O Grupo Leya, a Editorial Caminho e a Fundação José Saramago lançam hoje, em conjunto com vários parceiros, a campanha "Uma Jangada de Pedra a caminho do Haiti". Trata-se de uma acção de solidariedade para com as vítimas do sismo no Haiti.
A ajuda será dada através da venda de uma edição especial do livro "A Jangada de Pedra", disponível nas livrarias portuguesas a partir da próxima sexta-feira. Os 15 Euros do valor do livro serão directamente doados, na sua totalidade, para o Fundo de Emergência da Cruz Vermelha Portuguesa.
No seguimento de uma ideia da Fundação Saramago, a Leya mobilizou a sua estrutura, bem como todo um conjunto de entidades, de modo a tornar possível esta campanha, inédita em Portugal e operacionalizada em tempo recorde. A grande disponibilidade demonstrada pelos parceiros permitiu colocar em marcha esta acção. Estão envolvidos na campanha as seguintes empresas: Agfa, Eigal, Plásticos Pando, JDC, Ibero Fibra, Torras Papel, Inapa, Gráfica 99 e Ideias com Peso. Das entidades que aceitaram prontamente colaborar fazem também parte as livrarias e grandes superfícies que ofereceram os seus espaços para a venda do livro: Almedina, Bertrand, Sonae, Fnac, Auchan e Press linha bem como muitas outras das principais livrarias um pouco por todo o país serão os locais onde o livro poderá ser encontrado. Todos se disponibilizaram para trabalhar gratuitamente em prol do sucesso desta iniciativa.
As editoras de José Saramago em Espanha e na América Latina vão avançar com campanhas semelhantes nos respectivos países.
Ao empenho de todos os parceiros envolvidos, junta-se agora o desejo de que a comunidade corresponda, dirigindo-se às livrarias e adquirindo esta edição especial, sabendo que ao fazê-lo estará a realizar um donativo directo, no valor de 15 euros, para a Cruz Vermelha que, por sua vez, o aplicará no seu esforço de apoio às vítimas do sismo no Haiti.
Trata-se da primeira campanha na qual o valor total de um livro reverte na íntegra para uma causa humanitária. É também a primeira vez que editoras, papeleiras, gráficas, transportadoras e o retalho se unem neste tipo de acção.
A campanha "Uma Jangada de Pedra a caminho do Haiti" prolongar-se-á até 28 de Fevereiro de 2010.
Fonte: Caminho
OS ESFORÇOS PARA ACUDIR AO HAITI (MAIS UMAS INICIATIVA...)
ResponderEliminarÉ um lugar comum. Os esforços para acudir às vítimas da tragédia do Haiti não serão
nunca demais. Morre-se em cada hora que passa. Cerca de 120 mil mortos, um grau de
destruição quase inimaginável, a agonia das estruturas
estatais/assistenciais/administrativas de um País. Pobre
situação a de um povo que começou a sua História lutando pela liberdade contra os donos
de escravos franceses no início do século XIX, que venceu essa prova, mas que tem
conhecido guerras internas, invasões e ocupações estrangeiras, além de desastres
naturais, ao longo de dois séculos... para já não falar das ditaduras que pouco dignos
filhos seus exerceram.
É curioso ver como se unem esforços.
Uma iniciativa em particular chama a atenção. O Nobel português, José Saramago , vai
promover uma edição especial de solidariedade do seu livro de 1986, "Jangada de Pedra".
Citando agências noticiosas e a sua fundação, «a acção de solidariedade reverte a favor
das vítimas do sismo do Haiti e decorrerá
futuramente também em Espanha e na América Latina. O livro custa €15 e estará disponível
nas livrarias a partir de sexta-feira; e porque, segundo o próprio Saramago "todos temos
uma obrigação", a campanha "Uma Jangada
de Pedra a caminho do Haiti" vai prolongar-se até 28 de Fevereiro de 2010.»
Recorde-se que esta obra descreve um cenário imaginário, no qual uma espécie de
terramoto lento separa a Península Ibérica do resto da Europa, e a coloca à deriva, como
uma gigantesca ilha, no que é interpretado por alguns críticos como uma das primeiras
manifestações de iberismo deste escritor. A catástrofe imaginária terá levado o autor a
escolher este livro
para esta acção, em que se procurará acudir às carências resultantes de uma catástrofe
real.
O livro é ainda hoje muito citado. Não parece crível que o autor, com este gesto,
esteja a sugerir que a Haiti se deva deixar governar por alguma potência externa e
vizinha, como por exemplo a República Dominicana, já que Saramago é um conhecido lutador
pela liberdade dos povos e pela direito à auto-determinação, como recentemente se viu em
relação ao Sahará ex-espanhol. Aliás, no livro, o Nobel não hesita em ironizar sobre as
esperanças espanholas sobre Gibraltar... que não acompanha a península na imaginária
ruptura geográfica... referindo mesmo que sobre este litígio o português é pouco
"sensível" ... já que «a sua mágoa histórica chama-se Olivença e este caminho não leva
lá.»(página 89)
Receia-se, porém, que Saramago não seja bem compreendido nesta sua iniciativa, por
causa da escolha desta obra em concreto, e que poderá sujeitar-se a alguns comentários
algo cépticos.
Penso que todas as iniciativas a favor do Haiti serão positivas, desde que eficazes
e desinteressadas. Esta não será excepção, mas penso que Saramago, e ele que me desculpe,
poderia ter escolhido outro texto. Valha-nos a qualidade literária!!!
Estremoz, 27 de Janeiro de 2010
Carlos Eduardo da Cruz Luna