quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Viver Sem Ti (Jojo Moyes)

Ter conhecido Will Traynor mudou-lhe a vida. Louisa já não é a mesma mulher que pouco conhecia do mundo e sem grandes aspirações na vida. Mas também não é o que esperava ser. Os meses que passaram desde o desaparecimento de Will deixaram-na num limbo entre a pessoa que era antes e aquela em que se devia tornar. E, quando um acidente a leva de volta a casa dos pais, Lou começa a aperceber-se de que o que fez da sua vida está muito longe do que Will teria desejado. Precisa de mudar. Precisa de viver. E, quando um fantasma do passado de Will lhe bate à porta, Louisa percebe que não tem mesmo alternativa. Tem de fazer alguma coisa. 
Tendo em conta a forma como terminou a história de Viver Depois de Ti e o facto de este livro ser uma sequela, há inevitavelmente algumas dúvidas no pensamento ao partir para esta leitura. Até que ponto faz sentido continuar a história depois daquele final? E será possível construir uma história igualmente cativante quando uma das melhores personagens não está lá? A resposta está bem presente neste Viver Sem Ti: sim, faz sentido. E sim, é possível. E funciona, por várias razões.
Um dos aspectos mais positivos deste livro é que, apesar da inevitável falta de Will, há, ainda assim, uma memória bem presente, não só no aparecimento de uma nova personagem, mas principalmente na forma como as várias personagens que o conheceram lidam com a sua ausência. Claro que o impacto é mais evidente na história de Louisa, até porque continua a ser ela a narradora e, por isso, as suas emoções e pensamentos surgem com maior nitidez. Mas também na família de Will, bem como na da própria Louisa, se nota uma certa influência, que, além de reforçar a ideia central deste segundo livro - a necessidade de seguir em frente - , cria também uma ponte entre as duas histórias.
Também particularmente interessante é a forma como a autora desenvolve as personagens, realçando tanto as suas características essenciais como o potencial para evoluir. Mais uma vez, é em Louisa que isto mais se nota, mas também em Lily e, ainda que de forma mais discreta, em muitos outros intervenientes nesta história. Todo o percurso de Louisa é uma evolução, aliás. Mas se, no primeiro livro, era a descoberta de uma vida com menos medo, agora é a da vida depois da perda. Evolução que significa superação e também mudança. 
E depois há aqueles traços que parecem ser característicos dos livros desta autora: a escrita cativante, as personagens interessantes, uma história que vive tanto dos momentos leves e divertidos como das situações mais comoventes e em que as ideias - e a mensagem - passam mais através dos actos que das palavras. Tudo isto num equilíbrio quase perfeito, em que tudo surge na medida certa, sendo assim tão facilmente capaz de arrancar lágrimas como gargalhadas.
A ideia que fica é, portanto, a de uma sequela surpreendentemente bem conseguida para uma história que parecia não precisar de uma. A história de uma vida depois da perda, e para além dela, em que todos os momentos contam e há sempre uma surpresa à espera ao virar da esquina. Vale muito a pena reencontrar estas personagens, portanto. E segui-las nesta nova fase da aventura.

Título: Viver Sem Ti
Autora: Jojo Moyes
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Há bichos selvagens aos saltos na história da literatura. Do cão de Ulisses à baleia de Jonas, os nossos livros fundadores cercam-nos de animais. Neste Livro Amarelo, Mark Twain e Rudyard Kipling fazem de uma rã saltadora e de um heróico mangusto, os protagonistas de dois contos exemplares. Dois contos que estão longe de ser contos gémeos. O de Mark Twain é marcado por uma viva ironia. O de Kipling, por um amável moralismo. Mas são ambos contos próximos da oralidade: Mark Twain escreve de ouvido; Rudyard Kipling escreve para o ouvido. Dois hinos à leitura numa edição bilingue.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Resultado do passatempo A Espia

Chegámos ao fim do passatempo e é hora de anunciar quem vai receber em casa um exemplar do novo romance de Paulo Coelho, A Espia. 

E o vencedor é...

21. Aurora Augusto (Palmela)

Parabéns e boas leituras!

terça-feira, 27 de setembro de 2016

A Sombra de um Passado (Carina Rosa)

Após anos de rebeldia e de uma falsa liberdade, Clara construiu finalmente uma vida estável e feliz ao lado de Santiago. Casou, teve uma filha e estão agora a construir a casa com que ela sempre sonhou. Mas tudo fica em perigo quando o grande fantasma do seu passado volta a surgir. Em tempos, Hugo salvou-a das mãos de um pai agressivo, mas o preço a pagar foi demasiado caro. Agora, passados dez anos, Hugo saiu da prisão e está disposto a tudo para recuperar Clara, que vê como o seu troféu e sua por direito. Esconder o passado e ignorá-lo deixa então de ser uma opção para Clara. Mas como contar ao homem do seu presente que o seu amor do passado não está esquecido?
Centrado na dualidade entre os dois tipos de amor da vida de Clara e, desta forma, na relação da protagonista com os dois homens da sua vida, este é um livro que se divide essencialmente em duas facetas: por um lado, a do perigo potencial, com a forma de lidar com a obsessão e perseguição de Hugo a destacar-se neste aspecto, e por outro o impacto emocional das memórias, com uma Clara dividida entre um amor que parece mais sólido, mas menos intenso, e a memória de uma aparente liberdade que deixou sentimentos profundos. Tudo isto cria um equilíbrio intrigante, pois fica sempre a vontade de saber mais: o que aconteceu, primeiro, depois o que se seguirá, que escolhas fará Clara e de que forma essas escolhas virão a influenciar o futuro.
Outro aspecto curioso nesta história é que, apesar da divisão clara entre o amor dedicado e o amor doentio, as linhas que separam Hugo de Santiago não são assim tão óbvias, principalmente no que ao coração de Clara diz respeito. A vida calma e feliz do presente nem sempre parece chegar para afastar o apelo do passado e a forma como a autora desenvolve isto faz com que a história se torne imprevisível. Talvez nem sempre, talvez não na grande conclusão. Mas nas escolhas que, ao longo do caminho, vão conduzindo as personagens ao desenlace final.
Contraditórias por natureza e capazes de uma surpreendente volatilidade de sentimentos, nem sempre é fácil sentir empatia para com estas personagens. A divisão de Clara entre os dois homens da sua vida leva-a, por vezes, a escolhas difíceis de compreender e o mesmo acontece com algumas das atitudes de vários outros intervenientes, o que cria uma certa distância relativamente à situação emocional das personagens. Ainda assim, a fluidez da escrita, a intensidade dos momentos mais marcantes e a envolvência geral do enredo compensam em grande parte este ocasional distanciamento emotivo. E, assim sendo, a leitura nunca deixa de cativar. 
A impressão que fica é, pois, a de uma boa história, em que personagens complexas e humanas vivem uma história que é tanto de amor e de obsessão como de escolhas e das suas consequências. Intrigante, de leitura agradável e com vários momentos intensos, uma boa leitura. 

