O propósito de Clara falhou. Ou não? Na sequência do incêndio em que Clara decidiu ignorar o seu propósito e escolheu Tucker, as consequências parecem ter sido poucas ou nenhumas. Mas, pouco depois, novas visões começam a manifestar-se, desta vez em sonhos, passadas num lugar que Clara não consegue reconhecer, mas onde a tristeza é palpável, o que a leva a considerar a presença de um Asa Negra. Até que Christian reconhece o lugar e Clara compreende o significado da tristeza: alguém que lhe é próximo vai morrer. Agora, ela tem de viver com esse conhecimento, à espera que o momento chegue, enquanto assimila alguns segredos que lhe são - finalmente - revelados e tenta lidar com o perigo que parece pairar sobre os que a rodeiam. E decidir se, apesar das novas revelações, o seu coração continua a escolher Tucker ou se o seu propósito continua, afinal, ligado a Christian.
Com início pouco depois do ponto onde o volume anterior terminou, este livro mantém todos os pontos fortes de Celestial. A mesma escrita leve e fluída, sem grandes elaborações, mas agradável e cativante, marca o ritmo de uma história envolvente, com uma série de eventos surpreendentes e um bom ritmo de acção. Não há já a urgência de concretizar o propósito, como no primeiro livro, mas há, ainda assim, um grande acontecimento à espera de acontecer, e um que irá também abalar a vida de Clara.
Ainda que a situação da protagonista pareça ser agora menos perigosa, em parte porque o acontecimento central está na perda que está para vir, a ameaça não desapareceu e os momentos em que Samjeeza aparece vêm recordar que, ainda que, agora, sejam as questões mais pessoais a abalar a vida de Clara, o conflito continua e o adversário continua a estar interessado nas capacidades da sangue-de-anjo. Há, aliás, algumas revelações importantes sobre o porquê deste interesse, que, aliadas às revelações sobre Christian, levantam, desde logo, algumas questões interessantes quanto ao possível futuro de ambos. Este é um lado do enredo em que muitas perguntas ficam ainda sem resposta, mas é também o centro de algumas das situações mais surpreendentes, quer nas mudanças a nível da família de Clara e das semelhanças que esta tem com Christian, quer na forma como essas revelações justificam, pelo menos em parte, o interesse de Samjeeza.
Se há novas revelações a nível de contexto e uma interessante evolução nos rumos do enredo, há também um crescimento a nível de questões emocionais. O inevitável triângulo amoroso continua presente, mas o seu desenvolvimento não se sobrepõe a todas as outras situações a acontecer, surgindo de forma equilibrada e bem enquadrado nas circunstâncias que dificultam a escolha de Clara. Além disso, as novas revelações sobre a vida familiar da protagonista conduzem o abalo aos sentimentos de Clara num rumo de intensidade crescente e que culmina num final que, não sendo propriamente inesperado, marca pelo forte impacto emocional.
Trata-se, portanto, de uma leitura envolvente e agradável, com uma boa história e o equilíbrio adequado entre acção e emoção. Surpreendente, com a medida certa de romance e uma série de revelações importantes que contribuem para o impacto dos momentos mais comoventes, Anjo Sombrio apresenta uma muito bem conseguida continuidade para a história iniciada em Celestial. Muito bom.
Sem comentários:
Enviar um comentário