quinta-feira, 5 de maio de 2011

Querido Ollie (Stephen Foster)

Deste tipo de livro espera-se uma história de afecto, da relação progressivamente mais forte que se estabelece entre um humano e o seu animal de estimação. E diga-se que Ollie tem momentos em que surge como um cão encantador. A sua história de animal abandonado é apenas o início de um percurso de aprendizagem, mas também de grandes dificuldades, e, nos seus melhores momentos, Ollie mostra-se cheio de energia e vontade de interagir.
Mas não é ternura o que transparece deste livro e deixem que repita: o problema não está no cão. O que é apresentado como a história de Ollie acaba por ser um livro que é, fundamentalmente, revelador acerca das posições do seu dono. E a imagem que transparece é tudo menos positiva. Para começar, os motivos que levam o autor a adquirir o seu cão não estão nem sequer relacionados com o amor aos animais, mais sim com a história da sua companheira e do cão que esta partilhara com o ex. Além disso, os momentos de genuíno interesse para com o novo animal de estimação são intercalados com situações de quase fúria e de nítida negligência, numa relação que é mais baseada nas ideias pré-concebidas que o autor tinha sobre a relação com animais de estimação que propriamente numa verdadeira vontade de acolher e cuidar do dito animal.
E os preconceitos transparecem não só na forma de lidar com um animal (e aqui destaca-se a afirmação de que todos os cães abandonados são inevitavelmente problemáticos), mas pela forma como o autor se refere às pessoas que se cruzaram no seu percurso, escarnecendo dos donos de certas raças de cães numa atitude que chega a roçar o ofensivo. Atitude que, marcada desde cedo por um tom arrogante e algo agressivo, atinge um máximo de choque no momento em que a relação problemática entre cão e dono parece ser resolvida por uma tentativa de abandono.
Poderia ter sido uma leitura interessante, já que, em alguns aspectos, Ollie se revela, de facto, um cão problemático e, portanto, um desafio a superar. Mas todo o tom com que a sua história é contada, agressivo em várias situações e egocêntrica numa boa parte do texto, retira à narrativa muito do interesse. E é pena. Mas realmente não consegui gostar deste livro.

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