O medo faz parte da vida. E quando somos pequenos, as pequenas coisas podem tornar-se grandes medos. Mas... nem sempre. Que o diga o monstro deste livro que, apesar de se ter instalado debaixo da cama de uma criança, não consegue assustá-la por mais que se esforce... E não falta criatividade nas suas tentativas.
O ponto mais surpreendente desta pequena história vem, naturalmente, da perspetiva que assume. Afinal, a ideia do monstro debaixo da cama não é propriamente nova, mas ver as coisas da perspetiva do monstro? Já é algo diferente. Além disso, o medo e a procura de formas de lidar com ele são algo de perfeitamente natural. Mas o que resulta desta visão é algo de mais simples, mas também bastante certeiro: opor ao medo a serenidade.
Outro elemento importante prende-se, naturalmente, com o aspeto visual. Sendo um livro para crianças, as imagens dizem tanto como as palavras. Neste caso, sobressaem dois pontos: a carta, que constrói uma imagem do monstro mais vulnerável e falível (tem, aliás, o seu próprio lado infantil, o que cria paralelismos interessantes com a imaginação do seu impassível rapaz); e o contraste entre os deliberados desenhos rabiscados desta carta e as ilustrações mais vivas e complexas que a complementam, dando uma visão mais clara de quem é este monstro frustrado com a sua vida profissional.
É, naturalmente, uma história breve, e bastante simples. Não há grandes reviravoltas nem grandes desenvolvimentos. Ainda assim, há uma exceção peculiar. Dada a forma como a história é escrita, quase que se antecipa um certo final... e depois as coisas seguem um rumo que não é bem o esperado, numa conclusão menos linear, mas mais forte, para esta carta de aparente despedida.
Simples, cativante e com o seu quê de enternecedor, trata-se, em suma, de um belo ponto de partida para uma primeira reflexão sobre o medo. E para uma perspetiva diferente dos monstros debaixo da cama da nossa própria imaginação.
Sem comentários:
Enviar um comentário