quinta-feira, 13 de outubro de 2022

A Espia do Oriente (Nuno Nepomuceno)

André Marques-Smith tinha uma vida dupla - mas não sabia até que ponto. E agora que a verdade veio à tona, grande parte do que julgava saber foi posto em causa. Ainda assim, a vida não para e a sua faceta mais secreta chama-o de volta ao ativo. Os documentos que tanto esforço lhe custaram a recuperar ainda não estão decifrados, e por isso a investigação deve continuar, até porque a sua vida pode depender disso. Mas quando isso implica trabalhar com uma mulher que despreza e em quem não confia... André não pode deixar de se interrogar se não estará a ser enganado outra vez.
Provavelmente a maior prova da intensidade deste livro é que, mesmo numa segunda leitura, em que as grandes revelações já são conhecidas, a história não perde absolutamente nenhum impacto. Das primeiras surpresas ao final devastador, tudo mantém exatamente a mesma força da primeira leitura, em fluidez, envolvência e, acima de tudo, emoção. 
Mas, claro, dizer que as qualidades se mantêm não diz quais são. E são muitas: a naturalidade da escrita, a capacidade incessante de surpreender, o equilíbrio entre emoção e humor e a força dos momentos mais dramáticos. 
E, além de tudo isto, sobressaem ainda dois pontos. O primeiro é o contraste equilibrado e cativante entre as múltiplas facetas da vida de André, oscilando entre a adrenalina da espionagem, as tribulações do trabalho e o quotidiano da vida familiar e dos amigos. O segundo está na base disto: a construção completa de personagens tão admiráveis como falíveis, tão eficientes como vulneráveis. Complexas. Imperfeitas. Humanas.
E se, de certo modo, este livro é também uma transição, no sentido em que deixa pontos em suspenso para o que falta contar, o que é certo é que não faltam desenvolvimentos marcantes, mais do que suficientes para tornar esta fase da aventura completa por direito próprio. E para deixar uma enorme vontade de ler o volume final - sim, mesmo já conhecendo a história.
Tudo somado, o que fica é a sensação de um reencontro marcante, cheio de intensidade, de surpresas e de ação, mas também de uma vulnerabilidade que nunca deixa de impressionar. E a ideia de que vale sempre a pena regressar aos lugares onde já fomos felizes quando as pessoas que nos cativam vivem por lá. Como é certamente esse o caso deste livro.

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