Das regras do cavalheirismo às possíveis - e impossíveis! - complicações da vida a dois, passando pelas características e hábitos que o definem, este conjunto de crónicas é todo um guia para o que se deve ter e fazer para se ser homem. Ou então... não. Situações caricatas, direitos e deveres invulgares, o que pensam - e o que não deviam pensar... todos os temas são válidos, desde que haja humor.
Uma das primeiras questões a surgir num livro destes, e vendo-o, naturalmente, pelos olhos de uma mulher, é onde poderá acabar o humor e começar a misoginia. É que, por vezes, a linha que separa estes dois elementos consegue ser bastante ténue. E este é também um dos primeiros pontos a surpreender neste livro, pois, tirando uma ou outra observação que talvez possam ferir susceptibilidades, o autor mantém-se de forma bastante sólida no âmbito do humor. E, tendo em conta as inevitáveis referências a discussões, falta de espaço nos armários, ciúmes e outras mais ou menos estranhas facetas do mundo das relações, isso está longe de ser tão fácil como parece.
O que me leva a outro ponto forte, e esse diz respeito à forma como, apesar dos inevitáveis lugares comuns que abundam sobre este tema, há uma perspectiva muito própria na forma de escrever do autor. São textos leves, divertidos, centrados numa - hipotética - experiência que serve de base a todo um conjunto de - também hipotéticas - orientações. O que é interessante também na medida em que se evitam umas quantas generalizações.
Voltando ainda à questão da misoginia, importa ainda referir um outro aspecto. Se, no geral, o autor consegue evitar bastante bem cair em comentários sexistas, há um texto em particular em que vai um bocadinho mais longe, realçando, num estranho derby desportivo, as principais qualidades dos dois géneros. Texto esse que acaba com muitas dúvidas sobre as possíveis intenções de algumas observações feitas no livro.
Claro que, sendo este um livro em que todas as crónicas têm, basicamente, uma base comum, há um efeito secundário. Pode chegar-se a um ponto em que se fica com a impressão de alguma repetição de ideias. Ainda assim, o tom descontraído - e divertido - dos textos compensa amplamente estes laivos de previsibilidade.
Divertido e cativante, este é, pois, um livro que, apresentando-se como um suposto guia para - ou sobre - o que faz um homem a sério, consegue, a partir de tudo o que de complexo e de caricato há nas relações, proporcionar uma leitura leve e descontraída. E interessante para leitores de ambos os géneros.
Título: Faz-te Homem
Autor: Luís Coelho
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário