Luxor. Quando o corpo de um homem é encontrado no deserto, Yusuf Khalifa repara, desde logo, nalguns aspectos invulgares. O morto, Piet Jansen, além de ser assumidamente anti-semita, esteve relacionado com a morte de uma israelita, alguns anos antes - apesar de ter sido outro a ser condenado pelo crime. Para Yusuf, a história desse caso nunca bateu certo e a morte de Jansen trouxe novas pistas, que não pode agora ignorar. Por isso, contra a vontade dos seus superiores, decide reabrir o caso e seguir as pistas que, na altura, ficaram por explorar. Entretanto, em pleno conflito israelo-palestiniano, uma jornalista recebe uma carta misteriosa, também ela com uma pista para um antigo segredo. Há algo escondido num passado distante - algo que pode mudar o rumo de toda a guerra.
História de intrigas, conspirações e de mistérios para resolver, tendo como base central a existência de um artefacto antigo de elevado simbolismo, este é um livro do qual seria fácil, à partida, adivinhar a fórmula: um encadeamento de pistas que levam a uma descoberta história, que, devido ao seu potencial poder, desperta o interesse de várias facções poderosas. É esta, de facto, a fórmula. Mas, se a linha essencial é fácil de adivinhar, há, ainda assim, um conjunto de aspectos que o diferenciam, tornando-o mais complexo, mais profundo... e, em certa medida, mais surpreendente.
Um dos primeiros aspectos inesperados neste livro é o ritmo surpreendentemente pausado, talvez por percorrer várias perspectivas diferentes. Há várias pistas a acompanhar e várias linhas diferentes a seguir. E, nalguns casos, a relação entre esta elaborada teia de mistérios só se revela numa fase já avançada do enredo. Assim, o que acontece é que há vários percursos e possibilidades a surgir ao longo do enredo, o que exige mais tempo e mais concentração, compensando-os com um maior impacto nas revelações posteriores.
Mas a complexidade não se cinge à teia de intrigas. O próprio contexto das pistas que as personagens seguem - envolvendo épocas e elementos tão diversos como as escavações arqueológicas nazis, a cruzada contra os cátaros, o segredo de um objecto passado de geração em geração e uns quantos achados arqueológicos egípcios - é também, um factor fulcral neste entretecer de complexidades que abre caminho às grandes revelações. E a forma como este contexto é apresentado, de forma gradual, mas sem deixar de fora nenhum dos elementos essenciais, é provavelmente um dos aspectos mais fascinantes deste livro.
Claro que, havendo interesses em colisão, é inevitável alguma espécie de conflito final. E, neste aspecto, é especialmente cativante a passagem do ritmo pausado da fase inicial, em que dominam os mistérios e as perguntas, para um final de grande intensidade, em que o perigo é uma constante e a acção impressiona tanto como as revelações que lhe estão associadas. Tudo isto num final em que todas as grandes respostas são apresentadas - mas fica uma pequena pergunta em aberto, como que deixando à imaginação do leitor a possibilidade (ou não) da esperança.
A impressão que fica, portanto, é a de um livro mais pausado que o expectável dentro do género, mas também mais complexo, mais fundamentado... e, por isso, mais interessante. Pode não ser uma leitura compulsiva, é verdade, mas nunca deixa de cativar. E isso, associado a toda a informação interessante e ao impacto inesperado do final, é mais do que o suficiente para fazer deste O Último Segredo do Tempo uma boa leitura.
Título: O Último Segredo do Templo
Autor: Paul Sussman
Origem: Recebido para crítica
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