Autora: Carina Rosa
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Corações da Escuridão (Laura Kaye)

Depois de um dia terrível no trabalho, Makenna James vê-se finalmente perante um pequeno laivo de sorte quando um perfeito desconhecido lhe segura a porta do elevador para que ela tenha tempo de o alcançar. Não chega a vê-lo, apenas a tatuagem que lhe cobre a mão, mas esse pequeno gesto basta para lhe animar ligeiramente o dia. Mas, de repente, e já fechada no elevador com o seu Bom Samaritano, eis que as luzes se apagam... e tudo muda. Caden Grayson, o seu tão prestável estranho, tem um problema com espaços fechados e escuridão, e não há sinais de a luz voltar nem de o elevador voltar a mexer-se. Para combater o pânico, Caden dá por si a falar com Makenna. E, ao longo da conversa, ambos começam a descobrir que têm muito em comum. Incluindo química...
Relativamente breve e centrado quase exclusivamente na interacção entre os dois protagonistas, este é um livro que vive, em grande parte, da história do que acontece no interior do elevador. E o que acontece lá dentro define-se essencialmente em três fases - estranheza, simpatia e sensualidade. Em pouco mais de cento e cinquenta páginas, a autora faz os seus protagonistas percorrer este curto - mas tão atribulado - percurso, fazendo-os passar de perfeitos desconhecidos a uma interacção tão simples e natural que acaba por cativar muito facilmente.
Claro que o cerne da história é o romance entre os protagonistas, um romance que cresce a partir do constrangimento, passando por uma conversa tão intrigante quanto divertida e passando depois para uma atracção mais física, mas em que os sentimentos parecem também querer insinuar-se. É, pois, este percurso a base da história e o elemento dominante ao longo de todo o enredo. Mas acontece que há uma outra faceta para a história, nomeadamente no que diz respeito aos medos de Caden, mas também à vida pessoal de Makenna, e é neste aspecto que fica a sensação de que mais haveria a dizer. O essencial está lá, é verdade, e, no que toca ao romance e ao aspecto sensual, as coisas parecem evoluir ao ritmo certo. Seria interessante, ainda assim, saber mais sobre as personagens para além do que se tornam um para o outro.
Ainda um outro aspecto que importa referir sobre este livro é a escrita. Sendo uma história em que abundam os momentos mais sensuais, principalmente na segunda metade do livro, torna-se particularmente interessante a forma como a autora desenvolve esta faceta, escrevendo cada momento com as medidas certas de erotismo e de emoção e, assim, realçando tanto o aspecto físico da relação entre os protagonistas como a crescente proximidade emocional.
A impressão que fica é, pois, a de uma leitura breve e bastante simples, mas com uma história cativante, personagens interessantes e um romance que flui de forma natural. Uma boa história, portanto, e uma autora que vale a pena descobrir.

Título: Corações na Escuridão
Autora: Laura Kaye
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O Meu Nome é Lucy Barton (Elizabeth Strout)

Algumas complicações inexplicáveis na sequência de uma cirurgia que devia ter sido simples levam Lucy Barton a passar nove semanas numa cama de hospital. Aí, com saudades das filhas e a sentir-se vulnerável, Lucy acorda uma manhã para uma surpresa: a presença da mãe, que há muito não via, aos pés da sua cama. Durante cinco dias, mãe e filha trocam mexericos e impressões sobre os outros, evitando, tanto quanto possível, falar das suas própria vidas. E Lucy recorda as suas raízes, o que a fez afastar-se da terra que a viu crescer. E as marcas que, antes e depois do tempo passado no hospital, seriam uma presença constante no seu caminho.
Narrado na primeira pessoa e alternando entre diferentes pontos na linha temporal da narrativa, este é um livro que tem como principal peculiaridade a forma como tem tanto de relevante no que é dito como no que é apenas insinuado ou simplesmente deixado por dizer. A vida de Lucy, principalmente na sua relação com os pais e os irmãos, mas, até certo ponto, também no que respeita ao seu próprio casamento, é-nos contada sob a forma do que parecem ser fragmentos de memória, deixando como que nas entrelinhas uma parte da história que apenas se vislumbra ou imagina. E isto desperta sentimentos contraditórios: por um lado, espera-se uma confirmação dos factos que são insinuados; por outro, na forma como a protagonista evita certas memórias e assuntos, sente-se o impacto emocional que estes têm nela. 
Ora, isto cria um estranho contraste. Da infância de Lucy, onde pobreza e maus-tratos se misturam, emergem sentimentos ambíguos, que se reflectem também na forma como ela e a mãe interagem no hospital. E ambíguos porque amor e ódio parecem cruzar-se num fio muito ténue, onde os ressentimentos e um amor inabalável parecem, ainda e sempre, coexistir.
O resultado é um equilíbrio delicado, sustentando também pela forma como a narrativa é construída. Ao percorrer os pensamentos e memórias de Lucy, deixando, por vezes, a definição de uma linha narrativa precisa para segundo plano, a autora aproxima-se mais da tal ambiguidade de sentimentos que parece caracterizar a situação da protagonista. E os capítulos curtos, quase que resumidos ao mais simples do essencial, reforçam essa impressão. Importa aquilo que ficou na memória. O resto é secundário.
Fica, sim, uma curiosidade insatisfeita, uma vontade de saber mais sobre a parte da vida que Lucy guardou para si. Mas também isto tem uma certa razão de ser: na vida, nunca temos todas as respostas e há partes que são deixadas algures num sítio de onde dificilmente voltam a emergir. E assim, o percurso mental e emocional de Lucy acaba por fazer todo o sentido. Tal como a sua história - incluindo a parte que fica por contar. 
Breve e aparentemente simples, mas com uma delicada teia de contrastes a sustentar as memórias da protagonista, este é, portanto, um livro que facilmente cativa. Deixa, no fim, uma certa vontade de saber mais, é verdade. Mas é também por isso que faz pensar. 

Título: O Meu Nome É Lucy Barton
Autora: Elizabeth Strout
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Picada Mortal (Rex Stout)

Quando recebe a visita de Maria Maffei, cujo irmão se encontra desaparecido, Nero Wolfe não julga ter pela frente um caso capaz de lhe despertar grande interesse. Mas isso não tarda a mudar, quando, numa investigação feita por descargo de consciência, o seu ajudante, Archie Goodwin, descobre que o desaparecido recortou do jornal uma notícia sobre a morte de um eminente professor universitário. E quando Carlo Maffei aparece morto e novas pistas vêm à superfície, a relação entre as duas mortes começa a tornar-se evidente - pelo menos para alguém com as afinadas capacidades de raciocínio de Nero Wolfe. As provas não são muitas e, por isso, é preciso agir com todo o cuidado. Mas, pouco a pouco, Archie e Wolfe começam a aproximar-se da verdade. E a retaliação do assassino não se faz esperar.
Primeiro volume de uma extensa série dedicada aos casos investigados por Nero Wolfe e o seu fiel ajudante, este é um livro que cativa, acima de tudo, pela peculiaridade. Peculiaridade do enredo, desde logo, mas acima de tudo das personagens. E há, desde logo, um aspecto curioso. É que este pode ser o primeiro caso a ser narrado, mas há outros, anteriores, que vão sendo referidos ao longo do enredo, e que permitem entrar na história - e na relação entre os protagonistas - de uma forma mais fluída e natural. Ora, isto é mais do que o suficiente para despertar curiosidade e, à medida que vamos conhecendo melhor as excentricidades de Wolfe (e não só, diga-se), toda a narrativa ganha uma nova intensidade, pois facilmente as personagens se tornam familiares.
Outro aspecto que importa referir é que este é o tipo de policial que vive mais da racionalidade do que do perigo. Sim, há momentos arriscados, mas o essencial da história são os passos dados pelas personagens em direcção à resolução do mistério, partindo quase que de palpites e suposições aparentemente pouco plausíveis, para depois seguir até às derradeiras revelações.
O que me leva ao ponto fulcral deste livro: a revelação da identidade do culpado. Ora, tendo em conta o rumo da história, não se pode dizer que seja particularmente difícil identificar o assassino. Mas se é verdade que , neste aspecto, a história se torna um pouco previsível, também o é que, se a resposta parece fácil, já os métodos para lá chegar são deliciosamente intrincados. E acaba por ser precisamente esse o ponto forte desta história: a forma como tudo aponta para a resposta, mas, ainda assim, são muitos os pontos de interesse ao longo do caminho que leva até lá. 
Da soma de tudo isto, fica a ideia de uma leitura intrigante, surpreendente na construção (ainda que não muito na revelação do mistério) e em que os protagonistas se revelam, em toda a sua excentricidade, como duas figuras fascinantes e que vale a pena acompanhar. Vale, pois, a pena ler este Picada Mortal e ficar a conhecer Nero Wolfe e Archie Goodwin.

