali atrás, não foi? Bem, ao quinto volume desta série, Helen Grace tornou-se numa favorita incondicional. Complexa, conturbada, fascinante, perseguida pelos demónios do passado e, contudo, com tanto de bom para dar. Toda esta série é algo de fascinante, mas este livro atinge um novo pico: intenso do início ao fim e com um final que nos deixa a desejar o volume seguinte o mais depressa possível, não podia deixar de entrar nesta lista dos mais memoráveis do ano. 


Se cresceram nos anos 80 ou perto disso, este livro vai ser um banho de nostalgia. As referências são inúmeras, vastíssimas, deliciosas. É toda uma viagem ao passado. Mas há mais neste livro do que um simples matar de saudades. O ambiente é interessantíssimo, a posição do protagonista tão complicada que facilmente desperta empatia. E o enredo, esse, é todo um turbilhão de surpresas, em que, a cada novo nível, há um novo desafio para ultrapassar. Intenso, surpreendente, equilibrado... é, sem dúvida, uma viagem que vale a pena fazer.


Não li os volumes anteriores da série, e dizem-me que, se o tivesse feito, o impacto seria ainda maior. Mas, mesmo sem conhecimento prévio da história e das personagens, a impressão que fica deste livro é a melhor possível. Intenso, cheio de surpresas, repleto de momentos de tensão e de perigo e com um conjunto de personagens tão enigmático quanto fascinante, é tudo o que se espera de um policial e mais. Fica a curiosidade em saber o que se segue - e também o que aconteceu até aqui. E a recomendação também. 


Imaginem uma espécie de fusão entre Will Trent (da série da Karin Slaughter) e Helen Grace (de quem já me fartei de falar neste post). É mais ou menos assim que eu defino a protagonista desta série. E, a julgar por este primeiro livro, o potencial é vastíssimo. Para começar, Kim Stone, fascinante e perturbada (mas de uma maneira diferente da de Helen Grace). Depois, o caso, cheio de surpresas, sombrio, misterioso, construído sobre uma teia de interesses e de reviravoltas onde ninguém é exactamente o que parece. E depois, a escrita, que confere aos acontecimentos o tom que melhor se lhes ajusta. A soma de tudo isto é, claro, a mais promissora das estreias, e uma série a acompanhar. 

Bem, revisitadas as leituras mais marcantes, é impossível não ficar com a ideia de que 2016 foi um bom ano em livros. E, tendo em conta que vários deles não são o fim das suas histórias... tudo indica que os próximos anos também prometem muito de bom.

Quanto a 2017? Bem, esperemos. Que o ano que está a chegar seja sempre melhor, que traga boas surpresas e grandes oportunidades... que abra portas e caminhos rumo a um futuro melhor e que nos traga sonhos e realidades... nos livros e fora deles. Eu cá devo continuar por aqui. Continuem a visitar-me também! :)

Bom ano, boas leituras... e até 2017!

O Mensageiro - A Pedra (Anderson M. Braga)

Memórias, experiências e imaginação. Um retrato do autor enquanto jovem, num primeiro volume autobiográfico que se assume, também, como um início de série. Assim é este O Mensageiro, que, neste primeiro livro chamado A Pedra estabelece as fundações de um início de vida. E, embora assumidamente pessoal, este é, acima de tudo, um livro que pretende transmitir uma mensagem. Mensagem que, tanto nos passos do quotidiano como nos momentos de estranheza, parece ser o cerne de toda a história que o autor tem para contar.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste livro, talvez pelo facto de grande parte dele decorrer durante a infância do autor, é o facto de haver tantas coisas a acontecer na vida real como no espaço da imaginação do protagonista. Tanto no que ele acha que poderia fazer (em vez do que efectivamente faz) como na interpretação da fé em que está a crescer, há tanto de intrigante no percurso real como nas experiências imaginárias que relata.
Outro aspecto igualmente curioso, mas que desperta sentimentos mais ambíguos, é a forma como toda esta história é escrita. Talvez para tentar realçar a mensagem, há partes do texto escritas em verso e outras que, apesar de em prosa, recorrem à rima. Ora, isto confere ao texto um tom diferente, isso é verdade. Mas há frases que, pelas limitações naturais da estrutura, acabam por parecer um pouco mais forçadas, o que quebra um pouco o ritmo da leitura.
Mas falemos da mensagem e do papel que esta desempenha na construção da narrativa. Há valores óbvios a sobressair ao longo deste livro - determinação, responsabilidade, coragem, esforço, gratidão - e todos eles surgem fundamentados em experiências pessoais. Mas há também uma boa quantidade de introspecção a contrapor à narrativa dos acontecimentos. E o resultado é um ritmo um pouco errático, em que tanto há momentos de tensão e grandes descobertas a acontecer, como um olhar para o interior mais pausado, mais lento, que cria uma certa distância relativamente ao jovem protagonista de todos os acontecimentos e descobertas.
Não deixa de ser interessante, entenda-se, e a prova disso é que, ao chegar ao fim do livro, fica a curiosidade em saber de imediato o que acontece a seguir. E quanto à sempre tão importante mensagem... diria que fica também claríssima, ficando apenas em aberto as repercussões futuras dessa aprendizagem. 
A impressão que fica é, portanto, a de uma leitura nem sempre fácil, com alguns momentos difíceis de assimilar, mas que, no geral, consegue ser bastante interessante. Com uma mensagem positiva no seu cerne e vários momentos realmente intrigantes, um início bastante interessante para uma história da qual parece ainda haver muito por contar. 

