Sophie Brinkmann não vê muitas alternativas no seu futuro. Ligada, contra a sua vontade, à organização criminosa do homem com quem teve uma relação, e que agora permanece em coma enquanto o seu império desmorona, Sophie tem de seguir as instruções de Aron Geisler, braço direito de Hector, e fazer com que os seus associados pensem que tudo está controlado. Mas ela sabe que não é assim e, quando se vê sozinha numa posição complicada, Sophie faz uma escolha. Uma escolha que até pode ter boas intenções, mas que traz resultados terríveis. E que a porá no centro de uma situação ainda mais perigosa, e de uma teia de investigações que, sem que ela o saiba, pode trazer ainda mais problemas.
Dando continuidade aos acontecimentos de O Amigo Andaluz, O Outro Filho tem com este muitos pontos em comum. Mantém-se a complexidade de um enredo em que há muitas personagens, cada uma com as suas motivações e intenções, na base de uma intriga (ou conjunto de) complexa e em que há tanto de cativante como de disfuncional. Mas há também um factor de evolução que contribui para que seja muito mais fácil entrar no ritmo deste livro: é que, talvez por grande parte das personagens serem já conhecidas, ou por a história se encaminhar para um conjunto de situações de maior impacto, o ritmo do enredo é muito mais intenso, o que aumenta em muito a envolvência do enredo.
Outro ponto que se mantém, mas agora a um nível muito mais evidente, é a ambiguidade moral das personagens. Não há, de todo, uma linha definida entre os bons e os maus, até porque, num ou mais aspectos, praticamente todas as personagens tem algo - ou bastante - de mau. Mas mais que isso. Há momentos em que as personagens aparentemente mais sem escrúpulos parecem revelar uma maior humanidade, enquanto que as supostamente boas demonstram a dimensão da sua verdadeira frieza. Tudo é ambíguo, pois todos são capazes de tudo nas circunstâncias certas. E também isto torna a história intrigante, pois é quando postas perante a necessidade de escolher, pesando ou não as consequências, que as personagens tomam as decisões que alteram o rumo da história.
Claro que esta ambiguidade tem uma contrapartida. É que, por mais que nos preocupemos com as circunstâncias de algumas personagens - e, felizmente, há algumas que, de forma mais ou menos discreta, acrescentam a esta teia de crueldade um muito refrescante rasgo de inocência - quando as suas escolhas são, inevitavelmente, cruéis, cria-se para com elas uma sensação de distância. Ainda assim, e sendo este o segundo volume da trilogia - e um volume que deixa muitas perguntas em aberto - há ainda muitas hipóteses de redenção para estes actos menos compreensíveis das personagens.
Trata-se, portanto, de um livro mais intenso que o anterior, mas igualmente complexo na intriga e invulgar na caracterização do lado mais disfuncional das personagens. Intrigante e envolvente, surpreende em vários momentos, ao mesmo tempo que abre caminho para um final para o qual promete infinitas possibilidades. Tudo somado, uma boa leitura.
Título: O Outro Filho
Autor: Alexander Söderberg
Origem: Recebido para crítica
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