Mark e Karen Breakstone construíram uma vida perfeita. Ele ganha bem, embora nunca tenha alcançado o auge do sucesso com que sempre sonhou. Ela encontrou na filha, Heather, alguém em quem depositar todos os seus sonhos e ideais. E Heather tem realmente um brilho especial que não é visível apenas aos olhos dos pais. E, ao crescer, começa a atrair um tipo diferente de atenção. Radiante e bela, Heather atrai olhares onde quer que vá. Mas o perigo está mais perto do que julgam e as obras realizadas pelo vizinho de cima trazem para perto a presença de estranhos. E de um estranho em particular, cuja contemplação de Heather parece esconder intenções tenebrosas.
Um dos primeiros aspetos a sobressair no que diz respeito a este livro é a forma como, apesar da relativa brevidade, explora múltiplas perspetivas e questões pertinentes. A história oscila entre as perspetivas de Mark, Karen, Heather e Bobby, cada um com a sua própria personalidade e as suas próprias sombras. E oscila também entre meios contrastantes: a riqueza e a segurança que definem a vida dos Breakstone e o mundo de pobreza e violência de onde Bobby emergiu. Ora, com estes dois mundos em colisão e o poderoso contraste entre o ideal e o inimaginável, tudo insinua tragédia desde muito cedo. Mas a tragédia anunciada... não é a bem a que se espera.
Outro aspeto particularmente interessante é que, numa história que gira em torno de visões do ideal, nenhuma das personagens é propriamente ideal. Nem o casamento de Mark e Karen é perfeito, nem eles são exatamente o que queriam ser. A própria Heather, com a sua beleza radiante e empatia profunda, consegue transformar, a espaços, essa empatia em profunda crueldade. E quanto a Bobby, tudo é ambiguidade, pois esconde monstruosidades insuspeitas e sonhos quase infantis na mesma personalidade. O resultado é que nenhuma destas personagens é do tipo que desperta empatia imediata, não deixando, ainda assim, de, com as suas imperfeições e complexidades, despertar uma constante curiosidade.
É precisamente neste aspeto que a relativa brevidade faz com que fique uma ligeira curiosidade insatisfeita, pois o papel destas personagens acaba por surgir sempre em função dos outros intervenientes. A história de Bobby cinge-se sobretudo à promessa da tragédia iminente, mas fica a sensação de que mais haveria a dizer. E quanto a Heather, a sua totalidade só surge muito a espaços, quando a sua perspetiva consegue sobrepor-se à visão idealizada de todos os outros sobre ela. Não falta nada de essencial à história, em suma, mas fica uma ligeira impressão de que podia não se ter esgotado nas suas cerca de cento e cinquenta páginas.
Cheia de contrastes e de surpresas, trata-se, pois, de uma leitura relativamente rápida, mas memorável em muitos aspetos. Breve mas intensa, concisa mas complexa na construção dos laços, uma história de tragédia anunciada... mas com os seus matizes de inesperado ao longo de todo o percurso.
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