Título: O Mensageiro - A Pedra
Autor: Anderson M. Braga
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Na Boca do Lobo (M. J. Arlidge)

Em pleno Baile Anual, o grande evento de uma discoteca frequentada pela comunidade sadomasoquista, um homem é encontrado morto de forma macabra. Nitidamente, não foi um acidente, pois teria sido possível libertar a vítima, se fosse essa a vontade do agressor. E, mais do que isso, há uma mensagem subjacente ao crime, isso é certo. Mas qual é essa a mensagem já não é assim tão claro. Cabe a Helen Grace e à sua equipa encontrar as respostas. Mas, assim que vê o rosto da vítima, Helen sabe que o caso será diferente. Ela conhece-o enquanto parte do lado secreto da sua vida. E, se quer fazer justiça ao seu amigo, então esse lado secreto tem de ficar escondido enquanto persegue o assassino. Ou as consequências poderão ser terríveis.
Crime, tensão, acção e mistério. Vidas duplas, grandes segredos, elementos macabros e relações pessoais passadas. Tudo isto são elementos característicos dos livros desta série. Mas este... Este é o livro que eleva esta imensa teia a um outro nível, o livro em que todos os elos passados se conjugam para grandes - e terríveis - revelações. E, num crescendo de intensidade perfeitamente equilibrado, este é o livro que eleva a série à perfeição, ao mesmo tempo que cria ainda mais expectativas para o que se seguirá.
E, claro, um dos primeiros elementos de que importa, ainda e sempre, falar, é a construção das personagens. Helen Grace, fascinante e conturbada, encontra aqui o mais temível dos seus adversários. E, nesse duelo, as forças e fragilidades da protagonista cristalizam-se num todo complexo, revelando tanto o seu potencial, como as possíveis complicações que os seus segredos podem trazer. Helen é, mais do que nunca, a alma do enredo. E é também nela que convergem não só as linhas essenciais deste novo caso, como as várias pontas soltas do passado que aqui regressam em toda a sua força.
É, aliás, quase impossível diferenciar o caso da história pessoal de Helen, tal é o grau de proximidade que se atinge neste livro. Tudo o que está a acontecer - a forma como Helen lida com o caso, o conhecimento que tem das vítimas, os seus próprios problemas no seio da equipa - molda o rumo da investigação e as consequências de cada passo. E é isso mesmo que cria o tal equilíbrio perfeito - a história de Helen e a história do caso fundem-se num equilíbrio delicado, conferindo a cada nova reviravolta e a cada pico de tensão uma força que, sendo já característica desta série, atinge agora todo um novo nível.
E quanto ao final... Bem, sobre o final não há muito que se possa dizer, além de que é uma grande e brilhante surpresa. E que deixa toda a vontade e mais alguma de deitar as mãos ao livro seguinte o mais depressa possível.
Tudo é bom neste livro, portanto. E mais do que isso, pois, no crescendo de intensidade que define o ritmo da investigação, na sequência de revelações pessoais e na relevância que estas adquirem para este caso em que Helen Grace assume o centro do labirinto, tudo se funde nas medidas certas para atingir o ponto da perfeição. Brilhante, pois. Simplesmente brilhante. 

Título: Na Boca do Lobo
Autor: M. J. Arlidge
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Feliz Natal


Não há vidas perfeitas. Mas há sonhos, aspirações e sentimentos que, por mais que a realidade tente esbatê-los, prevalecem teimosamente dentro de nós. E, nesta época de passagem, de balanços, de olhares às memórias e ao futuro que se segue, importa não apagar o que passou, mas seguir em frente, sonhar um pouco mais, abrir novos caminhos, talvez, e aproveitar o que de melhor têm estes momentos de festa, de alegria e de união.

Feliz Natal, e que as memórias deste ano que termina sejam tão boas como a promessa do muito de bom que ainda está para acontecer. Porque o caminho continua sempre e 2017 já está mesmo aí à porta. 

