sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Casa dos Sonhos (Liz Fenwick)

Depois da morte do marido, Maddie e a sua enteada adolescente vêem-se obrigadas a vender a casa em Londres e a mudar-se para Trevenen, uma velha mansão que Maddie herdou. A relação entre as duas é tudo menos fácil e, depois da morte de John, Hannah parece canalizar para a madrasta toda a fúria e todo o ódio que sente. Mas Trevenen, apesar dos estragos causados pelo tempo, vai encantá-las a ambas e o mistério da casa e da família de Maddie, bem como a descoberta de Hannah de que a vida naquele lugar pequeno em que todos sabem tudo não é assim tão má, será o ponto de partida de que precisam para resolver a situação de guerra constante em que vivem.
Apesar de ter como ponto de partida uma mudança que resultou de uma tragédia, este livro surpreende, em primeiro lugar, pela leveza da fase inicial. Esta deve-se, em grande parte, a um estilo de escrita simples, em que as descrições se resumem ao essencial e em que, tendo a interacção entre personagens (e, particularmente, as discussões entre Hannah e Maddie) um papel de relevo em toda a história, o diálogo é predominante. Além disso, os atritos entre madrasta e enteada são um dos pontos centrais do enredo, o que faz com que os mistérios da casa e da família surjam numa fase mais avançada da história, deixando o protagonismo aos conflitos da vida familiar e à adaptação à vida em Trevenen.
Mas são esses mistérios o mais cativante do enredo. Se há muito de interessante na história passada das personagens (e no segredo que Maddie carrega consigo desde a morte de John) e na forma como a relação entre Maddie e Hannah acaba por se equilibrar, também é certo que as atitudes de Hannah se pautam, em grande medida, pelos típicos dramas adolescentes, o que dá origem a alguns momentos emotivos, mas também a circunstâncias em que é difícil sentir alguma empatia. Assim, o conflito com Maddie surge de forma bastante credível (pois é certo que há fases na vida em que cada desilusão parece o fim do mundo), mas também como um percurso de situações em que o comportamento das personagens é difícil de analisar. É fácil compreender parte da angústia de Hannah, devido à perda recente e à drástica mudança de vida, mas também é fácil compreender o cansaço de Maddie face a uma linha de comportamento que é, por vezes, revoltante. Mais que empatia, há tensão, e o restante da história empalidece um pouco ante o protagonismo que é dado, por um lado, a este aspecto da vida de Hannah e Maddie e, por outro, às escolhas românticas desta última.
Mas regressando aos mistérios. Antes de Trevenen, há, desde logo, a sombra da promessa que Maddie fez a John e que, sem ser revelada, insinua uma experiência que molda todas as escolhas da personagem e que está na base de um dos momentos mais intensos da narrativa. A isto, juntam-se os segredos da casa, partindo, desde logo, da história da mãe biológica de Maddie e expandindo-se à história das gerações anteriores de habitantes de Trevenen. Há aqui muito de interessante, quer na descoberta dos esconderijos na casa, quer na investigação de Maddie sobre a sua família. São partes da história que acabam por ter uma presença discreta - o que deixa a sensação de que mais haveria a explorar sobre algumas das situações - mas que complementam bem a história mais pessoal da reconstrução da vida de Maddie e da enteada.
História de tragédias pessoais, mas equilibrada com um agradável toque de mistério, trata-se, assim, de um livro cativante, com uma escrita simples, mas envolvente e um enredo que parte de um início quase leve para explorar, depois, um percurso de vidas em que as complicações são sempre inevitáveis. E a isto junta-se a sombra de um passado mais vasto, que podia ter sido um pouco mais desenvolvida, mas que acrescenta, ainda assim, algo de maior a uma história que é, acima de tudo, do crescimento pessoal das protagonistas. Gostei de ler.

2 comentários:

  1. Ainda não acabei mas estou a gostar bastante deste livro será que esta escritora tem mais livros publicados?

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  2. Em português? Não conheço mais nenhum...

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