Título: Picada Mortal
Autor: Rex Stout
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Passatempo A Espia

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a Pergaminho, tem para oferecer um exemplar do livro A Espia, de Paulo Coelho. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Quem é a protagonista deste livro?
2. Em que ano nasceu o autor Paulo Coelho?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 27 de Setembro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

Resultado do passatempo Corações na Escuridão

E, chegados ao fim de mais um passatempo, está agora na altura de anunciar quem vai receber um exemplar do livro Corações na Escuridão, de Laura Kaye.

E o vencedor é...

5. Fátima Martinho (Caneças)

Parabéns e boas leituras!

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Impressões (António Pereira)

Feita de momentos, de fragmentos, de episódios que quase parecem contar uma história. De impressões que se confundem, que se conjugam num todo tão pessoal quanto universal. Feita de palavras simples, de versos curtos e de uma estrutura em que a liberdade é total. Assim é a poesia deste livro, breve, simples, directa... e muito agradável de ler.
Há, neste pequeno conjunto de poemas, dois aspectos essenciais que se destacam: a liberdade da escrita e a muito interessante fusão de inocência e experiência que parece definir todos os poemas. Tudo o resto varia: cenários, impressões, as emoções que cada poema evoca. Mas estes dois aspectos em comum criam, desde logo, uma sensação de coesão que basta para tornar a leitura interessante.
Mas falemos um pouco mais destes dois pontos centrais. Primeiro a escrita. Quase todos os poemas são relativamente breves, escritos em versos curtos, com pouca ou nenhuma rima e um ritmo que parece nascer mais do pensamento que propriamente de uma métrica definida. Ora, esta total liberdade confere aos poemas um tom mais natural, quase de confidência, nalguns casos, noutros o de alguém que recorda coisas suas. E isto cria uma maior proximidade, pois realça, com a máxima simplicidade, o que há de universal nos momentos e emoções pessoais que em cada um dos poemas são narrados.
A inocência, e a forma como se entretece nas vivências e tribulações de uma perspectiva mais madura, surge nas imagens evocadas, ora de nostalgia, de melancolia, ora quase que de conto de fadas. Imagens aparentemente contraditórias, mas que se conjugam num equilíbrio delicado, reforçando a tal impressão de alguém que recorda a vida, com o optimismo da inocência, mas com as agruras das verdades subjacentes.
Claro que há uma contrapartida neste registo de total simplicidade: é que, nalguns casos, fica a sensação de um mundo maior por explorar. Há imagens, momentos evocados, do quais apenas o mais simples parece vir à superfície, e isso deixa, por vezes, a impressão de uma certa ambiguidade, como se aquilo que é deixado por contar fosse tão importante como o que é de facto dito. Também é certo, porém, que se pode vir isto de outra perspectiva: o que fica por dizer fica entregue à imaginação do leitor.
Breve, simples, quase que inocente... e muito cativante. Assim se poderá descrever este livro. E, acima de tudo, como uma muito agradável viagem a um tempo - ou a um estado de espírito - que lembra tempos mais simples e mais belos, sem nunca deixar a realidade para trás. Gostei. 

Título: Impressões
Autor: António Pereira
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A Espia (Paulo Coelho)

Acusada com provas duvidosas e condenada à morte, Mata Hari usa os seus últimos dias de vida para contar a sua história. Fá-lo numa carta-testamento ao seu advogado e, nas suas palavras, percorre as memórias de toda uma vida. Alguns chamaram-lhe devassa, prostituta, mas não hesitaram em relacionar-se com ela, virando-lhe depois as costas quando as coisas se complicaram. Outros, admiraram-lhe a arte, amaram-na até. Mas poucos saberiam, antes do fim, de onde viera aquela mulher excêntrica e sedutora, capaz de despertar tanto fascínio como inimizade. Esta é a sua história.
Relativamente breve e contado na primeira pessoa, primeiro pela voz de Mata Hari, e depois pela do seu advogado, esta é uma história em que os factos podem ter a sua importância, mas parecem ser as emoções e os pensamentos a dominar. Os da protagonista, claro, que, incapaz de suportar o tédio do lugar onde nasceu, se transforma na mulher fatal cujo nome, por ela escolhido, viria a ficar gravado na história. E o que o autor faz neste livro é, acima de tudo, dar voz a estas ânsias e pensamentos, à força que move a protagonista através de uma vida tão cheia de tribulações.
Ao deixar os acontecimentos para um relativo segundo plano, o autor consegue duas coisas: realçar o impacto das emoções de uma mulher que conta a sua história na possível iminência da morte, o que confere uma maior intensidade à narrativa, e conferir uma perspectiva mais pessoal aos acontecimentos que efectivamente são desenvolvidos. Mas há, porém, um outro lado a considerar: esta relativa brevidade faz com que o contexto global surge de uma forma algo vaga e em que certos acontecimentos são contados de forma algo apressada. Ora, isto acaba por criar uma certa distância, pois o impacto das coisas vividas é deixado por explorar. 
O essencial está lá, contudo. É perfeitamente possível compreender, a partir da forma como o autor constrói a história da sua protagonista, a intensidade de uma vida que, ao mesmo tempo, parece procurar e recusar o amor, ao mesmo tempo que assume como indispensável uma liberdade pouco característica da época em que tudo acontece. E isso não pode deixar de cativar, principalmente tendo em conta o ponto de vista a partir do qual a história é contada. 
Bastante breve e relativamente simples, trata-se, pois, de um livro que deixa algumas perguntas sem resposta. Mas que, na sua forma sucinta, mas fluída e envolvente, permite ficar com uma imagem bem precisa da mulher a quem muitos chamaram espia, num caso que as provas existentes parecem  querer desmentir. Uma história interessante, portanto, e uma boa leitura. 

Título: A Espia
Autor: Paulo Coelho
Origem: Recebido para crítica

domingo, 18 de setembro de 2016

Tudo, Tudo... e Nós (Nicola Yoon)

Madeline não pode sair de casa. Tem uma doença rara, que torna o seu sistema imunitário tão débil que qualquer contacto com o exterior pode desencadear uma reacção fatal. E, uma vez que não parece haver grandes desenvolvimentos quanto a uma possível cura para a sua condição, Madeline habituou-se à sua vida. A ver o mundo pela janela, a viver na bolha isolada que é o seu quarto. Até ao dia em que tudo muda, ao ver pela primeira vez o novo vizinho. Olly é em tudo diferente dela. Vestido de preto e com um ar de mistério, desperta a curiosidade de Madeline. E, quando ele a vê à janela, o sentimento é mútuo. Mas como estabelecer contacto - e mais, como construir uma relação - quando Madeline está isolada do mundo e sabe que isso não vai mudar?
Não há provavelmente melhor palavra para descrever este livro do que esta: fofo. Pela ternura que pauta as relações entre as personagens, pela quase inocência que parece definir o percurso dos protagonistas em direcção à descoberta, até mesmo pelas formas que Madeline e Olly usam para expressar o que sentem... Há toda uma vastidão de afectos e de ternura neste livro e isso é mais do que o suficiente para nos deixar de sorriso nos lábios (ou de lágrimas nos olhos, conforme as circunstâncias). E, assim sendo, não poderia haver melhor ponto de partida para uma história como esta. Mas há mais.
Uma das maiores qualidades deste livro é que nenhum dos protagonistas é um estereótipo. Madeline não é nem a rapariga resignada à sua condição, nem a que está disposta a descartar tudo o que importa em nome de uma aventura, estando antes num lugar algures no meio. E também Olly tem as suas tribulações que, ainda que vistas pelos olhos de Maddy, são tão relevantes para a construção do enredo como a doença da própria Madeline. Olly e Maddy são personagens humanas, complexas, vulneráveis.E é provavelmente isso que torna tão interessante o percurso deles.
E há ainda um outro aspecto a destacar neste percurso. Se a história em si está cheia de momentos marcantes, também a forma como a história é contada contribui para o impacto final. Narrado pela voz de Madeline, em capítulos curtos, em que os sentimentos e pensamentos são tão importantes como a acção, e complementada por pequenos fragmentos dessa vida - desenhos, e-mails, comprovativos de compra - que, de alguma forma a tornam mais real, este é um livro em que a emotividade do enredo se torna ainda mais intensa pela originalidade da forma como é construído.
Da convergência de tudo isto, surge um livro divertido e comovente (sim, as duas coisas), uma jornada de crescimento tão diferente como universal e em que são os afectos que dão forma a toda uma nova visão da vida. Cativante, emotivo e muito surpreendente, não posso, pois, deixar de recomendar este Tudo, Tudo... e Nós. 