Boas Festas para todos... e tudo a correr bem!

Os Homens que os Pássaros Comem (Francisco Sousa Vieira)

Tudo começou com uma chamada de Bruxelas, que fez o ministro largar tudo e organizar uma partida apressada. Mas, graças à tempestade que assolava a Europa, o avião em que seguia acabou por se despenhar. Agora, o ministro dá por si entre a vida e a morte, na companhia de um salvador improvável, que o encontrou quando tudo parecia perdido na sua luta pela sobrevivência. Pois a tempestade persiste e estão agora ambos no limiar da morte. É preciso fazer alguma coisa, dar o passo seguinte. Mas poderá lutar para vida quem se sente já morto? E sobreviver à tempestade significará vida... ou o início de uma morte mais lenta?
Improvável e intrigante. Esta seria uma boa forma de definir este livro. Improvável, porque todo o percurso do protagonista é uma sucessão de estranhezas, que, embora estranhamente credíveis na forma como se constroem, não deixam de ter, ainda assim, algo de surreal. E intrigante porque, ao longo de todo este percurso, há toda uma sucessão de acontecimentos e revelações, que, mais ou menos estranhas, mas sempre intensas e inesperadas, insistem em alimentar a cada passo a sempre presente vontade de saber mais.
É tudo muito invulgar nesta narrativa. Nem sempre é fácil imaginar que o protagonista possa realmente passar por tanto e viver para passar pela aventura seguinte. E, porém, de certa forma, tudo faz sentido. A estranheza das pessoas com quem se cruza, a interpretação (e os delírios) que faz das suas próprias circunstâncias, as decisões que toma ao longo do caminho e os escrúpulos ou falta de que parecem motivá-las. É estranho, por vezes, difícil de explicar, até. Mas atinge, na sua jornada, uma estranha e muito agradável harmonia. Harmonia essa que acaba por ficar na memória bem depois de terminada a leitura. 
Também a escrita em si contribui para isso, pois também ela é peculiar. Evocando, a espaços, rasgos de poesia, com rima incluída, parece conferir a todo o enredo a estranheza de um sonho - tanto nos sonhos como na realidade do protagonista. Além disso, há uma certa fluidez, como que de voz da consciência do protagonista, que torna tudo mais intenso, mais genuíno. E, o que é talvez uma surpresa, tendo em conta a abundante estranheza do enredo, mais natural.
E é assim que chegamos ao tal resultado: improvável e intrigante. Num livro que é todo ele uma grande surpresa construída de pequenas estranhezas e inesperada naturalidade. Uma boa leitura, sem dúvida alguma. 

Título: Os Homens que os Pássaros Comem
Autor: Francisco Sousa Vieira
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Masha e o Urso - Vamos à Pesca! (O. Kuzovkov)

Um dos passatempos preferidos do Urso (como, aliás, de qualquer urso que se preze) é a pesca. E tudo está preparado para mais um dia, em que o Urso espera conseguir apanhar um grande peixe. Só que esqueceu-se de contar com a Masha. Agora que o Verão chegou, Masha quer aproveitar o calor para brincar com o seu amigo Urso - quer ele queira, quer não. Traquina e irrequieta como é, é impossível fazer com que Masha esteja quieta durante muito tempo... o que significa que o dia de pesca do Urso não será tão tranquilo como ele espera. Mas será, afinal, um dia desperdiçado? Talvez não...
Mais uma aventura da Masha e do Urso e, mais uma vez, já não há muito de novo a acrescentar. As características deste livro são fundamentalmente as mesmas dos anteriores: uma história simples, leve e divertida, com ilustrações bonitas que complementam na perfeição o texto e uma aventura que, na sua simplicidade, proporciona um delicioso regresso à infância e à inocência.
O que haverá, então, mais a dizer sobre estes livros? Simples. Que, apesar de já ter passado há uns bons anos da idade do público alvo deste livro, já li umas quantas destas aventuras e ainda não me cansei. E que é sempre um prazer aproveitar um bocadinho de tempo (que consegue, às vezes, ser tão escasso) para regressar a um mundo de inocência e ficar de sorriso nos lábios com a ternura e a traquinice das histórias da Masha. 
E também que, ainda que os traços gerais sejam essencialmente os mesmos, há sempre algo de novo nesta história, seja porque as traquinices da Masha levam as personagens a uma aventura diferente, seja porque há uma pequena lição ou um laivo de bondade inerente a retirar dos acontecimentos. Assim, pode reconhecer-se a base comum na fórmula destes livros. Mas cada história é uma nova história. E há sempre algo de interessante à espreita. 
Não desiludem, portanto, estes pequenos livros que, pensados para divertir - e fazer sonhar - os mais novos, são, ainda assim, perfeitamente capazes de fazer o mesmo a leitores bem mais crescidos. Por isso, vale sempre a pena voltar a infância através destes livros. E sonhar um bocadinho mais com as travessuras da Masha. 

