Quando Wendy e Jack decidiram abrir uma livraria de livros usados numa cidade pequena, não sabiam bem naquilo em que se estavam a meter. Só sabiam que a vida que tinham já não os satisfazia e que precisavam de mudar. Quando viram a velha casa pela primeira vez, souberam que era o lugar certo. Tinham tudo contra eles, mas decidiram arriscar. Foi assim o princípio de uma aventura, com tanto de dificuldades como de revelações. É esta a história que Wendy Welch conta neste livro, e é também uma lição sobre o que significa pertencer verdadeiramente a um lugar.
Há, à partida, duas coisas que despertam curiosidade para este livro. São elas o facto de ser uma história real e de dizer respeito a uma livraria. É muitíssimo interessante acompanhar o percurso de Wendy e Jack à medida que realizam o seu sonho e, a cada passo, vão descobrindo o muito trabalho que lhe está associado. Além disso, o percurso é narrado por Wendy, o que, inevitavelmente, confere aos acontecimentos uma perspectiva muito pessoal.
Sendo o relato de vários anos de vida da livraria, e, portanto, de inúmeras experiências, este é um livro que se define através de sucessivos episódios, conjugados também com uma boa medida de introspecção sobre as lições aprendidas com as experiências mais marcantes. Estas divagações têm, por vezes, a tendência para se alongar, o que torna a leitura algo mais pausada, mas são também muito interessantes pelas questões que levantam, digam respeito à bibliofilia ou à vida em geral. Ainda assim, o que verdadeiramente reforça essas lições são os episódios vividos e nesses há tantos momentos comoventes como divertidos, sendo este um dos grandes pontos fortes do livro.
Quanto às tais questões, há, por vezes, o que parece ser uma preocupação exagerada, principalmente no que respeita à influência dos e-books ou à escolha de determinados livros em detrimento de outros. Ainda assim, mais que essas apreensões mais vincadas, sobressai uma geral abertura de espírito, que contribui em muito para manter a envolvência da leitura.
E ainda uma nota, como seria de esperar, para a vastidão de referências literárias, que não se resumem a uma interessante lista de recomendações da autora, mas que vão sendo apresentadas ao longo do enredo, cuidadosamente encaixadas no contexto em que são referidas. Além de tornar a leitura mais interessante, estas referências são também uma descoberta - de novos autores - e um reencontro - no caso de obras já lidas.
Este é, portanto, um livro que, apesar de muito pessoal, toca, várias vezes, em assuntos e pontos de vista com que muitos bibliófilos se identificarão. Isto e um conjunto de episódios cativantes, emotivos e divertidos, fazem deste A Minha Pequena Livraria uma leitura envolvente e interessante. Gostei.
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