Autora: Nicola Yoon
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro Tudo, Tudo... e Nós, clique aqui.

sábado, 17 de setembro de 2016

Ser (Francisco Lobo Faria)

Poemas para um mundo melhor... ou para uma vida melhor, pelo menos. Visões do que o mundo, a sociedade, o ser deviam ser para se tornarem mais completos, mais vivos, mais naturais. Ideais de um mundo que não é, mas que talvez devesse ser. Assim são estes poemas que, num estilo quase que de intervenção, tentam moldar o mundo a uma imagem mais positiva... ou, pelo menos, a mente de quem os lê.
Escrito numa estrutura bastante livre, ainda que com a rima bastante presente, este é um livro em que, mais que propriamente a forma, o autor parece concentrar-se no conteúdo, nas ideias que pretende transmitir. Ideias essas que, mais do que uma análise pessoal ou introspectiva, se centram essencialmente na visão que o autor tem da sociedade, das formas possíveis de moldar um mundo, uma vida, melhor. Ora, isto tem vantagens e inconvenientes. A vantagem, evidentemente, é que leva a pensar e a questionar, o que parece ser o objectivo primordial destes poemas. O inconveniente é que, numa poesia que é mais um ditar de orientações que uma expressão de emoções, cria-se, inevitavelmente, uma certa distância.
Importa dizer, porém, que, se é, de facto, esta a ideia geral que fica do todo, nem todos os poemas são assim. Alguns há que, mais voltados para o interior, menos concretos, mais filosóficos, abrem portas a uma possível identificação por parte de quem os lê. Curiosamente, é nestes também que surgem os versos mais marcantes, as frases que ficam na memória. E são, por isso, estes os mais interessantes do livro.
Quanto à estrutura, sobressai o equilíbrio entre uma poesia sem grandes regras, mas em que a rima surge frequentemente. E sobressai porque poucas vezes acontece que as limitações da rima tornem o ritmo do poema algo forçado. Há excepções, claro. Mas, no geral, a opção da rima pouco compromete a fluidez do texto. E isso acaba por ser também um aspecto agradável deste conjunto.
A impressão que fica é, portanto, a de um livro que, em forma poética, levanta, acima de tudo, questões sobre a sociedade e a vivência das pessoas enquanto tal. Breve, de leitura agradável e simples quanto baste, pode não ser o tipo de livro que exalta ou comove... mas não deixa de ser, ainda assim, uma leitura interessante. 

Título: Ser
Autor: Francisco Lobo Faria
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Divulgação: Novidade Quinta Essência

Cinco pessoas reúnem-se em volta de uma campa rasa. Todos se tinham revezado a cavar. Uma cova para um adulto teria levado mais tempo.. Uma vida inocente fora tirada, mas o pacto fora feito. Os segredos deles seriam enterrados, ligados no sangue...
Anos mais tarde, uma mulher é encontrada brutalmente estrangulada, o primeiro de uma série de assassínios que choca a região inglesa conhecida como Black  Country.
Mas quando são descobertos restos humanos num antigo orfanato, são também desenterrados segredos perturbadores. A inspectora detective. Kim Stone percebe rapidamente que procura um indivíduo cruel cujos homicídios se estendem por décadas. Uma vez que as mortes continuam, Kim tem de parar o assassino antes que ele ataque de novo. Mas, para o capturar, será Kim capaz de enfrentar os demónios do seu passado antes que seja demasiado tarde?
Os fãs de Rachel Abbott, Val McDermid e Mark Billingham irão ser agarrados por esta excepcional nova voz na ficção criminal britânica.

Angela Marsons fez a sua estreia no género do thriller, alcançando um imediato êxito internacional. Gritos Silenciosos é o primeiro capítulo na série protagonizada pela inspectora detective Kim Stone. Angela vive na região inglesa de Black Country, a mesma onde se passam os seus thrillers.

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Ainda hoje, mais de 150 anos depois de ter vindo ao mundo, milhões de Bovarys por essas cidades fora choram e desesperam como chorou e desesperou a heroína deste romance. Atolada na mediocridade da vida quotidiana, entre um marido com poucas qualidades e uma solidão que a verga, Emma Bovary vai procurar no adultério a fuga de uma existência entediante. De sonho em sonho, de esperança em esperança, até à ruína final. Quem nunca foi Bovary? Quando apareceu, rebentou o escândalo, o autor chegou a sentar-se no banco dos réus, acusado de atentado à moral. Não admira, a crítica aos costumes e à sociedade é impiedosa. Lida, comentada e reverenciada deste então, Bovary foi posta ao lado de Hamlet, Quixote ou Ulisses na galeria das grandes personagens da literatura universal. É uma obra do cânone literário ocidental, cujo impacto e influência foram de tal ordem, que acabou por obliterar a restante obra do escritor.

Gustave Flaubert: Nasceu em 1821, em Ruão, filho e neto de médicos. Estudou Direito em Paris, onde levou uma vida agitada e boémia, sem terminar o curso. Entre 1846 e 1855, mantém uma relação amorosa com a poetisa Louise Colet. Em 1846, morre o pai, que lhe deixa uma considerável fortuna, com a qual vive. Dedica-se a partir de então à escrita, actividade que nunca abandonará. Foi uma figura importante no meio cultural francês do seu tempo. Os seus últimos anos de vida serão marcados por graves dificuldades financeiras e por problemas de saúde. Morreu em Croisset, em 1880. É hoje um dos autores fundamentais da literatura mundial. As suas principais obras são Madame Bovary (1857), Salammbô (1862), A Educação Sentimental (1869) e Bouvard e Pécuchet (1881).

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

a máquina de fazer espanhóis (valter hugo mãe)