Título: Masha e o Urso - Vamos à Pesca!
Autor: O. Kuzovkov
Origem: Recebido para crítica

domingo, 18 de dezembro de 2016

Um Rapaz Muito Especial (Monica Wood)

Quinn Porter sempre foi um pai ausente, em parte pela carreira atribulada de músico, em parte por não saber lidar com as peculiaridades do filho. Agora, o rapaz morreu e Quinn vê-se a braços com a missão de concluir a obra beneficente do filho. Cabe-lhe, pois, tomar conta de Ona Vitkus, a centenária com quem o filho fez amizade no âmbito de uma boa acção dos escoteiros. O que Quinn não sabe é que o que começa por ser uma tarefa acabará por ser uma revelação. O filho e Ona tinham uma missão comum: bater o recorde de condutora mais velha do mundo. E, à medida que começa a conhecer Ona, também ela cheia de peculiaridades e de valor, Quinn começará também a conhecer o filho. E a descobrir que a sua vida talvez não seja bem o que pensava...
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção para este livro é a forma como a autora entrelaça vários ramos de várias vidas numa mesma história complexa e equilibrada. Há a história da vida de Ona, a relação dela com o filho de Quinn e com o próprio Quinn. Belle, a relação com Quinn e o luto pela morte do filho. O próprio rapaz, e o que faz dele tão especial. Tudo isto é interessante e a conjugação das partes cria um todo maior. Talvez o resultado não seja perfeito, mas o equilíbrio das partes não anda muito longe disso. 
Se há algo que ganha especial relevância numa história como esta é a capacidade de emocionar e é talvez esse o ponto mais intrigante do livro. Percorrendo o presente e vários pontos do passado, nem sempre é fácil acompanhar o crescimento das personagens, mas não há dúvidas de que, no fim do destino, todos os intervenientes são pessoas melhores que no princípio. Mas, mais, nem todas as personagens geram propriamente empatia e, nalguns casos, é difícil compreender as suas decisões. Mas, sejamos realistas, o mundo não é feito só de pessoas boas - nem as pessoas são simplesmente boas ou más. E a forma como a autora desenvolve as suas personagens, fazendo-as crescer, quiçá redimir-se, nalguns casos, e aprender através das provações, é não só algo de muito cativante, mas também uma boa base para vários momentos comoventes. 
Em termos de escrita, surpreende a diversidade de registos, bem como o óbvio contraste entre a "gravação" da história de Ona e os restantes capítulos narrados na terceira pessoa. Nestes, sente-se uma maior distância, mas constrói-se uma perspectiva mais ampla. Nos outros, a proximidade inevitável de alguém que revive toda uma longa vida.
Equilibrado será, pois, uma boa palavra para descrever este livro. E cativante, surpreendente e emotivo em todos os momentos certos. Uma história de superação da dor, de descoberta, de crescimento -  de vida, em suma, com todas as lágrimas e sorrisos que a contêm... E uma boa leitura, naturalmente. 

Título: Um Rapaz Muito Especial
Autora: Monica Wood
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Não se Brinca com Coisas Sérias (Amílcar Monteiro)

Não se brinca com coisas sérias. Ou brinca? E, se não, então onde é que se definem os limites daquilo com que se pode ou não brincar? É esta a pergunta que surge, desde logo, ao ler o título deste livro que, composto por um conjunto de textos humorísticos sobre vários temas, reforça, a cada novo texto, essa mesma questão. É que cada leitor tem os seus pontos sensíveis e as suas particularidades em termos de sentido de humor. E, dada a diversidade de temas e de abordagens que surgem neste livro, haverá sempre sentimentos e reacções diferentes dependendo de cada leitor e de qual dos textos está este a ler.
Esta leitora em particular tem sentimentos ambíguos. Há alguns textos que roçam a genialidade na forma como reflectem certos pensamentos, atitudes e até mesmo fórmulas. Outros, parecem ir longe demais - ou, pelo menos, longe demais para o meu sentido de humor. E o resultado são esses tais sentimentos ambíguos: adorando alguns textos, reconhecendo noutros a criatividade e de outros ainda não retirando grande coisa. Ora, também isto reforça a tal questão: quão longe é longe demais? E haverá resposta. Se há, não deve ser assim tão simples.
Temáticas e preferências pessoais à parte, há ainda um outro aspecto que importa mencionar: a escrita. Apesar de um ou outro descuido de revisão (felizmente, pouco frequentes) o estilo de escrita é, no geral, bastante fluido e cativante. É possível imaginar a voz do autor (ou do protagonista de um determinado texto) a contar a sua história, e acompanhar essa mesma história sem grandes quebras. Além disso, sendo todos os textos bastante curtos, sobressai também a capacidade do autor de se cingir ao essencial, o que não deixa de ser também uma qualidade importante.
É um livro divertido? Sim. É uma leitura confortável? Nem sempre. Mas, acima de tudo, a impressão que fica é a de um conjunto de textos bastante interessantes e diversos, capazes de agradar a diferentes predilecções humorísticas e, portanto, a diferentes leitores. Uma boa leitura, pois.

