sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Kiss Me Deadly

Aventura, romance e sobrenatural. São estes os elementos essenciais das treze histórias que compõem este livro organizado por Trisha Telep. E é com uma introdução da autora, curta, simples, mas um tanto ambígua que abre esta antologia de contos onde diferentes seres sobrenaturais convivem, em diferentes medidas de afecto e rejeição, com os habitantes do mundo real.
O primeiro conto é The Assassin's Apprentice, de Michelle Zink, história de uma rapariga determinada a matar o demónio que lhe assassinou os pais, bem como do seu encontro com um protector inesperado. Escrito de forma simples, mas cativante, marca principalmente pelo contraste entre a protagonista um pouco irresponsável e o seu carismático protector. Interessante, apesar de alguns momentos um pouco apressados.
Segue-se Errant, de Diana Peterfreund. Tendo como ponto de partida uma cerimónia familiar que envolve a morte de um unicórnio, bem como os dilemas da sua cuidadora, trata-se de uma história cativante, escrita de forma fluída e que tem como principais pontos de interesse a relação entre Gitta e o seu unicórnio, bem como a forma como esta ligação se relaciona com as intrigas da casa de Commarque, dando complexidade e emoção ao enredo. Também de referir a força dos contrastes e atritos entre Elise e Gitta, num bom exemplo dos efeitos negativos do preconceito. Um conto cheio de surpresas, em suma, com um final intenso. Muito bom.
The Spirit Jar, de Karen Mahoney, apresenta uma vampira com a missão de recuperar um livro raro, mas que vê o seu objectivo complicar-se ao cruzar-se com o estranho Adam. Envolvente, com uma escrita agradável - apesar de alguns momentos um pouco forçados, este conto tem o seu melhor no protagonista masculino cativante. Previsível nalguns momentos, trata-se, ainda assim, de uma leitura agradável e emotiva. 
O mesmo se poderá dizer de Lost, de Justine Musk, onde reflexões sobre um acontecimento traumático levam a protagonista a divagar por uma casa supostamente abandonada, mas onde alguém a espera. Uma ideia simples, mas desenvolvida de forma interessante, com uma escrita cativante e um toque de mistério.
The Spy Who Never Grew Up, de Sarah Rees Brennan, apresenta um agente secreto com o infeliz nome de código de 69 e um rapaz muito especial ao serviço de Sua Majestade. Divertido e curioso, este conto apresenta uma interessante (e invulgar) aventura para uma personagem sobejamente conhecida. Um pouco apressado nalguns momentos, mas uma leitura agradável, sendo particularmente interessantes as descrições sobre as mudanças na Terra do Nunca.
Dungeons of Langeais, de Becca Fitzpatrick, é um conto relacionado com a série Hush, Hush, e conta a história de um homem disposto a muito para abalar o anjo que lhe arrancou um duro juramento de fidelidade. Mais um conto cativante, bastante intenso e com um final algo ambíguo. Uma boa história.
Em Behind the Red Door, Caitlin Kittredge une três amigas, uma casa assombrada e o desafio de entrar como pontos base para uma história que, apesar de um ritmo pausado e de um tom bastante descritivo, tem uns quantos momentos interessantes. Demora um pouco a atingir a fase de maior intensidade, sendo, ainda assim, particularmente cativante o desenvolvimento das personagens, principalmente no elemento sobrenatural, com a sua noção disfuncional de amor. Ganha intensidade na fase final, culminando num final surpreendente.
Segue-se Hare Moon, de Carrie Ryan. Relacionada com a série A Floresta de Mãos e Dentes, esta é a história de uma rapariga que sonha quebrar as regras do seu mundo e conhecer a vida para lá dos portões. Uma história interessante, ainda que narrada num tom algo distante e com alguns acontecimentos a surgirem de forma um pouco abrupta, mas uma leitura agradável, ainda assim, com um final intenso e surpreendente.
Familiar, de Michelle Rowen apresenta uma relutante aprendiz de bruxa no momento em que escolhe o seu familiar, sem saber que o gatinho que lhe chamou a atenção não é apenas um gatinho. Cativante e divertido, este conto tem como elementos mais interessantes o facto de ambos os protagonistas serem sobrenaturais, bem como o modo de evolução para a relação entre ambos. Leve e com a medida certa de emoção, uma leitura interessante.
Um dos melhores contos desta antologia é Fearless, de Rachel Vincent. Trata-se da história de uma rapariga com poderes invulgares (e uma história difícil) e da sua estadia num reformatório. Escrita cativante, descrições impressionantes e uma muito boa construção para o poder da protagonista (e a forma como esta o manipula) são os pontos fortes de um conto intenso, envolvente, com uma muito boa caracterização do mundo sobrenatural e a mistura correcta de acção e de emoção.
Em Vermillion, de Daniel Marks, autoridade e sistema hierárquico no mundo dos mortos - e o que acontece quando as regras são quebradas - são desenvolvidas numa narrativa que, intrigante desde o início e com um ritmo algo pausado, cativa pelo interessante sistema desenvolvido, bem como pela curiosa rivalidade que cedo se manifesta entre as duas figuras femininas. Com um sentido de humor curioso, personagens cativantes e alguns momentos de grande tensão que culminam num final intenso, Vermillion é, em muitos aspectos, uma história bastante interessante.
The Hounds of Ulster, de Maggie Stiefvater, conta a história de dois músicos e da interferência de um ser sobrenatural. Com um ritmo cativante e de intensidade crescente, deixa algumas perguntas sem resposta. Tem, ainda assim, como pontos fortes, as referências à lenda de Cú Chulaiin e a descrição da paixão pela música. Misterioso, envolvente e com um final bastante intenso, uma leitura agradável.
Por último, Many Happy Returns, de Daniel Waters, parte de um acidente grave para desenvolver o que poderia acontecer caso os mortos regressassem. Cativante, com uma ideia base muito boa e uma visão comovente de como, perante a perda, é a esperança - qualquer esperança - o elemento essencial. Marcante, levanta algumas questões interessantes. Trágico e intenso, um final muito bom para esta antologia.
Fica, em jeito de conclusão, da leitura de Kiss Me Deadly, o balanço final de uma antologia que, tendo o romance como ponto de partida, desenvolve toda uma diversidade de temas, sistemas e variantes de afecto. Contos diferentes, com diferente impacto sobre o leitor, mas todos eles de leitura agradável fazem com que o balanço final desta leitura seja claramente positivo. Gostei, portanto.

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