sábado, 18 de agosto de 2012

O Assassino 50/50 (Steve Mosby)

Ao chegar atrasado ao seu primeiro dia como detective, Mark Nelson está longe de imaginar o caos que será o seu primeiro caso. John Mercer, o chefe da equipa, tem uma reputação impressionante, mas a história do seu esgotamento, dois anos antes, desperta preocupações nos que o rodeiam. E o homicídio daquele dia parece ter relações com um caso do passado, com o caso que motivou o colapso de Mercer. O responsável, conhecido como o Assassino 50/50 já atacou antes, e está de volta. O método parece ter sofrido algumas mudanças, mas o essencial continua igual: o homem escolhe casais como vítimas, e sujeita-os a uma noite de horror, ao mesmo tempo que obriga um deles a escolher qual dos dois sobreviverá ao amanhecer. 
Sombrio e intenso, centrado no que é, em certa medida, uma corrida contra o tempo, este é um livro que cativa desde as primeiras páginas e cedo se torna de leitura compulsiva. A escrita fluída e a caracterização precisa das motivações e pensamentos das personagens juntam-se a um enredo rico em acção e suspense para dar forma a uma narrativa intensa e surpreendente, viciante e, ao mesmo tempo, complexa na forma como explora múltiplas personalidades num cenário em que tudo está relacionado e nada é o que parece.
Há um lado negro em muitos dos aspectos que fazem parte desta história. O mais evidente é, desde logo, o modus operandi do assassino. Assente sobre actos de tortura e manipulação, perturba pelas acções em si, mas também pelas razões que as motivam, já que, na mente retorcida do criminoso, o objectivo está mais em atingir e quebrar a relação que os elementos que a constituem. Isto serve de base a uma muito interessante abordagem aos demónios e complexidades das relações humanas, e não só nos meios que o assassino usa como armas de destruição, mas pela forma como, na mente das vítimas e, de forma diferente, na história passada de Mark e Mercer, a consciência das escolhas e das consequências destas surge como um fardo permanente. Também aqui se reflecte o tal lado negro das coisas, na forma como o autor explora o peso da culpa nas acções das personagens e na forma como esta culpa acaba por influenciar as suas decisões ao longo da investigação.
É fácil sentir empatia para com as personagens. Apesar das circunstâncias tenebrosas e do facto de ser a acção o ponto central da narrativa, a caracterização do que as personagens pensam e sentem e do que as move é completa e equilibrada, revelando tanto o melhor como o pior das suas personalidades em reacção a tudo o que lhes está a acontecer. Aliás, ao construir a narrativa através do ponto de vista de várias das personagens, o autor consegue apresentar a situação de diferentes perspectivas, expandindo também o que cada personagem sente e vê da situação que está a decorrer.
Ainda sobre o enredo e sobre a forma como os múltiplos pontos de vista moldam a percepção daquilo que está a acontecer, importa referir a capacidade do autor de manipular o que está a ser contado sobre a história e as personagens, conduzindo o leitor de revelação em revelação, num enredo em que cada fragmento de informação basta para que tudo mude. Assim, as suspeitas que se mostram erradas e a forma como estas influenciam o curso da investigação mantêm a envolvência numa história que, cheia de surpresas ao longo de todo o percurso, culmina num final marcante e inesperado.
Sombrio,  com um lado negro que se insinua ao longo de toda a história e uma visão particularmente marcante dos demónios interiores das personagens,  O Assassino 50/50 apresenta uma história perturbadora, com um conjunto de personagens fortes e complexas e um enredo rico em acção, suspense e com um toque de emoção. Viciante, intenso e surpreendente... Impressionante.

Sem comentários:

Enviar um comentário