Título: Não se Brinca com Coisas Sérias
Autor: Amílcar Monteiro
Origem: Ganho num passatempo

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A Noite que Fora de Natal / Carta do Pai Natal / Os Mortos (Jorge de Sena / Mark Twain / James Joyce)

Um Livro Amarelo de Natal: será possível? Se tivermos em conta que esta colecção parece viver de contrastes e relações entre as obras que a conformam, será possível encontrar, para este tema, histórias que sejam ao mesmo tempo comuns e contrastantes? É um desafio, claro. Mas e se... a premissa se ajustar um pouco à época? Do amarelo, passa-se a um vermelho mais natalício. E quanto ao conteúdo? Bem, se semelhança e contraste são os requisitos... então missão cumprida.
Sendo umas das coisas mais curiosas e interessantes nestes Livros Amarelos a capacidade de projetar a uma luz diferente obras e conceitos aparentemente muito distintos, surge, ao embarcar nesta leitura, desde logo, uma dúvida. Contos de Natal: bem, o elo comum é óbvio. Mas e a diferença? Acontece, porém, que lidas as três histórias essa diferença torna-se clara, não só entre os diferentes contos, mas também na diferença intrínseca entre o que cada um destes contos é e o que à partida se espera de uma história natalícia. Mas lá voltaremos.
Antes disso, queria referir mais uma vez o aspecto. Seguindo as linhas visuais dos outros livros da colecção, a temática natalícia dá-lhe, ainda assim, alguns laivos de diferença. De cor, desde logo, mas também, ainda que discretamente, no conteúdo. Não há imagens, como nos anteriores, mas há uma certa - à falta de melhor palavra - cintilação que evoca na perfeição o espírito da época. E, assim, o livro é diferente, mas não demasiado, encaixando perfeitamente no conceito dos Livros Amarelos.
E, agora sim, passemos às histórias, pois é a partir delas que se torna visível a tal diferença no "espírito Natalício." A primeira, A Noite que Fora de Natal, de Jorge de Sena, leva-nos à Roma dos Imperadores, à noite da morte do deus Pã e ao (possível) nascimento de um outro deus. Não é propriamente uma história sobre o Natal - ou, pelo menos, sobre o nascimento efectivo de Cristo - mas antes uma visão sobre outro tipo de nascimento. E isso, essa visão invulgar, associada a uma escrita sempre cativante e à naturalidade com que descreve até os acontecimentos mais negros do conto, tornam a leitura cativante e surpreendente.
Já quanto à Carta do Pai Natal, de Mark Twain, bem, é o que se esperaria de uma carta do Pai Natal. Mas, além da escrita leve e sempre cativante, há um outro aspecto a sobressair: a possibilidade de imaginar a filha do autor a ler esta carta, a seguir as instruções, a ver concretizadas as tão invulgares ideias que surgem no papel. São poucas páginas, mas, se as imaginarmos concretizadas, são fascinantes. E é esse o grande ponto forte desta pequena carta.
Por fim, o texto mais longo: Os Mortos, de James Joyce. Não é propriamente no Natal, mas numa festa de Ano Novo que as coisas acontecem. E as coisas que acontecem são bastantes e difíceis de descrever: danças, conversas políticas, melodias inesperadas, descobertas e redescobertas, recordações. O texto é extenso (para um conto) e nem sempre é fácil perceber o rumo da história, mas a verdade é que nunca deixa de ser cativante. E a fase final, com a sua pequena grande revelação, de passado e de percepção do presente, acaba por se entranhar na memória bem depois de terminada à leitura.
São histórias muito diferentes, portanto. E, porém, o conjunto faz sentido. E é por isso, pelo sempre presente equilíbrio entre o comum e o contrastante, bem como pela forma como tudo se conjuga num livro bonito em forma e conteúdo, que vale bem a pena descobrir esta leitura natalícia. (Ainda que natalícia de uma forma um tanto inesperada). Muito interessante. 

