quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

O Cardeal (Nuno Nepomuceno)

Uma criança desaparece a caminho da escola, acabando por ser encontrada morta e com óbvios sinais de violência. Uma idosa desaparece da casa onde vivia e os seus membros são encontrados espalhados pela neve. Um escritor famoso é acusado destes crimes, após ter sido visto a fugir de um dos locais, e consequentemente detido. Mas nem todos acreditam na sua culpa. De regresso a Cambridge, morada dos seus fantasmas, o professor Afonso Catalão dá por si intrigado pelo caso e a acreditar na inocência de Adam Immanuel e começa a seguir as pistas do que não bate certo. Mas não são estes os únicos crimes a chamar a atenção. No Vaticano, o papa foi assassinado de forma brutal - tal como a sua reputação. E Diana, que nunca deixou de investigar certos aspectos, vê-se novamente atraída para o mistério. Até porque também aqui parece haver um culpado óbvio - mas as teias da intriga são bastante mais complexas...
Parte do que torna esta série tão empolgante, e isto aplica-se, na verdade, a todos os volumes, é a mistura de proximidade e de surpresa constante. Proximidade porque, a cada novo volume da série, Afonso e Diana vão-se tornando quase que da família, figuras conhecidas de quem gostamos e que é sempre um prazer reencontrar. Surpresa... bem, por tudo. Tudo é surpreendente nestas histórias, desde a sempre complexa teia de intrigas às sucessivas revelações que se vão manifestando. Além disso, ao acompanhar de perto os múltiplos fios, e não só o percurso de Afonso e de Diana, o autor explora com precisão todas as complexidades da intriga, além de despertar emoções fortes - sejam de empatia ou de aversão - que não se cingem apenas aos protagonistas.
Sendo certo que todos os livros desta série têm uma história central independente, neste caso, é mais evidente do que nunca que o impacto se intensifica conhecendo toda a história anterior. Há muitos elos que vêm de livros anteriores, sobretudo de A Morte do Papa (mas não só), o que faz com que o conhecimento prévio torne a visão global ainda mais impressionante. Além disso, as ligações de Afonso e de Diana - passadas e presentes - têm uma evolução ao longo da série. E este percurso pessoal é também fascinante de se acompanhar.
Ainda um outro ponto que merece especial destaque - e outro contraste poderoso - é o equilíbrio entre proximidade emocional e ambiguidade moral. Não é em Afonso e Diana que isto mais se manifesta (ainda que seja particularmente interessante ver a forma como a jornalista lida com as recusas...), mas mais nos alvos da sua investigação. Há figuras que parecem, apesar de tudo, intrinsecamente boas, mas que escondem facetas sombrias. Outras, pela personalidade irascível, parecem inocentes improváveis, mas... o rumo dos acontecimentos pode fazer-nos mudar de opinião múltiplas vezes. A verdade é que ninguém é o que parece e nenhuma explicação é tão simples como à primeira vista aparenta ser. E, assim, de surpresa em surpresa, de revelação e revelação, vamos sendo empolgantemente - e imparavelmente - conduzidos rumo a um final poderosíssimo.
O que fica no fim desta leitura? A sensação de uma viagem deliciosamente atribulada, cheia de intensidade e de surpresas, o sempre agradável reencontro com personagens que é sempre um prazer rever, e uma intensa e avassaladora história de intrigas, crimes e segredos que prende do início ao fim e deixa logo saudades do professor Afonso Catalão. Numa palavra? Soberbo.


Esta é minha recomendação para a campanha Prosa e Poesia da editora educativa Twinkl.

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