Após a morte da mulher, na sequência do que parecia ser apenas uma indisposição, o senhor silva (sim, com minúscula) é, contra a sua vontade, enviado para um lar de idosos. Apesar dos seus mais de oitenta anos, continua lúcido e plenamente convencido de que o seu lugar não ali, naquela antecâmara da morte. Mas há ainda muita vida à sua espera no lar da feliz idade, lugar onde todos se encaminham para a morte e onde as memórias parecem pairar como uma sombra, mas onde há outras verdades e outros afectos para descobrir. A vida acaba, sim. E, para muitos dos que ali vivem, o fim está talvez já próximo. Mas talvez também as respostas possíveis a uma vida onde tudo é feito de perguntas. E, para silva, de uma perda que o acompanha em cada gesto. 
É difícil de explicar, este a máquina de fazer espanhóis. É esta a primeira coisa que me ocorre dizer sobre este livro. Porquê? Porque tem uma identidade tão própria, tão vincada, e ao mesmo tempo tão etérea e pessoal, que as impressões que provoca são mais sentida do que pensadas e, assim, torna-se difícil explicar em pleno o que fica deste livro. Há, apesar disso, traços que se destacam e que em muito contribuem para este tão belo impacto final. E é desses traços que importa falar.
Primeiro, a escrita. Muito própria, com um estilo bem definido, em que a ausência de maiúsculas e a pontuação reduzida a pontos e vírgulas criam, primeiro uma certa estranheza, para depois realçar no texto uma certa melodia. É um livro que, lido em voz alta, ou simplesmente sussurrado, parece cativar para uma estranha musicalidade, feita de palavras poéticas e de palavras duras, como de sentimentos belos e de pequenas crueldades.
O que me leva aos sentimentos. É fácil sentir alguma empatia para com as circunstâncias do protagonista. Mas o verdadeiro impacto da história é muito mais do que apenas isso. A forma como os pensamentos e emoções do senhor silva são apresentados, numa narrativa em que fantasia e realidade se entrelaçam nos labirintos da mente do narrador, torna tudo mais vivo e mais intenso. E, ao mesmo tempo, há algo neste percurso individual que, ainda que vivido de forma única, não deixa de ser algo universal. A passagem do tempo, a perda, o envelhecimento, a batalha cada vez mais dura entre a alma e o corpo... Coisas que vemos na vida do senhor silva, mas que acabam por acontecer a todos.
Mas há ainda uma outra peculiaridade nesta história. É que, apesar desta aura sombria provocada pela proximidade da morte, o livro tem tantos momentos de tristeza como de leveza de humor. O senhor silva e o seu estranho grupo de amigos tanto protagonizam momentos pungentes como situações caricatas e divertidas. E, no tal cruzamento entre a fantasia e a realidade, em que nem sempre fica claro o que é real e o que não é, cria-se uma certa agradável estranheza, como que de quem vê a vida com um olhar mais criativo.
Tudo isto se conjuga num equilíbrio fascinante, em que acontecimentos, memórias, sentimentos e laivos de introspecção parecem convergir num todo em que tudo encaixa na medida certa. E, assim, a imagem que fica é a de muito mais que a história do senhor silva. É um retrato de uma passagem pela vida que poderia ser a de qualquer um. E uma viagem que não posso deixar de recomendar. 

Autor: valter hugo mãe
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Elsinore

«Como lembrança, como aviso, como pincelada de noite ao alvorar. Como uma pequena fresta no pensar. Dar-te-ei qualquer coisa em que pensar, segredei eu. Ele acordou e não me encontrou no meu da escuridão do seu trauma.»
Aqui está ele: marido e pai, romântico desarranjado e académico apaixonado por Ted Hughes, um homem perdido depois da morte súbita da sua mulher. E ali estão os seus dois filhos, a enfrentarem, como ele, a tristeza insuportável que os engoliu no seu apartamento londrino perante um vaivém de amigos bem-intencionados e um futuro de absoluto vazio.
Neste momento de desespero, são visitados pelo Corvo - antagonista, trapaceiro, curandeiro, babysitter. Este pássaro «sentimental» é atraído pelo luto da família e ameaça permanecer com eles até que não mais precisem da sua ajuda. À medida que o tempo passa, as semanas se tornam meses e a dor se transforma em memória, esta pequena unidade de três pessoas começa a curar-se.
Numa estreia absolutamente extraordinária - parte novela, parte fábula polifónica, parte ensaio sobre o luto -, Max Porter combina sensibilidade e um estilo corajoso, criando um efeito deslumbrante. Carregado de um humor inesperado e marcado por uma profunda verdade emocional, O Luto É a Coisa com Penas marca a chegada de uma nova voz literária, entusiasmante e original.

Max Porter é coordenador editorial da divisão literária da Granta. Vive em South London com a família.
O Luto É a Coisa com Penas, o seu primeiro livro, foi galardoado com o Dylan Thomas, um dos mais importantes a nível internacional para autores de estreia.

Divulgação: A Alma do Pecado, de Miguel Quintas Martins

Sinopse: A palavra “pecado” esteve durante muitos séculos, inerente a um contexto religioso, para descrever as desobediências à vontade de Deus. Hoje em dia é um termo utilizado até pelo mais fervoroso ateu para retratar actos que vão contra os valores éticos e morais da humanidade.
O livro de contos “A Alma do Pecado” são pequenos relatos de realidades inimagináveis para muitos, mas reais para os que acreditam que o mundo está repleto de malignidade.
Sete contos, sete pecados, sete vidas...Desafio então o leitor a descobrir quais os pecados implícitos em cada uma das histórias e a pensar se são meras contradições ao desenvolvimento da sociedade humana ou algo que vive em cada um de nós…

Apaixonado pela vida, Miguel Quintas Martins resolveu dedicar-se a escrever o que ama, o que sente, o que vê e o que imagina! A sua licenciatura, os anos que leccionou e as suas viagens, foram instrumentos para projectar um sonho e a vontade de escrever. Os livros fazem parte da sua vida, assim como o cinema, o teatro, a dança e o ensino.
Um escritor carismático e multifacetado, que incorpora nos seus livros factos históricos, que suscitam a curiosidade do leitor. Os seus romances são thrillers repletos de mistério e suspense que irão surpreender qualquer um que se atreva a embarcar numa viagem pela imaginação.
Para Miguel Quintas Martins "somos todos o somatório das nossas experiências".

Livros publicados:
O Suserano(Romance/ Mistério), 2015
O Passo do Rei (Romance Policial/ Mistério), 2016
A Alma do Pecado ( contos/ Mistério), 2016

Disponível na Amazon.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A Ilha do Doutor Moreau (H.G. Wells)

Na sequência do naufrágio do Lady Vain, Edward Prendick é resgatado por um estranho navio. O capitão parece estar permanentemente bêbedo, o convés está cheio de animais e a única pessoa com quem parece possível manter uma conversa é Montgomery, o médico que lhe salvou a vida. Mas também Montgomery tem os seus segredos e quando, após uma birra do capitão, Prendick acaba por ser também largado na misteriosa ilha à qual se destinavam todos aqueles animais, a estranheza começa a tornar-se por demais evidente. Os habitantes parecem estranhos. E Moreau, o homem com quem Montgomery parece colaborar, esquiva-se a quaisquer explicações quanto às experiências que leva a cabo naquela ilha. Começam a formar-se suspeitas no espírito de Prendick. Mas, apesar da sua imaginação fértil, ele está muito longe de imaginar o que realmente se passa... e as possíveis consequências de tudo isso.
Mistura de mistério e de aventura com uma muito pertinente questão subjacente, a dos limites éticos da experimentação em seres vivos, este é um livro em que cativam mais os acontecimentos e o contexto do que propriamente as personagens. Prendick desperta empatia, claro, dadas as suas circunstâncias, mas a forma como ele, Moreau e Montgomery lidam com o que se passa na ilha é, no mínimo, questionável. É, aliás, assim que deve ser, pois realça a tal questão ética que é, no fundo, a base de toda a narrativa. Mas é curioso que, não sendo propriamente personagens simpáticas, também não são da matéria dos detestáveis, percorrendo, antes, conforme as circunstâncias, a longa linha que separa um extremo do outro. Cria-se, assim, um certo equilíbrio, que põe a humanidade (ou falta de) das personagens em contraste com os comportamentos do Povo Animal.
Outro aspecto curioso é a forma como o autor desenvolve o contexto de tudo o que está a decorrer na ilha, descrevendo ao pormenor locais, teorias e experiências levadas a cabo. E, neste aspecto, é interessante ter em conta a época em que o livro foi escrito e a evolução da ciência desde então, pois, sendo o conhecimento diferente, torna-se particularmente intrigante a caracterização que o autor constrói para os métodos de Moreau. Claro que esta vasta componente descritiva torna a leitura mais pausada e até um pouco mais distante, pois o cenário acaba por ser tão desenvolvido como as pessoas que o povoam. A imagem global, contudo, acaba por ser muito mais completa. 
E depois há ainda outra questão subjacente: o que diferencia os seres humanos dos animais. A forma como o autor caracteriza o povo animal, a visão que Moreau tem deles e, depois, as experiências vividas pelo próprio Prendick, despertam algumas perguntas que, não encontrando necessariamente uma resposta certa, ficam no ar bem depois de terminada a leitura. Também isto contribui para o impacto final da narrativa, pois deixa à imaginação do leitor a ponderação sobre as questões mais pertinentes. 
E é esta a imagem que fica da soma das partes: uma história cativante e surpreendente, com um ambiente repleto de mistério e de estranheza, em que nem tudo é exactamente o que parece e há uma visão maior por detrás do mais pequeno dos aspectos. Intrigante e muito relevante, uma boa leitura.

Título: A Ilha do Doutor Moreau
Autor: H.G. Wells
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Porto Editora

Louisa Clark já não é uma jovem banal a viver uma vida banal. O tempo que passou com Will Traynor transformou-a, sendo agora uma pessoa diferente que tem de enfrentar a vida sem ele. Quando um insólito acidente obriga Lou a regressar a casa dos pais, é impossível não sentir que está de volta ao ponto de partida. 
Lou sabe que precisa de um empurrão que a traga de novo à vida. E é assim que acaba por ir parar ao grupo de apoio Seguir em Frente, cujos membros partilham sentimentos, alegrias, frustrações e bolos intragáveis. Serão também eles que a levarão até Sam Fielding - um paramédico que trabalha entre a vida e a morte, e o único homem que talvez seja capaz de a compreender. Mas eis que uma personagem do passado de Will surge de repente e lhe altera todos os planos, lançando-a num futuro muito diferente…
Para Lou Clark, a vida depois de Will Traynor significa reaprender a apaixonar-se, com todos os riscos que isso implica. 
Em Viver Sem Ti, Jojo Moyes traz-nos duas famílias, tão reais como a nossa, cujas alegrias e tristezas nos tocarão profundamente ao longo de uma história feita de surpresas.

Jojo Moyes estudou Jornalismo e foi correspondente do jornal The Independent durante 10 anos, até se dedicar a tempo inteiro à escrita criativa. Foi uma das poucas autoras a ganhar por duas vezes o prémio Romantic Novel of the Year, primeiro com Foreign Fruit (2003) e com A Última Carta de Amor (2010). Do catálogo da Porto Editora constam já os romances Silver Bay - A Baía do Desejo, Um Violino na Noite, Retrato de Família, A última carta de amor, Viver Depois de Ti e O Olhar de Sophie.

Passatempo Corações na Escuridão

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a O Castor de Papel, tem para oferecer um exemplar do livro, Corações na Escuridão, de Laura Kaye. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Como se chamam os protagonistas de Corações na Escuridão?
2. Durante quanto tempo ficam os protagonistas presos num elevador?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 20 de Setembro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

Mais informações sobre o livro e a editora em http://www.castordepapel.pthttp://facebook.com/castordepapel

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Divulgação: Novidade O Castor de Papel

Dois estranhos...
Makenna James acha que o seu dia não pode ficar pior até que no edifício do seu escritório corre para apanhar o elevador. Enquanto se distrai para atender uma chamada o elevador pára e fica às escuras. Makenna encontra-se assim na companhia de um estranho do qual apenas vislumbrou a tatuagem de um dragão numa das suas mãos antes das luzes se apagarem.
Quatro horas...
Caden Grayson diverte-se com esta linda ruiva tão atrapalhada com a sua mala e o telemóvel. Mas logo a diversão acaba quando o elevador se imobiliza e ele, apesar dos seus piercings, tatuagens e cicatrizes, entra em pânico. Agora está preso dentro do seu pior pesadelo... durante quatro horas. Somente abrindo-se com Makenna é que Caden poderá vencer os seus demónios, da mesma forma que Makenna consegue ultrapassar o seu terror do desconhecido. Aos poucos e apesar da escuridão, ambos acabam por descobrir o muito que têm em comum.
Na escuridão a atracção e o desejo crescem e os dois não resistem a envolver-se com paixão. Mas, perguntam-se, irão sentir o mesmo quando as luzes voltarem? E quando forem salvos do elevador que os aprisiona o que farão?
Nunca poderá imaginar o que acontece nesta escuridão. Dois estranhos...quatro horas...Caden vencerá os seus demónios? Makenna ultrapassará o seu terror do desconhecido. Atracção e desejo, numa surpreendente história de amor.

Laura Kaye é autora de mais de uma dúzia de romances de ficção contemporânea, livros que frequentam regularmente as listas de bestsellers do New York Times e do USA Today. Laura cresceu no meio de uma forte tradição familiar, que incluía anjos, fantasmas, feitiços e maldições. Esta tradição motivou o seu fascínio por histórias fantásticas e pelo sobrenatural. Laura tem um doutoramento em História da América, tema sobre o qual tem escrito.





Fechada para o Inverno (Jørn Lier Horst)

Chegou o Outono e as casas de férias em Larvik começam a ficar vazias, à medida que os seus donos partem para passar o Inverno noutras paragens. Ficam desertas, o que não pode deixar de ser apelativo para os grupos de assaltantes que rondam o local. Mas algo de diferente aconteceu. Várias casas foram assaltadas, o que não é, em si, nada de muito novo, mas, ao deparar com a casa assaltada, uma das vítimas decidiu dirigir-se à casa mais próxima... para a encontrar também assaltada e com um cadáver lá dentro. O caso torna-se, portanto, mais complexo e o detective William Wisting entra em acção. Primeiro, é preciso descobrir quem é o morto. Mas, quando todas as pistas são contraditórias e novos corpos começam a surgir, as explicações mais simples começam a revelar-se como não sendo necessariamente as verdadeiras. E, como se não bastasse, há pássaros mortos a cair do céu e quem culpe a polícia por isso.
Centrada mais no lado racional da investigação do que propriamente no choque emocional, este é um livro que tem como principais pontos fortes dois aspectos: a complexidade do mistério e a forma como as diferentes competências e papéis dos vários investigadores se conjugam para a melhor condução do caso. Há momentos intensos, é verdade, e situações de perigo que envolvem algumas das personagens, mas o cerne da história é, acima de tudo a resolução do mistério. O acompanhar das pistas, as provas e revelações que vão surgindo, e as capacidades de acção e dedução que levam à descoberta final.
Ora, este percurso mais racional cria uma sensação de maior distância. Há, aliás, um aspecto curioso quanto a esta faceta mais cerebral da história: é que Line, a filha do protagonista, encontra-se numa situação privilegiada para encontrar respostas... ou para se pôr em perigo. E é interessante a forma como o autor vai sustentando esta aura de perigo que pende sobre a cabeça de Line, ao mesmo tempo que conduz a história numa direcção completamente diferente.
Mas voltando à distância. Sim, é verdade que o raciocínio e a capacidade de interpretação dominam claramente sobre a emotividade e a empatia, ficando, por isso, nalguns momentos, a vontade de ver um pouco mais do lado humano das personagens. Mas não deixa de haver também algum espaço para esse aspecto, havendo uns quantos desenvolvimentos interessantes, principalmente no que toca à vida pessoal de Line.
Quanto ao caso em si, sobressai a crescente complexidade de um mistério que começa por se assemelhar a um caso de assalto que correu mal, para depois revelar uma teia de ligações - e de revelações - em que não é fácil adivinhar os verdadeiros papéis de todos os envolvidos. Um mistério em que todas as pistas - e todos os intervenientes - são importantes e em que todos os passos dados fazem sentido.
Intrigante e surpreendente, trata-se, pois, de um livro que, não sendo de grandes choques nem de grandes surpresas, constrói, ainda assim, no seu muito cativante equilíbrio, um enredo em que todas as pistas são relevantes para o desvendar das respostas finais. Uma boa história, portanto. 

Título: Fechada para o Inverno
Autor: Jørn Lier Horst
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Topseller

Em meados do século XIX, a imperatriz Isabel da Áustria-Hungria — carinhosamente conhecida pelo povo como Sissi — já não é a menina ingénua e inocente de 15 anos que casou com o imperador Francisco José, mas a mãe do príncipe herdeiro e a mulher do líder de um poderoso império.
Sissi vive, no entanto, sufocada pelas regras do protocolo real e por um casamento turbulento, e por isso viaja com frequência para a sua propriedade na Hungria, o refúgio onde vive segundo as suas próprias regras e onde pode receber as visitas do conde Andrássy, por quem se apaixonou.
Contudo, trágicas notícias que chegam de Viena vão obrigá-la a regressar e a enfrentar a realidade que tanto a afugenta. Conseguirá Sissi vencer as inúmeras adversidades, as provações do amor e o sentimento de perda e continuar a ser uma imperatriz dedicada?
Estará ela à altura do desafio de manter a sua família unida e o seu direito ao trono?

Isabella fugiu de um casamento intenso, mas Mac estava decidido a reconquistá-la.
Durante o seu baile de debutante, Lady Isabella, de 18 anos, é «roubada» pelo mal-afamado Lorde Mac Mackenzie e casam nessa mesma noite, escandalizando a sociedade londrina. Depois de três anos de um casamento atribulado, Isabella volta a escandalizar Londres ao separar-se de Mac.
Destruído pela separação, Mac dedica-se apenas à pintura. Mas sem a sua musa, percebe que também o seu talento o abandonou. Quando Isabella vê exposto um quadro do ex-marido, percebe que se trata de uma imitação e que há um falsificador a fazer-se passar pelo famoso Mac Mackenzie. Um mistério que faz Isabella reentrar na vida de Mac.
Quando a sua linda mulher volta a cruzar a porta de casa, Mac percebe que a quer de volta à sua vida e à sua cama e tudo fará para reconquistá-la. Isabella tenta resistir-lhe, mas ao aceitar ser pintada por ele, em poses eróticas, percebe que o desejo entre ambos é uma força imparável que apenas aumentou ao longo dos anos.

sábado, 10 de setembro de 2016

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Um dos maiores romances escritos em português. Este livro é uma festa da língua, revolucionário, destroçando todas as convenções literárias do seu tempo. O leitor é maltratado, há capítulos em branco, outros sem utilidade. Brás Cubas, o improvável herói desta história, não fez nada de especial. Apaixonou-se por uma mulher casada, falhou uma carreira política, nunca teve filhos. Depois morreu, e então escreveu as suas memórias. Desde que foi publicado, em 1881, tem vindo a ganhar o apreço e a afeição de alguns dos maiores intelectuais e artistas contemporâneos. Woody Allen considerou-o um dos seus livros preferidos, «uma obra-prima muito, muito, original». Susan Sontag diz que este livro tem a capacidade de «impressionar sempre os leitores com a força de uma descoberta pessoal». Para Harold Bloom «o livro é cómico, inteligente, evasivo, muito divertido de ler, frase após frase».

Machado de Assis. Filho de pai carioca e mãe açoriana, um dos maiores nomes da literatura do Brasil, José Maria Machado de Assis, nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 1839. Depois dos primeiros poemas, publicados na imprensa, segue-se uma profusa obra, que abarca os mais diversos géneros: crónica, conto, romance, teatro, crítica literária. Em 1864 edita Crisálidas, o primeiro livro de poesia, e, em 1872, Ressurreição, o primeiro romance.
Inicialmente, as suas obras possuem características românticas, mas é no Realismo que se distingue, com romances como Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880), Quincas Borba (1891) ou Dom Casmurro (1889), ao dar espaço à análise psicológica das personagens, aos seus desejos e necessidades, qualidades e defeitos. Morreu na madrugada de 29 de Setembro de 1908, em casa, no Rio de Janeiro, aos 69 anos.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Divulgação: blogue oficial do lançamento de A Espia, de Paulo Coelho

Pois é, está quase a chegar às livrarias um novo livro de Paulo Coelho. Chama-se A Espia e vão poder saber mais sobre este livro um bocadinho mais abaixo neste post. Mas, para começar, vejam lá quem chegou aqui ao meu cantinho: 


Pois é. O As Leituras do Corvo teve o privilégio de ser convidado a participar nesta acção da Bertrand, sendo assim um dos blogues oficiais do lançamento do livro A Espia, que chega às livrarias dia 16 de Setembro. Ora, isto significa, antes de mais, que vou ter a oportunidade de ler este livro, por isso podem desde já contar com a minha opinião aqui no blogue. E depois... depois quem sabe não haverá qualquer coisa à espera de quem por aqui passa. Até lá, fiquem com alguma informação sobre o livro e o autor. Quem sabe se não vai ser útil...

Sinopse:
«Tudo o que sei é que o meu coração é hoje uma cidade-fantasma, povoado por paixões, entusiasmo, solidão, vergonha, orgulho, traição, tristeza. E não consigo desenvencilhar-me de nada disso, mesmo quando sinto pena de mim própria e choro em silêncio. Sou uma mulher que nasceu na época errada e nada poderá corrigir isso. Não sei se o futuro se lembrará de mim, mas, caso isso ocorra, que nunca me vejam como uma vítima, e sim como alguém que deu passos com coragem e pagou sem medo o preço que precisava de pagar.»

Sobre o autor:
Um dos autores mais lidos e respeitados em todo o mundo, Paulo Coelho tem a sua obra publicada em mais de 170 países e traduzida em 81 idiomas. É autor do clássico dos nossos tempos, O Alquimista, considerado o livro brasileiro mais vendido de sempre e que atingiu já mais de 400 semanas ininterruptas de presença na lista dos livros mais vendidos do The New York Times.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1947, foi encenador e dramaturgo, jornalista e compositor, antes de se dedicar à literatura.
Foi galardoado com diversos prémios internacionais, entre eles o Crystal Award, do Fórum Económico Mundial, e recebeu o prestigiado título de Chevalier de L’Ordre National de la Légion d’Honneur. Ocupa a cadeira número 21 da prestigiada Academia Brasileira de Letras, é Embaixador Europeu do Diálogo Intercultural e Mensageiro da Paz das Nações Unidas.
Em conjunto com a mulher, a artista plástica Christina Oiticica, fundou o Instituto Paulo Coelho, que oferece apoio e oportunidades aos membros mais desfavorecidos da sociedade brasileira, especialmente a crianças e a idosos.

A obra de Paulo Coelho conta já com mais de 210 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.

Até que o Amor me Mate (Maria João Lopo de Carvalho)

Homem de grandes artes e vida atribulada, soldado, viajante, príncipe dos poetas. Nos versos, deixou um legado para a posteridade. A vida, fê-la de amores intensos, conflitos e querelas, desventuras e aventuras nos lugares mais distantes do império. Corações, conquistou os de várias mulheres, vindo a acabar só, porém, nos seus últimos dias de miséria. Esta é a história dessas mulheres, que, amando-o, esperaram, sonharam, intrigaram... viveram e morreram. E, através delas, surge também a história do poeta e do homem. De Luís Vaz de Camões.
Um dos aspectos mais cativantes neste livro, como, aliás, parece ser característico dos romances da autora, é a forma como várias e diferentes facetas se conjugam para dar forma a uma história vasta, equilibrada e sempre envolvente. E esse equilíbrio torna-se particularmente evidente na forma como a autora percorre a vida das várias mulheres protagonistas deste livro, mulheres que têm em comum essencialmente o laço de afecto que as une ao poeta, reflectindo através delas um contexto histórico delicado, uma vida cheia de tribulações e um sem fim de emoções bem vivas.
São, aliás, estes três aspectos, e a maneira como se conjugam, a grande força desta narrativa. O contexto histórico, que vai sendo desenvolvido ao ritmo do papel desempenhado pelas várias narradoras. A vida atribulada do poeta, com todas as interferências e vicissitudes associadas aos que lhe têm afecto... ou inveja. E as emoções - amor, ódio, ciúme, esperança, desespero - que tão bem ganham vida na forma como a autora as descreve. 
Ora, destes três aspectos emergem ainda dois outros pontos fortes. O primeiro é a escrita em si, que, dando a cada uma das mulheres uma voz própria, permite também ter uma percepção mais clara das suas circunstâncias. Em comum, como disse, têm o afecto por Luís Vaz, mas vêm de meios (ou até de mundos) diferentes e isso nota-se na forma como narram a sua própria parte da história. Também isto contribui para o delicado equilíbrio que torna esta história tão cativante. 
O outro é um pouco mais difícil de explicar, mas prende-se essencialmente com a forma como, através dos múltiplos pontos de vista, é possível vislumbrar não só a realidade das várias mulheres que contam a história, mas também as suas ilusões. Movidas, acima de tudo, pelo amor, há coisas que vêem do seu poeta, mas também coisas que querem ver e que, nalguns casos, outras percepções parecem depois desmentir. E, assim, surge uma questão interessante: a de até que ponto o amor é cego ou tolda a percepção da realidade.
Intenso, equilibrado, feito tanto de intrigas de corte como de genuínos afectos, este é, pois, um livro em que contexto histórico, experiência pessoal das personagens e impacto emocional se conjugam nas medidas certas. O resultado é uma história que cativa desde muito cedo e não deixa de surpreender até ao fim. Muito bom. 