Título: A Noite que Fora de Natal / Carta do Pai Natal / Os Mortos
Autores: Jorge de Sena / Mark Twain / James Joyce
Origem: Recebido para crítica

sábado, 10 de dezembro de 2016

As Primeiras Quinze Vidas de Harry August (Claire North)

Harry August não é como as outras pessoas. Nasce, vive, morre... e volta a nascer como a mesma pessoa, no mesmo sítio e na mesma época. E não é o único. Há, aliás, uma sociedade na qual se movem os que são como ele, acumulando sabedoria ao longo de várias vidas e vivendo, da melhor forma possível, sem interferir com o rumo natural dos acontecimentos. Mas algo mudou. Uma mensagem vinda do futuro indica que o mundo está a acabar. Harry tem as suas suspeitas quanto ao responsável, pois julga tê-lo conhecido de perto. Mas partir em busca de respostas, consegui-las e, principalmente, impedir o cataclismo, não é coisa que se consiga fazer numa única vida. Principalmente, com um inimigo tão poderoso como o seu.
Viagens no tempo... Não é propriamente um tema novo, pois não? Mas e se fosse possível seguir por um caminho completamente diferente? Difícil... mas promissor. E, porém, é exactamente isso que Claire North faz neste As Primeiras Quinze Vidas de Harry August - constrói uma nova abordagem a uma temática conhecida, com resultados impressionantes em todos os aspectos. Intenso, cativante, surpreendente - e comovente, até! - tudo neste livro atinge um equilíbrio perfeito. E a soma de tudo isto nunca poderia ser menos do que memorável.
Ora, tendo isto como ponto de partida, escusado será dizer que tudo é bom. Há, ainda assim, alguns aspectos que, pelo impacto que têm na leitura, importa destacar. E o primeiro é, desde logo, a escrita. É pela voz do seu protagonista que a autora conta a história e, enquanto narrador, Harry August é brilhante. Conduz-nos pelas suas memórias, dando a entender possibilidades que ora confirma, ora descarta, criando assim grandes surpresas e um maior impacto nas pequenas revelações. Parece ter uma memória perfeita, mas isso não significa que partilhe tudo de forma imediata. E o resultado é uma narrativa sempre cativante, mesmo nos momentos mais descritivos.
Mas não é só como narrador que Harry é brilhante. Enquanto protagonista, é o tipo de personagem que facilmente desperta empatia, abrindo caminho a partir daí para um leque mais vasto de emoções. Cativa pela história da infância, pelas diferentes relações vividas nas suas várias vidas, pelos momentos difíceis que atravessa, em relação com o seu inimigo, mas não só. Surpreende pela forma como vive as coisas, mas, mais do que isso, pelo carácter subjacente a essa forma de viver. Tudo em Harry é fascinante e memorável. E isso basta para querer sempre saber mais sobre a sua história.
E quanto à história... bem, essa é toda ela um poço de boas surpresas. Intensa, intrigante, cheia de momentos marcantes e com um equilíbrio perfeito entre as suas múltiplas facetas, cativa tanto pelas grandes revelações como pelos pequenos momentos. É como um longo caminho em que tudo ganhasse vida, gravando-se nas memórias de quem a segue com a mesma nitidez com que se traça na mente do protagonista. Tudo é relevante, mesmo as mais pequenas coisas. E a forma como tudo se equilibra - intriga, contexto, acção, emoção - é simplesmente brilhante. 
Que mais dizer, então, sobre este livro? Que vale a pena, da primeira à última página. Que é tão capaz de intrigar como de fazer sorrir como de levar às lágrimas. E que tem tudo aquilo de que um bom livro precisa - uma boa história, personagens fortes, um enredo em que há, de facto, heróis e vilões, mas em que a linha entre o bem e o mal não é assim tão precisa - em todas as medidas certas. Vale a pena? É claro que vale a pena. E é um livro para lembrar por muito tempo. Maravilhoso. 

Autora: Claire North
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Deus Também Tinha Animais (Nuno Sobral)

