sábado, 28 de novembro de 2020

Dylan Dog - Após um Longo Silêncio (Tiziano Sclavi e Giampiero Casertano)

Dylan Dog é um eterno apaixonado e o amor que está a viver significa que está invulgarmente feliz. Mas também a felicidade pode esconder perigos na sombra de velhos vícios. Ao receber a visita de um alcoólico que sente a presença - e o silêncio - da mulher morta, Dylan espera, talvez, encontrar algo em que se concentrar. Mas os seus próprios fantasmas estão mais presentes do que nunca e o silêncio que Owen sente é também palpável para Dylan. O caminho para o fundo é demasiado fácil de percorrer... mas Dylan sabe que tem de lá chegar para depois tentar recomeçar.
A primeira coisa que importa dizer sobre este livro é que, apesar da premissa e do que a capa possa insinuar, esta não é a habitual história de fantasmas. É possível que os haja, sim, mas há algo de absurdamente poderoso em como, apesar do ponto de partida que serve de base a todo este caminho - o silencioso fantasma de Edith - são os fantasmas dos vivos... da própria vida, talvez... os que movem a verdadeira intensidade desta história. E intensidade profunda, de ficar de lágrimas nos olhos, de sentir no fundo da alma o impacto de uma palavra, de atravessar, talvez, um pouco da luta porque as personagens passam e querer compreendê-las. Intensidade do tipo que se grava no âmago do ser.
Claro que ler Dylan Dog é também sempre sentir um pouco o eterno fraquinho pela personagem absurdamente romântica, mas de amores passageiros, um tanto ou quanto bizarra com o seu Judas Dançarino e com uma visão do mundo sempre na fronteira entre o normal e o sobrenatural. Mas o Dylan Dog deste livro é simultaneamente o mais irascível e o mais vulnerável, o mais revoltante e o mais atormentado. E esta história de fantasmas e de silêncio não é só a do seu cliente, pois silêncio e fantasmas são também o que o move.
E, explorado todo este absurdo impacto emocional, importa também falar um pouco da parte visual, em que, mais uma vez, sobressaem os cenários (e particularmente as igrejas) e a expressividade. E é mais do que nunca esta que se destaca: a expressividade de um rosto onde a destruição é visível em contraponto à inocência. Crystal e Edith, Owen e Dylan, são opostos complementares... num longo silêncio. E a expressividade dos rostos transborda da emotividade das coisas. E o caminho do luto e do vício torna-se... vivo, no fundo.
De ficar de lágrimas nos olhos, de sentir no fundo da alma o impacto de uma palavra, de atravessar, talvez, um pouco da luta porque as personagens passam e querer compreendê-las. Repito-me para resumir a essência. Porque é esta a marca que fica deste breve, mas tão fascinante livro: que, após um longo silêncio, vai direito ao coração.

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