As cidades têm vida. Têm a vida das ruas por onde as pessoas deambulam, dos monumentos que a contemplam dos séculos, das árvores que lhes dão cor, dos dias e das noites que as banham. Têm também a vida das pessoas que nelas habitam, que por elas passam, que por aí se perdem e encontram e descobrem novas formas de ser. É dessas vidas de Lisboa - as da cidade e as das gentes - que esta poesia é feita.
Ao percorrer as páginas deste livro, existem facetas que se destacam em forma e em conteúdo. Em forma, a cadência, a rima, o entrelaçar dos vários poemas numa estrutura coesa e a forma como tudo isto flui com naturalidade. Em conteúdo, as imagens inesperadas, a mistura de emoção, contemplação e paisagem e a surpreendente proximidade emocional de uma poesia que é, apesar de tudo, relativamente descritiva.
Mas o que sobressai realmente... bem, é a forma como ambas as facetas se entrelaçam e a estranha e fascinante imagem que projetam. Não é preciso conhecer bem Lisboa para entrar nesta leitura e ficar com a sensação de que se deambula pelas suas ruas, pelas suas tradições, pelas suas vidas. Há como que uma presença nas próprias palavras que é tangível em si mesma. E não é preciso conhecer as gentes que a povoam - neste livro, entenda-se - para sentir o mesmo fascínio, ainda que nem sempre se compreendam as especificidades da escolha, a forma de vida escolhida.
E a este entrelaçado juntam-se contrastes e ambiguidades. Como uma viagem pelo desconhecido, há surpresas que marcam e outras que desconcertam, há palavras que aproximam e outras que afastam, há rasgos que ficam na memória e outros que deixam apenas uma vaga perplexidade. É como se todas as facetas convergissem num todo complexo, onde há momentos mais e menos marcantes, mas onde tudo pertence.
Um ritmo próprio, uma voz eficaz e, acima de tudo, uma contemplação de que o afeto pelo tema sobressai com a máxima clareza. Eis a raiz deste pequeno livro de poemas sobre uma cidade que é também pessoas. E, acima de tudo, vida.
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