Vinte e quatro de Setembro de mil novecentos e oitenta e quatro. No escritório de um solicitador na Avenida da República, há uma tragédia prestes a acontecer. Tudo porque, sem o conhecimento do dito solicitador, a irmã deste e alguns seus conhecidos decidiram investir as provisões dos clientes nas promessas da Banqueira do Povo. E tudo correu bem... até ao dia em que deixou de correr. Agora, grandes mudanças se avizinham. Desesperado, o doutor Alves dos Anjos acaba, na tentativa de se defender, por causar a morte de quem menos queria. A irmã e secretária, essa, tem outros planos para o futuro. E dessa primeira tragédia nascem outros ganhos... e outras perdas. Porque tudo é um ciclo de ambições e de enganos.
Um dos aspectos mais curiosos deste livro é que, apesar de se poder apontar a tal questão do solicitador como elemento agregador de toda esta história, não há propriamente um protagonista ou uma linha central nesta história, mas antes um conjunto de peripécias que, no seu conjunto, foram a crónica de toda uma (má?) vizinhança. E, sendo certo que esta multiplicidade de histórias e de personagens faz com que fiquem algumas perguntas sem resposta, também o é que todos os elos desta cadeia têm algo de fascinante.
Talvez por isso, é nas diferentes perspectivas com que as várias partes da história são contadas que reside o grande ponto forte deste livro, já que cada narrador acrescenta algo de novo, lança um novo olhar sobre o sucedido, chega inclusive a contradizer o anterior. Há sempre dois (ou mais lados) para a mesma história e a existência de diferentes versões dos factos torna mais realistas os aspectos mais caricatos, pois cada um vê o sucedido da forma que mais lhe convém. Como tantas vezes acontece na vida real.
Isto leva-me, inevitavelmente, aos acontecimentos propriamente ditos. É que, sim, há tragédias, há perdas, há grandes prejuízos na vida destas personagens. Mas o que há mais é bizarria. E esta bizarria, seja nos comportamentos inesperados, seja na forma como a própria estruturação dos planos de algumas personagens ganha forma, tem muito de inesperadamente divertido. E acaba por ser também isso a cativar para esta leitura.
A soma de todas estas partes não podia ser outra coisa que não um livro peculiar. Mas, intrigante em toda a sua estranheza, inesperadamente divertido e com uma escrita que parece ajustar-se na perfeição à história (ou histórias) que tem para narrar, é também um livro que acaba por ficar na memória. Por tudo o que tem de diferente e também por tudo o que tem de bom. Gostei. 

Título: Deus Também Tinha Animais
Autor: Nuno Sobral
Origem: Recebido para crítica

domingo, 4 de dezembro de 2016

As Raparigas (Emma Cline)

Tudo começa quando Evie vê as raparigas. Tão soltas, tão diferentes, tão despreocupadas. A curiosidade é imediata e as limitações do seu próprio mundo adolescente só ajudam à atracção. Depois, o seu caminho volta a cruzar-se com o de Suzanne - e a atracção torna-se fascínio. Evie vê-se atraída para o rancho, onde uma estranha comunidade parece ter-se formado em torno de Russell, o seu estranho e carismático líder. Aí, tudo é novo e as regras são poucas. Quase tudo é permitido. Mas, quando as aspirações do líder são contrariadas, as consequências podem ser imprevisíveis. E Evie, ainda e sempre fascinada por Suzanne, não vê - ou escolhe ignorar - os sinais de alerta.
Não é propriamente fácil encontrar palavras para descrever este livro sem revelar demasiado. Há um crime no cerne do enredo, mas a história não é a do crime, mas da vida antes e depois desse ponto de viragem. Há um grupo, uma espécie de seita, mas a protagonista ocupa um papel como que no limiar entre o seu núcleo e o mundo exterior. E, assim sendo, tudo se constrói num equilíbrio delicado, em que a história que a protagonista conta surge, por vezes, como testemunho e, noutras, como fruto da sua imaginação.
Ora, isto confere à história um ritmo algo peculiar. A narradora, uma Evie adulta, vive um presente enquanto recorda o passado - e é possível ver as marcas desse passado no presente. Mas a história central é precisamente a do passado e a forma como Evie a conta, entre introspecções e visões de si mesma no que poderia ter sido, faz com que algumas partes do enredo pareçam ser contadas de forma algo vaga. Não é que fique algo de essencial por dizer, mas antes a impressão que fica de que os grandes acontecimentos são deixados para bastante tarde, surgindo como que na senda de uma viagem interior que - para Evie, pelo menos - é mais importante do que o crime em si.
O resultado é a sensação de que, ainda que a história de Evie seja completa, haveria mais a dizer sobre a comunidade e os seus outros elementos. Pequenas coisas que, não sendo essenciais ao enredo, poderiam, talvez acrescentar-lhe uma perspectiva mais ampla. Ainda assim, sendo a história narrada na primeira pessoa por alguém que chegou a meio e que estava ausente em alguns dos acontecimentos mais relevantes, não deixam de fazer sentido essas perguntas sem resposta. Pois talvez a própria Evie nunca as tenha descoberto.
Não é propriamente uma leitura compulsiva. Tanto o estilo de escrita como o tom do próprio enredo conferem à narrativa um ritmo relativamente pausado. Mas é interessante, ainda assim, notar como, aos poucos, o fluxo dos pensamentos de Evie se vão tornando mais próximo, conferindo à história que conta uma maior intensidade. E assim, da estranheza inicial surge uma envolvência crescente - que culmina na impressão final de uma boa história... e de um livro que vale a pena descobrir.

