segunda-feira, 25 de julho de 2011

A 19.ª Esposa (David Ebershoff)

A morte de um homem numa seita polígama com origem nos Santos dos Últimos Dias leva Jordan Scott a revisitar Mesadale e a comunidade de onde foi expulso sem apelo nem agravo. O objectivo é provar a inocência da mãe, a 19.ª esposa do homem assassinado. Mas a história de Jordan - e, mais que a sua história pessoal, a dos Pioneiros - cruza-se com a influência de uma mulher do passado. Conhecida como a 19.ª esposa de Brigham Young, Ann Eliza abalou os fundamentos da Igreja dos Santos dos Últimos Dias. E é a sua história de luta que se cruza com a da investigação de Jordan numa narrativa que percorre diferentes épocas.
É algo de impressionante a forma como o autor consegue reflectir os efeitos do fundamentalismo - e até mesmo as marcas de uma fé cega - na vida e na história das suas personagens. Numa narrativa de estrutura invulgar, em que o autor constrói cartas, ensaios e memórias correspondentes aos diferentes tempos das suas histórias, nota-se neste livro o cuidado de apresentar diferentes pontos de vista, desde as posições mais moderadas às atitudes extremas. E algumas destas chegam a ser revoltantes pelas consequências implícitas a cada acção. A expulsão de Jordan de Mesadale, por exemplo, devida a algo tão simples como um contacto de mãos, serve bem como base para caracterizar a atitude da comunidade e a influência do Profeta nas suas vidas.
Com tempos diferentes e histórias diferentes - ainda que com interessantes paralelismos entre ambas - há também uma marcada diferença de ritmo entre as histórias de Jordan e Ann Eliza. A desta acontece a um ritmo bastante mais pausado, acompanhando o seu crescimento e a descoberta dos seus verdadeiros valores. Já com Jordan as coisas acontecem bem mais depressa, como resultado da compulsão (não isenta de perigos) e da necessidade de resolver o mistério.
Ambas as linhas da narrativa são igualmente interessantes, e ambas têm muito de marcante, principalmente no que respeita aos vários comportamentos que se aproximam do fanatismo - e suas consequências. O resultado é uma leitura cativante, com momentos que propiciam à reflexão e também com uma série de circunstâncias capazes de criar empatia. Do estranhamente terno ao puramente revoltante, há também todo um espectro de emoções a percorrer nas situações enfrentadas pelos protagonistas desta(s) história(s).
Trata-se, pois, de um livro intenso, com muito para descobrir tanto a nível de contexto histórico como de força narrativa. Envolvente, com vários momentos marcantes e um final algo surpreendente, uma óptima leitura.

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