Ninguém é mais poderoso do que Eadlyn Schreave. Ou, pelo menos, é nisso que ela gosta de pensar. Mas, enquanto herdeira do trono de Illéa, a verdade é que grandes responsabilidades pesam sobre os seus ombros. Durante o reinado dos pais, as castas desapareceram e o reino, tal como o conheciam, mudou. Mas nem todos estão satisfeitos e os tumultos começam a agravar-se. É precisa uma distracção que dê aos pais de Eadlyn tempo para preparar um plano. E que melhor distracção do que uma nova Selecção para a futura primeira rainha da história de Illéa?
Regressando ao mesmo ambiente dos volumes anteriores, mas muitos anos depois, A Herdeira passa a história de Maxon e America para... bem... a da sua herdeira. Illéa mudou, mas há novamente conflitos a acontecer e há agora quatro príncipes com um papel a desempenhar. E esta mudança de protagonistas tem um lado muito bom - e algumas facetas negativas a considerar, no que é, afinal, uma história tão interessante como as anteriores, mas com forças e fragilidades distintas.
Comecemos pelas forças. Se o sistema de castas era um dos pontos mais relevantes (para lá da Selecção) dos primeiros volumes desta série, não pode deixar de ser interessante ver de que forma o mundo mudou. É verdade que este é um aspecto secundário, pois, contada pela voz de Eadlyn, a história centra-se essencialmente no palácio e na nova Selecção. Ainda assim, há algumas questões relevantes. Além disso, ver de que forma evoluiu a vida das personagens anteriores é muito cativante, principalmente no que toca à solidez da relação entre Maxon e America.
Outro ponto forte é a leveza do enredo e da forma como está escrito. A verdade é que, apesar das questões por detrás da Selecção, continua a ser tudo muito simples. E isto é bom porque, mesmo não se gostando de algumas personagens, é possível continuar a querer saber mais. Há personagens carismáticas (e, curiosamente, nem sequer são as mais relevantes) e personagens quase detestáveis. E mesmo quando são estas a destacar-se no rumo dos acontecimentos, a história continua a ser envolvente e a vontade de saber o que acontece a seguir sobrepõe-se às irritações pessoais.
O que me leva às fragilidades. Se America e Maxon tinham já os seus defeitos, Eadlyn eleva-os a todo um outro nível. Mimada e imatura, com um ego tremendo e muito pouca capacidade de empatia para com os outros, não é propriamente uma protagonista com quem se possa simpatizar. Além disso, muitas destas características levam-na a contradizer-se na forma como lida com a Selecção e com a sua família. Distante e reservada, julga que o peso do mundo nos seus ombros desculpa quase tudo. E a forma como encara a sua posição leva-a até a umas quantas atitudes contraditórias.
Ora, isto retira algo à história? Sim, retira a capacidade de quem está a ler se identificar com a protagonista, sem dúvida. Mas, por outro lado, há outras personagens que compensam amplamente este aspecto. Alguns dos Seleccionados têm um potencial vastíssimo e não deixa de ser interessante ver a forma como reagem a Eadlyn. E, além disso, as aventuras e desventuras da Selecção proporcionam muitos momentos cativantes, prometendo até, talvez, um ponto de viragem no percurso comportamental da protagonista. Claro que fica muito em aberto, pois a história ainda não acaba aqui. E, por isso, fica também a expectativa de alguma espécie de redenção para Eadlyn.
Entretanto, ficam as qualidades da narrativa, que, apesar de tudo, compensam amplamente os defeitos da protagonista. E essas são as de um enredo cativante, em que as personagens mais interessantes surgem onde menos se espera e à leveza dos momentos divertidos se junta um agradável toque de emoção. Uma boa história, em suma. Gostei.
Título: A Herdeira
Autora: Kiera Cass
Origem: Recebido para crítica
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