Título: As Raparigas
Autora: Emma Cline
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Masha e o Urso: O Dia da Compota (O. Kuzovkov)

Desde que deixou de ser um artista de circo, o Urso passou a levar uma vida mais tranquila. Pelo menos, até ao dia em que a Masha entrou na sua vida! Agora, uma das suas ocupações preferidas é fazer compota, mas também aí a irrequieta Masha não está disposta a dar-lhe descanso. Quer brincar, seja com a fruta que o Urso apanhou, seja com os frascos da compota... enfim, com o que estiver mais à mão. Mas, quando a traquinice causa estragos, é inevitável que o Urso fique zangado... e a pequena Masha vai ter de arranjar uma maneira de o compensar. 
Masha e o Urso... duas personagens curiosas e cativantes. Tão cativantes que, ainda que, depois de lidas umas quantas das suas aventuras, não haja, na verdade, muito de novo a acrescentar, continua a ser um prazer voltar a uma destas histórias. Simples, divertidas, com ilustrações muito bonitas e uma história sempre cheia de peripécias, são sempre uma pequena delícia estas pequenas e atribuladas aventuras. 
São também histórias bastante breves e, por isso, é difícil falar da história sem contar demasiado. Desta vez, é a compota o centro dos acontecimentos e basta dizer que o resultado é bastante... doce. O resto é a viagem do costume: um regresso simpático e agradável a uma visão mais inocente do mundo, em que todos os que podem ajudam e a traquinice também serve para aprender uma ou outra lição. E, claro, importa sempre mencionar o facto de ser um livro bonito, em que as imagens dão mais vida o texto, complementando-o e tornando a leitura mais apelativa.
Mais uma vez, e sem surpresas, a impressão que fica deste livro é a de uma história divertida para os mais novos - e de um agradável regresso à infância para quem, como eu, já a deixou para trás há algum tempo. Uma boa história, portanto, e uma boa leitura.

Título: Masha e o Urso - O Dia da Compota
Autor: O. Kuzovkov
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Sangue Infernal (James Rollins e Rebecca Cantrell)

Algo se passa no mundo. Os strigoi, criaturas poderosas, mas habituadas a mover-se nas sombras, tornaram-se mais fortes, mais ousados, e os ataques sucedem-se. Não parece haver uma explicação evidente para isso, mas há pessoas a morrer às mãos dele - inclusive sanguinistas. E o tempo aproxima-se de realizar o que falta da profecia, mas por onde deve o trio começar? Erin procura respostas em lugares proibidos. Jordan e Rhun regressam a campos de batalha do passado. Mas a resposta vem de uma fonte inesperada. E, lançados uma vez mais numa demanda, o Homem Guerreiro, a Mulher Sábia e o Cavaleiro de Cristo precisam de impedir que Lúcifer seja libertado. Ou o reinado do homem chegará ao fim.
Último volume da trilogia e sequência quase directa dos acontecimentos do livro anterior, este é um livro que surpreende, em primeiro lugar, pela mudança de ritmo. Continua a haver acção em abundância, perigos a enfrentar e inimigos poderosos a combater, o que significa que há sempre algo de interessante a acontecer na narrativa, mas há também um maior desenvolvimento em termos de explicações e contexto, talvez pelo papel de destaque de Erin. Isto torna o enredo um pouco mais pausado, até porque há novas pistas a assimilar. Mas é interessante reparar que este fluxo mais lento nada retira à envolvência da história.
E não posso falar desta história sem referir as personagens, também elas em constante evolução e revelando novas facetas que as tornam mais complexas e fascinantes. Mais uma vez, o maior impacto vem de Rhun Korza, cada vez mais intrigante na sua natureza atormentada, mas também num novo lado de si que vem à tona com a presença de um certo (e muito relevante) felino que surge pela primeira vez neste livro. Mas também Erin e Jordan crescem, à sua maneira, bem como, inesperadamente, Bathory, protagonista de uma das maiores mudanças desta história. 
Quanto ao enredo, tem basicamente as características (se bem que nem sempre o rumo) que seria de esperar de uma conclusão para este tipo de história: intenso, cheio de acção, com muitas reviravoltas. Tem também algumas perguntas sem resposta, sendo que, no caso concreto de Bernard, fica alguma curiosidade insatisfeita quanto ao seu futuro e o que lhe deveria acontecer. Ainda assim, no que diz respeito à linha central da narrativa, tudo se resolve da forma mais adequada: com muitos enigmas, sacrifícios e descobertas, como compete a uma decisão capaz de salvar - ou destruir - o mundo.
A impressão que fica é, por isso, a de um livro que, inesperado em muitos aspectos, mas coerente com os acontecimentos anteriores, encerra da melhor maneira uma grande e fascinante aventura. Intenso, intrigante, surpreendente, um final à altura das expectativas. Muito bom. 

Título: Sangue Infernal
Autores: James Rollins e Rebecca Cantrell
Origem: Recebido para crítica