quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Contos da Raia (Luís Faria)

Com algo de tempos passados e um toque de magia, são dez os contos que constituem este pequeno livro. Com protagonistas humanos e animais, situações trágicas ou divertidas, há uma relativa diversidade que faz com que alguns contos sejam mais cativantes que outros, mas também com que o todo da obra seja mais abrangente. Houve, portanto, contos mais marcantes e outros que deixaram a impressão de qualquer coisa em falta. 
Feitiço, o primeiro conto do livro, conta a história de um animal doente de amor e das tentativas de o curar. Em tom de lenda popular, dispersa um pouco nos pormenores, mas a ideia geral é bastante interessante e há alguns momentos muito bem conseguidos. É, ainda assim, um conto um pouco confuso, apesar de ser bastante interessante a introdução do sobrenatural.
Segue-se O Burro Indolécio, história da morte do burro que dá nome ao conto. Curto, deixa a impressão de que mais poderia ser dito desta história. Ainda assim, a ideia base é interessante e o essencial está lá.
Em O Cão Danado, uma bruxa, um príncipe e alguns desejos são os elementos que definem um conto simples, mas cativante, em estilo de conto de fadas, mas com alguns momentos... peculiares. Com um toque de magia e alguns laivos de macabro, uma boa história.
Afecto, perda e desgosto no mundo animal definem O Capador de Galos, história de uma galinha que fica sem os seus ovos e definha de desgosto. Em jeito de fábula, cria um interessante paralelismo entre o comportamento dos animais e alguns gestos da natureza humana. Surpreendente, com momentos de humor e até alguns laivos de crítica social, uma leitura agradável.
O Coto do Fogo conta a história de um fenómeno e da reacção dos que o avistaram. Descritivo e escrito de forma algo elaborada, surpreende pela ideia interessante e pelo desenvolvimento surpreendente. Por sua vez, Marília trata de amor impossível, de abandono e de morte, num conto dramático e intenso, ainda que, na sua brevidade, deixe por desenvolver aspectos que poderiam ter sido mais explorados.
De um funeral e do homem que o observa trata O Bastardo. Intenso na forma como as palavras transmitem a tragédia, surpreendente no rumo dos acontecimentos, um conto que é, em simultâneo, terno e trágico.
As Alminhas da Ponte apresenta um homem que chora diante de umas alminhas, e a sua história. Retrato marcante de dor e de perda, reflecte também uma certa inocência e a aceitação perante os milagres possíveis. Também de perda trata Um Sonho de Natal, história de uma criança que pede esmola e se vê rejeitada. Aqui, destaca-se o contraste entre os muito ricos e os muito pobres, bem como o desprezo de uns para com os outros. Um conto breve, mas marcante na sua simplicidade.
Por último, O Ilustre Presidente fala de um homem aclamado pelos seus, mas sem grandes características de valor. Um pouco disperso nas longas descrições, marca principalmente pelo bem conseguido contraste entre a celebração e a tragédia, sendo este o momento em que os "importantes" se afastam.
De alguns contos marcantes, e de outros que deixam a impressão de que mais haveria a dizer, o balanço desta leitura é, afinal de contas, positivo, destacando-se os contos de maior intensidade dramática, onde a linha narrativa é mais coesa. Uma leitura breve, mas com alguns contos particularmente interessantes... Gostei.

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