Vanessa "Michael" Munroe tem um dom e a capacidade de o usar. Mas o facto de tirar vidas, independentemente das razões, assombra-lhes os sonhos. Sabe que é uma arma mortífera, mas isso não significa que goste de o ser. Por isso, quando um velho amigo lhe pede um favor, Michael aceita-o tanto pelo amigo como por si mesma. A missão é a de recuperar uma criança que foi raptada e levada de volta para a seita de que os pais em tempos fizeram parte. Mas fazê-lo exige meios e uma estratégia definida até aos mais ínfimos pormenores. Para cumprir a sua missão, Munroe terá de entrar no mundo fechado dos Eleitos ao mesmo tempo que controla as emoções dos seus aliados. Mas até o mais meticuloso dos planos tem as suas falhas... e o imprevisto pode mudar o seu rumo de acção.
Com o mesmo registo pausado do livro anterior, e mais centrado na informação que no conflito, este é um livro que, em termos de características essenciais, não surpreende quem já leu A Informacionista. Tal como no livro anterior, a história divide-se entre a missão em si e os fantasmas e conflitos interiores da própria Michael, fazendo com que a narrativa avance de forma mais lenta, mas aprofundando mais as complexidades das personagens e, também tal como no livro anterior, a este ritmo mais lento juntam-se picos de intensidade que fazem com que, ainda que a leitura exija o seu tempo, nunca se torne monótona.
Também um aspecto interessante é que, neste caso em particular, os elementos da missão tornam-se, por vezes, muito próximos dos da história da própria Michael, o que reforça o equilíbrio entre as duas componentes. Por um lado, explica o porquê de Michael aceitar a missão quando as condições são em tudo diferentes da anterior e, por outro, permite um vislumbre do lado mais humano da protagonista. Lado esse que se reflecte não só nos raros momentos emotivos mas também na forma como influencia aqueles que com ela interagem.
Mas é da missão propriamente dita que acaba por surgir o aspecto mais marcante dessa leitura. O funcionamento dos Eleitos, com a ideologia e as acções que lhe estão associadas, levanta várias questões pertinentes, não só relativamente à protecção dos mais fracos mas também sobre a forma como uma determinada ideia se propaga e perpetua. E é também neste aspecto que fica a impressão de que haveria um pouco mais a contar, principalmente no que diz respeito a Heidi e Gideon. Ainda assim, no que diz respeito à linha essencial do enredo, não fica nada de essencial por explicar.
Trata-se, portanto, de um livro envolvente, que, apesar do ritmo pausado e da distância inicial, cativa pelas motivações das personagens, pelo mundo em que se vêem envolvidas e pela forma como, entre dúvidas e revelações, tudo se conjuga numa história intensa e surpreendente. Tudo somado, uma boa leitura.
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