Autora: Maria João Lopo de Carvalho
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Livros do Brasil

Na base deste ensaio encontramos a história de Sísifo, figura da mitologia grega que diariamente carrega uma enorme pedra até ao cimo de uma montanha, com grande esforço e sofrimento físico. Aí chegado, deixa que a pedra se solte das mãos e role pela encosta abaixo. E novamente todo o processo se inicia, repetindo-se por toda a eternidade. Não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança, terão pensado os deuses que assim o condenaram.
Reflectindo em torno do conceito do absurdo e considerado um dos mais influentes ensaios do século XX, O Mito de Sísifo é uma exposição pungente do pensamento existencialista, peça central na filosofia do absurdo de Albert Camus.

Albert Camus nasceu em Mondovi, na Argélia, a 7 de Novembro de 1913. Licenciado em Filosofia, participou na Resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial e foi então um dos fundadores do jornal de esquerda Combat. Em 1957 foi consagrado com o Prémio Nobel da Literatura pelo conjunto de uma obra que o afirmou como um dos grandes pensadores do século XX. Dos seus títulos ensaísticos destacam-se O Mito de Sísifo (1942) e O Homem Revoltado (1951); na ficção, são incontornáveis O Estrangeiro (1942), A Peste (1947) e A Queda (1956). A 4 de Janeiro de 1960, Camus morreu num acidente de viação perto de Sens. Na sua mala levava inacabado o manuscrito de O Primeiro Homem, texto autobiográfico que viria a ser publicado em 1994.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Dor da Perfeição (Rita Tavares)

Afectos, amores, amizades, paixões, sofrimentos. De tudo isto e mais se faz a vida. E é também da soma de tudo isto que surge este conjunto de poemas que, sem estrutura definida, mas com um esquema de rima bem presente, percorrem pensamentos, vivências e relações únicas e pessoais, dando voz a uma vida em múltiplas facetas e em que a perfeição não surge tanto como um alvo, mas como um fim a evitar. Uma vida que, pessoal e intransmissível, tem, ainda assim, tanto de único como de familiar.
Escrito em verso, mas num ritmo que, não fosse a rima, facilmente se poderia transpor para um texto em prosa, este é um livro em que as ideias dominam sobre a estrutura. Ora, isto é interessante, porque, havendo uma forma bastante livre, mas apesar disso com rima, cria-se um contraste peculiar: por um lado, as ideias fluem com mais liberdade; por outro, a rima parece impor a alguns dos versos uma formulação algo forçada. E assim, há poemas que fluem com uma incrível naturalidade, enquanto que noutros é a estranheza a sobressair.
Um outro aspecto desperta sentimentos ambíguos. Se é verdade que o cerne desta poesia é pessoal, havendo por isso, acima de tudo, uma expressão de sentimentos próprios, há em boa parte dos poemas raízes comuns com que qualquer leitor se pode identificar. Na segunda parte, porém, surgem nomes, pessoas específicas, relações familiares que pertencem exclusivamente à autora. Ora, isto cria distância, pois, sendo estes afectos exclusivamente pessoais, há todo um conjunto de vivências e relações que os justificam. E esses, o leitor comum jamais os conhecerá. 
Fica, por isso, essencialmente, o contraste entre dois factores: por um lado, a universalidade dos sentimentos (ainda que vividos de forma única e pessoal), por outro, a história pessoal de quem escreve os versos, história essa que motiva as homenagens e referências particulares que vão surgindo. E, deste contraste, surgem também dois tipos de reacções: nalguns casos, a sensação de familiaridade para com uma emoção comum, noutros, a estranheza de um conjunto de referências e relações que passam ao lado de quem não conhecer as pessoas referidas.
E, assim, a impressão que fica é a de uma leitura interessante, com alguns textos bastante impressionantes e uma sensação de coesão bastante forte, mas em que, por vezes, o registo se torna demasiado pessoal. Compensa, ainda assim, a fluidez das palavras e a muito agradável surpresa de encontrar, em alguns poemas, uma sensação de proximidade capaz de compensar toda a distância dos outros.

Título: Dor da Perfeição
Autora: Rita Tavares
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Bizâncio

Título: O Regresso da Princesa Europa
Autor: Rob Riemen
Págs.: 112
Ensaio

Para nos ajudar a enfrentar os múltiplos tumultos que a Europa hoje enfrenta, O Regresso da Princesa Europa, de Rob Riemen, pode ler-se como uma canção de Orfeu, plena de esperança, auto-reflexão, sabedoria e confiança.
Nesta obra, o autor procura fazer renascer a memória da Princesa Europa, criadora de um ideal de civilização magnífico e profundamente humanista, enaltecido por filósofos e poetas e tornado realidade pelos corajosos e decisivos actos de todos os que lutaram por um mundo de verdade e justiça, contra a tirania do poder, da riqueza e da estupidez.
 Do autor de «O Eterno Retorno do Fascismo» e «Nobreza de Espírito»

Título: A Retirada - A Primeira Derrota de Hitler
Autor: Michael Jones
Págs.: 368 + 16 (de entratextos)
História

A batalha de Moscovo foi o inferno na terra, terrível e sangrenta para invasores e defensores. Michael Jones reuniu, uma vez mais, testemunhos de civis e militares veteranos para nos trazer este quadro realista e impressionante.
A Retirada é a história intensa e dramática do princípio do fim da Segunda Guerra Mundial,
quando os exércitos de Hitler – em confrontos selvagens durante o inverno – sofreram a sua primeira derrota na Frente Oriental.
 Do autor de «O Cerco de Leninegrado» e «Guerra Total»

Título: A Istambul do Sultão Por cinco Kurus por dia
Autor: Charles FitzRoy
Págs.: 176+16 (de extratexto)
História

Istambul é uma cidade de segredos.
Viaje no tempo até à época do Grand Tour, quando Istambul era um dos destinos preferidos dos viajantes intrépidos e conheça o mundo exótico da Istambul otomana de 1750!
Saiba como aceder ao protegidíssimo Palácio Topkapi e descubra a verdade por trás de todos os boatos acerca dos encantos das concubinas do harém do sultão. Descubra como regatear com os hábeis vendedores nos bazares, que emoções o aguardam num banho turco e os estranhos rituais dos dervixes rodopiantes. Não conseguirá conter o espanto perante os sumptuosos palácios e sublimes mesquitas dos Otomanos, e as grandes obras artísticas e arquitectónicas dos Bizantinos que os antecederam.
A Istambul do Sultão por cinco Kurus por dia é o terceiro volume da série de «guias turísticos históricos» editada pela Bizâncio.