quinta-feira, 21 de outubro de 2021

História de Portugal à la Carte (António Botto Quintans)

Feita de grandes explorações e de igualmente grandiosas batalhas, dos meandros da sucessão dinástica e de intrigas que levam a alterações no poder, a história de Portugal é vasta e repleta de episódios notáveis. Mas e se os tempos colidissem? Se figuras, acontecimentos e referências dos nossos dias fossem transpostos para o passado, exercendo aí a sua peculiar influência? Quem sabe? Mas o resultado bem poderia ser este: uma série de episódios peculiares, sem qualquer semelhança com a realidade, mas, ainda assim, estranhamente divertidos e cativantes.
O primeiro aspeto a chamar a atenção para este livro, e provavelmente também a sua grande força, é o facto de ser absolutamente inusitado. Figuras da atualidade a conviver com figuras históricas? Tem tudo para ser estranho. Desde a influência do Bollycao na fundação do reino à cooperação entre Jorge Jesus e Vasco da Gama (não, não é o clube de futebol), passando por toda uma série de elementos caricatos que vão surgindo nas diferentes histórias, tudo neste livro é inaudito. Mas o que torna tudo tão divertido é o equilíbrio entre surpresa e naturalidade: tudo é improvável, claro, mas lê-se como se não o fosse.
Outro ponto interessante é que todas estas reconstruções da história são relativamente breves, o que confere uma certa leveza à leitura. Além disso, não faltam referências fáceis de reconhecer, tanto na parte histórica, como na parte atual. E, sendo certo que as histórias são bastante simples, há algo de estranhamente delicioso em reconhecer as várias referências que vão surgindo quando menos se espera.
Ainda uma última nota para referir outro agradável equilíbrio: é que cada episódio é essencialmente independente, mas existem pequenas ligações - e não, não vêm da própria linha cronológica da história real - a criar uma sensação de coesão. Ora, essa sensação é particularmente agradável no meio deste conjunto de cenários caricatos, pois, mais do que a sucessão de dinastias, ou a mera inevitável passagem do tempo, coisas como o estalo que se torna referência durante gerações ou o regresso constante aos mesmos inesperados lugares fazem deste conjunto de histórias também uma história própria.
Breve e descontraído, caricato e cativante, eis, pois, um livro que parte da história para fazer... bem, histórias. Histórias simples, mas de leitura muito agradável, e em que não existe qualquer semelhança com a realidade. Nem mesmo por coincidência.

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