Muitas coisas mudaram com o fim da Segunda Guerra Mundial, mas continuam a ser muitas as batalhas a travar. Na Alemanha, dividida pela construção do muro, alguns vivem a aurora da liberdade, enquanto outros permanecem sob um regime repressivo. Nos Estados Unidos, luta-se pelos direitos civis, ao mesmo tempo que as relações externas se tornam cada vez mais complicadas, com as tensões da Guerra Fria a ditar o sentido de todos os passos. Na União Soviética, dividem-se os pensamentos entre um conservadorismo a toda a prova e alguns ímpetos reformistas prontamente silenciados. E, um pouco por todo o mundo, os descendentes das cinco famílias que já aprendemos a conhecer, travam as suas lutas pela vida que desejam e pelos ideias que querem tomar como seus.
Sendo esta a conclusão de uma trilogia com bastantes pontos fortes, é apenas natural que as expectativas para esta leitura sejam bastante elevadas. Expectativas essas a que o livro corresponde inteiramente. Com bastantes pontos comuns com os anteriores - como, de resto, seria de esperar - mas também com umas quantas diferenças, No Limiar da Eternidade dá seguimento ao percurso através da história do século XX com a mesma envolvência e o mesmo impacto dos volumes anteriores.
E um dos pontos fortes deste livro é, de facto, comum aos restantes volumes. Trata-se, claro, da capacidade de o autor conjugar um sólido desenvolvimento do contexto histórico com as histórias pessoais dos seus protagonistas. Esta é tanto a história de Tanya e Dimka, George e Maria, Cam, Beep, Jasper, Walli, Dave e todos os outros, como a de um mundo em constante mudança. E este equilíbrio torna-se particularmente interessante tendo em conta que, neste livro em particular, não há um único conflito para o qual todas as circunstâncias convergem, mas uma série de situações que, apesar de situadas em diferentes pontos do espaço e do tempo, acabam por ter uma grande influência no cenário global.
Ora, a coexistência dos diferentes temas, associada ao grande número de personagens relevantes, cria a ideia de um maior dispersão de temas e de histórias. Cada personagem tem as suas convicções e as suas lutas pessoais, bem como um contexto particular em que se move. Ainda que, na totalidade, haja um cenário global em que cada um dos grandes acontecimentos tem algum impacto em todos os outros, as linhas de acção das personagens são agora mais separadas. E é daqui que surge um outro ponto forte. É que, apesar desta maior dispersão, continua a manter-se a mesma envolvência e a mesma vontade de saber mais sobre as personagens e o tempo em que se movem.
Quanto às personagens, sobressaem alguns aspectos particularmente fortes. O primeiro prende-se com as emoções que conseguem despertar, nos seus comportamentos mais nobres ou nos mais revoltantes, e na forma como reagem tanto aos grandes momentos como às pequenas coisas. O segundo está na forma como estas personalidades bem definidas contrastam ou encaixam com as dos seus antepassados (conhecidos, naturalmente, dos volumes anteriores, e alguns deles ainda presentes neste último livro). E o terceiro está nas relações que, de forma mais ou menos inesperada, contribuem também para reforçar a ideia de uma união global a emergir dos casos particulares.
Por último, e ainda, de certa forma, falando das personagens, uma nota para a forma como as suas histórias são concluídas, num final que não dá todas as respostas e em que nem todos os heróis têm a sua recompensa nem todos os vilões o seu castigo. Um final em aberto, quanto a certos aspectos, que deixa a impressão de que mais poderia ser dito em jeito de conclusão, mas que acaba por ser, apesar de tudo, o mais adequado. Afinal, os finais só acontecem quando a vida acaba...
Somadas todas as partes que definem esta história, a impressão que fica é a de uma leitura extensa, mas sempre envolvente, com personagens cativantes e um muito bem conseguido equilíbrio entre contexto histórico e histórias pessoais. Uma conclusão mais que adequada para uma longa, mas gratificante viagem. Muito bom.
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