segunda-feira, 8 de março de 2021

Spaghetti Bros (Carlos Trillo e Domingo Mandrafina)

Chegaram à América quando eram pequenos, após terem perdido a mãe durante a viagem. Mas a vida reservava muitos caminhos diferentes aos irmãos 
Centobucchi. Um tornou-se mafioso. Outro tornou-se polícia. Outro ainda tornou-se padre. E, quando às irmãs, uma tornou-se mãe de família enquanto outra se tornou atriz de filmes eróticos. Entre si, foram-se protegendo e atacando, escondendo e confessando. E, agora que são adultos, continuam a ter segredos. Uma coisa é certa: nenhum deles é um santo. E a vida que levam, entre o poder e o crime, é tão complexa quanto peculiar.
Um aspecto que desde muito cedo se destaca neste livro, e que nunca desaparece, nem mesmo quando as personagens começam a tornar-se familiares, é a mistura de estranheza e de fascínio que envolve esta família singular. Dadas as suas ligações e escolhas de vida, não é propriamente surpreendente a ambiguidade moral. Mas é esta ambiguidade moral que tão facilmente gera empatia como aversão e mantém vivo o equilíbrio entre a estranheza e a envolvência.
É que, com todas as peculiaridades e choques, até porque esta família não é propriamente composta por cidadãos cumpridores da lei, a leitura é, ainda assim, surpreendentemente leve. Talvez se deva, em parte, também ao aspecto visual, que, sem grandes elaborações em termos de cenário, consegue, ainda assim, ser de uma exactidão notável ao nível da expressão de emoções, mas vem, acima de tudo, do contraste emocional dos acontecimentos propriamente ditos. Há crime e brutalidade, ou não fosse um dos irmãos um mafioso sem escrúpulos... mas diga-se que não é o único com esqueletos no armário. E há também episódios surpreendentemente divertidos (muitos deles envolvendo uma cruz) que vêm acrescentar um toque de leveza a um percurso que é, na sua globalidade, bastante sombrio.
E há... bem, uma família, em toda a sua gloriosa disfuncionalidade. Os laços de protecção parecem estranhamente sólidos, tendo em conta algumas das decisões dos irmãos. E se há também princípios, no mínimo, duvidosos (e, mais uma vez, não só da parte do irmão mafioso), importa ter em conta a época e o meio em que esta história se passa e reflectir em muito do que, desde então, se tornou inaceitável.
Estranheza e fascínio, portanto, numa história estranhamente leve, apesar dos elementos de crime e crueldade. E uma história de irmãos que nem sempre são amigos, mas cujos caminhos diferentes não os conseguiram afastar. Pelo menos ainda...

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