Tudo na vida é uma passagem. Do desconhecido ao mundo revelado por outros olhos. Da ilusão da perfeição às imperfeições do quotidiano. Da ânsia de ser do princípio à serenidade de simplesmente existir. E todas estas travessias convergem num misto de emoção e serenidade. As águas correm. O tempo passa. A vida continua. E de tudo isto nos falam estes poemas.
Duas características sobressaem da leitura deste pequeno livro: serenidade e coesão. Serenidade, porque há uma estranha calma nas ideias subjacentes a cada texto e na própria fluidez que, de um ritmo bastante simples e breve, parece, ainda assim, emergir. E coesão, porque há uma sensação de unidade a destacar-se do conjunto dos poemas, como se todos formassem parte de uma mesma viagem.
São precisamente estas duas características que tornam a leitura cativante. Tendo uma base comum, há ideias que, por vezes, se repetem. Há palavras que, por limitações de ritmo ou de rima, parecem encaixar de forma um pouco mais forçada na formação do poema. Mas, mesmo nestes momentos mais distantes, a serenidade continua bem presente. E a unidade do livro dá um maior sentido às partes.
Há também um contraste interessante entre a simples brevidade de um poema de poucos - e curtos - versos e as imagens surpreendentemente elaboradas que, por vezes, se projectam desses mesmos versos. Alguns são simples, directos, pessoais. Outros, quase que evocam outro lugar. E, assim, entre o natural e o estranho, cria-se um intrigante equilíbrio, que contribui também para tornar a leitura mais interessante.
Da soma de tudo isto, surge um livro de contrastes. Entre a simplicidade das palavras e os labirintos da vida. Entre a calma de uma viagem serena e os mistérios do que vive do outro lado. Entre poemas que parecem tão pessoais e o que de universal se esconde nesses versos. Tudo isto, numa leitura breve e simples - como os poemas que dão forma ao livro. Mas, talvez por isso mesmo, muito interessante.
Título: A Água da Alma
Autora: Margarida Rouillé de Sousa
Origem: Recebido para crítica
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